O que eu antecipava em 2024, ou antes da posse deTrump sobre a catastrofe iminente - Paulo Roberto de Almeida
Esta foi no último dia do ano:
"O ano de 2025 corre o grande risco de não ser melhor que este que se acaba de 2024, justamente pela presença ativa no cenário internacional de dois personagens absolutamente nefastos para o bem da humanidade, assim como para o de seus próprios paises em especial, ... Ambos possuem uma visão autoritária de como deve ser o mundo, a serviço de suas obsessões pessoais, no caso de Putin uma visão propriamente despótica, o que não chega a esse extremo no caso de Trump, uma vez que os EUA ainda pertencem ao universo das democracias, no caso uma tristemente falha, ainda que não falida.
Neste derradeiro dia de 2024, torna-se, portanto, arriscado, talvez mesmo cruel, se não perversamente irônico, desejar um “Feliz 2025”, sabendo que os dois nefastos personagens estarão no máximo de suas potencialidades e capacidades para converter este ano de 2025 num dos mais “eletrizantes” — se me perdoam a expressão — das relações internacionais contemporâneas.
Como diplomata brasileiro, eu espero, e desejo, que pelo menos a política externa e a diplomacia do Brasil continuem equilibradas o suficiente, sob um governo personalista como é o de Lula 3, para preservar nossa tradicional autonomia decisória e neutralidade ponderada, em face de conflitos interimperiais dessas duas grandes potências, de molde a confirmar os valores e principios tradicionais de nossa postura equilibrada no plano externo, como garantem as cláusulas de relações internacionais de nossa Constituição e a própria história da “diplomacia na construção do Brasil” (se ouso retomar o titulo da mais importante obra do embaixador Rubens Ricupero).
2025 pode não ser tão catastrófico como prometem as idiossincrasias desses dois personagens, mas será certamente apreensivo para os espíritos mais temerosos.
Paulo Roberto de Almeida
São Paulo, 31 de dezembro de 2024"
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Uma reportagem de Jamil Chade, na véspera da tomada de posse do novo e inepto dirigente americano, ilustrava o conjunto de desafios que estavam sendo colocados à ordem mundial dos últimos 80 anos:
"domingo, 19 de janeiro de 2025
Trump articula criação de nova ordem global e coloca mundo em tensão máxima - Jamil Chade (UOL)
Trump articula criação de nova ordem global e coloca mundo em tensão máxima
Por Jamil Chade, de Nova York
Nos corredores do prédio da ONU, em Nova York, o semblante de funcionários e diplomatas não esconde a tensão. Todos sabem que, a partir de segunda-feira (20), tudo será diferente. Donald Trump assume a Presidência americana mais forte do que nunca, preparado para implementar a transformação proposta por movimentos ultraconservadores e grupos de extrema direita.
Sua equipe avalia que a atual ordem mundial, estabelecida em 1945 com base nos interesses americanos, tornou-se uma ameaça à segurança nacional. O objetivo é desmantelá-la e construir uma nova estrutura que restabeleça a hegemonia dos EUA. Para diplomatas, isso marca o fim dos pilares da política externa americana dos últimos 80 anos, com valores sendo abandonados em nome do poder.
Nos organismos internacionais, já abalados por uma crise de legitimidade, prevalece a incerteza sobre quem sobreviverá e quais projetos serão enterrados. Trump defende a paz, mas sob seus próprios termos, recorrendo, se necessário, ao poderio militar e econômico dos EUA. Seu lema: "paz pela força".
Um plano estratégico de 900 páginas delineia as prioridades internas e externas do novo governo. No centro, está a redução de qualquer dependência em relação à China, vista como o maior desafio existencial dos EUA. Para isso, é crucial encerrar outras guerras, como no Oriente Médio e na Ucrânia, e concentrar esforços na competição com Pequim.
Para Marco Rubio, novo chanceler de Trump, Vladimir Putin não será o centro quando a história do século 21 for contada. Por isso, a guerra na Ucrânia precisa acabar, ainda que concessões.
