En qualquer democracia "normal" do mundo, mesmo as de mais baixa qualidade, esse partido, essa gerontocracia, esse partido, esse senhor, já teriam sido postos porta afora do governo, mediante eleições livres.
O povo pode tolerar incompetência econômica durante certo tempo, estimando que o futuro pode melhorar as coisas. Mas dificilmente tolerará cinquenta anos de penúria, de desastres econômicos, de falta de perspectivas, a não ser que seja submetido a uma ditadura poderosa.
Curioso que tem gente, no Brasil e em outros lugares, que ainda defende um regime desse tipo...
A verdade é que o regime cubano viveu de subsídios soviéticos durante muito tempo, até que acabou. Agora vive de mensalão bolivariano, que um dia vai acabar também. Vão tentar uma via chinesa, ou seja, capitalismo com ditadura do Partido Comunista. Em Cuba não vai dar certo...
Como já disse alguém: o socialismo dura enquanto dura o dinheiro dos outros...
Paulo Roberto de Almeida
Cuba: Raúl Castro cumple 5 años en el poder clamando contra desorden económico
Infolatam/Efe
La Habana, 30 de julio de 2011
Las claves
La "batalla económica" ha sido el empeño de Raúl Castro desde que tomó las riendas de la isla, el 31 de julio de 2006.
El "traspaso de poderes" se ha completado este año, cuando el Partido Comunista designó a Raúl su primer secretario en sustitución de un Fidel que acudió a la clausura del VI Congreso del PCC.
El presidente de Cuba, Raúl Castro, cumple este domingo cinco años al frente del país intentando “actualizar” el socialismo y clamando contra el desorden y los incumplimientos que obstaculizan sus reformas económicas para superar la aguda crisis que arrastra la isla.
Hace unos días ante su Consejo de Ministros, el general Castro volvió a criticar incumplimientos, mala planificación y deficiencias y advirtió que jueces y fiscales tendrán un papel “determinante” ante las faltas que perjudican la economía.
La “batalla económica” ha sido el empeño de Raúl Castro (80 años) desde que tomó las riendas de la isla: fue el 31 de julio de 2006 cuando su hermano Fidel, tras medio siglo en el poder, delegó en él sus responsabilidades por una grave enfermedad.
Raúl asumió primero de forma provisional y en 2008 fue ratificado en la Asamblea Nacional de Cuba como presidente.
El “traspaso de poderes” entre los Castro se ha completado este año, cuando el Partido Comunista designó a Raúl su primer secretario en sustitución de un Fidel que acudió a la clausura del VI Congreso del PCC para levantar el brazo de su hermano menor en una simbólica imagen que tendrá lugar destacado en el abultado álbum de la revolución.
Fue el VI Congreso comunista el que también aprobó su plan de reformas para poner a producir a Cuba, alejarla del precipicio de la crisis e intentar evitar que se hunda una revolución que ha cumplido ya 52 años.
Lo que la retórica oficial llama “actualización” económica supone una apertura a la iniciativa privada: más de 325.000 cubanos ejercen ya el trabajo por cuenta propia con la novedosa posibilidad de contratar asalariados.
Esta es una de las principales medidas puestas en marcha junto a una masiva reducción de las abultadas plantillas del estado cubano.
La “batalla” del general Castro también se libra en el campo con un plan -que no acaba de dar los resultados deseados- de entrega de tierras en usufructo para aumentar la producción de alimentos, cuestión de “seguridad nacional” porque la isla gasta más de 1.500 millones de dólares al año en importar el 80 por ciento de los víveres que consume.
En las últimas semanas se han producido además anuncios de calado social como leyes para permitir la compraventa de viviendas y automóviles entre particulares.
En su primer quinquenio en el poder, Raúl Castro también ha clamado contra el inmovilismo y los dogmas, ha llamado a desterrar la burocracia, quiere desmontar el paternalismo estatal con la supresión de subsidios “innecesarios” y ha emprendido acciones contra la corrupción.
Analistas consultados por Efe coinciden que en el “quinquenio raulista” se han planteado cambios económicos profundos y se ha introducido más racionalidad aunque los más críticos insisten en que se trata de medidas “insuficientes” y “muy lentas”.
El economista disidente Óscar Espinosa atribuye esa lentitud a la resistencia de sectores conservadores y ortodoxos del régimen junto a la falta de audacia y vacilaciones de los “reformistas”.
Para otros disidentes, la situación de los derechos civiles, políticos, económicos y culturales “ha empeorado” durante el mandato del general Castro, según Elizardo Sánchez, activista de derechos humanos.
Pese al proceso de excarcelaciones de presos políticos del último año, Sánchez denuncia un aumento de la represión con un sistema de detenciones de corta duración contra opositores.
En la calle, las impresiones ante las reformas “raulistas” oscilan entre la indiferencia, el escepticismo y tímidas esperanzas.
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"Vivemos o fim de uma casta política"
Entrevista: Yoani Sánchez
Correio Braziliense, 31/07/2011
Yoani Sánchez transformou-se em uma espécie de símbolo da oposição cubana. Aos 35 anos, é a responsável pelo blog Generación Y — por meio do site na internet, ela denuncia as mazelas políticas e sociais da ilha. Em entrevista ao Correio, por telefone, de Havana, a ativista admite mudanças importantes em Cuba na direção da abertura político-econômica. No entanto, considera essas transformações lentas e afirma que elas ainda não surtiram efeito na mesa e no bolso dos cubanos. De acordo com Yoani, os cinco anos de governo Raúl Castro são marcados por um "pecado original". "É um presidente que não foi eleito, que chegou ao poder por via sanguínea", explicou. A mulher que em 2008 esteve na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo, da revista Time, é otimista em relação ao futuro. "Creio que estamos vivendo o fim de uma casta política e de uma geração no poder", comentou, apesar de reconhecer as inúmeras dificuldades que a população cubana tem enfrentado.
O que mudou em Cuba desde a saída de Fidel Castro, cinco anos atrás?
Evidentemente, Raúl Castro e Fidel Castro têm estilos de governo diferentes. Fidel era um homem que governava da tribuna, com um microfone nas mãos e com quilométricas intervenções públicas. Raúl é muito mais comedido a falar, não? Por exemplo, um detalhe simpático é que, desde que Raúl Castro começou a comandar o país, a programação televisiva passou a ser respeitada. Não há mais as interrupções causadas pelos longos discursos de Fidel Castro. As donas de casa estão felizes porque já não se suspende a transmissão das telenovelas brasileiras. O governo de Raúl Castro está marcado por um pecado original, que ele é incapaz de solucionar. Trata-se de um presidente que não foi eleito, que chegou ao poder por via sanguínea. Funciona como um reino. A população espera que um governante cumpra com um programa, mas Raúl nada teve que prometer para chegar ao poder.
Houve transformação expressiva em relação às liberdades individuais e aos direitos civis?
O tema dos direitos dos cidadãos e civis não registrou avanços evidentes e claros. Com Raúl Castro, continuamos com o monopartidarismo. Com Raúl Castro, seguem em pé as leis que penalizam a opinião em Cuba. Por exemplo, a chamada Lei nº 88, conhecida como Lei da Mordaça, que levou à prisão 75 opositores e dissidentes em 2003, está vigente no Código Penal cubano. Todavia, em Cuba não é possível criar uma associação independente e inscrevê-la legalmente em um cartório. Todavia, em Cuba não é possível entrar nem sair do território nacional livremente para os nascidos neste país. A falta de liberdades está intacta. O que se passa é que a repressão mudou de estilo com Raúl Castro. Com seu irmão, por exemplo, quando Fidel citava os nomes dos opositores e os "satanizava" em público, os dissidentes acabavam condenados a longas penas de prisão. Com Raúl, esse ponto é diferente. A repressão está no aumento da militarização da sociedade cubana. No entanto, os dissidentes já não são mais condenados a longas sentenças. São detidos por algumas horas ou por alguns dias, sem que haja qualquer constância legal ou documento que conste a repressão. Nesse caso, Raúl Castro tem feito uma repressão mais silenciosa, mais calada. A repressão com Fidel era mais evidente.
Durante esses cinco anos, os cubanos tiveram mais prejuízos ou mais benefícios?
Penso que tivemos mudanças importantes, na direção da abertura. O problema é o ritmo dessas reformas. Houve um impacto muito positivo, os cubanos já podem entrar livremente nos hotéis, comprar computadores e obter um contrato de telefonia móvel. São avanços ocorridos no governo de Raúl Castro. No entanto, em relação às expectativas iniciais, com o que as pessoas esperavam que ocorresse a partir de 31 de julho de 2006, as estatísticas oficiais atestam que Raúl decepcionou. No ano passado, 38.165 cubanos emigraram definitivamente de Cuba. Eles não quiseram esperar e se cansaram da lentidão das reformas.
As reformas anunciadas até então surtiram efeito na vida dos cidadãos cubanos?
As reformas econômicas implementadas pelo governo de Raúl Castro estão orientadas na direção correta, no sentido da flexibilização. Lamentavelmente, elas ocorrem a um ritmo muito lento e a uma profundidade bastante superficial. Os efeitos dessas reformas não são vistos no prato, sobre a mesa dos cubanos, ou nos bolsos. Os salários estão totalmente fora da realidade comercial do país. A produção agrícola também não aumentou de modo notável. Inclusive, ela diminuiu nos setores do tabaco, do café e do açúcar.
Que dificuldades um morador de Cuba enfrenta atualmente?
Eu diria que são as dificuldades econômicas e as dificuldades que têm a ver com a falta de liberdade. Entre as dificuldades econômicas, está o colapso do transporte público interprovincial. Vivemos em um país onde o tema dos transportes é um capítulo agonizante. A dualidade monetária é uma espécie de esquizofrenia econômica que vivemos há 17 anos e, no entanto, diminui muito o nível de vida da população cubana. Os salários também estão bastante ínfimos. Um profissional médio tem um salário mensal de cerca de US$ 20. Todavia, há limitações e regulações no tema da propriedade. Ainda que o Congresso do Partido Comunista Cubanao tenha anunciado a abertura do mercado imobiliário e a compra e a venda de carros, na prática isso não funciona. Nos últimos quatro anos, pedi em 17 oportunidades autorização para viajar e, em todas, ela me foi negada. Os cubanos não podem fundar um partido ou uma associação, e nem podem ler outro veículo de imprensa que não seja a oficial. Isso cria uma sensação de asfixia econômica e política, que empurra a maioria das pessoas ao sonho de migrar.
A senhora é otimista ou pessimista em relação ao futuro da ilha?
Sou otimista. Realmente, creio que estamos vivendo o fim de uma casta política e de uma geração no poder. O fim de um discurso do século 20. A apatia, o oportunismo e a falta de fé no sistema estão causando uma corrosão no sistema político. De braços cruzados, os cubanos estão conseguindo fazer o que talvez não pudessem de punhos erguidos.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
domingo, 31 de julho de 2011
Que reste-t'il de nos amours (interrogation, ou pas?)
Suggestions: http://www.youtube.com/watch?v=vv7PwrWp5lQ&feature=fvwrel
3:47
Que Reste-t-Il De Nos Amours - Patrick Bruel & ...
2:57
Camelia Jordana - Que Reste T'il de Nos Amours...
1:42
DALIDA and CHARLES TRENET Que reste t-il de nos...
5:04
Joao Gilberto - "I Wish You Love (Que reste-t-i...
1:20
Stacey Kent - Que reste-t-il de nos amours? (Ch...
1:49
Eva Lopez - que reste t'il de nos Amours
3:46
patricia kaas que reste t il de nos amours
3:33
Que reste-t-il de nos amours?
5:07
JOÃO GILBERTO Que reste- t-il de nos amours?
3:54
Que Reste-t-il De Nos Amours / I Wish You Love
4:55
Que reste t il de nos amours?
Gigliola Cinquetti: Que reste-t-il de nos amours?
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JOÃO GILBERTO Que reste- t-il de nos amours?
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Que reste t il de nos amours?
Gigliola Cinquetti: Que reste-t-il de nos amours?
Pausa para... quase nada, ou apenas Ces petits riens
Ces petits riens
(Paroles/Musique:S. Gainsbourg)
Mieux vaut n'penser à rien
que n'pas penser du tout
rien c'est déjà, rien c'est déjà beaucoup
on se souvient de rien et puisqu'on oublie tout
rien c'est bien mieux, rien c'est bien mieux que tout
mieux vaut n'penser à rien
que de penser à vous
ça n'me vaut rien, ça n'me vaut rien du tout
mais comme si de rien n'était je pense à tous
ces petits riens qui me venaient de vous
si c'était trois fois rien, trois fois rien entre nous
évidemment ça ne fait pas beaucoup
ce sont ces petits riens que j'ai mis bout à bout
ces petits riens qui me venaient de vous, de vous
mieux vaut pleurer de rien
que de rire de tout
pleurer pour un rien, c'est déjà beaucoup
mais vous, vous n'avez rien dans le coeur, et j'avoue
je vous envie, je vous en veux beaucoup
ce sont ces petits riens qui me venaient de vous
les voulez-vous, tenez, que voulez-vous
moi je ne veux pour rien au monde, plus rien de vous
pour être à vous, faut être à moitié fou
========
Plein d'interprétations dans Youtube:
Françoise Hardy - Ces petits riens - 1981
Carla Bruni - Those Little Things (Ces Petits Riens)
Ces petits rien... de Stacey Kent
(Paroles/Musique:S. Gainsbourg)
Mieux vaut n'penser à rien
que n'pas penser du tout
rien c'est déjà, rien c'est déjà beaucoup
on se souvient de rien et puisqu'on oublie tout
rien c'est bien mieux, rien c'est bien mieux que tout
mieux vaut n'penser à rien
que de penser à vous
ça n'me vaut rien, ça n'me vaut rien du tout
mais comme si de rien n'était je pense à tous
ces petits riens qui me venaient de vous
si c'était trois fois rien, trois fois rien entre nous
évidemment ça ne fait pas beaucoup
ce sont ces petits riens que j'ai mis bout à bout
ces petits riens qui me venaient de vous, de vous
mieux vaut pleurer de rien
que de rire de tout
pleurer pour un rien, c'est déjà beaucoup
mais vous, vous n'avez rien dans le coeur, et j'avoue
je vous envie, je vous en veux beaucoup
ce sont ces petits riens qui me venaient de vous
les voulez-vous, tenez, que voulez-vous
moi je ne veux pour rien au monde, plus rien de vous
pour être à vous, faut être à moitié fou
========
Plein d'interprétations dans Youtube:
Françoise Hardy - Ces petits riens - 1981
Carla Bruni - Those Little Things (Ces Petits Riens)
Ces petits rien... de Stacey Kent
Canadian scholarships for Master studies in Brazil
50 scholarships for foreign students who wish to pursue a Master’s Degree in Brazil
Dear Colleagues,
The Organization of American States (OAS) and the Coimbra Group of Brazilian Universities (GCUB), have joined together to announce that they will offer up to 50 scholarships for foreign students who wish to pursue a Master’s Degree in Brazil.
