Os EUA chegaram finalmente ao que Tocqueville mais temia?
Paulo Roberto de Almeida
Todos somos prisioneiros da “ditadura do momento”, ou tendemos a ser.
Os Founding Fathers se referiam a, e queriam, um tipo de sociedade que não existe mais, convergente no trabalho honesto, ao estilo da “ética protestante” de Max Weber.
Já são muitos os exercícios teóricos sobre os EUA totalmente disfuncionais e em declínio inevitável. Arnold Toynbee, por exemplo, nos volumes posteriores à IIGM do seu monumental Estudo da História, já acreditava nessa decadência no momento de maior poder mundial dos EUA, em 1947.
Seu sistema eleitoral, por exemplo, foi feito para evitar a “tirania da maioria”, como dizia Tocqueville, mas essa maioria pode ainda assim produzir a tirania da mediocridade, com uma democracia de massas que se opõem ao conhecimento de uma elite educada.
Os EUA chegaram à mediocridade da maioria?
Olhando a turba que apoia Trump de maneira irracional parece que sim.
Contemporaneamente aos Founding Fathers, o romancista James Fenimore Cooper - o do Último dos Moicanos - já dizia que a democratização leva inevitavelmente à mediocrização.
Talvez seja o caso. Sociedades homogêneas e pequenas talvez consigam conservar a qualidade do regime democrático; grandes sociedades muito diversificadas podem correr o risco da “tirania da mediocridade”, sujeitas à “ditadura” de algum oportunista capaz de encantar e manipular a maioria de cidadãos pouco educados.
Acho que a maioria dos pouco educados nos EUA encontrou o seu oportunista idiota que os conduzirá ao aprofundamento de um declínio toynbeeano.
Enquanto isso, a China milenar aposta numa sociedade do conhecimento e isso não tem muito a ver com a “ditadura de um partido leninista” e sim com a tradição persistente de um regime tecnocrático baseado na seleção mandarinesca dos mais competentes para gerir uma boa administração das coisas e das pessoas.
O PCC é mais chinês do que marxista-leninista, uma doutrina que ficou na superfície da estrutura política; a infraestrutura humana continuou mandarinesca, isto é, meritocrática.
Nos EUA, a meritocracia parece ter se deixado aprisionar por um oportunista obcecado pela ideia de sua própria grandeza, que ele confunde com a grandeza americana, quando o país já deixou de ser uma sociedade do conhecimento para valorizar apenas a riqueza fugaz do ganho financeiro.
O “enriqueça rapaz” já não segue mais os preceitos austeros de um Benjamin Franklin, e sim o oportunismo manipulador de um especialista em enganar os incautos como o idiota ignorante de um Trump.
Pior para os americanos, sorte dos chineses, que continuam a valorizar o conhecimento de longo prazo sobre o enriquecimento rápido.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 21/01/2025
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