domingo, 10 de outubro de 2010

O desmantelamento do Estado e a destruicao da Petrobras

Eu poderia começar este comentário por uma frase de efeito, do tipo:
"Eu acuso o presidente da República de desmantelar as instituições brasileiras!"
ou
"Eu acuso o presidente da República de destruir a Petrobras!"
Poderia, mas não vou fazê-lo. Inclusive porque já o fiz, venho fazendo, desde sempre.
Não porque me considere seu inimigo pessoal, ou ideológico. Não, longe disso.
Não me considero nada do presidente da República (que deveria ser escrita com r minúsculo, tanto ela vem sendo diminuída).
Sou apenas um cidadão observador da realidade.
E nem acionista da Petrobras eu sou, para vir aqui em defesa de seus interesses enquanto companhia, ou em defesa dos interesses de seus acionistas, que são milhões, brasileiros e estrangeiros, espalhados pelo mundo, ricos e pobres, geralmente classe média, alguns especuladores pelo meio (como é normal no mercado acionário), mas no cômputo global pessoas normais, como eu e você, que simplesmente acham que investir em ações de uma grande e prometedora companhia é um bom negócio pessoal, para rentabilizar seus ativos e transformar uma pequena poupança num bom redimento para o futuro. Sim, a maior parte dos acionistas quer apenas ganhar algum dinheiro.
Se depender do presidente da República vão perder, pelo menos por agora.
Sim, eu acuso o presidente da República de ser um desmantelador sistemático de instituições, do Estado em particular -- o que vem fazendo desde o primeiro dia que assumiu a presidência do brasil (tudo em minúsculas) -- e da Petrobras, nesta caso específico, ao lado de várias outras empresas, públicas e privadas.
Ele as vem destruindo em primeiro lugar pelo seu poder corruptor, em segundo lugar por se pretender administrador e gestor, na verdade dono das estatais, dando ordens às companhias como se elas estivesse a seu serviço e da sua máfia particular.
Eu acuso o presidente da república -- pronto: me entusiasmei com o mote, dito por um professor de harvard (sinto Harvard) que o acusou de ser o mais corrupto da história do brasil, e que depois se colocou sabujamente a seu serviço -- de simplesmente destruir a petrobras (e outras companhias) pelas suas intervenções sistemáticas em decisões que deveriam ser puramente empresarias, mercantis, econômicas, pautadas unicamente pela lógica de mercado e das regras da boa microeconomia.
Eu acuso o presidente da república de solapar a soberania do brasil, ao determinar que a petrobras construisse uma refinaria no estado de pernambuco (sorry Pernambuco) em cooperação com a PDVSA da Venezuela, apenas porque o chávez, esse coronel de opereta fascista, decidiu que a refinaria tinha de ser feita ali, e em nenhum outro lugar mais. Essa decisão foi aliás tomada, servilmente, pela então ministra de minas e energia, que hoje é candidata à infeliz presidência do brasil.
Esse presidente dessa república que aí está pretende ser dono da petrobras, e a conduz a tomar decisões políticas, e de má qualidade, o que ela não faria se tivesse pleno domínio sobre sua gestão, como deve ocorrer com qualquer companhia.
Eu acuso o presidente da república de ser nefasto aos interesses nacionais.
Pronto, acho que já disse o que tinha a dizer, hoje.
Deixo vocês agora com esse editorial impecável do Estadão, que dá as razões do meu desabafo.
Desabafo que, como já disse, não tem nada a ver com o valor de mercado das ações da Petrobras. Trata-se apenas de um desabafo moral, em face de uma situação absurda que estamos vivendo, e que a maioria dos brasileiros, mesmo os políticos, não percebem como essencialmente negativa para o Brasil. Pobre Brasil!
Paulo Roberto de Almeida

A politização da Petrobrás
Editorial - Estado de S.Paulo
Domingo, 10 de outubro de 2010