The deadline for applications is August 31. For more information, please visit:
http://www.oas.org/en/scholarships/brazil.asp
Chèr(e)s collègues,
La OAS et le GCUB ont annoncé qu’ils offrent jusqu’à un maximum de 50 bourses aux étudiant(e)s étrangers qui souhaitent poursuivre les études de maîtrise en Brésil. Le date limite pour soumettre une demande est le 31 Août. Pour tous questions, veuillez visiter le site suivant:
http://www.oas.org/en/scholarships/brazil.asp
(Les informations sont disponibles en anglais et espagnol seulement)
Best regards,
Susie Cruess
Manager, Communications and Membership Services / Responsable, communications et services aux membres.
Membership and Scholarships / Services aux membres et bourses
Canadian Bureau for International Education / Bureau canadien de l’éducation internationale
e: scruess@cbie.ca; communications@cbie.ca
t: 613-237-4820 x.212
w: www.cbie.ca
Dear Colleagues,
The Organization of American States (OAS) and the Coimbra Group of Brazilian Universities (GCUB), have joined together to announce that they will offer up to 50 scholarships for foreign students who wish to pursue a Master’s Degree in Brazil.
The deadline for applications is August 31. For more information, please visit:
http://www.oas.org/en/scholarships/brazil.asp
Chèr(e)s collègues,
La OAS et le GCUB ont annoncé qu’ils offrent jusqu’à un maximum de 50 bourses aux étudiant(e)s étrangers qui souhaitent poursuivre les études de maîtrise en Brésil. Le date limite pour soumettre une demande est le 31 Août. Pour tous questions, veuillez visiter le site suivant:
http://www.oas.org/en/scholarships/brazil.asp
(Les informations sont disponibles en anglais et espagnol seulement)
Best regards,
Susie Cruess
Manager, Communications and Membership Services / Responsable, communications et services aux membres.
Membership and Scholarships / Services aux membres et bourses
Canadian Bureau for International Education / Bureau canadien de l’éducation internationale
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t: 613-237-4820 x.212
w: www.cbie.ca
Islam and Capitalism - Guy Sorman (City Journal)
Is Islam Compatible with Capitalism?
Guy Sorman
The City Journal, vol. 21, n. 3, Summer 2011
The Middle East’s future depends on the answer.
BEBA/IBERFOTO/THE IMAGE WORKS
A sixteenth-century Turkish bazaar. Muslim tradition has long accepted the marketplace, though sharia constrained its efficiency
The moment you arrive at the airport in Cairo, you discover how little Egypt—the heart of Arab civilization—is governed by the rule of law. You line up to show your passport to the customs officer; you wait and wait and wait. Eventually, you reach the officer . . . who sends you to the opposite end of the airport to buy an entry visa. The visa costs 15 U.S. dollars; if you hand the clerk $20, though, don’t expect any change, let alone a receipt. Then you make the long hike back to the customs line, where you notice that some Egyptians—important ones, apparently—have helpers who hustle them through. Others cut to the front. It’s an annoying and disturbing welcome to a chaotic land, one that has grown only more chaotic since the January revolution. It’s also instructive, effectively demonstrating why it’s hard to do business in this country or in other Arab Muslim lands, where personal status so often trumps fair, universally applied rules. Such personalization of the law is incompatible with a truly free-market or modern society and helps explain why the Arab world’s per-capita income is one-tenth America’s or Europe’s.
The airport experience, had he been able to undergo it, would have been drearily familiar to Rifaa al-Tahtawi, a brilliant young imam sent to France in 1829 by the pasha of Egypt. His mission: figure out how Napoleon’s military had so easily crushed Egypt three decades earlier, a defeat that revealed to a shocked Arab world that it was now an economic, military, and scientific laggard. At the outset of the book that he wrote about his journey, The Gold of Paris, Rifaa describes a Marseille café: “How astonished I was that in Marseille, a waiter came to me and asked for my order without my looking for him.” Then the coffee arrives without delay. Finally—most amazing of all—Rifaa gets the bill for it, and the price is the same as the one listed on the menu: “No haggling,” he enthuses. Rifaa concludes: “I look for the day when the Cairo cafés will follow the same predictable rules as the Marseille cafés.” But nearly two centuries later, the only Egyptian cafés that live up to Rifaa’s hopes are the imported Starbucks.
Egypt is, of course, a Muslim nation. Should Islam be indicted for what was in Rifaa’s time, and remains today, a dysfunctional economy? The question becomes all the more important if you extend it to the rest of the Arab Middle East as it is swept by popular revolts against authoritarian rule. Will the nations that emerge from the Arab Spring embrace the rule of law and other crucial institutions that have allowed capitalism to flourish in the West? Or are Islam and economic progress fundamentally at odds?
Muslim economies haven’t always been low achievers. In his seminal work The World Economy, economist Angus Maddison showed that until the twelfth century, per-capita income was much higher in the Muslim Middle East than in Europe. Beginning in the twelfth century, though, what Duke University economist Timur Kuran calls the Long Divergence began, upending this economic hierarchy, so that by Rifaa’s time, Europe had grown far more powerful and prosperous than the Arab Muslim world.
A key factor in the divergence was Italian city-states’ invention of capitalism—a development that rested on certain cultural prerequisites, Stanford University’s Avner Greif observes. In the early twelfth century, two groups of merchants dominated Mediterranean sea trade: the European Genoans and the Cairo-based Maghrebis, who were Jewish but, coming originally from Baghdad, shared the cultural norms of the Arab Middle East. The Genoans outpaced the Maghrebis and eventually won the competition, Greif argues, because they invented various corporate institutions that formed the core of capitalism, including banks, bills of exchange, and joint-stock companies, which allowed them to accumulate enough capital to launch riskier but more profitable ventures. These institutions, in Greif’s account, were an outgrowth of the Genoans’ Western culture, in which people were bound not just by blood but also by contracts, including the fundamental contract of marriage. The Maghrebis’ Arab values, by contrast, meant undertaking nothing outside the family and tribe, which limited commercial expeditions’ resources and hence their reach. The bonds of blood couldn’t compete with fair, reliable institutions (see “Economics Does Not Lie,” Summer 2008).
Greif’s theory suggests that cultural differences explain economic development better than religious beliefs do. Indeed, from a strictly religious perspective, one could view Muslims as having an advantage at creating wealth. After all, Islam is the only religion founded by a trader—one who also, by the way, married a wealthy merchant. The Koran has only good words for successful businessmen. Entrepreneurs must pay a 2.5 percent tax, the zakat, to the community to support the general welfare, but otherwise can make money guilt-free. Private property is sacred, according to the Koran. All this, needless to say, contrasts with the traditional Christian attitude toward wealth, which puts the poor on the fast track to heaven and looks down in particular on merchants (recall Jesus’s driving them from the Temple).
But Duke’s Kuran believes that Islam did play a role in the Long Divergence. It wasn’t the Koran, which the Muslim faithful see as written by God and unalterable, that impeded Muslims economically, he argues, but instead sharia, the religious law developed by scholars after Mohammed’s time. Not that sharia was overtly hostile to economic progress; it established commerce-friendly legal rules that, for instance, allowed for bazaars and for the arbitration of economic disputes. Rather, Kuran maintains, sharia became economically counterproductive because it was less efficient than the Western legal framework.
The most significant of the sharia-rooted economic liabilities was the Islamic partnership, which proved no match for the Western world’s joint-stock company. Partnerships were short-lived, dissolving with the death of any of the partners, and they tended to be small, often formed among family members. Joint-stock companies, which sharia prohibited, had much greater reach and risk-hedging power. Sharia inheritance rules were a second drag on economic development, Kuran explains. Since the Koran sanctions polygamy, sharia required a husband’s wealth, upon his death, to go in equal portions to his widows and children, which worked against capital accumulation. In the Roman law that held sway in Europe until the nineteenth century, by contrast, the eldest son inherited his deceased father’s wealth, creating vast fortunes that could be put to economic work. Some economists point to sharia’s prohibition of interest as another hamper on development, but this is much less significant than it appears. From at least the twelfth century on, sharia lawyers authorized “fees” that could accompany money-lending, getting around the ban.
Muslim welfare foundations to aid the poor, called waqf, also undermined economic competitiveness over time, says Kuran. According to sharia, all money given to these charities was exempt from taxation. But Muslim merchants began to establish waqf as fronts for commercial enterprises, depriving the government of sufficient funds to function properly. This tax evasion contributed to the failure of the Arab kingdoms and the Ottoman Empire to build a competent minimal state, which is essential to the effective rule of law.
For evidence that sharia had negative economic effects, consider the Egyptian city of Alexandria. Beginning in the fifteenth century, non-Muslim merchants in the city could opt out of sharia’s business rules. Those who did and embraced Western capitalist norms quickly grew richer than those who continued to follow sharia, historians have shown.
Over time, however, sharia adapted to capitalism. In the nineteenth century, it finally allowed Muslims to form joint-stock companies and to borrow other key capitalist institutions from the West. Today, Islamic banks follow the same practices that non-Islamic banks do (including the use of derivatives) but describe them differently, so that they conform with sharia. Yet despite this transformation in Islamic law, Muslim economies still lag behind Western ones. Greif and Kuran may help explain the Long Divergence, but what accounts for the fact that there is no “Arab Tiger” comparable with Asia’s remarkable success stories?
Part of the answer may, in fact, be religious: Islam’s apostasy law. Sharia holds that a Muslim who breaks with Islam becomes an apostate, an offense punishable by death. And since, at least for Sunni Muslims, there is no central theological authority—the theocratic regime in Iran establishes such authority for Shiite Muslims—any Sunni imam can define what constitutes breaking with Islam. This power may deter potential innovators, including the entrepreneurial kind, from doing anything that could conceivably get them into trouble.
But a bigger reason for the Arab world’s stagnation is political. In nearly every Arab Muslim country, the prime enemy of entrepreneurship and the free market is an abusive government—and the strong, unaccountable, and usually despotic regimes that have dominated Arab Muslim populations for decades owe neither their origins nor their legitimacy, such as it is, to Islam. All emerged from the decolonization struggles of the 1950s and 1960s, which, since the primary colonizers were Europeans, provoked angry anti-Western and anticapitalist attitudes in Muslim societies. The decolonization of the Arabs did not go well. Violent confrontations were the norm, even when full-blown war didn’t break out, as happened in Algeria. The upheavals brought military regimes to power in most of the decolonized Arab states; even when the military wasn’t officially in charge, it controlled puppet governments, as in Morocco. All these regimes espoused nationalism and resisted any rule of law that might limit state power—or give entrepreneurs a freer hand.
Worse, independence took place at a time when the Soviet Union was influential and many believed that centrally planned socialism was a shortcut to power and prosperity. Arab governments thus found it tempting to confiscate private property, eradicate the existing bourgeoisie, and create massive state monopolies in resources like copper, oil, and phosphate. In the name of national independence and economic modernization, all the wealth could be concentrated in the hands of the ruling militaries and bureaucracies.
After the fall of the Soviet Union showed socialism to be far less efficient than the free market, Arab Muslim governments began to free up markets somewhat, but without surrendering their tyrannical authority. This resulted in an Arab crony capitalism, which is now the dominant economic arrangement in the Muslim Middle East. In today’s pseudo-market Arab economies, it makes little sense to be an independent entrepreneur. If you want to open a business, you’ll need a license, and the only surefire way to obtain it is to belong to (or be close to) someone in the ruling elite; even then, you’ll share your profits with the bureaucrats. It’s far easier to seek a rent—a benefit based on your position in society. Rent-seeking is particularly prevalent in countries overflowing with natural resources like oil and gas, which bring in massive revenues that reduce the incentive to diversify the economy.
Egypt exemplifies the crony-capitalist model. During the 1990s, corrupt privatizations transferred state monopolies in energy, steel, cement, and other industries to private “entrepreneurs,” most of whom were members of President Hosni Mubarak’s family, top military officers, and other well-connected people. Meanwhile, economist Hernando de Soto has calculated, opening a modest bakery in Cairo required two years of slogging through the bureaucracy, at each stage of which the would-be owner would need to grease official palms—and if his bakery finally opened, he would then have to pay ongoing protection money to the local police. Small wonder Egypt suffers from slow growth, massive unemployment, and a large black market.
The authoritarian nature of today’s Muslim governments also generates social norms that harm entrepreneurship. For example, a survey conducted by the Casablanca-based business magazine L’Economiste compared the organizational structures of Moroccan firms with those of Western companies operating in Morocco. It found that the boss of a Moroccan firm tends to have a larger office and more assistants, secretaries, and chauffeurs than his Western counterpart does and that his behavior is more autocratic. The likely reason is that the Moroccan boss, mimicking the king and his entourage, finds power—and the exhibition of power—more compelling than profits.
The prosperity-crushing influence of government on Muslim entrepreneurship has nowhere been more evident than in Turkey. In the early nineteenth century, the Turkish sultan, like the Egyptian pasha, tried to import Western science and military methods without introducing Western rule of law. “The Ottoman Empire fell into poverty because the dominant concern of the sultans was always to avoid the emergence of a competing power,” explains Turkish economist Evket Pamuk. And the possibility that they feared the most was the birth of a Westernized Turkish bourgeoisie, its power based on private ownership.
When the empire became the Turkish Republic in 1921, little changed. The republic’s founder, Mustafa Kemal (later called Atatürk, a name he chose that means “Father of the Turks”), was fascinated by the fashionable Italian fascist ideal. The Turks lacked entrepreneurial spirit, he believed, so it was up to the government to act as a collective entrepreneur and pick those who deserved to start new businesses. Under his regime, which became a military dictatorship after his 1938 death, the Turkish economy made little progress, though a small group of well-connected businessmen grew extremely wealthy.
