sábado, 16 de maio de 2009

1103) A construcao do Apartheid no Brasil: continuam tentando...

O editorial do jornal O Globo, abaixo transcrito, resume bastante bem o que devem pensar muitos brasileiros sobre esse projeto estapafúrdio (e criminoso) de "estatuto da (des)igualdade racial" no Brasil, que estimularia tremendamente aquilo mesmo que se pretende evitar: o racismo institucionalizado, apoiado e construído pelo Estado, oficializando a existência de raças no Brasil.
Como sabem todos aqueles que acompanham as estatísticas oficiais, as últimas pesquisas da PNAD (realizadas pelo IBGE) revelam que nada menos do que 48% -- repito, por extenso: quarenta e oito por cento -- da população se considera "afro-descendente", obviamente com base em auto-declaração devidamente estimulada pela perspectiva oportunista de empregos, cotas universitárias e outras prebendas que seriam fornecidas pelas políticas de cunho racialista em implantação por autoridades dementes e gupos de militantes negros de evidente má-fé.
Mais um pouco, já no próximo Censo, uma maioria de brasileiros vai se autodefinir como negros, pardos, mestiços, afrodescendentes ou variações dessas categorias racialistas cujoúnico objetivo é aquilo mesmo que se pretende promover: sua "redenção", de preferência via empregos públicos, ajudas diversas, ingresso fácil em universidades públicas e coisas desse gênero.
Sendo assim, serão os brancos, reduzidos a minoria, que poderão começar a reivindicar leis de proteção e apoio pelo seu estatuto de "minoria". Absolutamente ridículo, se não fosse patético...

ATENTADO RACIALISTA
EDITORIAL
O GLOBO, 16/5/2009

Tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei de importância transcendental, capaz de levar o Brasil a viver a experiência do racismo como jamais se pensou que aconteceria num país cuja imagem se confunde com a miscigenação e o convívio, sem tensões raciais, entre milhões de pessoas de quase todas as origens possíveis — Américas, Europa, África e Ásia.
Pode ser que o fato de o Congresso estar mergulhado em grave crise de imagem sirva de cortina de fumaça para o que se passa na comissão especial criada na Câmara para discutir a proposta do Estatuto da Igualdade Racial, de iniciativa do senador Paulo Paim (PT-RS), e já aprovada no Senado.
Nesta Casa, discutem-se as cotas raciais para o preenchimento de vagas nas universidades públicas.
Mas é o estatuto que revela a dimensão e a profundidade do projeto político e de poder racialista, cujo objetivo é dividir a sociedade entre “brancos”, de um lado, e “negros” e “pardos”, de outro.
Aprovado o projeto, o Brasil naufragará num apartheid de estilo sul-africano. Aqui, porém, destinado a superar “desigualdades raciais” e a dar a “reparação” a supostas vítimas da igualdade.
As cotas no ensino são apenas uma pequena parte de uma grande construção política racialista.
Revogam-se afinidades sociais, sem relação com origem social e renda, e coloca-se em seu lugar o critério da cor da pele, num atentado contra o patrimônio cultural e social da nação.
O estatuto chega a determinar que filmes e programas de televisão tenham no mínimo 20% de atores e figurantes negros — como nas cotas nas universidades, não há qualquer preocupação com mérito e capacidade profissionais.
A mesma regra é estabelecida para peças de publicidade contratadas por estatais e órgãos públicos. A publicidade privada destinada à TV e a cinemas terá de obedecer à mesma cota.
O projeto avança também no mercado de trabalho. Na contratação de servidores, negros terão tratamento especial, com o “incentivo à adoção de medidas similares em organizações privadas”.
Assim, as tensões raciais serão disseminadas também nos ambientes de trabalho, no setor público e nas empresas privadas.
Haverá, ainda, Ouvidorias Permanentes em Defesa da Igualdade Racial, um passo para o ministério público e polícias raciais.
O país se encontra à beira de um pesadelo orwelliano. Coerente com todo este projeto — bem lembrou o sociólogo Demétrio Magnoli, em artigo no GLOBO —, faltará uma lei como a da Proteção do Sangue Germânico, da Alemanha de 1935. Aquela criminalizava o casamento e o sexo entre arianos e judeus; esta proibirá o mesmo entre “brancos” e “negros/ pardos” brasileiros. É o que faltará para o serviço dos racialistas ser completado.

