Os melhores livros de economia de 2023, segundo Martin Wolf
Financial Times
História do capitalismo, 'Chicago boys' e economia da China estão entre os temas das obras selecionadas
Liberalismo, história do capitalismo, 'Chicago boys' e economia da China são alguns dos temas abordados pelos livros de economia do ano, segundo o comentarista-chefe do jornal britânico Financial Times, Martin Wolf.
Veja abaixo as obras sugeridas, seguidas pelos comentários do colunista.
Plunder: Private Equity’s Plan to Pillage America
[Pilhagem: O Plano do Private Equity para Saquear os Estados Unidos]
por Brendan Ballou, PublicAffairs, 368 pp., R$ 251 e R$ 48,58 (ebook)
Sempre houve duas maneiras de ganhar dinheiro: criação de valor e pilhagem. Uma boa sociedade é aquela em que a primeira supera a última. Neste livro poderosamente argumentado, Ballou, atualmente na divisão antitruste do Departamento de Justiça dos EUA, insiste que os retornos dos investimentos em private equity derivam em grande parte da pilhagem. Isso é particularmente provável onde esses lucros são obtidos às custas dos impotentes —prisioneiros, pacientes ou idosos. Dados os incentivos, os resultados que ele descreve parecem inevitáveis.
Digital Empires: The Global Battle to Regulate Technology
[Impérios Digitais: A Batalha Global para Regular a Tecnologia]
por Anu Bradford, Oxford University Press, 607 pp., R$ 131,27 (ebook)
A chegada da economia digital, agora acelerada pelo surgimento da inteligência artificial, inevitavelmente —e corretamente— criou uma resposta política e regulatória. Neste livro abrangente e importante, Bradford, da Faculdade de Direito de Columbia, esclarece as abordagens contrastantes da China, dos EUA e da UE. Ela observa que os dois últimos confrontam a China, "em nome de salvar a democracia da autocracia". Mas há uma batalha para salvar a democracia do poder da tecnologia desenfreada também. Este é crucial: trata-se de saber se a tecnologia controla a democracia ou a democracia controla a tecnologia.
A Crash Course on Crises: Macroeconomic Concepts for Run-ups, Collapses, and Recoveries
[Curso Intensivo sobre Crises: Conceitos Macroeconômicos para Crescimentos, Colapsos e Recuperações]
por Markus Brunnermeier e Ricardo Reis, Princeton University Press, 136 pp., R$ 188,72 e R$ 171 (ebook)
"As economias às vezes passam por crises macrofinanceiras." De fato, elas passam, como aprendemos dolorosamente nas últimas décadas. Neste excelente e felizmente breve livro, dois estudiosos renomados atualizam estudantes e profissionais ocupados sobre o melhor pensamento sobre como essas crises se originam e se desenrolam e como os formuladores de políticas precisam responder. Um guia valioso para aqueles que precisam entender o que a economia contemporânea tem a dizer sobre esse tópico vital.
Economics in America: An Immigrant Economist Explores the Land of Inequality
[Economia nos EUA: Um Economista Imigrante Explora a Terra da Desigualdade]
por Angus Deaton, Princeton University Press, 280 pp., R$ 171,25 e R$ 84,99 (ebook)
Deaton, vencedor do prêmio Nobel, é também um imigrante nos EUA. Neste livro altamente agradável de ensaios, ele se concentra principalmente no país em que agora vive. Ele também condena a ajuda internacional. Isso é surpreendente e também muito amplo. No entanto, Deaton emerge do livro como um ser humano decente que deseja tornar o mundo um lugar melhor. Infelizmente, ele também chegou à conclusão de que a economia e os economistas não são tão bons nisso quanto ele gostaria.
The Chile Project: The Story of the Chicago Boys and the Downfall of Neoliberalism
[O Projeto Chile: A História dos Chicago Boys e a Queda do Neoliberalismo]
por Sebastián Edwards, Princeton University Press, 376 pp., R$ 132 e R$ 108,99 (ebook)
"A história das reformas de livre mercado no Chile pode ser resumida em duas palavras: sucesso e negligência." Assim resume Edwards, ele mesmo de origem chilena, o resultado deste "experimento". Essas reformas tiveram origem na ditadura, tornaram o Chile "em uma geração a estrela mais brilhante da América Latina", pelo menos economicamente, e, de forma um tanto surpreendente, sobreviveram à transição para a democracia e finalmente naufragaram em reação popular contra a desigualdade e injustiças percebidas. Edwards conta essa história complexa e controversa de forma excelente.
The Eight Per Cent Solution: A Strategy for India's Growth
[A Solução de Oito Por Cento: Uma Estratégia para o Crescimento da Índia]
por Nikhil Gupta, Bloomsbury, 400 pp., R$ 231,23 e R$ 48,79 (ebook)
Este é um livro excepcional. O autor, economista-chefe da Motilal Oswal Financial Services, explica e aplica a abordagem dos "saldos setoriais" à economia indiana. Essa análise ilumina a fraca posição financeira e a deterioração das economias das famílias e, mais recentemente, também do setor corporativo de capital fechado. Diante da provável fraqueza do consumo das famílias, dos gastos do governo e das exportações, há pouca chance de um boom desejado nos investimentos. O equilíbrio desta década deve ser, argumenta ele, um tempo de cura, antes que o crescimento possa acelerar.