Islam wasn’t to blame for Turkey’s poor economy. Indeed, the new republic was fiercely secular; for decades, no openly devout Muslim could hold any significant position in public service, in the military, or even in business. Modern Turkey started to grow economically only after it began to free up the market under former World Bank economist Turgut Özal, a devout Muslim whom the military had installed as prime minister in 1987 to bring inflation under control. Özal’s reforms opened the way for the openly Islamic, pro-market Justice and Development Party, or AKP, which has ruled Turkey since 2002. Whatever criticisms one might make of the AKP—it has on occasion sought to impose religious norms on a secular society, among other troubling signs—it has brought about an astounding transformation of Turkey’s economy. The state’s budget is balanced, prices are stable, free trade is enthusiastically embraced, and crony capitalism has been constrained. As a consequence, the Turkish growth rate has been one of the world’s highest: 8 percent annually for several years now. Turkey’s per-capita income is now higher than Saudi Arabia’s—and Turkey has no oil.
Fueling this economic expansion is a new generation of entrepreneurs from Anatolia, in eastern Turkey. These businesspeople are conservative Muslims, but they aren’t extremists. The Anatolians are astonishing; no one can say for sure how they arrived on the scene as the dynamic engine of Turkish modernity. Ask an Anatolian entrepreneur about this success and he may credit a strong work ethic, combined with family values ingrained in the Muslim faith. Or he may mention the business traditions of Anatolia, a crossroads between Asia and Europe under the Ottoman Empire. Pamuk, a secular Turk, points to mundane factors like the Anatolians’ low labor costs and Turkey’s proximity to the vast European market: Turkey now exports 25 percent of its national production, up from 3 percent in 1980. Whatever the reason for the Anatolian breakthrough, Islam has not impeded it.
Will the Turkish model spread to nearby Arab countries? This year’s revolutions in Tunisia and Egypt may answer that question. Remember the man who inspired the revolutions: Mohammed Bouazizi, a young Tunisian who earned a university degree but could find no decent formal employment, a situation all too common for educated young Arabs. Bouazizi sought to make a living from a tiny fruit-and-vegetable stand, but last December, because he hadn’t registered it with the authorities, police confiscated it. Bouazizi then set himself on fire.
Bouazizi’s suicide brought millions of Arabs to the streets because they could identify with him. Human rights leaders didn’t start the revolutions; neither did long-banned Islamic movements like the Muslim Brotherhood. The upheavals weren’t characterized by Islamic banners or by Israeli flags going up in flames (though there were disturbing reports of Muslims attacking Christian churches in Egypt after the police had vanished from the streets). No, the dominant message of the Arab Spring was that the Arabs didn’t want to remain separated from the rest of the world. The Egyptian students in Tahrir Square couldn’t have put it more clearly: they wanted democracy, globalization, and market prosperity, not Islamicization. “We want a normal country, which means free enterprise and democracy,” said one of their leaders, Amr Salah of the Cairo Institute for Human Rights, in Paris this April. Even the notorious Muslim Brotherhood is on board with capitalism: “Our economic program is a free-market society in order to pursue social justice,” says Sameh al-Barqui, an American-educated economics expert with the Brotherhood.
The transition from the Arab world’s authoritarian regimes to democracy, markets, and the rule of law is far from guaranteed, of course. For a reminder of the difficulty of installing successful Western-style capitalism, consider Rifaa, who returned to Egypt after seven years in France and became the pasha’s main advisor—overseeing the translation of French scientific books into Arabic, founding the first Arabic newspapers, and opening schools for girls. Though Rifaa faced the hostility of Muslim conservatives, his reforms, accompanying the era’s shifts in sharia, inaugurated an era of modernization in Egypt. By the late nineteenth century, Cairo was starting to look like a European city, with electricity, sanitation, universities, and an independent press. But the renaissance didn’t last long, because Rifaa repeatedly failed to persuade the pasha to accept a Western-style constitution, which would have limited the ruler’s arbitrary power. What kept Egypt back was its failure to establish the rule-governed institutions familiar in the West.
It should be sobering, therefore, that the military isn’t likely to surrender its political privileges easily in any Arab country. Still, most of the political parties emerging in the ferment are supporters of free markets. (Some socialist parties remain in Morocco and Tunisia, where the French influence left its mark, but they are socialist in name only.) The young men and women behind the Arab Spring will continue to push for more open markets where millions of Bouazizis will be able to become entrepreneurs—where it won’t take two years and countless bribes to open a bakery. And there appears to be no cultural or religious reason that someday, in the not-so-distant future, we won’t find cafés in Cairo that run as efficiently and reasonably as those in Marseille.
Guy Sorman, a City Journal contributing editor, is the author of Children of Rifaa: In Search of a Moderate Islam and many other books.
Guy Sorman
The City Journal, vol. 21, n. 3, Summer 2011
The Middle East’s future depends on the answer.
BEBA/IBERFOTO/THE IMAGE WORKS
A sixteenth-century Turkish bazaar. Muslim tradition has long accepted the marketplace, though sharia constrained its efficiency
The moment you arrive at the airport in Cairo, you discover how little Egypt—the heart of Arab civilization—is governed by the rule of law. You line up to show your passport to the customs officer; you wait and wait and wait. Eventually, you reach the officer . . . who sends you to the opposite end of the airport to buy an entry visa. The visa costs 15 U.S. dollars; if you hand the clerk $20, though, don’t expect any change, let alone a receipt. Then you make the long hike back to the customs line, where you notice that some Egyptians—important ones, apparently—have helpers who hustle them through. Others cut to the front. It’s an annoying and disturbing welcome to a chaotic land, one that has grown only more chaotic since the January revolution. It’s also instructive, effectively demonstrating why it’s hard to do business in this country or in other Arab Muslim lands, where personal status so often trumps fair, universally applied rules. Such personalization of the law is incompatible with a truly free-market or modern society and helps explain why the Arab world’s per-capita income is one-tenth America’s or Europe’s.
The airport experience, had he been able to undergo it, would have been drearily familiar to Rifaa al-Tahtawi, a brilliant young imam sent to France in 1829 by the pasha of Egypt. His mission: figure out how Napoleon’s military had so easily crushed Egypt three decades earlier, a defeat that revealed to a shocked Arab world that it was now an economic, military, and scientific laggard. At the outset of the book that he wrote about his journey, The Gold of Paris, Rifaa describes a Marseille café: “How astonished I was that in Marseille, a waiter came to me and asked for my order without my looking for him.” Then the coffee arrives without delay. Finally—most amazing of all—Rifaa gets the bill for it, and the price is the same as the one listed on the menu: “No haggling,” he enthuses. Rifaa concludes: “I look for the day when the Cairo cafés will follow the same predictable rules as the Marseille cafés.” But nearly two centuries later, the only Egyptian cafés that live up to Rifaa’s hopes are the imported Starbucks.
Egypt is, of course, a Muslim nation. Should Islam be indicted for what was in Rifaa’s time, and remains today, a dysfunctional economy? The question becomes all the more important if you extend it to the rest of the Arab Middle East as it is swept by popular revolts against authoritarian rule. Will the nations that emerge from the Arab Spring embrace the rule of law and other crucial institutions that have allowed capitalism to flourish in the West? Or are Islam and economic progress fundamentally at odds?
Muslim economies haven’t always been low achievers. In his seminal work The World Economy, economist Angus Maddison showed that until the twelfth century, per-capita income was much higher in the Muslim Middle East than in Europe. Beginning in the twelfth century, though, what Duke University economist Timur Kuran calls the Long Divergence began, upending this economic hierarchy, so that by Rifaa’s time, Europe had grown far more powerful and prosperous than the Arab Muslim world.
A key factor in the divergence was Italian city-states’ invention of capitalism—a development that rested on certain cultural prerequisites, Stanford University’s Avner Greif observes. In the early twelfth century, two groups of merchants dominated Mediterranean sea trade: the European Genoans and the Cairo-based Maghrebis, who were Jewish but, coming originally from Baghdad, shared the cultural norms of the Arab Middle East. The Genoans outpaced the Maghrebis and eventually won the competition, Greif argues, because they invented various corporate institutions that formed the core of capitalism, including banks, bills of exchange, and joint-stock companies, which allowed them to accumulate enough capital to launch riskier but more profitable ventures. These institutions, in Greif’s account, were an outgrowth of the Genoans’ Western culture, in which people were bound not just by blood but also by contracts, including the fundamental contract of marriage. The Maghrebis’ Arab values, by contrast, meant undertaking nothing outside the family and tribe, which limited commercial expeditions’ resources and hence their reach. The bonds of blood couldn’t compete with fair, reliable institutions (see “Economics Does Not Lie,” Summer 2008).
Greif’s theory suggests that cultural differences explain economic development better than religious beliefs do. Indeed, from a strictly religious perspective, one could view Muslims as having an advantage at creating wealth. After all, Islam is the only religion founded by a trader—one who also, by the way, married a wealthy merchant. The Koran has only good words for successful businessmen. Entrepreneurs must pay a 2.5 percent tax, the zakat, to the community to support the general welfare, but otherwise can make money guilt-free. Private property is sacred, according to the Koran. All this, needless to say, contrasts with the traditional Christian attitude toward wealth, which puts the poor on the fast track to heaven and looks down in particular on merchants (recall Jesus’s driving them from the Temple).
But Duke’s Kuran believes that Islam did play a role in the Long Divergence. It wasn’t the Koran, which the Muslim faithful see as written by God and unalterable, that impeded Muslims economically, he argues, but instead sharia, the religious law developed by scholars after Mohammed’s time. Not that sharia was overtly hostile to economic progress; it established commerce-friendly legal rules that, for instance, allowed for bazaars and for the arbitration of economic disputes. Rather, Kuran maintains, sharia became economically counterproductive because it was less efficient than the Western legal framework.
The most significant of the sharia-rooted economic liabilities was the Islamic partnership, which proved no match for the Western world’s joint-stock company. Partnerships were short-lived, dissolving with the death of any of the partners, and they tended to be small, often formed among family members. Joint-stock companies, which sharia prohibited, had much greater reach and risk-hedging power. Sharia inheritance rules were a second drag on economic development, Kuran explains. Since the Koran sanctions polygamy, sharia required a husband’s wealth, upon his death, to go in equal portions to his widows and children, which worked against capital accumulation. In the Roman law that held sway in Europe until the nineteenth century, by contrast, the eldest son inherited his deceased father’s wealth, creating vast fortunes that could be put to economic work. Some economists point to sharia’s prohibition of interest as another hamper on development, but this is much less significant than it appears. From at least the twelfth century on, sharia lawyers authorized “fees” that could accompany money-lending, getting around the ban.
Muslim welfare foundations to aid the poor, called waqf, also undermined economic competitiveness over time, says Kuran. According to sharia, all money given to these charities was exempt from taxation. But Muslim merchants began to establish waqf as fronts for commercial enterprises, depriving the government of sufficient funds to function properly. This tax evasion contributed to the failure of the Arab kingdoms and the Ottoman Empire to build a competent minimal state, which is essential to the effective rule of law.
For evidence that sharia had negative economic effects, consider the Egyptian city of Alexandria. Beginning in the fifteenth century, non-Muslim merchants in the city could opt out of sharia’s business rules. Those who did and embraced Western capitalist norms quickly grew richer than those who continued to follow sharia, historians have shown.
Over time, however, sharia adapted to capitalism. In the nineteenth century, it finally allowed Muslims to form joint-stock companies and to borrow other key capitalist institutions from the West. Today, Islamic banks follow the same practices that non-Islamic banks do (including the use of derivatives) but describe them differently, so that they conform with sharia. Yet despite this transformation in Islamic law, Muslim economies still lag behind Western ones. Greif and Kuran may help explain the Long Divergence, but what accounts for the fact that there is no “Arab Tiger” comparable with Asia’s remarkable success stories?
Part of the answer may, in fact, be religious: Islam’s apostasy law. Sharia holds that a Muslim who breaks with Islam becomes an apostate, an offense punishable by death. And since, at least for Sunni Muslims, there is no central theological authority—the theocratic regime in Iran establishes such authority for Shiite Muslims—any Sunni imam can define what constitutes breaking with Islam. This power may deter potential innovators, including the entrepreneurial kind, from doing anything that could conceivably get them into trouble.
But a bigger reason for the Arab world’s stagnation is political. In nearly every Arab Muslim country, the prime enemy of entrepreneurship and the free market is an abusive government—and the strong, unaccountable, and usually despotic regimes that have dominated Arab Muslim populations for decades owe neither their origins nor their legitimacy, such as it is, to Islam. All emerged from the decolonization struggles of the 1950s and 1960s, which, since the primary colonizers were Europeans, provoked angry anti-Western and anticapitalist attitudes in Muslim societies. The decolonization of the Arabs did not go well. Violent confrontations were the norm, even when full-blown war didn’t break out, as happened in Algeria. The upheavals brought military regimes to power in most of the decolonized Arab states; even when the military wasn’t officially in charge, it controlled puppet governments, as in Morocco. All these regimes espoused nationalism and resisted any rule of law that might limit state power—or give entrepreneurs a freer hand.
Worse, independence took place at a time when the Soviet Union was influential and many believed that centrally planned socialism was a shortcut to power and prosperity. Arab governments thus found it tempting to confiscate private property, eradicate the existing bourgeoisie, and create massive state monopolies in resources like copper, oil, and phosphate. In the name of national independence and economic modernization, all the wealth could be concentrated in the hands of the ruling militaries and bureaucracies.
After the fall of the Soviet Union showed socialism to be far less efficient than the free market, Arab Muslim governments began to free up markets somewhat, but without surrendering their tyrannical authority. This resulted in an Arab crony capitalism, which is now the dominant economic arrangement in the Muslim Middle East. In today’s pseudo-market Arab economies, it makes little sense to be an independent entrepreneur. If you want to open a business, you’ll need a license, and the only surefire way to obtain it is to belong to (or be close to) someone in the ruling elite; even then, you’ll share your profits with the bureaucrats. It’s far easier to seek a rent—a benefit based on your position in society. Rent-seeking is particularly prevalent in countries overflowing with natural resources like oil and gas, which bring in massive revenues that reduce the incentive to diversify the economy.