Depois da “maior capitalização da história”, a maior empresa do Brasil, a Petrobrás, perdeu R$ 28,4 bilhões de valor de mercado em apenas três dias, encolhendo 7,5% nesse período. Na sexta-feira, suas ações ganharam algum impulso, depois de bater no nível mais baixo em um ano e meio. A onda de vendas foi apenas um “ajuste de carteira”, segundo seu presidente, José Sérgio Gabrielli. “É normal as ações subirem e descerem”, ponderou o ministro da Fazenda e presidente do conselho da estatal, Guido Mantega. A empresa, acrescentou, está mais forte do que nunca e sua capitalização foi “reconhecida mundialmente como importante”. Nenhuma das duas explicações é para ser levada a sério. Oscilações dessa amplitude não são normais no dia a dia nem são meros ajustes de carteira. O problema da Petrobrás é o mesmo de antes da capitalização: uma perigosa subordinação aos interesses políticos de um governo centralizador e voluntarista.

Os investidores foram confrontados durante a semana com duas novidades importantes. Uma delas foi a avaliação negativa divulgada por seis bancos. Diluição de lucros e perspectiva de baixo retorno foram os problemas apontados. A outra foi o rumor sobre irregularidades na administração da empresa.

Este segundo fator seria muito menos importante, se o mercado reconhecesse a gestão da Petrobrás como essencialmente profissional e voltada para objetivos empresariais. Mas esse não é o caso. Há meses, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou publicamente haver mandado a estatal investir em refinarias no Nordeste. Esses investimentos, segundo ele, não teriam ocorrido, se a decisão dependesse da avaliação dos diretores da companhia. Nos últimos dias, o presidente da República voltou a alardear sua intervenção.

A Petrobrás, disse ele na quinta-feira, deixou de ser uma caixa-preta e converteu-se numa caixa branca, ou quase, durante seu governo. Ele teria apontado um fato positivo, se mencionasse apenas o aumento da transparência - discutível, na verdade. Mas foi além disso e se vangloriou, mais uma vez, de mandar na empresa: “A gente sabe o que acontece lá dentro e a gente decide muitas das coisas que ela vai fazer.”

“A gente decide” é mais que uma expressão singela. É uma confirmação - mais uma - do estilo centralizador e voluntarista do presidente da República. Não só de um estilo, mas de uma mentalidade. Ele age e fala como se as diretorias das estatais fossem apenas extensões de seu gabinete e não tivessem compromissos com milhões de acionistas. “A gente sabe” e “a gente decide”. Ele, de fato, foi além disso. Tentou interferir também na gestão de grandes empresas privatizadas, como a Embraer e a Vale, como se coubesse ao presidente da República orientar as políticas de pessoal e de investimentos dessas companhias.

Esse jogo de interferências não tem sido apenas econômico e administrativo. O envolvimento do presidente da República tem sido sobretudo político e, muitas vezes, político-eleitoral. “A Petrobrás também está no segundo turno”, disse Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, ao comentar a inauguração antecipada, na quinta-feira, da Plataforma P-57. Antes da votação de domingo, o evento estava previsto para dezembro.

Também a capitalização da Petrobrás foi politizada, o que complicou o processo. O leilão ocorreu quase no fim do prazo previsto, porque o governo foi incapaz de cuidar do problema com critérios essencialmente econômicos e administrativos. Sua insistência em ampliar a participação do Estado na Petrobrás dificultou a fixação do preço dos 5 bilhões de barris cedidos à empresa pela União. O preço médio foi estabelecido, afinal, por um processo nunca explicado de forma satisfatória, até porque não passa de suposição o volume das jazidas envolvidas no negócio.

A confusão e a insegurança criadas por esse processo politizado afetaram duramente o mercado. O valor da Petrobrás encolheu cerca de 30%, enquanto a empresa, o governo e a Agência Nacional do Petróleo se enrolavam nas dificuldades políticas da capitalização. A empresa continua sob os efeitos de uma gestão politizada e, por isso, vulnerável a rumores e escândalos. O mercado refletiu, nos últimos dias, essa vulnerabilidade.

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