Legacy: How to Build the Sustainable Economy
[Legado: Como Construir a Economia Sustentável]
por Dieter Helm, Cambridge University Press, 265 pp., R$ 245 e R$ 50,42 (ebook)
Helm, da Universidade de Oxford, apresenta um caso apaixonado para a transição para uma economia sustentável com base no princípio de que cada geração lega um estoque de capital —físico e, muito mais importante, natural— tão bom quanto o que herdou. Para tornar essa abordagem operacional, devemos abraçar as ideias gêmeas de "quem polui paga" e o "princípio da precaução". Helm argumenta que a implementação dessas ideias requer um conceito de cidadania. Infelizmente, os desafios de fazer essa ideia funcionar globalmente são assustadores.
The Trade Weapon: How Weaponizing Trade Threatens Growth, Public Health and the Climate Transition
[A Arma do Comércio: Como a Arma do Comércio Ameaça o Crescimento, a Saúde Pública e a Transição Climática]
por Ken Heydon, Polity, 204 pp., R$ 49,06 (ebook)
O comércio se tornou uma arma. Heydon, ex-funcionário do comércio australiano, argumenta que essa abordagem —na forma de sanções comerciais, busca de autossuficiência nas cadeias de valor, uso de medidas comerciais em nome da "segurança nacional" e restrição de importações necessárias para a transição climática— é "prejudicial para a economia mundial, pois diminui e distorce os benefícios do fluxo internacional de bens e serviços". Um livro corajoso e necessário.
Seven Crashes: The Economic Crises That Shaped Globalization
[Sete Crashes: As Crises Econômicas Que Moldaram a Globalização]
por Harold James, Yale, 376 pp., R$ 296 e R$ 157,73 (ebook)
Neste fascinante livro, James, um renomado historiador de economias e políticas econômicas, analisa o impacto de sete crises econômicas na história da globalização: as fomes da década de 1840, a crise financeira de 1873, a Primeira Guerra Mundial e as hiperinflações subsequentes de 1914-23, a Grande Depressão dos anos 1930, a inflação dos anos 1970, a Grande Recessão de 2008 e os lockdowns de 2020-22. Sua conclusão surpreendente é que os choques de oferta promovem a globalização, enquanto os choques de demanda a inibem.
Freedom from Fear: An Incomplete History of Liberalism
[Liberdade a partir do Medo: Uma História Incompleta do Liberalismo]
por Alan Kahan, Princeton University Press, 528 pp., R$ 424 e R$ 228,58 (ebook)
As raízes tanto da economia de mercado quanto do estado democrático estão no liberalismo. Neste livro notável, Kahan narra em detalhes persuasivos a história desse conjunto transformador de ideias. Hoje, como frequentemente antes, o liberalismo enfrenta inimigos, essencialmente porque "o projeto liberal de criar uma sociedade onde ninguém precise ter medo assusta aqueles que pensam que algumas pessoas e/ou alguns grupos devem ter medo." Os liberais não podem ceder nisso. Mas, ele sugere, eles devem adicionar um pilar moral/religioso aos seus pilares políticos e econômicos mais tradicionais.
Ours Was the Shining Future: The Story of the American Dream
[Nosso Futuro Foi Brilhante: A Ascensão e Queda do Sonho Americano]
por David Leonhardt, Riverrun/Random House, 528 pp., R$ 139,34 e R$ 50,10 (ebook)
Leonhardt demonstra o fracasso do capitalismo americano em gerar prosperidade amplamente compartilhada desde 1980, rotulando isso como a "Grande Estagnação Americana". A história não é apenas econômica. A expectativa de vida, por exemplo, ficou bem abaixo dos níveis de outros países de alta renda, enquanto a expectativa de vida daqueles que não foram para a universidade realmente diminuiu. Leonhardt, um escritor sênior do The New York Times, dá vida a essas realidades. Em parte como resultado das tendências que ele descreve, a democracia americana está em risco. Este é um livro importante.
Visions of Inequality: From the French Revolution to the End of the Cold War
[Visões da Desigualdade: Da Revolução Francesa ao Fim da Guerra Fria]
por Branko Milanovic, Belknap Press, 368 pp., R$ 213,42 e R$ 159,92 (ebook)
A desigualdade está de volta, como um tópico político e como foco de estudo. Neste livro fascinante, Milanovic, um dos estudiosos mais influentes do mundo sobre desigualdade, examina o que os principais economistas do passado tinham a dizer sobre essa questão. Ele passa de Quesnay a Kuznets, passando por Smith, Ricardo, Marx e Pareto. No final, ele analisa o trabalho de Thomas Piketty. Hoje, ele argumenta, temos mais teorias, mais dados e um foco mais amplo tanto na desigualdade nacional quanto global. Também temos mais preocupação. O campo está em pleno crescimento.