Egypt exemplifies the crony-capitalist model. During the 1990s, corrupt privatizations transferred state monopolies in energy, steel, cement, and other industries to private “entrepreneurs,” most of whom were members of President Hosni Mubarak’s family, top military officers, and other well-connected people. Meanwhile, economist Hernando de Soto has calculated, opening a modest bakery in Cairo required two years of slogging through the bureaucracy, at each stage of which the would-be owner would need to grease official palms—and if his bakery finally opened, he would then have to pay ongoing protection money to the local police. Small wonder Egypt suffers from slow growth, massive unemployment, and a large black market.
The authoritarian nature of today’s Muslim governments also generates social norms that harm entrepreneurship. For example, a survey conducted by the Casablanca-based business magazine L’Economiste compared the organizational structures of Moroccan firms with those of Western companies operating in Morocco. It found that the boss of a Moroccan firm tends to have a larger office and more assistants, secretaries, and chauffeurs than his Western counterpart does and that his behavior is more autocratic. The likely reason is that the Moroccan boss, mimicking the king and his entourage, finds power—and the exhibition of power—more compelling than profits.
The prosperity-crushing influence of government on Muslim entrepreneurship has nowhere been more evident than in Turkey. In the early nineteenth century, the Turkish sultan, like the Egyptian pasha, tried to import Western science and military methods without introducing Western rule of law. “The Ottoman Empire fell into poverty because the dominant concern of the sultans was always to avoid the emergence of a competing power,” explains Turkish economist Evket Pamuk. And the possibility that they feared the most was the birth of a Westernized Turkish bourgeoisie, its power based on private ownership.
When the empire became the Turkish Republic in 1921, little changed. The republic’s founder, Mustafa Kemal (later called Atatürk, a name he chose that means “Father of the Turks”), was fascinated by the fashionable Italian fascist ideal. The Turks lacked entrepreneurial spirit, he believed, so it was up to the government to act as a collective entrepreneur and pick those who deserved to start new businesses. Under his regime, which became a military dictatorship after his 1938 death, the Turkish economy made little progress, though a small group of well-connected businessmen grew extremely wealthy.
Islam wasn’t to blame for Turkey’s poor economy. Indeed, the new republic was fiercely secular; for decades, no openly devout Muslim could hold any significant position in public service, in the military, or even in business. Modern Turkey started to grow economically only after it began to free up the market under former World Bank economist Turgut Özal, a devout Muslim whom the military had installed as prime minister in 1987 to bring inflation under control. Özal’s reforms opened the way for the openly Islamic, pro-market Justice and Development Party, or AKP, which has ruled Turkey since 2002. Whatever criticisms one might make of the AKP—it has on occasion sought to impose religious norms on a secular society, among other troubling signs—it has brought about an astounding transformation of Turkey’s economy. The state’s budget is balanced, prices are stable, free trade is enthusiastically embraced, and crony capitalism has been constrained. As a consequence, the Turkish growth rate has been one of the world’s highest: 8 percent annually for several years now. Turkey’s per-capita income is now higher than Saudi Arabia’s—and Turkey has no oil.
Fueling this economic expansion is a new generation of entrepreneurs from Anatolia, in eastern Turkey. These businesspeople are conservative Muslims, but they aren’t extremists. The Anatolians are astonishing; no one can say for sure how they arrived on the scene as the dynamic engine of Turkish modernity. Ask an Anatolian entrepreneur about this success and he may credit a strong work ethic, combined with family values ingrained in the Muslim faith. Or he may mention the business traditions of Anatolia, a crossroads between Asia and Europe under the Ottoman Empire. Pamuk, a secular Turk, points to mundane factors like the Anatolians’ low labor costs and Turkey’s proximity to the vast European market: Turkey now exports 25 percent of its national production, up from 3 percent in 1980. Whatever the reason for the Anatolian breakthrough, Islam has not impeded it.
Will the Turkish model spread to nearby Arab countries? This year’s revolutions in Tunisia and Egypt may answer that question. Remember the man who inspired the revolutions: Mohammed Bouazizi, a young Tunisian who earned a university degree but could find no decent formal employment, a situation all too common for educated young Arabs. Bouazizi sought to make a living from a tiny fruit-and-vegetable stand, but last December, because he hadn’t registered it with the authorities, police confiscated it. Bouazizi then set himself on fire.
Bouazizi’s suicide brought millions of Arabs to the streets because they could identify with him. Human rights leaders didn’t start the revolutions; neither did long-banned Islamic movements like the Muslim Brotherhood. The upheavals weren’t characterized by Islamic banners or by Israeli flags going up in flames (though there were disturbing reports of Muslims attacking Christian churches in Egypt after the police had vanished from the streets). No, the dominant message of the Arab Spring was that the Arabs didn’t want to remain separated from the rest of the world. The Egyptian students in Tahrir Square couldn’t have put it more clearly: they wanted democracy, globalization, and market prosperity, not Islamicization. “We want a normal country, which means free enterprise and democracy,” said one of their leaders, Amr Salah of the Cairo Institute for Human Rights, in Paris this April. Even the notorious Muslim Brotherhood is on board with capitalism: “Our economic program is a free-market society in order to pursue social justice,” says Sameh al-Barqui, an American-educated economics expert with the Brotherhood.
The transition from the Arab world’s authoritarian regimes to democracy, markets, and the rule of law is far from guaranteed, of course. For a reminder of the difficulty of installing successful Western-style capitalism, consider Rifaa, who returned to Egypt after seven years in France and became the pasha’s main advisor—overseeing the translation of French scientific books into Arabic, founding the first Arabic newspapers, and opening schools for girls. Though Rifaa faced the hostility of Muslim conservatives, his reforms, accompanying the era’s shifts in sharia, inaugurated an era of modernization in Egypt. By the late nineteenth century, Cairo was starting to look like a European city, with electricity, sanitation, universities, and an independent press. But the renaissance didn’t last long, because Rifaa repeatedly failed to persuade the pasha to accept a Western-style constitution, which would have limited the ruler’s arbitrary power. What kept Egypt back was its failure to establish the rule-governed institutions familiar in the West.
It should be sobering, therefore, that the military isn’t likely to surrender its political privileges easily in any Arab country. Still, most of the political parties emerging in the ferment are supporters of free markets. (Some socialist parties remain in Morocco and Tunisia, where the French influence left its mark, but they are socialist in name only.) The young men and women behind the Arab Spring will continue to push for more open markets where millions of Bouazizis will be able to become entrepreneurs—where it won’t take two years and countless bribes to open a bakery. And there appears to be no cultural or religious reason that someday, in the not-so-distant future, we won’t find cafés in Cairo that run as efficiently and reasonably as those in Marseille.
Guy Sorman, a City Journal contributing editor, is the author of Children of Rifaa: In Search of a Moderate Islam and many other books.
Book: The New Brazil - Riordan Roett
The New Brazil
Roett, Riordan
Published By: Brookings Institution Press
Published Date: 1 July 2011
The New Brazil tells the story of South America’s largest country as it evolved from a remote Portuguese colony into a regional leader; a respected representative for the developing world; and, increasingly, an important partner for the United States and the European Union.In this engaging book, Riordan Roett traces the long road Brazil has traveled to reach its present status, examining the many challenges it has overcome and those that lie ahead. He discusses the country’s development as a colony, empire, and republic; the making of modern Brazil, beginning with the rise to power of Getúlio Vargas; the adventof the military government in 1964; the return to civilian rule two decades later; and the pivotal presidencies of Fernando Henrique Cardoso and Luiz Inácio (Lula) da Silva, leading to the nation’s current world status as one of the BRIC countries.Under newly elected President Dilma Rousseff, much remains to be done to consolidate and expand its global role. Nonetheless, as a player on the world stage, Brazil is here to stay.“In part the [country’s] success is due to external factors such as the high demand for Brazilian exports, particularly in China and the rest of Asia. But it also reflects sophisticated policy choices, including inflation targeting and maintenance of an autonomous central bank.”— from the Introduction
Read online (Amigo Reader)
Roett, Riordan
Published By: Brookings Institution Press
Published Date: 1 July 2011
The New Brazil tells the story of South America’s largest country as it evolved from a remote Portuguese colony into a regional leader; a respected representative for the developing world; and, increasingly, an important partner for the United States and the European Union.In this engaging book, Riordan Roett traces the long road Brazil has traveled to reach its present status, examining the many challenges it has overcome and those that lie ahead. He discusses the country’s development as a colony, empire, and republic; the making of modern Brazil, beginning with the rise to power of Getúlio Vargas; the adventof the military government in 1964; the return to civilian rule two decades later; and the pivotal presidencies of Fernando Henrique Cardoso and Luiz Inácio (Lula) da Silva, leading to the nation’s current world status as one of the BRIC countries.Under newly elected President Dilma Rousseff, much remains to be done to consolidate and expand its global role. Nonetheless, as a player on the world stage, Brazil is here to stay.“In part the [country’s] success is due to external factors such as the high demand for Brazilian exports, particularly in China and the rest of Asia. But it also reflects sophisticated policy choices, including inflation targeting and maintenance of an autonomous central bank.”— from the Introduction
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Propaganda nunca antes vista neste pais: vivendo de ilusoes: o PAC da corrupcao
Nunca antes neste país se gastou tanta propaganda em inutilidades. Nunca antes se vendeu tanta coisa vazia como se tivesse algum conteúdo real. Nunca se roubou tanto, com tanto sofreguidão, na indiferença da sociedade, e com a participação ativa de representantes eleitos.
Nunca antes tivemos tantos motivos para nos envergonharmos deste país...
Paulo Roberto de Almeida
O “PAC” que funciona: Programa de Aceleração da Corrupção
Editorial - O Estado de S.Paulo
Sábado, 30 de julho de 2011
O sistema de vale-tudo nas relações entre a burocracia do Executivo, parlamentares e as empresas que conhecem o caminho das pedras para fazer negócios com a área federal engendrou no governo Lula um outro “PAC”, mais bem-sucedido do que o original. Seria o Programa de Aceleração da Corrupção. Diga-se desde logo que conluios entre servidores venais, políticos de mãos sujas e negociantes desonestos não são uma exclusividade nacional e tampouco surgiram sob o lulismo. Mas tudo indica que a roubalheira na escolha dos fornecedores de bens e prestadores de serviços ao Estado brasileiro e nos contratos que os privilegiaram alcançou amplitude nunca antes atingida na história deste país nos governos petistas, e não apenas em função do patamar de gastos públicos. Mais decisivo para o resultado estarrecedor a que se chegou foi o perverso exemplo de cima para baixo. No regime do mensalão e das relações calorosas entre o presidente da República e a escória da política empoleirada em posições-chave no Parlamento, corruptores e corruptíveis em potencial se sentiram incentivados a assaltar o erário com a desenvoltura dos que nada têm a perder e tudo a ganhar. Nos últimos 30 dias, as histórias escabrosas trazidas à tona pelos escândalos revelados no Ministério dos Transportes tiveram o impacto de uma bomba de fragmentação que lançasse estilhaços em todas as direções da capital do País. Mas elas parecem apenas uma amostra do que vinha (e decerto ainda vem) se passando na máquina federal.
Ao passar o pente-fino em 142 mil licitações e contratos do governo assinados entre 2006 e 2010, referentes a obras e serviços no valor de R$ 104 bilhões, o Tribunal de Contas da União (TCU) topou com escabrosidades que caracterizam um padrão consolidado de delinquência, evidenciado em praticamente todos os aspectos de cada empreendimento (pág. A-4 do Estado de sexta-feira). As licitações se transformaram no proverbial jogo de cartas marcadas. Não apenas o governo fechava negócios com firmas cujos sócios eram servidores públicos aninhados no próprio órgão que encomendava a empreitada, mas em um dos casos esses funcionários integravam a comissão de licitação que acabaria por dar preferência às suas respectivas empresas.
Licitações eram dispensadas sem a apresentação de justa causa. Só uma empresa interessada ganhou 12 mil licitações; desistiu de todas para favorecer “concorrentes” que haviam apresentado lances mais altos. Duas ou mais empresas com os mesmos sócios participaram de 16 mil disputas. Cerca de 1.500 contratos foram assinados com empresas inidôneas ou condenadas por improbidade. Aditivos da ordem de 125% sobre o valor original - o limite legal é de 25% - engordaram 9.400 contratos. As irregularidades, que somam mais de 100 mil, “estão disseminadas entre todos os gestores”, concluiu o relatório de 70 páginas da mega-auditoria realizada pelo tribunal de abril a setembro do ano passado.
Lamentavelmente, o tribunal manteve em sigilo - salvo para as Mesas da Câmara e do Senado, e o Ministério Público Eleitoral - a relação de parlamentares sócios de empresas contratadas pelo governo. A participação dos políticos nesses negócios ajuda a fomentar a corrupção, em razão dos seus íntimos entrelaçamentos com os centros de decisão no aparato administrativo. Além disso, a Constituição proíbe explicitamente que empresas que tenham parlamentares entre os seus sócios sejam contratadas pelo governo. Para contornar essa barreira, os políticos costumam deixar a gestão direta de suas firmas. Em pelo menos um caso, porém, o mandatário não se pejou de assinar ele próprio o contrato com uma repartição pública.
Quanto aos políticos citados no relatório, só dois nomes são conhecidos, graças ao trabalho de reportagem do Estado. São o senador e ex-ministro das Comunicações (afastado por suspeita de ilícitos) Eunício Oliveira e o notório deputado Paulo Maluf. Uma empresa do primeiro venceu uma licitação fraudada de R$ 300 milhões na Petrobrás. Uma empresa do segundo alugou um imóvel para o governo por R$ 1,3 milhão ao ano. Com “dispensa de licitação”.
Vamos aguardar a divulgação da lista em poder dos membros das mesas do Senado e da Câmara dos Deputados.
Nunca antes tivemos tantos motivos para nos envergonharmos deste país...
