sábado, 30 de agosto de 2025

O Brasil nas capas da The Economist - Marcelo Guterman

O Brasil nas capas da The Economist

Mais uma capa da The Economist sobre o Brasil causou furor. É sempre assim: as capas da revista mais prestigiada do mundo nunca são neutras, sempre procuram provocar discussão. Com essa não foi diferente, ao propor que a democracia brasileira poderia ser um exemplo para a americana. Como disse meu amigo Victor H M Loyola, parece mais uma capa provocando Trump do que propriamente sobre Bolsonaro.

Fiquei curioso em saber quantas vezes o Brasil foi capa da The Economist nos últimos anos. Os arquivos da revista retroagem somente até 1997 (pelo menos contendo as edições completas semanais). Desde 1997, foram 13 capas dedicadas ao Brasil, ou 0,9% do total. Essa é a medida da relevância brasileira.

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A primeira foi em 16/01/1999, sobre a desvalorização cambial, que fazia parte de uma série de capas sobre a grave crise financeira que vinha se abatendo sobre os mercados emergentes.

As duas próximas, em 05/10/2002 e 30/09/2006, focariam em Lula. A primeira comenta a primeira eleição de Lula, enquanto a segunda, vejam só, coloca Hugo Chavez como uma possível ameaça à liderança de Lula na América Latina, dado que o presidente brasileiro vinha sofrendo com o Mensalão e uma economia que andava de lado.

Três anos depois, temos talvez a capa mais icônica sobre o Brasil, com o famoso Cristo Redentor decolando, em 14/11/2009. Era a época do milagre econômico brasileiro.

Mas o otimismo deu lugar a três capas em que a The Economist descreve a espetacular queda do Brasil no governo Dilma. A primeira, de 28/09/2013, é um contraponto ao Cristo decolando, a segunda, às vésperas da eleição de 2014, pede a mudança do governo, e a terceira, em 28/02/2015, descreve o pântano econômico em que o País estava metido.

Em 2016, algo inusitado: 3 capas em 4 meses, sobre a queda de Dilma. A primeira (02/01/2016) prevê um ano horrível para Dilma, a segunda (26/03/2016) pede a saída de Dilma e a terceira, logo após a votação do impeachment (23/04/2016), comenta todo esse processo.

Finalmente, as três últimas capas trazem Bolsonaro. A primeira, em 22/09/2018, coloca Bolsonaro como uma nova ameaça populista na América Latina às vésperas das eleições, a segunda (22/09/2022), também às vésperas das eleições, chama a atenção para a alegação de fraude nas urnas (a mesma que Trump havia usado dois anos antes) e, finalmente, a desta semana, às vésperas do julgamento de Bolsonaro. Com essa última capa, Bolsonaro passa a ser o político brasileiro com mais aparições na capa da The Economist, pelo menos desde 1997.

Como podemos observar, a revista não alivia para ninguém. Sempre haverá quem comemore e quem torça o nariz, a depender das simpatias políticas. Enquanto isso, a The Economist continua sendo uma referência no debate público global.

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