Joesley, um diplomata brasileiro
Mariana BarbosaColunista do UOL
04/12/2025 13h20
https://economia.uol.com.br/colunas/mariana-barbosa/2025/12/04/joesley-um-diplomata-brasileiro-na-venezuela.htm
Nem Celso Amorim nem Mauro Vieira. O empresário Joesley Batista se transformou no grande articulador para assuntos internacionais do presidente Lula (PT).
O dono da JBS foi crucial para distensionar as relações de Lula com o presidente americano Donald Trump, patrocinando a "química" entre os dois chefes de Estado. E, agora, sabe-se que ele foi pessoalmente, a bordo do jato Global 7500, negociar com Nicolás Maduro a saída do ditador do país — o que ajudaria a distensionar as relações com os EUA, evitando uma guerra.
Nove dias antes de desembarcar em Caracas, no domingo, dia 23 de novembro, o mesmo jato foi flagrado em Washington DC, também em um bate e volta.
Joesley virou grande articulador do governo Lula
Com negócios nas áreas de energia, óleo e gás na Venezuela, a J&F, holding dos irmãos Batista, teria muito a perder com a deflagração de uma guerra pelos EUA. Já a aproximação com Trump começou no segundo mandato do presidente americano, com uma doação de US$ 5 milhões para a festa de posse. Pouco depois, a JBS conseguiu destravar o processo de IPO (Initial Public Offering ou Oferta Pública Inicial, na sigla em inglês) na Bolsa de Nova York, que estava obstruído na SEC (a Comissão de Valores Mobiliários americana).
A aproximação também levou à liberação do visto dos empresários, que era negado desde a Lava Jato.
O grupo J&F é dono da Âmbar Energia e entrou no setor de óleo e gás nos últimos dois anos, com a aquisição da Fluxus - ambas com interesses na Venezuela.
Como ninguém faz negócios com o país vizinho sem passar pelo Palácio de Miraflores, os Batistas passaram a manter contatos estreitos com autoridades venezuelanas.
A Fluxus tem escritório em Caracas e está há mais de ano prospectando reservatórios de petróleo do país, com perspectiva de médio prazo. Dona de grandes reservas de petróleo, a Venezuela depende de empresas privadas para conseguir extrair o produto.
Já a Âmbar Energia adquiriu recentemente a distribuidora de energia de Roraima, que durante muito tempo dependeu exclusivamente da compra de energia da Venezuela por não estar ligada ao Sistema Interligado Nacional. O estado passou a integrar o sistema em setembro.
A entrada da Âmbar marcou a retomada da compra de energia venezuelana pelo Brasil, que havia sido interrompida no governo Bolsonaro por razões técnicas do lado venezuelano. No passado, a comercialização se dava entre estatais dos dois lados, sendo a Eletronorte pelo lado brasileiro. Hoje além da Âmbar, outras empresas como Engelhart CTP, RZK Comercializadora de Energia, BTG Pactual, Matrix, Bolt Energy, Eneva, Tradener e Bid Comercializadora têm autorização do Ministério de Minas e Energia para importar energia da Venezuela.
Em nota enviada à coluna, a J&F negou que tenha negócios na Venezuela. A empresa também diz que a listagem da JBS na SEC "seguiu o rito normal" e que a história do visto "não procede".
Errata:
• Diferentemente do que foi publicado anteriormente, a Âmbar ainda não controla a Roraima Energia. A Âmbar adquiriu a Roraima Energia em outubro deste ano, mas o negócio ainda depende da aprovação dos órgãos competentes. A Âmbar não foi comprada há dois anos, como escrito anteriormente, mas foi criada pela J&F em 2015. O texto foi corrigido.
Reportagem
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