Paulo Roberto de Almeida
O “PAC” que funciona: Programa de Aceleração da Corrupção
Editorial - O Estado de S.Paulo
Sábado, 30 de julho de 2011
O sistema de vale-tudo nas relações entre a burocracia do Executivo, parlamentares e as empresas que conhecem o caminho das pedras para fazer negócios com a área federal engendrou no governo Lula um outro “PAC”, mais bem-sucedido do que o original. Seria o Programa de Aceleração da Corrupção. Diga-se desde logo que conluios entre servidores venais, políticos de mãos sujas e negociantes desonestos não são uma exclusividade nacional e tampouco surgiram sob o lulismo. Mas tudo indica que a roubalheira na escolha dos fornecedores de bens e prestadores de serviços ao Estado brasileiro e nos contratos que os privilegiaram alcançou amplitude nunca antes atingida na história deste país nos governos petistas, e não apenas em função do patamar de gastos públicos. Mais decisivo para o resultado estarrecedor a que se chegou foi o perverso exemplo de cima para baixo. No regime do mensalão e das relações calorosas entre o presidente da República e a escória da política empoleirada em posições-chave no Parlamento, corruptores e corruptíveis em potencial se sentiram incentivados a assaltar o erário com a desenvoltura dos que nada têm a perder e tudo a ganhar. Nos últimos 30 dias, as histórias escabrosas trazidas à tona pelos escândalos revelados no Ministério dos Transportes tiveram o impacto de uma bomba de fragmentação que lançasse estilhaços em todas as direções da capital do País. Mas elas parecem apenas uma amostra do que vinha (e decerto ainda vem) se passando na máquina federal.
Ao passar o pente-fino em 142 mil licitações e contratos do governo assinados entre 2006 e 2010, referentes a obras e serviços no valor de R$ 104 bilhões, o Tribunal de Contas da União (TCU) topou com escabrosidades que caracterizam um padrão consolidado de delinquência, evidenciado em praticamente todos os aspectos de cada empreendimento (pág. A-4 do Estado de sexta-feira). As licitações se transformaram no proverbial jogo de cartas marcadas. Não apenas o governo fechava negócios com firmas cujos sócios eram servidores públicos aninhados no próprio órgão que encomendava a empreitada, mas em um dos casos esses funcionários integravam a comissão de licitação que acabaria por dar preferência às suas respectivas empresas.
Licitações eram dispensadas sem a apresentação de justa causa. Só uma empresa interessada ganhou 12 mil licitações; desistiu de todas para favorecer “concorrentes” que haviam apresentado lances mais altos. Duas ou mais empresas com os mesmos sócios participaram de 16 mil disputas. Cerca de 1.500 contratos foram assinados com empresas inidôneas ou condenadas por improbidade. Aditivos da ordem de 125% sobre o valor original - o limite legal é de 25% - engordaram 9.400 contratos. As irregularidades, que somam mais de 100 mil, “estão disseminadas entre todos os gestores”, concluiu o relatório de 70 páginas da mega-auditoria realizada pelo tribunal de abril a setembro do ano passado.
Lamentavelmente, o tribunal manteve em sigilo - salvo para as Mesas da Câmara e do Senado, e o Ministério Público Eleitoral - a relação de parlamentares sócios de empresas contratadas pelo governo. A participação dos políticos nesses negócios ajuda a fomentar a corrupção, em razão dos seus íntimos entrelaçamentos com os centros de decisão no aparato administrativo. Além disso, a Constituição proíbe explicitamente que empresas que tenham parlamentares entre os seus sócios sejam contratadas pelo governo. Para contornar essa barreira, os políticos costumam deixar a gestão direta de suas firmas. Em pelo menos um caso, porém, o mandatário não se pejou de assinar ele próprio o contrato com uma repartição pública.
Quanto aos políticos citados no relatório, só dois nomes são conhecidos, graças ao trabalho de reportagem do Estado. São o senador e ex-ministro das Comunicações (afastado por suspeita de ilícitos) Eunício Oliveira e o notório deputado Paulo Maluf. Uma empresa do primeiro venceu uma licitação fraudada de R$ 300 milhões na Petrobrás. Uma empresa do segundo alugou um imóvel para o governo por R$ 1,3 milhão ao ano. Com “dispensa de licitação”.
Vamos aguardar a divulgação da lista em poder dos membros das mesas do Senado e da Câmara dos Deputados.
sábado, 30 de julho de 2011
Desconfie de politicos muito seguros em economia (geralmente eles não sabem nada...)
Cinco Motivos pra você Desconfiar de alguns Políticos e Consultores Econômicos
Blog Mansueto de Almeida
30/07/2011
Sempre que você escutar uma das afirmações abaixo, pergunte em seguida exatamente o que seu interlocutor quer dizer. Escuto muitos políticos e consultores econômicos falarem sobre esse assuntos sem, propositadamente ou não, deixarem claro o que pensam.
Vamos a lista que elaborei de afirmações supostamente inteligentes que não dizem coisa alguma.
(1) “Precisamos reduzir o custeio e aumentar a eficiência do setor público”
Essa é para mim uma das afirmações mais vagas que existe. Uma frase que todos falam para impressionar, mas que não significa coisa alguma. Reduzir exatamente quais contas de custeio? Passagens de avião? Qualquer economia de custeio será minima se não mexermos no crescimento das despesas da seguridade social e na política de valorização do salário mínimo.
O ideal seria perguntar aos partidos políticos se eles estariam dispostos a reduzir o crescimento dos gastos sociais, modificar a política de valorização do salario mínimo e modificar a regra de concessão de pensões no Brasil e acabar com as distorções da previdência pública e privada. Claro que falar sobre esses pontos é mexer em vespeiro eleitoral. Assim é melhor falar em redução do custeio e eficiência da máquina, você faz muitos amigos e nenhum inimigo, embora esteja sendo desonesto intelectualmente com todos.
(2) “O Brasil não deve ser preocupar tanto com a convergência para a meta de inflação de 4,5% em 2012. O custo seria muito alto.”
Uma coisa que é cada vez mais clara para mim é que muita gente de dentro e fora do governo fala a favor do sistema de metas e, simultaneamente, faz análises baseadas em otimismo, como uma queda esperada nos preços da commodities em 10% e uma desaceleração suficiente do nível de atividade para trazer a inflação para a meta. Se retirarmos o ano de 2009, temos um inflação média de 2008, 2010 e 2011 próxima de 6% ao ano. O que me parece é que muita gente critica o Banco Central por aumentar a taxa de juros, fala que esse instrumento não funciona, mas ao mesmo tempo não consegue dar uma única solução para trazer a inflação para a meta de 4,5%.
Na verdade, muitos defendem o sistema de metas e, ao mesmo tempo, acham normal que o Brasil trabalhe próximo do seu limite superior. Por que esses economistas ou políticos simplesmente não defendem abertamente um aumento na meta de inflação? Poderiam dizer que acham tolice uma meta de inflação “tão baixa de 4,5% ao ano”.
(3) “Precisamos fazer uma reforma tributária ampla e reduzir o peso dos impostos que sufocam a economia brasileira”.
OK, mas reduzir peso dos impostos por meio de uma agenda agressiva de desoneração tributária significa ou redução do superávit primário ou corte de gastos. Acho que a tendência do resultado primário do Brasil nos próximos três anos já é de redução para que possamos aumentar o investimento público. Mas se além disso quisermos cortar impostos, seria bom decidir quais gastos serão cortados.Falar em corte de custeio não vale porque voltamos para o problema (1) acima.
Será que algum político ou economista está disposto a defender publicamente corte de despesas sociais ou a modificação da política de valorização do salario mínimo? Será que alguém defende cortes das despesas com o SUS, apesar de quase um terço da população ainda não ter acesso a serviços de saúde? Não confie em alguém que diz que precisarmos reduzir a carga tributária e não fala exatamente quais despesas serão cortadas ou seu crescimento controlado.
(4) “Precisamos de uma política industrial para aumentar a competitividade da indústria brasileira e aumentar as exportações de manufaturados.”
Essa é outra afirmação que todos gostam de falar aos quatro ventos para quem quiser ouvir e as pessoas ainda dirão que você e inteligente. Acontece que desde 2008 com a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) o governo tem sido muito eficiente em ajudar empresas grandes em setores nos quais o Brasil já tem vantagem comparativa. O benefício para essas empresas em ter um sócio como o BNDES é muito bom, mas é questionável o benefício dessa política para o Brasil.
E para aumentar a competitividade da indústria brasileira seriam necessárias medidas em diversas frentes: (i) aumentar investimento público para melhorar a infraestrutura e aumentar a competitividade de todos os setores; (ii) aumentar as concessões de portos e aeroportos para o que setor privado faça os investimentos necessários; (iii) aumentar e melhorar o investimento em educação, modificando inclusive o funcionamento do ensino médio que é muito voltado para o ensino superior; (iv) aumnetar o investimesto na pré-escola; (v) melhorar os incentivos a P&D e inovação; etc.
No caso de incetivos à inovação, estamos falando de poucos recursos que caberiam nas fontes de recursos já existentes. No ano passado, o Banco Mundial emprestou US$ 44 bilhões em 164 operações em 46 países. O BNDES sozinho emprestou US$ 99 bilhões. Sem a ajuda alguma do Tesouro Nacional, a capacidade de empréstimos do BNDES seria ainda de US$ 60 bilhões ao ano, sem contar ainda com a carteira do BNDESPar (por volta de US% 50 bilhões) que poderia mudar sua composição — desinvestir em algumas empresas e ser parceiro de outras menores em atividades de maior retorno social ou em projetos de infraestrutura.
Hoje, no Brasil, as pessoas falam de política industrial colocando no “mesmo prato” incentivos bilionários a frigoríficos com incentivos menores a até mesmo irrelevantes para atividades P&D e inovação. Investimentos bilionários como a construção do Trem Bala, de navios petroleiros do Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro (PROMEF) e parcerias do BNDESPar com grandes empresas são chamadas de política industrial como também investimentos de R$ 10 milhões para incentivar inovação. O que muitos chamam de política industrial não passa da simples concessão de crédito subsidiado – isso não é nem a velha politica industrial nem a nova voltada ao que os preofessores de Harvard Rodrick e Hausmann (2003) chamam de promover “self-discovery”.
Por exemplo, qual a política industrial na construção de refinarias bilionárias pela Petrobrás? absolutamente nenhuma. Lembro-me que Antônio Barros de Castro uma vez foi taxativo quanto a isso: “não há nada de política industrial em colocar aço e cimento junto e refinar petróleo”. Por outro lado, muito do que fizemos com as pesquisas via Embrapa poderiam ser denominadas de “politica industrial”– foco em inovação e o beneficio da pesquisa não era apropriado por um empresa, mas por todo um setor.
(5) “O Brasil precisa aumentar a sua taxa de investimento para crescer de forma sustentável.”
Pergunte em seguida de que forma o país deve aumentar sua taxa de poupança para financiar o nível maior de investimento sem aumentar de forma excessiva o déficit em conta corrente? A única poupança sobre o controle direto do governo é a sua própria poupança: a pública. Assim, para aumentar essa poupança para investir mais significa aumentar a carga tributária ou cortar gastos. Caso isso não seja feito, o aumento da taxa de investimento na economia brasileira será seguida do crescimento do déficit em conta corrente e mais valorização do real.
“O jeitinho brasileiro de aumantar a taxa de investimento” – emissão de divida pública para emprestar para o BNDES – não cria poupança. Se crescimento da dívida fosse suficiente para aumentar a taxa de poupança e investimento em uma economia, seria suficiente aumentar ainda mais a divida pública para aumentar os empréstimos para o BNDES. Hoje esses empréstimos já passam de R$ 300 bilhões e têm um custo elevado, que nunca é explicitamente divulgado enm tão pouco discutido.
Ponto Chave: muito cuidado com políticos, economistas e consultores que prometem o Céu nas suas análises utilizando chavões que todos nós gostamos de ouvir: eficiência, controle do custeio, reforma tributária, controle da inflação, política industrial e aumento da taxa de investimento.
Alguém é contra essa agenda? Absolutamente ninguém. O problema no entanto surge quando os temas acimas são transformados em propostas de política e, então, se descobre as inconsistências do discurso superficial pró-crescimento. E isso não tem absolutamente nada a ver com teoria neoclássica ou com economistas liberais. Tem a ver com bom senso, o que hoje falta a muita gente no Brasil.
A propósito, não tenho a solução para os pontos levantados acima.Tenho o diagnóstico dos problemas, mas a decisão do modelo de crescimento que queremos é da sociedade, que pode optar por crescer menos e continuar com a mesma politica de valorização do mínimo , sem mudança alguma nas regras da previdência e pensões.
Blog Mansueto de Almeida
30/07/2011
Sempre que você escutar uma das afirmações abaixo, pergunte em seguida exatamente o que seu interlocutor quer dizer. Escuto muitos políticos e consultores econômicos falarem sobre esse assuntos sem, propositadamente ou não, deixarem claro o que pensam.
Vamos a lista que elaborei de afirmações supostamente inteligentes que não dizem coisa alguma.
(1) “Precisamos reduzir o custeio e aumentar a eficiência do setor público”
Essa é para mim uma das afirmações mais vagas que existe. Uma frase que todos falam para impressionar, mas que não significa coisa alguma. Reduzir exatamente quais contas de custeio? Passagens de avião? Qualquer economia de custeio será minima se não mexermos no crescimento das despesas da seguridade social e na política de valorização do salário mínimo.
O ideal seria perguntar aos partidos políticos se eles estariam dispostos a reduzir o crescimento dos gastos sociais, modificar a política de valorização do salario mínimo e modificar a regra de concessão de pensões no Brasil e acabar com as distorções da previdência pública e privada. Claro que falar sobre esses pontos é mexer em vespeiro eleitoral. Assim é melhor falar em redução do custeio e eficiência da máquina, você faz muitos amigos e nenhum inimigo, embora esteja sendo desonesto intelectualmente com todos.
(2) “O Brasil não deve ser preocupar tanto com a convergência para a meta de inflação de 4,5% em 2012. O custo seria muito alto.”
Uma coisa que é cada vez mais clara para mim é que muita gente de dentro e fora do governo fala a favor do sistema de metas e, simultaneamente, faz análises baseadas em otimismo, como uma queda esperada nos preços da commodities em 10% e uma desaceleração suficiente do nível de atividade para trazer a inflação para a meta. Se retirarmos o ano de 2009, temos um inflação média de 2008, 2010 e 2011 próxima de 6% ao ano. O que me parece é que muita gente critica o Banco Central por aumentar a taxa de juros, fala que esse instrumento não funciona, mas ao mesmo tempo não consegue dar uma única solução para trazer a inflação para a meta de 4,5%.
Na verdade, muitos defendem o sistema de metas e, ao mesmo tempo, acham normal que o Brasil trabalhe próximo do seu limite superior. Por que esses economistas ou políticos simplesmente não defendem abertamente um aumento na meta de inflação? Poderiam dizer que acham tolice uma meta de inflação “tão baixa de 4,5% ao ano”.