The Capitalist Manifesto: Why the Global Free Market Will Save the World
[O Manifesto Capitalista: Por Que o Livre Mercado Global Salvará o Mundo]
por Johan Norberg, Atlantic, 304 pp., R$ 265 e R$ 53,49 (ebook)
Norberg é talvez o defensor mais eficaz do capitalismo de livre mercado do mundo. Neste livro, ele retorna ao tema de que "liberdade de escolha e competição" são os motores do progresso econômico. Ele está, é claro, correto. Além disso, a evidência também mostra que sociedades mais prósperas são, em geral, mais felizes. No entanto, o que ele diz está longe de ser totalmente verdadeiro. Não apenas as bases sociais e políticas dos mercados livres são difíceis de construir, mas suas consequências sociais e políticas podem ser prejudiciais: o capitalismo é bom; o capitalismo desenfreado não é.
My Journeys in Economic Theory
[Minhas Jornadas na Teoria Econômica]
por Edmund Phelps, Columbia University Press, 248 pp., R$ 242,98 e R$ 98,90 (ebook)
Neste adorável livro, Phelps, vencedor do Prêmio Nobel de Economia, descreve sua jornada de criatividade intelectual. Ele é famoso por sua contribuição, junto com Milton Friedman, para a ideia da "taxa natural" de desemprego. Posteriormente, ele se envolveu em ideias de justiça econômica encabeçadas pelo filósofo John Rawls e, assim, recomendou subsídios salariais. Mais recentemente, ele se concentrou na ideia de que o progresso econômico é o fruto da criatividade dispersa. Sociedades que incentivam isso alcançam um "florescimento em massa"; mas aquelas que não o fazem, não.
Making Sense of China’s Economy
[Compreendendo a Economia da China]
por Tao Wang, Routledge, 295 pp., R$ 349,99 e R$ 160,34 (ebook)
Este é um livro indispensável para aqueles que tentam entender a economia chinesa. A autora cresceu na China continental e atualmente é economista-chefe da China no banco de investimentos UBS em Hong Kong. Sua análise é bem informada e penetrante. Ela conclui que a taxa de crescimento anual da China provavelmente ficará entre 4% e 4,5% entre 2021 e 2030, uma queda acentuada em relação aos 8% alcançados de 2010 a 2019. Mas pode até ser tão baixa quanto 3%, à medida que as restrições domésticas e externas interagem. É muito improvável que ultrapasse 5%.
Revitalizing the World Trading System
[Revitalizando o Sistema de Comércio Mundial]
por Alan Wolff, Cambridge University Press, 588 pp., R$ 471,38 e R$ 194,59 (ebook)
Wolff, ex-vice-diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), escreveu o guia definitivo sobre o passado, presente e possível futuro do sistema multilateral de comércio. Surpreendentemente, dada a crescente hostilidade à OMC e ao comércio em si nos EUA, seu próprio país, e a falta de apoio entusiasmado em outros lugares, especialmente da China e da UE, ele é otimista: "A autarquia não pode ser alcançada... Não pode haver desacoplamento das principais economias, exceto a um custo inaceitavelmente alto." A OMC é o único lugar onde a cooperação internacional necessária pode ser sustentada, porque ela, assim como o comércio em si, é global.
Age of the City: Why Our Future Will Be Won or Lost Together
[Era da Cidade: Por que Nosso Futuro Será Ganho ou Perdido Juntos]
por Ian Goldin e Tom Lee-Devlin, Bloomsbury Continuum, 256 pp., R$ 223 e R$ 94 (ebook)
"Em 1800", observam Goldin, de Oxford, e Lee-Devlin, do The Economist, "havia 1 bilhão de seres humanos compartilhando nosso planeta, aproximadamente 70 milhões dos quais habitavam cidades. Hoje, a população global é de 8 bilhões, com mais de 4,5 bilhões de pessoas vivendo em cidades." Isso representa um aumento de 6.300% na população urbana do mundo. Até o final deste século, a população urbana pode ter dobrado novamente. As cidades são, sem dúvida, nossa criação mais extraordinária. Elas são fontes de criatividade deslumbrante. Também são lugares de imensa desigualdade. Este livro fascinante explica os desafios que elas representam e o que precisa ser feito para torná-las melhores para todos os seus habitantes.
Techno-Feudalism: What Killed Capitalism
[Tecnofeudalismo: O que Matou o Capitalismo]
por Yanis Varoufakis, Vintage, 287 pp., R$ 260 e R$ 112,19 (ebook)
Varoufakis é uma notável combinação de analista e sonhador. Neste livro, o ex-ministro das Finanças grego afirma que algo novo, que ele chama de "tecnofeudalismo", substituiu a economia capitalista tradicional. Nesta nova economia, os grandes monopólios de tecnologia, proprietários onipresentes da "nuvem", são vistos como senhores feudais, cobrando de todos nós "aluguéis da nuvem" pelo direito de acessar o que eles possuem. Certamente, isso não está completamente errado. Se suas propostas para transformar esse novo sistema em uma utopia moderna fazem sentido é outra questão. Mas, como sempre, Varoufakis faz seus leitores pensarem. Isso é uma conquista importante.
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