Rumo a um sistema monetário internacional multipolar
A longo prazo, o desenvolvimento de uma ordem monetária internacional multipolar contribuirá para um sistema financeiro global mais estável e equitativo.Por Maya Majueran
Xinhuanet, 7/07/2025
Um sistema monetário internacional multipolar prevê uma arquitetura financeira global na qual múltiplas moedas, em vez de uma única dominante, como o dólar americano, são amplamente usadas para o comércio internacional, finanças e como ativos de reserva. Esse modelo promove um ecossistema multimoeda, permitindo uma distribuição econômica mais equilibrada entre as regiões.
O dólar americano tem sido a principal moeda de reserva mundial desde o Acordo de Bretton Woods de 1944, que atrelou outras moedas ao dólar e o dólar ao ouro. Mesmo após os Estados Unidos abandonarem o padrão-ouro em 1971, o dólar manteve seu papel dominante, impulsionado pelo tamanho e pela estabilidade da economia americana.
A dominância do dólar persistiu em grande parte porque nenhuma alternativa viável surgiu. Ele continua representando aproximadamente 58% das reservas cambiais globais, mais de 80% do financiamento comercial global, 48% das transações SWIFT e 66% da emissão de dívida internacional. Nenhuma outra moeda se iguala ao alcance do dólar em todas essas dimensões.
No entanto, a dominância do dólar está se deteriorando lentamente. Sua participação nas reservas cambiais globais caiu de 65% há uma década para cerca de 58% atualmente.
Da mesma forma, a participação estrangeira em títulos do Tesouro dos EUA caiu drasticamente de 50% em 2014 para cerca de um terço atualmente.
Múltiplas forças estão impulsionando essa transição. Os mercados emergentes estão diversificando suas carteiras de reservas. O comércio bilateral em moedas locais está
ganhando força. E a instrumentalização do dólar, especialmente por meio de sanções, está impulsionando a construção de sistemas financeiros paralelos. Essas mudanças estão sendo ainda mais aceleradas pelas crescentes tensões geopolíticas e pela fragmentação das relações comerciais.
Uma das consequências globais mais agudas da dependência do dólar é o efeito cascata da política monetária dos EUA. Quando o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) aumenta as taxas de juros para controlar a inflação doméstica, ele aperta as condições financeiras em todo o mundo. Um dólar mais forte encarece as
importações para outros países, principalmente para os que pagam pelo comércio em dólares, elevando a inflação globalmente.
Além disso, muitos países em desenvolvimento e empresas pegam empréstimos pesados em dólares. Quando o dólar se fortalece, o pagamento da dívida fica mais caro em moedas locais, intensificando a pressão econômica.
Taxas de juros mais altas nos EUA também desencadeiam saídas de capital de mercados emergentes, conforme os investidores transferem seus fundos para ativos americanos de maior rendimento. Isso drena capital de economias em desenvolvimento, enfraquece suas moedas e desestabiliza os mercados de ações locais.
Em resposta, muitos países estão se afastando da dependência do dólar. O comércio bilateral em moedas locais está em ascensão, reduzindo a exposição às flutuações da taxa de câmbio. Acordos de swap cambial, nos quais bancos centrais trocam moedas locais para liquidar transações sem usar o dólar americano, estão ficando cada vez mais comuns. Simultaneamente, alguns países estão testando Moedas Digitais de Banco Central (CBDCs, na sigla em inglês) para pagamentos internacionais, oferecendo uma maneira de contornar os sistemas tradicionais baseados em dólar.
Prevê-se que um sistema multipolar seja sustentado por um grupo diversificado de moedas, incluindo o yuan, o euro, a rupia indiana e outras, refletindo melhor as mudanças nas realidades geopolíticas e econômicas. Esse sistema poderia aumentar a estabilidade monetária global, reduzir o risco sistêmico e proporcionar às nações maior autonomia na gestão de transações internacionais. Também reduziria a influência geopolítica decorrente da dependência de uma única moeda dominante.
A longo prazo, o desenvolvimento de uma ordem monetária internacional multipolar ajudará a fortalecer a disciplina política entre os principais emissores de moeda, reforçar a resiliência sistêmica e contribuir para um sistema financeiro global mais estável e equitativo.
Nota da edição: Maya Majueran atua atualmente como diretora da Iniciativa Cinturão e Rota Sri Lanka, uma organização independente e pioneira com ampla experiência em consultoria e apoio à Iniciativa Cinturão e Rota.