(3) “Precisamos fazer uma reforma tributária ampla e reduzir o peso dos impostos que sufocam a economia brasileira”.
OK, mas reduzir peso dos impostos por meio de uma agenda agressiva de desoneração tributária significa ou redução do superávit primário ou corte de gastos. Acho que a tendência do resultado primário do Brasil nos próximos três anos já é de redução para que possamos aumentar o investimento público. Mas se além disso quisermos cortar impostos, seria bom decidir quais gastos serão cortados.Falar em corte de custeio não vale porque voltamos para o problema (1) acima.
Será que algum político ou economista está disposto a defender publicamente corte de despesas sociais ou a modificação da política de valorização do salario mínimo? Será que alguém defende cortes das despesas com o SUS, apesar de quase um terço da população ainda não ter acesso a serviços de saúde? Não confie em alguém que diz que precisarmos reduzir a carga tributária e não fala exatamente quais despesas serão cortadas ou seu crescimento controlado.
(4) “Precisamos de uma política industrial para aumentar a competitividade da indústria brasileira e aumentar as exportações de manufaturados.”
Essa é outra afirmação que todos gostam de falar aos quatro ventos para quem quiser ouvir e as pessoas ainda dirão que você e inteligente. Acontece que desde 2008 com a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) o governo tem sido muito eficiente em ajudar empresas grandes em setores nos quais o Brasil já tem vantagem comparativa. O benefício para essas empresas em ter um sócio como o BNDES é muito bom, mas é questionável o benefício dessa política para o Brasil.
E para aumentar a competitividade da indústria brasileira seriam necessárias medidas em diversas frentes: (i) aumentar investimento público para melhorar a infraestrutura e aumentar a competitividade de todos os setores; (ii) aumentar as concessões de portos e aeroportos para o que setor privado faça os investimentos necessários; (iii) aumentar e melhorar o investimento em educação, modificando inclusive o funcionamento do ensino médio que é muito voltado para o ensino superior; (iv) aumnetar o investimesto na pré-escola; (v) melhorar os incentivos a P&D e inovação; etc.
No caso de incetivos à inovação, estamos falando de poucos recursos que caberiam nas fontes de recursos já existentes. No ano passado, o Banco Mundial emprestou US$ 44 bilhões em 164 operações em 46 países. O BNDES sozinho emprestou US$ 99 bilhões. Sem a ajuda alguma do Tesouro Nacional, a capacidade de empréstimos do BNDES seria ainda de US$ 60 bilhões ao ano, sem contar ainda com a carteira do BNDESPar (por volta de US% 50 bilhões) que poderia mudar sua composição — desinvestir em algumas empresas e ser parceiro de outras menores em atividades de maior retorno social ou em projetos de infraestrutura.
Hoje, no Brasil, as pessoas falam de política industrial colocando no “mesmo prato” incentivos bilionários a frigoríficos com incentivos menores a até mesmo irrelevantes para atividades P&D e inovação. Investimentos bilionários como a construção do Trem Bala, de navios petroleiros do Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro (PROMEF) e parcerias do BNDESPar com grandes empresas são chamadas de política industrial como também investimentos de R$ 10 milhões para incentivar inovação. O que muitos chamam de política industrial não passa da simples concessão de crédito subsidiado – isso não é nem a velha politica industrial nem a nova voltada ao que os preofessores de Harvard Rodrick e Hausmann (2003) chamam de promover “self-discovery”.
Por exemplo, qual a política industrial na construção de refinarias bilionárias pela Petrobrás? absolutamente nenhuma. Lembro-me que Antônio Barros de Castro uma vez foi taxativo quanto a isso: “não há nada de política industrial em colocar aço e cimento junto e refinar petróleo”. Por outro lado, muito do que fizemos com as pesquisas via Embrapa poderiam ser denominadas de “politica industrial”– foco em inovação e o beneficio da pesquisa não era apropriado por um empresa, mas por todo um setor.
(5) “O Brasil precisa aumentar a sua taxa de investimento para crescer de forma sustentável.”
Pergunte em seguida de que forma o país deve aumentar sua taxa de poupança para financiar o nível maior de investimento sem aumentar de forma excessiva o déficit em conta corrente? A única poupança sobre o controle direto do governo é a sua própria poupança: a pública. Assim, para aumentar essa poupança para investir mais significa aumentar a carga tributária ou cortar gastos. Caso isso não seja feito, o aumento da taxa de investimento na economia brasileira será seguida do crescimento do déficit em conta corrente e mais valorização do real.
“O jeitinho brasileiro de aumantar a taxa de investimento” – emissão de divida pública para emprestar para o BNDES – não cria poupança. Se crescimento da dívida fosse suficiente para aumentar a taxa de poupança e investimento em uma economia, seria suficiente aumentar ainda mais a divida pública para aumentar os empréstimos para o BNDES. Hoje esses empréstimos já passam de R$ 300 bilhões e têm um custo elevado, que nunca é explicitamente divulgado enm tão pouco discutido.
Ponto Chave: muito cuidado com políticos, economistas e consultores que prometem o Céu nas suas análises utilizando chavões que todos nós gostamos de ouvir: eficiência, controle do custeio, reforma tributária, controle da inflação, política industrial e aumento da taxa de investimento.
Alguém é contra essa agenda? Absolutamente ninguém. O problema no entanto surge quando os temas acimas são transformados em propostas de política e, então, se descobre as inconsistências do discurso superficial pró-crescimento. E isso não tem absolutamente nada a ver com teoria neoclássica ou com economistas liberais. Tem a ver com bom senso, o que hoje falta a muita gente no Brasil.
A propósito, não tenho a solução para os pontos levantados acima.Tenho o diagnóstico dos problemas, mas a decisão do modelo de crescimento que queremos é da sociedade, que pode optar por crescer menos e continuar com a mesma politica de valorização do mínimo , sem mudança alguma nas regras da previdência e pensões.
E por falar em cambio: O governo e a batalha do câmbio - Luiz Carlos Mendonça de Barros
O governo e a batalha do câmbio
Luiz Carlos Mendonça de Barros
Folha de S.Paulo, 29/07/2011
No Ministério da Fazenda ninguém tem a menor ideia sobre a caixa de surpresas que foi aberta nesta semana
COM O real chegando a seu momento de maior força em relação ao dólar, o governo Dilma Rousseff cruzou uma nova fronteira em sua confusa e pouco eficiente estratégia de proteger a indústria brasileira.
Pela primeira vez desde que o ministro Guido Mantega cunhou a expressão "guerra cambial", o governo tomou medidas para atingir o mercado futuro de câmbio na BM&F.
Ao taxar essas operações com o IOF e estabelecer um marco legal para fixar --por medidas administrativas do CMN-- o nível de garantias exigidas, o governo --como Cesar-- cruzou o Rubicão.
Não há mais volta, pois, ao interferir em um mercado tão grande e tão interligado com o lado real da economia sem a devida reflexão sobre seus efeitos --e esse é certamente o caso--, o governo criou algo muito perto do caos.
Estou fora do país, mas os relatos que tive sobre a coletiva do ministro Mantega são suficientes para compor esse quadro de desconhecimento profundo das consequências das medidas adotadas.
Posso afirmar isso porque participei em 1986, quando era diretor do Banco Central, de algo muito semelhante. Pressionado para enfrentar a questão das expectativas de inflação embutidas nas taxas de juros dos títulos públicos, o Banco Central mudou a tributação desses papéis sem a necessária avaliação de suas consequências na economia como um todo.
Tudo virou um inferno, e uma sequência de novas medidas foi necessária para tentar enfrentar as maiores distorções que apareceram. E, a cada tentativa de correção, novos problemas se colocavam. No final, tivemos de voltar atrás...
A questão do real forte é ainda mais complexa do que a que o Banco Central enfrentou décadas atrás. E isso ocorre por várias razões.
A mais importante delas está relacionada às complexas relações entre mercados internos e externos que existem hoje na economia brasileira.
E não estou falando apenas de relações financeiras, mas sim da complexa interação entre as cadeias produtivas em setores importantes do tecido produtivo. As importações fazem parte do cotidiano das empresas brasileiras, o que as obrigam a realizar operações de proteção contra a flutuação da taxa cambial.
Também os exportadores, principalmente no setor de produtos primários, precisam de mecanismos de proteção contra as flutuações de grandes proporções que ocorrem hoje nos mercados futuros desses produtos no exterior. E essas operações de proteção trazem, juntas, as flutuações nos mercados de câmbio.
Poderia escrever muito mais sobre as relações econômicas, e, como já disse, não apenas as financeiras, que estão por trás das operações de taxas de câmbio futuro na BM&F.
Mas tenho certeza de que isso não é necessário para mostrar ao leitor da Folha a fragilidade que está por trás das decisões tomadas pelo governo Dilma nos últimos dias.
Quando escrevo esta coluna, os mercados estão paralisados à espera de esclarecimentos do governo sobre as medidas tomadas. Já tenho muito tempo de estrada para acreditar que elas virão. Volto a afirmar que ninguém no Ministério da Fazenda --inclusive o ministro Mantega-- tem a menor ideia sobre a caixa de surpresas que eles abriram agora.
Uma coisa é certa: ao longo dos próximos dias um mercado futuro de taxas de câmbio, tendo o real como uma das pontas das operações, vai aparecer em Chicago ou em outras praças financeiras.
As demandas por operações desse tipo fazem parte hoje do que chamo de metabolismo da economia brasileira. Por isso, elas vão reaparecer em outros lugares. Mas, como sempre ocorre nessas situações, os custos de transação vão aumentar para quem faz negócios no Brasil e com o Brasil.
Um dos pensamentos estratégicos que os chineses, em seus 5.000 anos de história, nos deixaram foi o de nunca usar um canhão para matar uma formiga.
Os efeitos colaterais que ocorrem quando isso acontece são sempre muito maiores do que os eventuais benefícios gerados.
Vamos testar no Brasil de hoje a sabedoria estratégica dos chineses.
Luiz Carlos Mendonça de Barros
Folha de S.Paulo, 29/07/2011
No Ministério da Fazenda ninguém tem a menor ideia sobre a caixa de surpresas que foi aberta nesta semana
COM O real chegando a seu momento de maior força em relação ao dólar, o governo Dilma Rousseff cruzou uma nova fronteira em sua confusa e pouco eficiente estratégia de proteger a indústria brasileira.
Pela primeira vez desde que o ministro Guido Mantega cunhou a expressão "guerra cambial", o governo tomou medidas para atingir o mercado futuro de câmbio na BM&F.
Ao taxar essas operações com o IOF e estabelecer um marco legal para fixar --por medidas administrativas do CMN-- o nível de garantias exigidas, o governo --como Cesar-- cruzou o Rubicão.
Não há mais volta, pois, ao interferir em um mercado tão grande e tão interligado com o lado real da economia sem a devida reflexão sobre seus efeitos --e esse é certamente o caso--, o governo criou algo muito perto do caos.
Estou fora do país, mas os relatos que tive sobre a coletiva do ministro Mantega são suficientes para compor esse quadro de desconhecimento profundo das consequências das medidas adotadas.
Posso afirmar isso porque participei em 1986, quando era diretor do Banco Central, de algo muito semelhante. Pressionado para enfrentar a questão das expectativas de inflação embutidas nas taxas de juros dos títulos públicos, o Banco Central mudou a tributação desses papéis sem a necessária avaliação de suas consequências na economia como um todo.
Tudo virou um inferno, e uma sequência de novas medidas foi necessária para tentar enfrentar as maiores distorções que apareceram. E, a cada tentativa de correção, novos problemas se colocavam. No final, tivemos de voltar atrás...
A questão do real forte é ainda mais complexa do que a que o Banco Central enfrentou décadas atrás. E isso ocorre por várias razões.
A mais importante delas está relacionada às complexas relações entre mercados internos e externos que existem hoje na economia brasileira.
E não estou falando apenas de relações financeiras, mas sim da complexa interação entre as cadeias produtivas em setores importantes do tecido produtivo. As importações fazem parte do cotidiano das empresas brasileiras, o que as obrigam a realizar operações de proteção contra a flutuação da taxa cambial.
Também os exportadores, principalmente no setor de produtos primários, precisam de mecanismos de proteção contra as flutuações de grandes proporções que ocorrem hoje nos mercados futuros desses produtos no exterior. E essas operações de proteção trazem, juntas, as flutuações nos mercados de câmbio.
Poderia escrever muito mais sobre as relações econômicas, e, como já disse, não apenas as financeiras, que estão por trás das operações de taxas de câmbio futuro na BM&F.
Mas tenho certeza de que isso não é necessário para mostrar ao leitor da Folha a fragilidade que está por trás das decisões tomadas pelo governo Dilma nos últimos dias.
Quando escrevo esta coluna, os mercados estão paralisados à espera de esclarecimentos do governo sobre as medidas tomadas. Já tenho muito tempo de estrada para acreditar que elas virão. Volto a afirmar que ninguém no Ministério da Fazenda --inclusive o ministro Mantega-- tem a menor ideia sobre a caixa de surpresas que eles abriram agora.
Uma coisa é certa: ao longo dos próximos dias um mercado futuro de taxas de câmbio, tendo o real como uma das pontas das operações, vai aparecer em Chicago ou em outras praças financeiras.
As demandas por operações desse tipo fazem parte hoje do que chamo de metabolismo da economia brasileira. Por isso, elas vão reaparecer em outros lugares. Mas, como sempre ocorre nessas situações, os custos de transação vão aumentar para quem faz negócios no Brasil e com o Brasil.
Um dos pensamentos estratégicos que os chineses, em seus 5.000 anos de história, nos deixaram foi o de nunca usar um canhão para matar uma formiga.
Os efeitos colaterais que ocorrem quando isso acontece são sempre muito maiores do que os eventuais benefícios gerados.
Vamos testar no Brasil de hoje a sabedoria estratégica dos chineses.
Enxugando o gelo cambial: da inutilidade dos paliativos...
O governo anunciou, até com certo estardalhaço, "medidas duras" contra a valorização do real, acusando os EUA de estarem desvalorizando o dólar e outros -- não identificados, salvo os especuladores de sempre -- de se aproveitarem da situação.
Fez de tudo um pouco, mas não fez o essencial. Ou seja, agiu por paliativos, ou apenas nas consequências e resultados, não nas fontes do problema.
É certo que existe uma desvalorização do dólar: trata-se de um processo consciente, administrado pelo governo americano para tentar resolver um dentre seus muitos problemas.