6 comentários:

  1. O que eu realmente não entendo (ou entendo!) é como o Senado, lugar onde teoricamente os parlamentares possuem um pouco mais de pedigree, deixou passar batido um projeto assim.

    Parece que tudo agora é aprovado por votação simbólica!

    Isso me lembra um episódio na época do Império, onde editaram uma lei para favorecer os pobres da época, que dizia que quem estivesse descalço poderia andar nos trens da Leopoldina de graça. Alguns dias depois toda a Aristocracia da época tirava os sapatos para andar de trem de graça...

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  2. Acho que aqui é onde eu e o Senhor parecemos mais nos opor, não? Pois na verdade, acho que nem tanto: eu mesma sou contra qualquer tipo de quota racial - desde que se observe na realidade um mínimo de representatividade.

    Acho que nenhum exemplo é melhor do que o das modelos na recente Semana Fashion de Moda Week paulistana: trata-se de uma atividade (caminhar) que não requer nada parecido com o tão louvado "mérito" e onde a participação de modelos negras é de 2% (dois por cento).

    E o argumento da estilista Glória Coelho (google her) é representativo do que pensa a maioria das pessoas contra as quotas. Transcrevo: "na Fashion Week já tem muito negro costurando, fazendo modelagem, muitos com mãos de ouro, fazendo coisas lindas, tem negros assistentes, vendedoras, por que têm de estar na passarela?"

    Ou seja, todo mundo no Brasil adora essa coisa bonita que é nossa mestiçagem, desde que os negros fiquem no seu devido lugar. O comentarista acima põe nesse bolo uma cereja que não resisto a utilizar: desde que não se metam nos lugares reservados a gente com um pouco mais de pedigree.

    E tem um pertinho do Senado, ali ao lado do STF...

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  3. Analisando a política de cotas de modo superficial, ignorando-se nossa vergonhosa história, só se pode concluir que ela é a semente do “apartheid” no Brasil e nada mais que isso. Lançando, porém, um olhar mais arguto ao nosso passado, no qual os negros foram simplesmente arremessados à própria sorte, sem nenhuma espécie de indenização pelo crime desumano a que foram submetidos durante séculos, percebemos que essa política chega tarde, muito tarde, o que não anula, todavia, sua importância e urgência. Somos, queiramos ou não, aceitemos ou não, a sociedade filha dos senhores de engenho, dos latifundiários do café e de uma legião de escravos que ainda hoje resvala mambembe pelas vielas escuras dos becos da nação. Que paremos de alimentar a hipocrisia e aceitemos nossa realidade histórica de exclusão e de cegueira.

