segunda-feira, 5 de maio de 2025

A marcha da globalização - Celso Claudio Hildebrand e Grisi (FEA-USP)

 Globalização, Desglobalização ou Regloblização: momento para refletir sobre consequências herdadas do passado.

Celso Claudio Hildebrand e Grisi (FEA-USP)

Nas últimas décadas, a globalização e a expansão do comércio internacional transformaram profundamente as economias e sociedades ao redor do mundo. Com o avanço das tecnologias de transporte, comunicação e integração entre mercados, observou-se uma crescente interdependência entre países, intensificando fluxos de bens, serviços, capitais e pessoas. No entanto, esses efeitos não alcançaram todos os países e populações.

O relatório do Banco Mundial, World Development Indicators (2020), mostra que a proporção da população mundial vivendo em situação de pobreza extrema caiu de 36%, em 1990, para menos de 9% em 2019. Esse avanço está diretamente relacionado à inserção de economias emergentes no comércio internacional (DOLLAR & KRAAY, 2004).

A China é o exemplo emblemático, ao adotar a estratégia de abertura comercial. O país transformou-se em uma potência industrial, retirando centenas de milhões de pessoas da linha da pobreza. Processos semelhantes ocorreram no Vietnã, Bangladesh e Índia, onde o acesso a mercados internacionais gerou empregos, aumentou a renda média e estimulou o desenvolvimento de infraestrutura social e econômica. Na esteira desse processo, a globalização facilitou o acesso a tecnologias, medicamentos, alimentos e educação, contribuindo para a elevação geral do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em diversas regiões do mundo (SEN, 1999).

Entretanto, em diversos contextos, aprofundou desigualdades internas, favorecendo grandes centros urbanos e grupos já inseridos no mercado, em detrimento de regiões e populações marginalizadas. Nos países desenvolvidos, o fechamento de indústrias locais diante da concorrência internacional gerou desemprego estrutural e tensões sociais. Já em países em desenvolvimento, a pressão por custos reduzidos levou à exploração de mão de obra em condições precárias, com impactos negativos sobre os direitos trabalhistas e o meio ambiente. Em países pobres, a competição por investimentos resultou, muitas vezes, em flexibilização de leis trabalhistas e degradação ambiental (STIGLITZ, 2002).

A globalização e o aumento do comércio internacional trouxeram a elevação do bem-estar social e a redução da pobreza em escala global, mas a distribuição de seus benefícios não se deu de maneira automática, nem uniforme e nem universal.

Esses fatores evidenciam que uma re-globalização, embora promissora, exigiria uma governança sólida, políticas públicas eficazes e mecanismos de compensação para garantir inclusão, sustentabilidade baseada na justiça social.

Fontes:

BANCO MUNDIAL. Poverty and Shared Prosperity 2020: Reversals of Fortune. Washington, DC: World Bank, 2020.

DOLLAR, D.; KRAAY, A. Trade, Growth, and Poverty. The Economic Journal, v. 114, p. F22.

SEN, A. Desenvolvimento como Liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

STIGLITZ, J. Globalization and its Discontents. New York: W. W. Norton, 2002.

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