Mas é mais certo ainda que existe uma valorização do real QUE NÃO TEM NADA A VER com essa desvalorização do dólar, já que ela é determinada por causas internas, made in Brazil, pecados tupiniquins e problemas jabuticabais...
Pois o governo não atuou sobre as causas, que são juros elevados. E por que o juros são elevados?
Ora, porque o governo gasta demais. E por que o governo gasta demais?
A resposta é muito simples: se trata de um irresponsável contumaz, um ladrão dos recursos alheios, um despoupador líquido do setor produtivo brasileiro (empresários, trabalhadores, agronegócio).
Este é o resultado da ação inócua do governo:
Dólar volta a cair, para R$1,554
O Globo - Vinicius Neder
Depois de dois dias de alta, moeda americana recua 0,76%...
Só paliativo
O Globo - Da Redação
A volta do dólar ao patamar de R$1,55 ontem não surpreendeu Robson Andrade, presidente da CNI...
Dólar baixo atrai marcas internacionais
O Globo - Da Redação
Com câmbio favorável, sites importam produtos de grifes para os brasileiros ...
E o que o governo pretende fazer além disso?
Ora, nada de muito diferente do que já vem fazendo: mais protecionismo e promessas de política industrial, com medidas que serão, como no caso do câmbio, absolutamente inócuas.
"Outro desafio de Mantega"
Revista ISTOÉ - Octávio Costa
Guido Mantega, está discutindo com sua equipe medidas para impedir a competição predatória de mercadorias estrangeiras...
"Hermanos" unidos contra importações chinesas
O Globo - Chico de Gois
Brasil e Argentina estudam medidas...
Refrescar a indústria
O Globo - Da Redação
A indústria aguarda para a semana que vem um anúncio do governo, mas sabe que qualquer que seja o desfecho do embate entre os ministérios não há muito o que esperar da política industrial...
A única medida que a indústria precisaria, de central, seria uma forte desoneração tributária, e uma equalização das condições de atividade, para evitar comportamentos setoriais desviantes.
Mas não parece que isto virá, mesmo que a presidente diga o contrário, como aqui revelado:
Dilma enquadra Mantega e exige desonerações para a indústria
O Globo - Eliane Oliveira
"Receita federal não manda no meu governo", teria dito presidente em reunião...
Não creio que essa desoneração se concretize, de fato...
Assim vai o Brasil...
Paulo Roberto de Almeida
Fez de tudo um pouco, mas não fez o essencial. Ou seja, agiu por paliativos, ou apenas nas consequências e resultados, não nas fontes do problema.
É certo que existe uma desvalorização do dólar: trata-se de um processo consciente, administrado pelo governo americano para tentar resolver um dentre seus muitos problemas.
Mas é mais certo ainda que existe uma valorização do real QUE NÃO TEM NADA A VER com essa desvalorização do dólar, já que ela é determinada por causas internas, made in Brazil, pecados tupiniquins e problemas jabuticabais...
Pois o governo não atuou sobre as causas, que são juros elevados. E por que o juros são elevados?
Ora, porque o governo gasta demais. E por que o governo gasta demais?
A resposta é muito simples: se trata de um irresponsável contumaz, um ladrão dos recursos alheios, um despoupador líquido do setor produtivo brasileiro (empresários, trabalhadores, agronegócio).
Este é o resultado da ação inócua do governo:
Dólar volta a cair, para R$1,554
O Globo - Vinicius Neder
Depois de dois dias de alta, moeda americana recua 0,76%...
Só paliativo
O Globo - Da Redação
A volta do dólar ao patamar de R$1,55 ontem não surpreendeu Robson Andrade, presidente da CNI...
Dólar baixo atrai marcas internacionais
O Globo - Da Redação
Com câmbio favorável, sites importam produtos de grifes para os brasileiros ...
E o que o governo pretende fazer além disso?
Ora, nada de muito diferente do que já vem fazendo: mais protecionismo e promessas de política industrial, com medidas que serão, como no caso do câmbio, absolutamente inócuas.
"Outro desafio de Mantega"
Revista ISTOÉ - Octávio Costa
Guido Mantega, está discutindo com sua equipe medidas para impedir a competição predatória de mercadorias estrangeiras...
"Hermanos" unidos contra importações chinesas
O Globo - Chico de Gois
Brasil e Argentina estudam medidas...
Refrescar a indústria
O Globo - Da Redação
A indústria aguarda para a semana que vem um anúncio do governo, mas sabe que qualquer que seja o desfecho do embate entre os ministérios não há muito o que esperar da política industrial...
A única medida que a indústria precisaria, de central, seria uma forte desoneração tributária, e uma equalização das condições de atividade, para evitar comportamentos setoriais desviantes.
Mas não parece que isto virá, mesmo que a presidente diga o contrário, como aqui revelado:
Dilma enquadra Mantega e exige desonerações para a indústria
O Globo - Eliane Oliveira
"Receita federal não manda no meu governo", teria dito presidente em reunião...
Não creio que essa desoneração se concretize, de fato...
Assim vai o Brasil...
Paulo Roberto de Almeida
O charme discreto e os "lacos de sangue" (mas de que tipo?)...
Na continuidade do post anterior, o assunto ainda é a Síria e os protestos da população civil por mais liberdade e democracia e a violenta repressão do regime Assad.
Seria o caso de perguntar quais "laços de sangue" vigoram, exatamente, entre o Brasil e o povo sírio, a que se refere o porta-voz da diplomacia brasileira. Esperemos que não sejam os mais indesejados...
Paulo Roberto de Almeida
Forças de segurança matam 20 pessoas na Síria; Ibas promete buscar diálogo com Damasco
Eliane Oliveira
Com agências internacionais, 29/07/2011 às 20h53m
BRASÍLIA - Em mais um dia de violenta repressão, forças de segurança da Síria mataram 20 pessoas no país, informou o grupo de direitos humanos Sawasiah. Ainda nesta sexta-feira, Brasil, Índia e África do Sul anunciaram que vão buscar juntos um diálogo com o governo do presidente Bashar al-Asad.
- O governo continua a reagir com violenta repressão contra manifestantes pacíficos que pedem por liberdade e pelo fim do regime de Asad. Soldados atiraram em civis em várias cidades do país - disse a organização à agência de notícias Reuters.
Segundo o Sawasiah, civis foram assassinados em Latakia, Hama, Homs, na capital Damasco, nos subúrbios de Douma e Qadam, em Kiswa, Deir al-Zor, onde cinco pessoas teriam morrido, e na cidade de Deraa, onde começaram os protestos antigovernistas em meados de março deste ano.
Brasil, Índia e África do Sul prometem diálogo 'construtivo'
Brasil, Índia e África do Sul decidiram realizar gestões conjuntas junto ao governo da Síria em busca de um diálogo construtivo. Os três países, que são membros do Conselho de Segurança da ONU e formam o bloco político denominado Ibas, enviarão a Damasco, na próxima semana, uma missão com a tarefa de estimular um entendimento, para evitar que a situação se agrave ainda mais.
De acordo com o porta-voz do Itamaraty, Tovar Nunes, a decisão foi tomada na quinta-feira passada. Ele afirmou que o Brasil tem procurado, no Conselho de Segurança, extrair um consenso em torno do assunto.
- Nós achamos que uma decisão sobre a Síria, qualquer que seja ela, que não goze de consenso ficará fragilizada. O Brasil já indicou que uma condenação não seria útil politicamente. Não dá para acirrar o ambiente político interno - disse o diplomata.
Ele lembrou que a condenação ao governo sírio já existia no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas e destacou que a saída é resgatar o diálogo. Tovar também citou os "laços de sangue" entre o Brasil e o povo daquele país.
- Diferentemente de todos os outros membros do Conselho de Segurança, o Brasil tem laços de sangue com a comunidade síria, a maioria formada por cristãos que vivem aqui.
O porta-voz garantiu que o governo brasileiro persegue o caminho do diálogo político e afirmou considerar leviano acusar o Brasil de conivência aos abusos de direitos humanos na Síria. Segundo ele, há cerca de dez dias, durante um encontro entre o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, e o vice-chanceler sírio, Fayssal Mekdad, Patriota salientou a posição brasileira.
- Ele (Patriota) instou o governo sírio a acelerar a adoção de reformas. E indicou que a situação de violência tornou-se crônica - relatou Tovar.
Seria o caso de perguntar quais "laços de sangue" vigoram, exatamente, entre o Brasil e o povo sírio, a que se refere o porta-voz da diplomacia brasileira. Esperemos que não sejam os mais indesejados...
Paulo Roberto de Almeida
Forças de segurança matam 20 pessoas na Síria; Ibas promete buscar diálogo com Damasco
Eliane Oliveira
Com agências internacionais, 29/07/2011 às 20h53m
BRASÍLIA - Em mais um dia de violenta repressão, forças de segurança da Síria mataram 20 pessoas no país, informou o grupo de direitos humanos Sawasiah. Ainda nesta sexta-feira, Brasil, Índia e África do Sul anunciaram que vão buscar juntos um diálogo com o governo do presidente Bashar al-Asad.
- O governo continua a reagir com violenta repressão contra manifestantes pacíficos que pedem por liberdade e pelo fim do regime de Asad. Soldados atiraram em civis em várias cidades do país - disse a organização à agência de notícias Reuters.
Segundo o Sawasiah, civis foram assassinados em Latakia, Hama, Homs, na capital Damasco, nos subúrbios de Douma e Qadam, em Kiswa, Deir al-Zor, onde cinco pessoas teriam morrido, e na cidade de Deraa, onde começaram os protestos antigovernistas em meados de março deste ano.
Brasil, Índia e África do Sul prometem diálogo 'construtivo'
Brasil, Índia e África do Sul decidiram realizar gestões conjuntas junto ao governo da Síria em busca de um diálogo construtivo. Os três países, que são membros do Conselho de Segurança da ONU e formam o bloco político denominado Ibas, enviarão a Damasco, na próxima semana, uma missão com a tarefa de estimular um entendimento, para evitar que a situação se agrave ainda mais.
De acordo com o porta-voz do Itamaraty, Tovar Nunes, a decisão foi tomada na quinta-feira passada. Ele afirmou que o Brasil tem procurado, no Conselho de Segurança, extrair um consenso em torno do assunto.
- Nós achamos que uma decisão sobre a Síria, qualquer que seja ela, que não goze de consenso ficará fragilizada. O Brasil já indicou que uma condenação não seria útil politicamente. Não dá para acirrar o ambiente político interno - disse o diplomata.
Ele lembrou que a condenação ao governo sírio já existia no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas e destacou que a saída é resgatar o diálogo. Tovar também citou os "laços de sangue" entre o Brasil e o povo daquele país.
- Diferentemente de todos os outros membros do Conselho de Segurança, o Brasil tem laços de sangue com a comunidade síria, a maioria formada por cristãos que vivem aqui.
O porta-voz garantiu que o governo brasileiro persegue o caminho do diálogo político e afirmou considerar leviano acusar o Brasil de conivência aos abusos de direitos humanos na Síria. Segundo ele, há cerca de dez dias, durante um encontro entre o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, e o vice-chanceler sírio, Fayssal Mekdad, Patriota salientou a posição brasileira.
- Ele (Patriota) instou o governo sírio a acelerar a adoção de reformas. E indicou que a situação de violência tornou-se crônica - relatou Tovar.
O charme excessivamente discreto da politica externa brasileira
POLÍTICA EXTERNA
A passividade de Antonio Patriota
Frederico Bartels Ferreira
Opinião e Notícia, 30/07/2011
O chanceler brasileiro se mostra disposto a aceitar que a ONU lide com questões que ameacem a paz e a segurança internacionais ficando em silêncio. Por Frederico Bartels Ferreira
Em uma entrevista concedida ao Estado de S. Paulo no dia 16 de julho de 2011, o atual chanceler brasileiro Antonio Patriota discutiu uma miríade de assuntos relevantes e determinantes para a política externa, inclusive a questão da diferença entre as situações da Líbia e da Síria em meio à Primavera Árabe.
Como abordado em artigo anterior, a delegação brasileira na ONU tem tomado posições distintas em relação a questões similares. Ambos os países árabes têm uma população que deseja se ver livre das mãos opressoras de seus ditadores – Khadafi e Assad. Quando perguntado sobre as duas situações e o posicionamento do Brasil, a resposta que melhor resume o caso foi que na Síria “é mais complicado”.
Explorarei neste artigo as complicações que são expostas por Patriota buscando iluminar os valores que norteiam a política externa do Itamaraty.
Um dos momentos mais elucidantes dos valores da política externa brasileira é a comparação feita pelo entrevistado entre as profissões de um diplomata e de um médico. Patriota coloca que “assim como o credo do médico é não piorar a doença do seu paciente, (..) a responsabilidade do diplomata em termos de paz e segurança é não piorar uma situação. Não torná-la mais grave, não torná-la mais instável”. A importância desse argumento está na definição dos valores que orientam a condução da política externa, determinados como sendo a busca da estabilidade internacional, através da manutenção da paz e da segurança. A fala de Patriota é mais relevante do que a breve discussão de valores feita por ele, quando exalta a importância da democracia, da diminuição da desigualdade, do pleno exercício dos direitos humanos, das soluções diplomáticas e de outros elementos que circundam a política externa brasileira. A crença de que a estabilidade é o valor primeiro do trabalho diplomático ilustra o ordenamento de preferências, onde a estabilidade e o não-agravamento de conflitos é imperativo.
Quando se analisam as questões da Síria e da Líbia pelo prisma da estabilidade, qualquer ação do Conselho de Segurança deveria ser evitada. Tais ações poderiam ser vistas como apoio às populações locais, fazendo com que elas fiquem mais agressivas em suas iniciativas contra seus ditadores; assim como qualquer ação de apoio ao governo poderia ser vista como carta branca para que ele continue a fazer o que têm feito.
Outro elemento que o chanceler aponta como sendo uma das divergências importantes entre as questões dos dois países é o fato de que antes de chegar no Conselho de Segurança da ONU, a situação Líbia já contava com resoluções da Liga Árabe e do Conselho de Direitos Humanos. Essa trajetória é vista pelo diplomata como sendo benéfica, apesar de significar que a questão simplesmente demorou mais para chegar à opinião pública internacional devido à atenção que cada uma dessas instâncias comanda. O diplomata se refere a esse elemento ao falar que a Síria ainda estaria em um estágio diferente. Estágio este no qual aparentemente o ditador ainda pode massacrar sua população sem sofrer condenação do Conselho de Segurança.
