sexta-feira, 18 de julho de 2025

Cresce o lobby para tirar o Brasil do Brics - Relatório Reservado, comentário Paulo Roberto de Almeida

Relatório Reservado: o ataque contra o Brics

Recebi do embaixador Jório Dauster a nota abaixo, publicada no Relatório Reservado, com a qual ele colabora. Ao final, transcrevo o que respondi a ele:

"Cresce o lobby para tirar o Brasil do Brics
Redação RR
18/07/2025

Circula nos meandros do Itamaraty mais uma interpretação sobre os motivos do ataque do presidente norte-americano ao Brasil. A derivada envolve a presença e os posicionamentos do país no Brics. O lobby já foi identificado, e se não é vero, é bene trovato. Os artigos defendem a saída do bloco porque o Brasil, leia-se Lula, estaria se valendo desse espaço para fazer seu proselitismo, de discursos voltados à política doméstica à defesa de temas que não tiveram o acordo final dos membros do grupo.

Na verdade, a saída do Brics interessa mais aos EUA do que ao Brasil. A desdolarização do comércio exterior, com a criação da moeda do Brics, seria mais um alvo da Blitzkrieg de Trump. O Brasil é quem mais bate bumbo para emplacar a iniciativa, que não tem apoio explícito da China — em tese a principal interessada — nem da Índia.

A Rússia ignora o assunto. A fonte do RR disse que a África do Sul já teria sinalizado aos gabinetes diplomáticos norte-americanos que discorda da bandeira da moeda única. É pragmática. Consideraria o projeto uma batalha perdida, fora do tempo e sem condições de enfrentamento com o poder monetário dos EUA.

Lula tem carregado na tese, com discursos cada vez mais acalorados. Seu antípoda, Jair Bolsonaro, sequer fala da ideia — e com certeza se alinharia a Trump em uma decisão que acabaria por enfraquecer o Sul Global, mesmo que o Brasil não tenha grande peso econômico no bloco.

Até agora, o Brics funciona como um foro multilateral, inclusive com um banco de fomento, mas com pouca proatividade e número reduzido de ações. Uma espécie de CAF, organismo sul-americano com algumas funções similares, mas integrado por nações sem peso econômico.

Ainda assim, sair do Brics contraria toda a política externa brasileira, cujo traçado é o apoio integral ao multilateralismo e a participação em todos os foros. Lula entendeu antes de todos que o isolamento não seria o melhor caminho para o país. Trump parece ter compreendido o contrário — ou seja, que o isolamento do Brasil faz bem ao interesse norte-americano, por enfraquecer o relacionamento (e a influência ideológica) com os países asiáticos, favorecendo, por outro lado, um alinhamento com os EUA.

Uma espécie de reedição da ideia do Safta — paralelo ao Nafta, mas abrigando os países sul-americanos — só que debaixo do big stick dos EUA. Um velho sonho do Tio Sam: criar o Império das Américas. A pressão, portanto, seria para que o Brasil, por livre e espontânea vontade, deixasse o Brics.

Há também o argumento de que a agremiação virou uma sopa de legumes com o ingresso de países com menor importância geopolítica. Pode ser que as informações constituam uma fração da teoria conspiratória estimulada por Trump, com suas manifestações que combinam intervenção na soberania do país com política tarifária bilateral.

Mas já assistimos, em dosagem extremamente inferior, a uma ação orquestrada para que o Brasil abandonasse o Mercosul. Os grupos de interesse podem até ter algumas motivações distintas, mas todos estão empenhados nessa causa comum."

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Comentário PRA:
        Todos nós, diplomatas, mais os acadêmicos e jornalistas, reconhecemos que o Brasil é uma potência média. Creio que essa é uma ideia de senso comum.
Entendo que, a partir daí, faz sentido uma união de potências médias contra o unilateralismo e a violência das grandes potências.
Então, faria sentido uma grande ação do Brasil em favor dessa aliança, como fez Rui Barbosa em 1907, de invocar outras potências médias europeias, como Bélgica e Países Baixos, por exemplo, contra a postura arrogante das grandes potências, que desejam uma Comissão Permanente de Arbitragem Internacional na qual elas defendiam cargos exclusivos e permanentes para si, e cargos apenas temporários e limitados para as potências médias. Esse é o argumento da igualdade soberana dos Estados, qua se tornou doutrina diplomática brasileira e o eixo central do multilateralismo contemporâneo, agora destruído por Putin e Donald Trump.
Defendemos as mesmas ideias em 1945, na conferência de San Francisco, sem sucesso porém.
Creio que o Brasil deveria se aliar a outras potências médias, do assim chamado Sul Global, e do Norte imperialista, para defender os interesses nacionais e de outras potências médias.
É o que penso.
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Paulo Roberto de Almeida

 

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