terça-feira, 22 de dezembro de 2009

1597) Os dez livros liberais mais importantes da decada

Uma lista feita, obviamente, por liberais.
Enviada pelo Diogo Costa, do Ordem Livre.

Quais dos livros publicados nos anos 2000 foram os mais importantes para a compreensão e a promoção da liberdade? Fizemos esta pergunta a 22 pensadores liberais, pedindo a cada um que listasse 5 livros em ordem de preferência. As diversas respostas convergiram para a lista que você confere a seguir.

10) O espetáculo do crescimento: aventuras e desventuras dos economistas na incessante busca pela prosperidade nos trópicos
Autor William Easterly
Editora Ediouro
Ano 2004
Numa época em que o combate à pobreza se tornou espetáculo, O espetáculo de crescimento se destaca pela sua análise lúcida e realista o desenvolvimento econômico. William Easterly, economista do Banco Mundial quando da publicação do livro, combinou exemplos de seus anos de experiência com a compreensão teórica, não de um "desenvolvimentista", mas de um economista que estuda o desenvolvimento aplicando um dos conceitos mais básicos da ciência: a importância dos incentivos. O estilo informal permitiu ao livro alcançar ampla audiência, e fomentou na grande imprensa um saudável cinismo sobre o altruísmo burocrático de instituições como BIRD e FMI.

9)Elements of Justice
Autor David Schmidtz
Editora Cambridge University
Ano 2006
A teoria da justiça está no cerne do pensamento libertário, mas isso não significa que haja somente uma abordagem para o tema. Elements of Justice rompe com a tradição monística dos libertários mais proeminentes, e procura entender "o que é de cada um" como um trabalho cartográfico. No mapa da justiça de David Schmidtz, a necessidade, o mérito, a igualdade e a reciprocidade imprimem seus traços sem o privilégio da exclusividade. Com uma impressionante capacidade de aprofundar múltiplos insights em pouco espaço, Schmidtz consegue em poucas páginas provocar cortes profundos em Rawls, Nozick e, com sutileza, propor alguma originalidade na forma como pensamos a justiça, sem perder o respeito de seus pares. Professor de um dos mais renomados departamentos de filosofia política do mundo, Schmidtz é a prova de que a filosofia política libertária não é incompatível com o prestígio acadêmico.

8) The White Man's Burden: Why the West's Efforts to Aid the Rest Have Done So Much Ill and So Little Good
Autor William Easterly
Editora Penguin
Ano 2007
É compreensível que William Easterly tenha sido o único autor a emplacar dois títulos nesta lista. Ao ser lançado em 2006, The White Man's Burden conseguiu provocar um impacto ainda maior do que seu predecessor. Apesar de muitos economistas considerarem O Espetáculo do Crescimento um trabalho mais sofisticado, The White Man's Burden é mais instigante. O livro entrou na lista de melhores do ano do Financial Times e da The Economist, e provocou reações por toda a indústria da filantropia, de Bill Gates (que disse não gostar do livro) até Amartya Sen (autor de uma resenha positiva para a Foreign Affairs). Sempre provocador, Easterly pergunta por que, apesar de gastar mais de 2 trilhões de dólares no século XX com auxílio externo, o Ocidente não conseguiu impedir que crianças africanas morram de malária por não terem acesso a remédios de 12 centavos e a redes de 4 dólares. Talvez porque o Ocidente esteja mais preocupado em gastar rios de dinheiro para aliviar um sentimento de culpa do que em efetivamente erradicar a pobreza.

7) From Mutual Aid to the Welfare State: Fraternal Societies and Social Services, 1890-1967
Autor David Beito
Editora The University of North Carolina
Ano 2000
O advento do welfare state, o "estado de bem-estar social", não criou redes de auxílio ex nihilo. Na verdade, o estado-providência apenas substituiu redes voluntárias e solidárias de assistência social por uma estrutura burocrática uniformizada e menos eficiente. David Beito conta em From Mutual Aid to The Welfare State uma história ignorada da natural demanda humana por providência material. Numa época em que o estado-providência se faz cada vez mais presente (e avança a passos largos nos Estados Unidos), o trabalho de Beito é de extrema importância para demostrar que a política não é o único (nem sequer o melhor) meio de atender às demandas sociais.