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  4. Não sei bem por que pessoas que pretendem debater uma questão se escondem atrás do anonimato, como o comentarista que me precede.
    Em todo caso, permito-me comentar o que escreveu o Anônimo acima.
    Ele pretende um olhar mais arguto sobre o nosso passado, e destaca todo o sofrimento dos negros, que segundo ele foram "arremessados à própria sorte, sem nenhuma espécie de indenização pelo crime desumano a que foram submetidos durante séculos", com o que eu até posso concordar. De fato, a solução proposta por Joaquim Nabuco, que previa não apenas abolição sem indenização para os proprietários, mas também reforma agrária e educação para negros e pobres em geral, nunca foi implementada, mas observe-se que camponeses pobres, fossem eles brancos, cafuzos, bugres ou mulatos, também foram deixados à sua própria sorte, sem qualquer tipo de reforma agrária ou educação.
    E, lançando-se um olhar mais arguto para a nossa história, como pretende meu anônimo comentarista, observamos que os traficantes e escravistas do século 19 já se foram há muito tempo, e que, para trabalhar nas fazendas de café, os latifundiários importaram mão-de-obra européia, camponesa ou outra. Minha avó italiana, por exemplo, veio pequena para o Brasil, trabalhou duro nas fazendas de café do sul do Minas Gerais, e dizia que eram tratados quase como escravos. Ela nunca estudou e morreu analfabeta, já nos anos 1980 mas ainda contando em mil-réis.
    Agora eu pergunto ao meu anônimo comentarista: ele pretende que esses descendentes de imigrantes pobres devam pagar indenizações aos negros descendentes de escravos? Ele quer que brancos pobres assumam a carga da redenção dos negros explorados?
    E como é que ele pretende fazer com os mulatos?: a metade branca paga indenização e a metade negra recebe algo como compensação?
    Sua concepção da história é notavelmente enviesada. Ele pretende que:
    "Somos, queiramos ou não, aceitemos ou não, a sociedade filha dos senhores de engenho, dos latifundiários do café e de uma legião de escravos que ainda hoje resvala mambembe pelas vielas escuras dos becos da nação."
    Sinto muito, mas eu não sou nem descendente de latifundiários do café, nem de uma legião de escravos; sou descendente de imigrantes pobres, analfabetos, que vieram justamente substituir os escravos nas fazendas de café.
    Como é que ficamos, então? Eu tenho de assumir os custos de uma reparação por supostos prejuizos da qual nem eu, nem meus antecessores são minimamente responsáveis.
    E, sendo arguto com a história, nem o meu anônimo correspondente é descendente de escravos: no máximo ele será descendente de negros ou mulatos pobres, tanto quanto eu sou de imigrantes pobres do sul da Europa. Ele merece mais do que eu?
    Todos somos dependentes, hoje, de uma boa educação pública e se eu reconheço que os negros pobres são especialmente discriminados, a solução não está em criar cotas, que vai beneficiar negros de classe média e sim melhorar a educação de todos os brasileiros.
    Volto a reafirmar: as políticas de ação afirmativa em bases raciais vão criar o racismo no Brasil, o que até agora não existia senão marginalmente, ou no máximo culturalmente, mas não como resultado de políticas do Estado.
    Seria isso que pretende o meu anônimo correspondente?

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  5. Paulo,

    Sou favorável às cotas por inúmeras razões. Não me detive nos seus argumentos, mas me chama atenção o fato de conter um editorial de O Globo (jornal que promove uma campanha contra as cotas)ter sido, suponho eu eu, foi escrito por um proeminente jornalista, ativo militante anticotista que, neste caso, também não se identificou.

    Sugiro uma análise mais isenta do assunto que, admito, é bastante complexo e envolve interesses dos mais diversos.
    O Racismo do Brasil não é assunto para principiantes ou desatentos e acho que não sabemos ainda da missa o terço.
    O pouco mais que que poderia dizer está nesta matéria do link (que espero você não considere mero spam): http://www.overmundo.com.br/overblog/o-camelo-na-agulha

    Abs

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  6. Musikfabrik,
    Se você éw favorável às cotas por "inúmeras razões" deveria expô-las, pois do contrário não existe possibilidade de diálogo inteligente e racional.
    Publiquei uma matéria do jornal O Globo que me chegou às mãos não por ser desse jornal, mas simplesmente porque considerei os argumentos inteligentes.
    Se a matéria fosse do jornal Vermelho, do PCdoB, eu também teria publicado, sempre com essa humilde e singela condição: a matéria precisa conter elementos inteligentes e inteligíveis.
    Se você sugere uma análise mais isenta do assunto, é porque se julga capaz de fazê-la. Convido-o a expor suas opiniões fundamentadas, e terei prazer em debater com você.
    O racismo no Brasil não deve ficar restrito a nenhuma categoria: iniciantes, iniciados, experientes, experimentados, todos são chamados a debater a questão.
    Agradeço a indicação desta matéria do blog Camelo na Agulha. Vou ler e refletir sobre ela.
    Cordialmente,
    PRA

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