quinta-feira, 1 de julho de 2010

Duas visoes do Brasil: a mitica e a real

Cada um escolhe a sua...

A nation’s destiny
By Luiz Inácio Lula da Silva
Financial Times, 29/06/2010

When I look back on my seven years as president of Brazil, I have great reason to be proud of the achievements of my government.
In that time, we have returned to growth an economy that had long been stagnant, taken tens of millions of people out of absolute poverty, created more than 14m formal jobs and increased workers’ incomes. Today, most Brazilians are members of the middle class. Our internal market has also grown exceptionally, which was crucial in protecting Brazil from the worst effects of the global financial crisis.
We did this while keeping inflation under control, reducing the ratio of debt to gross domestic product and rebuilding the regulatory functions of the Brazilian state.
We set in motion a powerful process to improve our infrastructure – in energy, housing and social assets – through the accelerated growth programme. As part of this, we are eliminating the bottlenecks that have affected our competitiveness in the past – what is often called the “Brazil cost”.
I am the first president of Brazil without a university degree, yet my government has built the most universities, and ensured they open their doors to hundreds of thousands of young poor people.
Brazil has also been able to substantially reduce its vulnerability to external shocks. We are no longer debtors, but have become international creditors. There is no little irony in the fact that the union leader who once shouted “IMF out!” in the streets has become the president who paid off Brazil’s debts to the same institution – and ended up lending it $14bn.
It is particularly satisfying to have led these changes while strengthening democracy. The tough criticism I have faced from the opposition and from sections of the media are testament to the health of Brazil’s democracy.
As I near the end of my second term as president, what makes me particularly proud is the place Brazil has come to occupy in the world over the past few years, along with other emerging nations. With them, we are creating the basis of a new international economic and political geography. With them, we have sought to build a world that is more just in social and economic terms – free of hunger and misery, respectful of human rights and able to confront the threat of global warming.
But the successes my government has achieved cannot obscure the enormous challenges that still lie ahead. Most importantly, we still have significant amounts of poverty in our country. The creation of opportunities for our young people, in particular, should remain a key objective, as it is central to the future we are building for Brazil. To do this, we must address issues such as how to improve our education system, how to find effective ways of dealing with drugs and violence, and how to offer our young people real choices in terms of work, leisure and culture.
Some of these initiatives will be decisive in the construction of an economy that is based increasingly on knowledge. The great advances we have made in the field of science – which have placed us among the best in the world in this area – must continue and be translated into technological progress.
But there are also political deficits we will have to face. The reform of the Brazilian state, which we have begun, must continue and deepen, along with tax reform. The reform of our political and electoral systems cannot wait any longer – that would compromise the continuity of the advances we have enjoyed in recent years.
For myself, after leaving the presidency I want to continue to contribute to improving people’s quality of life. At the international level, I intend to concentrate my attention on initiatives to benefit the countries of Latin America and the Caribbean, and the continent of Africa. Brazil has much experience it can share. We cannot be an island of prosperity surrounded by a sea of poverty and social injustice.
I want to continue the efforts my government has made towards creating a multilateral and multipolar world that is free from hunger and poverty. A world in which peace is no longer a utopia, but a concrete possibility.

==============

A Noruega tropical de Lula
Editorial - O Estado de São Paulo, 30/06/2010

Convidado pelo Financial Times (FT) de Londres a fazer uma avaliação do seu governo e a antecipar o que pretende fazer depois de deixar o Planalto, no primeiro dia de 2011, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva respondeu com um artigo de 700 palavras, publicado ontem em um suplemento especial sobre o Brasil.

Trata-se de uma versão comparativamente austera, como convém aos textos do mais influente diário econômico do mundo, da exuberante teoria do “nunca antes na história deste País”, complementada pela promessa de “continuar a contribuir para a melhora da qualidade de vida das pessoas” - desta vez no mundo inteiro.

Mas a megalomania se livra dos arreios quando, para justificar o seu intento de fazer pelos latino-americanos, caribenhos e africanos o que se vangloria de ter feito pelos brasileiros, Lula não deixa por menos: “Não podemos ser uma ilha de prosperidade cercada por um mar de pobreza e injustiça social.”

Sejam quais forem as evidências que ele queira enfileirar sobre os progressos dos últimos anos da economia brasileira e das condições de vida da população - e seria pueril, ou desonesto, negá-los -, Lula fala do Brasil, 75.º colocado no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), como se fosse uma Noruega.

O país nórdico lidera o ranking criado pelas Nações Unidas e gasta proporcionalmente mais do que qualquer outro país em ajuda externa. Na realidade, já descontados os Estados Unidos e o Canadá, 16 países do Hemisfério têm um IDH melhor que o brasileiro.

Como era de esperar, Lula credita exclusivamente ao seu governo o fato de o Brasil sangrar em saúde. O que veio antes foi como se não tivesse existido, ou, quando existiu, foi contraproducente. “Devolvemos o crescimento a uma economia de há muito estagnada”, alardeia, “e o fizemos mantendo a inflação sob controle, reduzindo a relação entre a dívida e o PIB e reconstruindo as funções reguladoras do Estado brasileiro.”

O papel, como se diz, aceita tudo. Nem a conjuntura internacional excepcionalmente favorável a exportadores de produtos primários e insumos, como é o Brasil, nem, muito menos, a decisão de Lula de se apropriar da “herança maldita” do governo Fernando Henrique, na esfera macroeconômica, precisam ser reconhecidas - o que não há de ter escapado àquela parcela dos leitores do Financial Times que sabe que a história do País não começou quando o atual presidente chegou ao Planalto.

Além de se atribuir a paternidade pelo “novo Brasil”, título do caderno especial do FT, Lula fez pelo menos 2 gols em impedimento, na esperança de que os árbitros estivessem olhando para o outro lado. A afirmação sobre a reconstrução das funções reguladoras do Estado nacional é mais do que falsa. O que o lulismo tem feito com as agências reguladoras é privá-las de sua autonomia e manipular a sua composição para atender aos interesses do governo e seus aliados políticos e politiqueiros. A isso se chama destruir e não reconstruir.

O leitor distraído pode tomar pelo valor de face o que Lula escolheu dizer sobre a transformação material do País, mas os investidores sabem perfeitamente quanto há de embromação nas seguintes palavras: “Pusemos em marcha um processo poderoso de melhorar nossa infraestrutura (?). Como parte disso, estamos eliminando os gargalos que afetavam nossa competitividade no passado - o que costuma ser chamado “custo Brasil”.”

Lula reconhece “os enormes desafios pela frente”, a começar da pobreza ainda significativa, a insuficiência do sistema de educação, além da droga e da violência. E menciona em seguida a necessidade das reformas tributária e político-eleitoral. Estas últimas “não podem esperar mais”, sob pena de “comprometer a continuidade dos avanços de que desfrutamos nos anos recentes”.

O presidente fala como se tivesse dado o melhor de si, ao longo desses 7 anos, para mudar as regras do jogo político. Não apenas não o fez - e ao não fazê-lo permitiu que prevalecessem no Congresso os interesses dos que querem que tudo permaneça como está -, como ainda tirou proveito da fragmentada e reduzida representatividade do sistema de partidos para formar a sua enxundiosa base parlamentar, vitaminada pelo mensalão.

Um comentário:

  1. Já haviamos conjeturado, neste mesmo espaço, que o Sr.Presidente e sua entourage crêem piamente haver descoberto(inventado!)o Brasil; quando em 2003 chegaram ao planalto encontraram toda a nação vestida de tanga, cocar, tacape na mão e morando em ocas!

    Vale!

    ResponderExcluir

Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.