6) In Defense of Global Capitalism (Till Varlds Kapitalismens Forsvar)
Autor Johan Norberg
Editora Cato Institute
Ano 2003
O livro mais sistemático a refutar as alegações e ataques do movimento antiglobalização virou ele próprio um fenômeno global. Depois de se tornar bestseller na Suécia em 2001, a obra de Johan Norberg foi traduzida para o inglês em 2003 e a seguir para mais 13 idiomas. O livro acabou servindo de base para o documentário Globalization is Good, produzido pelo Channel 4 britânico e apresentado pelo próprio Norberg. A popularidade de sua argumentação decorre da postura de um autor jovem que não se esconde atrás de obscurantismo teórico. Norberg vai atrás das falácias anticapitalistas e as derrota uma de cada vez, com fatos e com ciência. Seus argumentos são tão francos e claros como o título de In Defense of Global Capitalism.

5) The Bourgeois Virtues: Ethics for an Age of Commerce
Autor Deirdre McCloskey
Editora University of Chicago
Ano 2007
The Bourgeois Virtues é certamente o projeto acadêmico liberal mais ambicioso da década. McCloskey não quer apenas argumentar que a economia de mercado nos tornou pessoas mais eficientes. Ela quer defender que a economia de mercado nos tornou pessoas melhores, mais virtuosas — e fazer essa defesa em um tomo de mais de 600 páginas (supostamente o primeiro em uma série de 4 volumes) perante um público-alvo condicionado a atirar pedras ao som da palavra burguesia. McCloskey balanceia seu esforço hercúleo com um estilo ensaístico, conversacional, sem jamais perder a erudição. O escopo de seu trabalho dificilmente encontra paralelos entre economistas liberais, vivos ou mortos. Ao promover a esperança, a fé, o amor, a justiça, a coragem, a temperança e a prudência, nenhum outro livro desta década consegue com mais sucesso defender a tese de que o mercado não apenas permite ao homem ganhar o mundo, como também pode ajudá-lo a não perder a alma.

4) Justice and its Surroundings
Autor Anthony de Jasay
Editora Liberty Fund
Ano 2002
Versão online
Nenhum outro anarco-liberal faz uso dos instrumentos da escolha racional com a originalidade e a sofisticação de De Jasay. De sua exposição sobre a desnecessidade do Estado para prover a ordem social, passando pelas críticas ao socialismo, até seu ataque fulminante aos teóricos de justiça contemporâneos, De Jasay consegue, nos ensaios que compõem Justice and its Surroundings, produzir um trabalho acadêmico sem par nesta década. Sua linguagem, às vezes técnica, às vezes jocosa, exige do leitor atenção e familiaridade com temas de ciência política e teoria dos jogos para ser propriamente digerida. Mas a recompensa para aquele que tem ambos é o acesso a uma das mentes mais férteis e menos convencionais da literatura liberal contemporânea.

3) The Myth of the Rational Voter: Why Democracies Choose Bad Policies
Autor Bryan Caplan
Editora Princeton University
Ano 2008
O insight central do livro de Bryan Caplan é audaz e contraintuitivo: a racionalidade de nossas ações tem um custo, e a estrutura de incentivos da democracia faz com que esse custo seja alto demais para os eleitores. Em vez de se orientarem racionalmente na esfera política, os eleitores costumam ser guiados pelos efeitos colaterais de suas crenças políticas, como o socialista que se crê santificado ao repetir um slogan, ou o nacionalista que sente alívio ao tomar o imigrante por bode expiatório. O impacto do livro de Caplan pode ser sentido por todo o mundo intelectual. Serviu de tema para segmentos de programas televisivos e até para uma edição inteira da Critical Review, além de ser resenhado por publicações como The Economist e The New Yorker. Uma das mais importantes contribuições econômicas para a ciência política nos últimos anos, nenhum outro livro da década foi mais emblemático da Escola de Virgínia do que The Myth of the Rational Voter.

2) Radicals for Capitalism: A Freewheeling History of the Modern American Libertarian Movement
Autor Brian Doherty
Editora Public Affairs
Ano 2008
A primeira década do novo século marca o fim de uma era na tradição da literatura liberal. Desde os anos 1920, com o lançamento de Socialismo de Mises, a corrente libertária vem pontuando cada década com um marco na tradição liberal. Os anos 1930 tiveram Our Enemy, the State de Nock; os 1940 tiveram O caminho da servidão de Hayek; os 1950, Quem é John Galt? de Ayn Rand; os 1960, Capitalismo e liberdade de Friedman; os 1970, Anarquia, estado e utopia de Nozick; os 1980, A ética da liberdade de Rothbard; e os 1990 fecharam o século com O livro negro do comunismo. Seria possível, ainda, montar uma lista de similar envergadura citando apenas obras aqui omitidas. Órfãos de seus principais heróis intelectuais - o último, Milton Friedman, faleceu em 2006 – os liberais do século XXI se descobriram com a responsabilidade de alimentar a tocha da liberdade com novo combustível intelectual. Para esse empreendimento, Radicals for Capitalism é indispensável. Não há outra introdução ao pensamento libertário mais completa para aqueles que preferem entender ideias abstratas através de uma narrativa histórica. Ao resgatar toda a tradição libertária com uma abrangência jamais feita, Brian Doherty permite aos liberais do novo século escreverem suas primeiras páginas conscientes do lugar que ocupam no contexto da tradição liberal.

