BRASIL
O que esperar da política externa nas Eleições de 2026?
A disputa em 2026 colocará a frente dois tipos de projeto para as relações exteriores do país: um autônomo e outro dependente dos EUA
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Desde a constituição de 1988, a política externa brasileira tem se comportado na busca do desenvolvimento aproveitando os fluxos da globalização [1]. Essa premissa se alinha ao imperativo categórico de tomar posições multilaterais em diversos organismos internacionais, tais como a ONU, OMC, etc. Em paralelo, houve uma definição da participação estratégica do país em torno da sua região mais próxima, a América do Sul. Esse objetivo se traduziu na integração econômica pela via do Mercosul e na integração político-militar na Unasul.
No que toca a relação com os EUA, houve um intercâmbio de posições a depender do presidente de turno. Em alguns momentos, optou-se por uma parceria alinhada e dependente dos interesses americanos; em outros, buscou esforços para construir uma posição autônoma e independente dos interesses estadunidenses.
Apesar de ainda não haver a definição de todos os nomes que tencionam o cargo de presidente da república, há indícios que nos levam a projetar possíveis projetos de política externa dos candidatos. Dentre os nomes indicados para o pleito eleitoral estão, Lula da Silva (PT), Tarcísio de Freitas (Republicanos), Ratinho Jr. (PSD), Zema (Novo), Caiado (União Brasil). A pergunta central é o que esperar dos candidatos a presidente em relação a política externa nas Eleições de 2026?

Palácio da Alvorada. Brasília – DF
Foto: Ricardo Stuckert / PR
Lula: da volta do protagonismo mundial a confirmação de país soberano
Recentemente, Lula da Silva deixou claro que será candidato à reeleição em 2026, salvo se sua saúde não deixar. Isso aponta um cenário esperado e estável no que se refere a política externa. Com um projeto de autonomia frente aos EUA, o petista vai pretender confirmar que seu projeto de política externa 4.0 é baseado na afirmação da soberania brasileira e na autodeterminação dos povos.
Em 2022, Lula prometeu recolocar o Brasil no cenário mundial. E bem, após quase 3 anos, é notável que o país retomou protagonismo internacional. Seja exercendo o papel de receptor de grandes eventos, tais como, G-20, BRICS+ e COP-30; seja no choque direto com a administração Donald Trump em relação ao tarifaço.
A mídia internacional deixou de afirmar que o Brasil era um “pária internacional” para colocar destaque as ações que o país vem apresentando nas grandes agendas globais, bem como na tensão exercida com os EUA. Essa posição deverá ser reafirmada no projeto político para 2026. E os demais candidatos? Quais são as suas propostas de política externa?
De Tarcísio a Caiado: EUA mais, EUA menos
Ainda que não haja planos de governo dos candidatos mais à direita, a partir da análise dos discursos recentes é possível projetar quais serão as prioridades em seus projetos de relações internacionais do país.
O candidato Tarcísio de Freitas (Republicanos) tem se expressado no sentido de assumir a herança de Jair Bolsonaro. Nesse sentido, além de assumir uma postura de aproximação com os EUA, ele vem criticando o governo que supostamente abandonou a tradição pragmática de se relacionar com todos os países.
Além disso, já fez gestos e elogios a política fiscal da Argentina, numa clara postura de imitar o recorte ministerial imposto por Javier Milei. Isso indica que Tarcísio deverá buscar uma aproximação com a Argentina, aproveitando-se do distanciamento político de Lula e Milei.
Outro presidenciável é Ratinho Jr (PSD). Diferente de Tarcísio, ele não tem falado da política externa com tanta frequência. Mas tem deixado alguns indícios para o seu projeto político. Por exemplo, segundo ele a culpa do tarifaço americano é porque Lula falou em desdolarização. A fala em si já aponta que ele não deverá apostar no BRICS+, visto que o pagamento em outras moedas é uma proposta do grupo.
Além disso, ao acenar com essa fala, ele reproduz a fala de Donald Trump para impor o tarifaço ao Brasil. Logo, deduz-se que Ratinho Jr. deverá alinhar-se aos EUA, inclusive reproduzindo frases do aliado americano.
O candidato Zema (Novo) é outro presidenciável que tem apostado seus discursos em criticar a aproximação brasileira com os BRICS+. Com um discurso muito similar ao de Bolsonaro em 2018, Zema aponta que o Brasil não deve ficar no grupo porque supostamente se relacionaria com “ditaduras”. Percebe-se que o atual governador de Minas aposta na política de aproximação máxima com os EUA, e imitando Javier Milei vai retirar o Brasil de um bloco que compensa economicamente nossa balança comercial deficitária com os EUA.
Por fim, Ronaldo Caiado (União Brasil), o único candidato a presidente que já enfrentou Lula anteriormente em 1989, tem apostado em um discurso antigo e recorrente para justificar a aproximação com os EUA em seu projeto político para 2026. Ele tem focado em utilizar a crítica da suposta política externa ideológica do PT, algo utilizado por diversos presidenciáveis ao longo da Nova República, de FHC a Bolsonaro.
Muito discurso, pouca agenda de política externa
Recentemente, Lula da Silva tem feito comparações de sua trajetória política com Getúlio Vargas. Há paralelos e há diferenças. Mas o que se percebe é que de todos os candidatos para a eleição de 2026, o petista é o mais experiente no quesito política externa assim como o “pai dos pobres”. Ao analisar os discursos da oposição, percebe-se um alinhamento em torno da figura dos EUA. Mas não há claridade nos diversos temas que compõe a agenda externa brasileira.
Essa demonstração de fragilidade na agenda externa, vai na direção contrária ao que Lula já conhece e fez na política externa. Desde parcerias multilaterais a bilaterais, passando pela discussão de agendas de governança global, acordos de paz, meio ambiente, inovação, dentre outros. O próprio BRICS+ é uma criação da política externa 2.0 do petista em 2009, e nasceu da vontade de criar uma alternativa econômica aos EUA em nossa balança comercial.
Se Getúlio foi visto como um exímio articulador das relações internacionais brasileiras no período entre 1930-1945, ao fazer um equilíbrio entre os EUA (potência econômica) e a Alemanha (potência ascendente), Lula busca esse mesmo equilíbrio entre EUA (potência) e a China (potência ascendente) após a crise de 2008.
Danilo Sorato é professor de História e Relações Internacionais. Doutor em Estudos Estratégicos pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Pesquisador do Laboratório de Política Externa Brasileira (LEPEB/UFF) e Pesquisador do Centro de Estudos Estratégicos e do Planejamento Espacial Marinho (CEDEPEM/UFF/UFPel). Escreveu diversos artigos acadêmicos e jornalísticos sobre as relações internacionais do Brasil, em especial os governos Temer, Bolsonaro e Lula.
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