segunda-feira, 24 de julho de 2023

O falso salvador do mundo - Lourival Sant’Anna O Estado de S. Paulo

 Grato a Augusto de Franco pela transcrição em seu blog, de onde copiei este artigo de Lourival Sant'Anna. Meus comentários iniciais: 

Não são só posições ideológicas ou princípios moralmente indefensáveis que movem a péssima diplomacia de Lula 3 (como aliás já era em Lula 1 e 2). Ele também exibe distorções notáveis em termos de cálculo estratégico, ao apostar num rápido e incontornável declínio americano e numa indefenida e propriamente indesejável “nova ordem global” numa aliança estreita com duas grandes autocracias que estão a anos-luz de distância de nossa própria régua moral, em democracia e DH. Pretende levar o Brasil a embarcar na canoa furada do Brics, claramente dominado pelo peso dos interesses nacionais chineses? E agora russos? O Itamaraty se submete passivamente a todas essas loucuras? (PRA)


O falso salvador do mundo

Lourival Sant’Anna, O Estado de S. Paulo (23/07/2023)

Lula embarcou em uma fantasia calcada em premissas moralmente indefensáveis

O forte viés ideológico da política externa do governo Lula cria fraturas na América Latina e inviabiliza o exercício da liderança que naturalmente caberia ao Brasil. A complacência de Lula com as ditaduras russa, venezuelana e nicaraguense, assim como sua repulsa ao livre-comércio e ao Ocidente, anulam o peso da credencial do presidente no que realmente interessa ao mundo quando olha para o Brasil: a proteção ambiental.

O desmatamento da Amazônia foi reduzido em 34% no primeiro semestre deste ano. A conquista confirma as incomparáveis credenciais de Lula e da ministra Marina Silva, que conseguiram reduzir o desmatamento em 84% entre 2004 e 2012, enquanto o PIB do agronegócio crescia espetaculares 75%.

Lula poderia surfar nesse inestimável capital, para extrair concessões de Europa e EUA. Mas prefere atacar a ambos, responsabilizando-os pelo flagelo da Ucrânia, pela corrida armamentista e pela inflação de alimentos, como se não fossem consequências da guerra expansionista de Vladimir Putin.

A palavra “Rússia” não pôde sequer constar da declaração final da cúpula União Europeia-América Latina, por causa da preocupação do governo brasileiro em não melindrar o ditador russo. Para indignação do presidente do Chile, Gabriel Boric: “Hoje é a Ucrânia, amanhã pode ser qualquer um de nós”.

Outro presidente de esquerda, Gustavo Petro, da Colômbia, também criticou o imperialismo russo. Depois descambou para denunciar a invasão de Iraque, Líbia e Síria. Cobri as três guerras para o Estadão. A invasão do Iraque foi um crime, mas os EUA não colonizaram o país, como a Rússia tenta fazer com a Ucrânia. Líbia e Síria foram palcos de revoluções populares que receberam apoio ocidental.

FRATURAS. Boric e os presidentes do Paraguai, Mario Abdo Benítez, e do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou, já haviam se insurgido contra o desagravo de Lula ao ditador Nicolás Maduro na véspera da cúpula sulamericana, em 30 de maio, em Brasília. Lula justificou com a pérola “democracia é um conceito relativo”. Os presidentes de Equador e Peru também rejeitam essas posições.

Por causa de seu apoio ao chavismo desde sempre, Lula não goza da confiança da oposição venezuelana para mediar uma negociação entre ela e o regime.

Por fim, com sua iniciativa de reabrir o acordo com a UE para proteger o mercado de compras governamentais, Lula também frustra Uruguai e Paraguai, e futuramente a Argentina, com a saída de cena de seu amigo Alberto Fernández, nas eleições de outubro.

Lula trocou oportunidades reais de liderança e benefícios para o Brasil por uma fantasia de salvador do mundo, calcada em premissas moralmente indefensáveis.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.