1) O mistério do capital: por que o capitalismo dá certo nos países desenvolvidos e fracassa no resto do mundo
Autor Hernando de Soto
Editora Record
Ano 2001
O século XXI pode ser o século em que a miséria será erradicada da humanidade. Para aqueles que querem assumir o dever de fazer dessa promessa uma realidade, O mistério do capital é leitura obrigatória. Seu trabalho pioneiro fez de Hernando de Soto um dos economistas mais famosos do mundo, assim como alvo de atentados terroristas por parte dos maoístas peruanos. De Soto revolucionou o debate do desenvolvimento e teve o raro privilégio de atestar o sucesso da aplicação de suas ideias. Os desenvolvimentistas do século XX, que, chocados com a desigualdade entre ricos e pobres, se dedicaram a traçar esquemas redistributivos e burocráticos, conseguiram pouco mais do que inflar o poder político, incentivar a corrupção, obstruir a formação do estado de direito, e perpetuar a miséria. A alternativa oferecida por De Soto é mais realista. Ciente de que os países desenvolvidos não foram criados desenvolvidos nem seguiram programas de ajuda externa, o economista peruano coordenou uma série de investigações empíricas para identificar o que impede o terceiro mundo de atingir o mesmo nível de desenvolvimento. Sua descoberta é que os custos institucionais impostos por governos de todo o mundo são o principal obstáculo para a redução da pobreza. Em todo o mundo em desenvolvimento, as dificuldades à formalização de comércio, trabalho, contratos e propriedade exclui uma parcela da sociedade humana da participação no mercado. A propriedade imobiliária é o caso mais emblemático. O fato de os estados não reconhecerem os direitos de propriedade de milhões de pessoas aos imóveis que elas de fato possuem impede que elas capitalizem bens que somam quase 10 bilhões de dólares. É a livre iniciativa que vem tornando a miséria cada vez mais uma exceção no mundo desenvolvido, e é a falta de livre iniciativa que aprisiona milhões de pessoas numa condição de pobreza, revela O mistério do capital.


Esta lista, que começa com um livro sobre desenvolvimento, termina como um livro sobre desenvolvimento. Para um século em que o bem-estar humano pode se tornar universal, nada mais oportuno.

Participaram da votação para os 10 livros liberais mais relevantes da década:
Alberto Mingardi, diretor geral do Istituto Bruno Leoni.
Alejandro Chafuen, presidente da Atlas Economic Research Foundation.
Alex Tabarrok, economista da George Mason University.
André Azevedo Alves, diretor de Causa Liberal.
Bryan Caplan, economista da George Mason University.
Daniel Klein, economista da George Mason University.
David Boaz, vice-presidente executivo do Cato Institute.
Diogo Costa, coordenador do OrdemLivre.org.
Emmanuel Martin, diretor do UnMondeLibre.org.
Fred Smith, presidente do Competitive Enterprise Institute.
Jason Kuznicki, research fellow do Cato Institute.
Joey Coon, diretor de programas estudantis do Cato Institute.
Juan Carlos Hidalgo, coordenador de projetos para a América Latina do Cato Institute.
Jude Blanchette, gerente institucional para a Ásia da Atlas Economic Research Foundation.
Khalil Ahmad, diretor de Alternate Solutions Institute.
Leonard Liggio, vice-presidente acadêmico da Atlas Economic Research Foundation.
Marius Gustavson, gerente de projeto do Civita.
Martin Agerup, colunista, presidente da academia dinamarquesa de estudos futuros.
Matt Zwolinski, professor de filosofia na University of California, San Diego.
Peter Boettke, economista da George Mason University.
Tom Palmer, vice-presidente de programas internacionais da Atlas Economic Research Foundation.
Will Wilkinson, editor de Cato Unbound.

2 comentários:

  1. Faltou na listagem 'Liberalismo antigo e moderno', de Jose Guilherme Merquior.

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  2. Grande livro, mas a lista inclui apenas títulos lançados nos anos 2000.

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