As opiniões expressas neste artigo são da autora e não refletem necessariamente as posições da Agência de Notícias Xinhua.
Xinhuanet, 7/07/2025
Um sistema monetário internacional multipolar prevê uma arquitetura financeira global na qual múltiplas moedas, em vez de uma única dominante, como o dólar americano, são amplamente usadas para o comércio internacional, finanças e como ativos de reserva. Esse modelo promove um ecossistema multimoeda, permitindo uma distribuição econômica mais equilibrada entre as regiões.
O dólar americano tem sido a principal moeda de reserva mundial desde o Acordo de Bretton Woods de 1944, que atrelou outras moedas ao dólar e o dólar ao ouro. Mesmo após os Estados Unidos abandonarem o padrão-ouro em 1971, o dólar manteve seu papel dominante, impulsionado pelo tamanho e pela estabilidade da economia americana.
A dominância do dólar persistiu em grande parte porque nenhuma alternativa viável surgiu. Ele continua representando aproximadamente 58% das reservas cambiais globais, mais de 80% do financiamento comercial global, 48% das transações SWIFT e 66% da emissão de dívida internacional. Nenhuma outra moeda se iguala ao alcance do dólar em todas essas dimensões.
No entanto, a dominância do dólar está se deteriorando lentamente. Sua participação nas reservas cambiais globais caiu de 65% há uma década para cerca de 58% atualmente.
Da mesma forma, a participação estrangeira em títulos do Tesouro dos EUA caiu drasticamente de 50% em 2014 para cerca de um terço atualmente.
Múltiplas forças estão impulsionando essa transição. Os mercados emergentes estão diversificando suas carteiras de reservas. O comércio bilateral em moedas locais está
ganhando força. E a instrumentalização do dólar, especialmente por meio de sanções, está impulsionando a construção de sistemas financeiros paralelos. Essas mudanças estão sendo ainda mais aceleradas pelas crescentes tensões geopolíticas e pela fragmentação das relações comerciais.
Uma das consequências globais mais agudas da dependência do dólar é o efeito cascata da política monetária dos EUA. Quando o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) aumenta as taxas de juros para controlar a inflação doméstica, ele aperta as condições financeiras em todo o mundo. Um dólar mais forte encarece as
importações para outros países, principalmente para os que pagam pelo comércio em dólares, elevando a inflação globalmente.
Além disso, muitos países em desenvolvimento e empresas pegam empréstimos pesados em dólares. Quando o dólar se fortalece, o pagamento da dívida fica mais caro em moedas locais, intensificando a pressão econômica.
Taxas de juros mais altas nos EUA também desencadeiam saídas de capital de mercados emergentes, conforme os investidores transferem seus fundos para ativos americanos de maior rendimento. Isso drena capital de economias em desenvolvimento, enfraquece suas moedas e desestabiliza os mercados de ações locais.
Em resposta, muitos países estão se afastando da dependência do dólar. O comércio bilateral em moedas locais está em ascensão, reduzindo a exposição às flutuações da taxa de câmbio. Acordos de swap cambial, nos quais bancos centrais trocam moedas locais para liquidar transações sem usar o dólar americano, estão ficando cada vez mais comuns. Simultaneamente, alguns países estão testando Moedas Digitais de Banco Central (CBDCs, na sigla em inglês) para pagamentos internacionais, oferecendo uma maneira de contornar os sistemas tradicionais baseados em dólar.
Prevê-se que um sistema multipolar seja sustentado por um grupo diversificado de moedas, incluindo o yuan, o euro, a rupia indiana e outras, refletindo melhor as mudanças nas realidades geopolíticas e econômicas. Esse sistema poderia aumentar a estabilidade monetária global, reduzir o risco sistêmico e proporcionar às nações maior autonomia na gestão de transações internacionais. Também reduziria a influência geopolítica decorrente da dependência de uma única moeda dominante.
A longo prazo, o desenvolvimento de uma ordem monetária internacional multipolar ajudará a fortalecer a disciplina política entre os principais emissores de moeda, reforçar a resiliência sistêmica e contribuir para um sistema financeiro global mais estável e equitativo.
Nota da edição: Maya Majueran atua atualmente como diretora da Iniciativa Cinturão e Rota Sri Lanka, uma organização independente e pioneira com ampla experiência em consultoria e apoio à Iniciativa Cinturão e Rota.
As opiniões expressas neste artigo são da autora e não refletem necessariamente as posições da Agência de Notícias Xinhua.
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