quarta-feira, 14 de abril de 2010

2104) Avatares da cooperacao militar Brasil-EUA: Marcelo Rech

Brasil – EUA: a cooperação incomoda
Marcelo Rech
Inforel, 14/04/2010 - 15h52

A cada 15 dias pelo menos, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, afirma em algum evento que vai entregar “na próxima semana” o relatório final sobre a escolha do caça que vai integrar a frota da Força Aérea Brasileira (FAB).

E que o presidente da República reunirá o Conselho de Defesa Nacional para bater o martelo.

Uma celeuma que parece não ter fim.

Às vezes o governo dá a entender que o negócio com a França está fechado. Outras, que os concorrentes têm chances.

Há momentos em que sinaliza com o encerramento da licitação sem definição alguma, copiando o governo tucano.

Na prática, esse negócio de uns US$ 4 bilhões tem sido costurado sem transparência alguma, sugerindo que interesses outros sejam determinantes para que o anúncio seja feito de uma vez por todas.

Ou não.

Depois de se distanciar dos Estados Unidos, de reclamar de sua presença militar na América do Sul e de confrontá-lo com um apoio incondicional ao Irã e a Cuba, o governo assina um pacto estratégico justamente neste campo.

Os Estados Unidos não terão bases à sua disposição, seus militares não gozaram de imunidades e eles não estarão permanentemente por aqui.

Ainda assim, trata-se de uma aliança que irrita a vizinhança, principalmente aqueles que não viram nada demais a Colômbia ampliar seus entendimentos com o Pentágono.

Aceitaram endossar as queixas de Brasília e agora se sentem enganados.

Isso sem contar Bolívia, Equador e Venezuela, que sustentavam seus discursos anti-Império tendo a postura brasileira como pano de fundo.

Se a Colômbia não podia o que faz pensar o ministério da Defesa que o Brasil pode?

Essa é uma das perguntas que Nelson Jobim terá de responder no dia 6 em Quito quando seus homólogos se sentarem na mesma mesa para discutir o assunto.

A exemplo da licitação dos caças, o tema foi muito mal conduzido.

Cheira a oportunismo, coisa de quem se acha melhor que os outros.

Enquanto diziam uma coisa em público, faziam outra em privado.

O acordo assinado em Washington constitui um poderoso instrumento jurídico que permitirá aos dois países detalhar como, quando e em que condições, a cooperação avançará.

Pesquisa e desenvolvimento, intercâmbio de informação militar, projetos e programas tecnológicos e comércio, na área de defesa não é o mesmo que em turismo ou esportes.

Para os Estados Unidos, esse documento é fundamental. Atende aos seus interesses estratégicos na região, mesmo que o Brasil insista em diminuir sua importância.

Se não tem relevância, por que assiná-lo?

O ministro da Defesa foi taxativo ao reconhecer que agora o Brasil está no jogo para vencer (a licitação da Força Aérea norte-americana) um negócio que pode chegar a 200 aeronaves Super Tucano.

Resta saber se o F-18 Super Hornet, fabricado pela norte-americana Boeing, também ressurge das cinzas no arrastado FX2.

Não fosse o lobby instalado no Congresso Nacional pelas empresas na disputa, seria um bom tema a ser investigado.

Marcelo Rech é jornalista, editor do InfoRel e especialista em Relações Internacionais, Estratégias e Políticas de Defesa e Terrorismo e contra-insurgência. Correio eletrônico: inforel@inforel.org

Um comentário:

  1. Em meu blog sempre que trato do assunto chamo o processo de "FX-2 del barrio" em alusão a famosa novela mexicana. Um dramalhão previsível e ainda assim com reviravoltas emocionantes.

    Vou cometer uma heresia agora, mas eu bem que daria boas vindas a um plan mérida para o Brasil enfrentar o crime organizado. Creio que essa afirmativa vai me tornar um "entreguista", "vendido", "agente do império", elitista branco dos olhos azuis (por que pra certo tipo de ativista o sujeito só é negro se for militante no moldes deles.. tenho repetido isso né, é pq o tema está em voga).

    ResponderExcluir

Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.