A paz no Oriente Médio também cumpre essa função de liberar recursos e energia americana para enfrentar seu maior concorrente. A pressa será por uma normalização das relações entre Israel e a Arábia Saudita, minando inclusive a posição russa na região e marginalizando a ameaça iraniana.
Rubio reforçou a prioridade na contenção da China em sua sabatina no Senado. Ele alertou que, em menos de uma década, os EUA poderão depender da autorização chinesa para suprir suas necessidades, dado o controle de Pequim sobre cadeias de fornecimento globais. O plano de Trump, portanto, tem como meta reduzir essa dependência.
"A China é o maior desafio que os EUA já tiveram em sua história, superando mesmo a União Soviética. Isso vai definir o século 21", alertou Rubio.
Para ele, não apenas a ordem mundial está obsoleta. "Mas é um instrumento contra os EUA", disse. "Somos chamados a criar um mundo livre a partir do caos. Não será fácil", disse. Ele prometeu colocar o interesse americano no centro de sua administração, e não a preservação da ordem mundial.
Implementar isso inclui a retomada da atividade industrial americana, mesmo que exija a construção de muros tarifários contra produtos estrangeiros e em violação às regras mundiais do comércio. Trump, por exemplo, já prometeu elevar barreiras de importação, inclusive para bens vendidos por aliados.
Também está prevista a transformação de organismos internacionais, como a ONU e a OMS, considerados alinhados a interesses chineses. A Otan será mantida, desde que os europeus aumentem seus investimentos na aliança. Ambientalmente, as regras climáticas e ambientais serão descartadas, vistas como obstáculos à produção industrial.
No âmbito territorial, o plano inclui áreas estratégicas como o Canal do Panamá, onde empresas chinesas dominam os lados Pacífico e Atlântico, e a Groenlândia, com rotas estratégicas que poderão surgir com o degelo. Além disso, há a ambição de liderar avanços digitais, incluindo inteligência artificial e propaganda social em massa.
China no horizonte
Se o plano americano está traçado, diplomatas e negociadores apontam que Trump terá sérios desafios para implementar esse reposicionamento. E o motivo, segundo eles, é simples: a China já está ocupando os locais cobiçados pelos americanos e não está disposta a sair.
A realidade é que Pequim está ainda mais poderosa que em 2017, no primeiro governo Trump, e se estabeleceu como a maior parceira comercial de mais de cem países. Os investimentos também são críticos, com contratos de 30 anos em direitos de mineração e exploração de portos pelo mundo.
Se não bastasse, a China criou um colchão inédito na história do comércio mundial. Em 2024, ela acumulou um superávit de US$ 1 trilhão. O valor é três vezes maior que o que existia em 2018.
A China consolidou sua posição como maior parceira comercial de mais de cem países, acumulou um superávit comercial recorde e responde por 27% da produção industrial mundial. Até o fim da década, esse número pode chegar a 40%, posição que os EUA ocuparam em 1945.
A implementação dessas políticas, portanto, pode desencadear tensões globais, com riscos de disputas territoriais. Negociadores alertam que ações americanas, como a retomada do Canal do Panamá, podem provocar reações chinesas em Taiwan ou russas na Geórgia.
Outro risco é de que, ao tentar reconstruir sua base industrial, Trump abra guerras comerciais pelo mundo, com consequências imprevisíveis. Em seu primeiro mandato, um dos resultados de sua política foi o esvaziamento dos tribunais do comércio na OMC. Sem as leis, portanto, chancelarias europeias e de países emergentes apontam que a "lei da selva" pode vigorar.
"Viveremos dias parecidos ao do auge da Guerra Fria. Tensão máxima", prevê um experiente de embaixador em Nova York.
A angústia é quebrada apenas pela ironia. Para diplomatas latino-americanos, a região poderá ver o desembarque da Doutrina Donroe --um jogo de palavras com a Doutrina Monroe, atualizada para o mandato de Trump.
Naquele momento da Presidência de Monroe, em 1823, o inimigo era o imperialismo europeu e os americanos despontavam como a ambição de hegemonia. Duzentos anos depois, é a China que surge como o desafio existencial.
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