Patriota, a respeito do caso da Síria no Conselho de Segurança, conta ter tentado “avançar na ideia de uma declaração presidencial, que é uma manifestação menos contundente que uma resolução, e que é sempre por consenso. O chanceler afirma até ter recebido sinal verde da China e da Rússia para ir adiante na aprovação da declaração presidencial, mas não do Líbano. Com isso, China, Rússia, Brasil e África do Sul conseguiram não só não colocar uma resolução fraca em votação como também conseguiram acabar com as possibilidades de que do Conselho tome qualquer ação no último mês em relação à Síria.
A partir dessa inação do Conselho, Patriota se mostra disposto a aceitar que o órgão encarregado pela Carta da ONU lide com questões que ameacem a paz e a segurança internacionais ficando em silêncio. O chanceler discute a possibilidade de uma gestão diplomática liderada por Brasil, Índia e África do Sul em Damasco, almejando “dar um voto de confiança a esse desejo do governo Assad de promover reformas políticas, da reforma da lei eleitoral”. Sem dúvida, reformas políticas na Síria são um objetivo nobre, porém a existência de uma resolução do Conselho de Segurança condenando a violência praticada pelo governo e clamando por reformas políticas serviria para encorajar a oposição e reforçar o argumento. Acredito que esses termos passariam até mesmo pela peneira do diplomata brasileiro que procura não criar instabilidade.
A busca pela estabilidade e pelo consenso no caso sírio fez com que o Conselho ficasse passivo diante de uma questão que tem sido coloca como uma ameaça à paz e à segurança internacionais. Uma pergunta válida para o chanceler nesta situação é: a inação não irá contribuir mais para a instabilidade? Espero que o povo sírio não dependa da comunidade internacional para se tornar uma democracia, pois se depender da política externa pragmática de Patriota, a bota de Assad não sairá do lugar.
*Frederico Bartels Ferreira é mestrando em Relações Internacionais na George Washington University e bacharel em Relações Internacionais pela PUC Minas.
A passividade de Antonio Patriota
Frederico Bartels Ferreira
Opinião e Notícia, 30/07/2011
O chanceler brasileiro se mostra disposto a aceitar que a ONU lide com questões que ameacem a paz e a segurança internacionais ficando em silêncio. Por Frederico Bartels Ferreira
Em uma entrevista concedida ao Estado de S. Paulo no dia 16 de julho de 2011, o atual chanceler brasileiro Antonio Patriota discutiu uma miríade de assuntos relevantes e determinantes para a política externa, inclusive a questão da diferença entre as situações da Líbia e da Síria em meio à Primavera Árabe.
Como abordado em artigo anterior, a delegação brasileira na ONU tem tomado posições distintas em relação a questões similares. Ambos os países árabes têm uma população que deseja se ver livre das mãos opressoras de seus ditadores – Khadafi e Assad. Quando perguntado sobre as duas situações e o posicionamento do Brasil, a resposta que melhor resume o caso foi que na Síria “é mais complicado”.
Explorarei neste artigo as complicações que são expostas por Patriota buscando iluminar os valores que norteiam a política externa do Itamaraty.
Um dos momentos mais elucidantes dos valores da política externa brasileira é a comparação feita pelo entrevistado entre as profissões de um diplomata e de um médico. Patriota coloca que “assim como o credo do médico é não piorar a doença do seu paciente, (..) a responsabilidade do diplomata em termos de paz e segurança é não piorar uma situação. Não torná-la mais grave, não torná-la mais instável”. A importância desse argumento está na definição dos valores que orientam a condução da política externa, determinados como sendo a busca da estabilidade internacional, através da manutenção da paz e da segurança. A fala de Patriota é mais relevante do que a breve discussão de valores feita por ele, quando exalta a importância da democracia, da diminuição da desigualdade, do pleno exercício dos direitos humanos, das soluções diplomáticas e de outros elementos que circundam a política externa brasileira. A crença de que a estabilidade é o valor primeiro do trabalho diplomático ilustra o ordenamento de preferências, onde a estabilidade e o não-agravamento de conflitos é imperativo.
Quando se analisam as questões da Síria e da Líbia pelo prisma da estabilidade, qualquer ação do Conselho de Segurança deveria ser evitada. Tais ações poderiam ser vistas como apoio às populações locais, fazendo com que elas fiquem mais agressivas em suas iniciativas contra seus ditadores; assim como qualquer ação de apoio ao governo poderia ser vista como carta branca para que ele continue a fazer o que têm feito.
Outro elemento que o chanceler aponta como sendo uma das divergências importantes entre as questões dos dois países é o fato de que antes de chegar no Conselho de Segurança da ONU, a situação Líbia já contava com resoluções da Liga Árabe e do Conselho de Direitos Humanos. Essa trajetória é vista pelo diplomata como sendo benéfica, apesar de significar que a questão simplesmente demorou mais para chegar à opinião pública internacional devido à atenção que cada uma dessas instâncias comanda. O diplomata se refere a esse elemento ao falar que a Síria ainda estaria em um estágio diferente. Estágio este no qual aparentemente o ditador ainda pode massacrar sua população sem sofrer condenação do Conselho de Segurança.
Patriota, a respeito do caso da Síria no Conselho de Segurança, conta ter tentado “avançar na ideia de uma declaração presidencial, que é uma manifestação menos contundente que uma resolução, e que é sempre por consenso. O chanceler afirma até ter recebido sinal verde da China e da Rússia para ir adiante na aprovação da declaração presidencial, mas não do Líbano. Com isso, China, Rússia, Brasil e África do Sul conseguiram não só não colocar uma resolução fraca em votação como também conseguiram acabar com as possibilidades de que do Conselho tome qualquer ação no último mês em relação à Síria.
A partir dessa inação do Conselho, Patriota se mostra disposto a aceitar que o órgão encarregado pela Carta da ONU lide com questões que ameacem a paz e a segurança internacionais ficando em silêncio. O chanceler discute a possibilidade de uma gestão diplomática liderada por Brasil, Índia e África do Sul em Damasco, almejando “dar um voto de confiança a esse desejo do governo Assad de promover reformas políticas, da reforma da lei eleitoral”. Sem dúvida, reformas políticas na Síria são um objetivo nobre, porém a existência de uma resolução do Conselho de Segurança condenando a violência praticada pelo governo e clamando por reformas políticas serviria para encorajar a oposição e reforçar o argumento. Acredito que esses termos passariam até mesmo pela peneira do diplomata brasileiro que procura não criar instabilidade.
A busca pela estabilidade e pelo consenso no caso sírio fez com que o Conselho ficasse passivo diante de uma questão que tem sido coloca como uma ameaça à paz e à segurança internacionais. Uma pergunta válida para o chanceler nesta situação é: a inação não irá contribuir mais para a instabilidade? Espero que o povo sírio não dependa da comunidade internacional para se tornar uma democracia, pois se depender da política externa pragmática de Patriota, a bota de Assad não sairá do lugar.
*Frederico Bartels Ferreira é mestrando em Relações Internacionais na George Washington University e bacharel em Relações Internacionais pela PUC Minas.
sexta-feira, 29 de julho de 2011
Marcha da integracao Brasil-Argentina: so 1 bilhao de US$ de perdas...
Pouca coisa, quase nada...
Barreiras argentinas custam US$ 1 bi ao País
Raquel Landim
O Estado de S. Paulo, 28 de julho de 2011
Estudo da Fiesp calculou o prejuízo com licenças não automáticas de importação adotadas pelo país vizinho a 343 produtos brasileiros
SÃO PAULO - O protecionismo da Argentina já custou pelo menos US$ 1 bilhão às empresas prejudicadas pelas licenças não automáticas de importação, um instrumento que burocratiza a entrada dos produtos no país. As vendas dos setores afetados caíram 45% depois da adoção das licenças, de US$ 2,15 bilhão para US$ 1,18 bilhão, revela estudo inédito da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
O prejuízo pode ser ainda maior, porque o levantamento considerou apenas os 343 itens sujeitos à aprovação manual para entrada na Argentina até o fim de 2010. Neste ano, o governo da presidente Cristina Kirchner incluiu mais 180 produtos no sistema. O licenciamento não automático é permitido pelas regras internacionais, mas os argentinos demoram mais que o limite de 60 dias previsto.
Cristina estará nesta sexta-feira, 29, em Brasília para inaugurar a nova Embaixada da Argentina e vai se reunir com a presidente Dilma Rousseff, mas não está prevista nenhuma discussão sobre as desavenças comerciais. O governo planeja apenas instalar oficialmente um fórum de empresários dos dois países, que poderia ajudar a resolver conflitos.
As medidas adotadas pela Argentina estão causando mal-estar no Brasil. No setor privado, a impressão é que o governo está sendo "tolerante" com a Argentina por causa da proximidade das eleições presidenciais, que ocorrem em outubro. Após retaliar a Argentina com a adoção de licenças para a entrada de automóveis, o que foi considerado um "tiro de canhão", o governo Dilma teria mudado de postura por recomendação do Itamaraty.
"O governo brasileiro está sendo tolerante. Os argentinos estão abusando e desviando comércio para terceiros países. O que eles ganham com isso? É o fim da picada", disse ao Estado Paulo Skaf, presidente da Fiesp. O levantamento da entidade mostra que boa parte dos setores perdeu participação nas importações da Argentina para concorrentes como a China.
O setor que sofreu o maior prejuízo pela adoção das licenças foi o de máquinas e equipamentos. As exportações dos fabricantes brasileiros para a Argentina caíram 79%, US$ 318 milhões nos 18 meses anteriores à adoção das licenças para US$ 65 milhões nos 18 meses posteriores, o que significa US$ 252 milhões a menos.
Também sofreram perdas significativas em suas vendas na mesma comparação os setores têxtil (US$ 151,14 milhões a menos de exportação), autopeças (US$ 161,6 milhões), eletrônicos (US$ 113 milhões), pneus (US$ 120 milhões) e calçados (US$ 64 milhões).
Dos 14 setores afetados pelas licenças não automáticas, nove viram seu espaço se reduzir nas importações argentinas para os concorrentes. Os fabricantes de máquinas, que respondiam por 48,9% das compras externas do país vizinho, hoje estão com 28,9%. Também perderam market share os setores de artigos impressos (14%), têxtil (9%), vestuário (5,9%) e calçados (4,8%), entre outros.
Operação varejo. Os empresários reclamam que estão presos em uma "operação de varejo" com a Argentina, em que negociam a expedição de cada licença de importação. Os governos argentino e brasileiro liberam a documentação a "conta-gotas", à medida que o outro lado também faz o mesmo.
"Essa operação varejo está destruindo a relação de confiança entre clientes argentinos e fornecedores brasileiros", diz Fernando Pimentel, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). Segundo ele, como não há previsibilidade na liberação das licenças, as roupas brasileiras chegam ao país vizinho fora da estação.
Segundo Heitor Klein, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados), o setor tem conversado "continuamente" com o Ministério do Desenvolvimento, sem solução. Até 22 de julho, o setor tinha 526 mil pares aguardando as licenças para entrar na Argentina a mais de 60 dias - ou seja, fora do prazo aceito internacionalmente.
Barreiras argentinas custam US$ 1 bi ao País
Raquel Landim
O Estado de S. Paulo, 28 de julho de 2011
Estudo da Fiesp calculou o prejuízo com licenças não automáticas de importação adotadas pelo país vizinho a 343 produtos brasileiros
SÃO PAULO - O protecionismo da Argentina já custou pelo menos US$ 1 bilhão às empresas prejudicadas pelas licenças não automáticas de importação, um instrumento que burocratiza a entrada dos produtos no país. As vendas dos setores afetados caíram 45% depois da adoção das licenças, de US$ 2,15 bilhão para US$ 1,18 bilhão, revela estudo inédito da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
O prejuízo pode ser ainda maior, porque o levantamento considerou apenas os 343 itens sujeitos à aprovação manual para entrada na Argentina até o fim de 2010. Neste ano, o governo da presidente Cristina Kirchner incluiu mais 180 produtos no sistema. O licenciamento não automático é permitido pelas regras internacionais, mas os argentinos demoram mais que o limite de 60 dias previsto.
Cristina estará nesta sexta-feira, 29, em Brasília para inaugurar a nova Embaixada da Argentina e vai se reunir com a presidente Dilma Rousseff, mas não está prevista nenhuma discussão sobre as desavenças comerciais. O governo planeja apenas instalar oficialmente um fórum de empresários dos dois países, que poderia ajudar a resolver conflitos.
As medidas adotadas pela Argentina estão causando mal-estar no Brasil. No setor privado, a impressão é que o governo está sendo "tolerante" com a Argentina por causa da proximidade das eleições presidenciais, que ocorrem em outubro. Após retaliar a Argentina com a adoção de licenças para a entrada de automóveis, o que foi considerado um "tiro de canhão", o governo Dilma teria mudado de postura por recomendação do Itamaraty.
"O governo brasileiro está sendo tolerante. Os argentinos estão abusando e desviando comércio para terceiros países. O que eles ganham com isso? É o fim da picada", disse ao Estado Paulo Skaf, presidente da Fiesp. O levantamento da entidade mostra que boa parte dos setores perdeu participação nas importações da Argentina para concorrentes como a China.
O setor que sofreu o maior prejuízo pela adoção das licenças foi o de máquinas e equipamentos. As exportações dos fabricantes brasileiros para a Argentina caíram 79%, US$ 318 milhões nos 18 meses anteriores à adoção das licenças para US$ 65 milhões nos 18 meses posteriores, o que significa US$ 252 milhões a menos.
Também sofreram perdas significativas em suas vendas na mesma comparação os setores têxtil (US$ 151,14 milhões a menos de exportação), autopeças (US$ 161,6 milhões), eletrônicos (US$ 113 milhões), pneus (US$ 120 milhões) e calçados (US$ 64 milhões).
Dos 14 setores afetados pelas licenças não automáticas, nove viram seu espaço se reduzir nas importações argentinas para os concorrentes. Os fabricantes de máquinas, que respondiam por 48,9% das compras externas do país vizinho, hoje estão com 28,9%. Também perderam market share os setores de artigos impressos (14%), têxtil (9%), vestuário (5,9%) e calçados (4,8%), entre outros.
Operação varejo. Os empresários reclamam que estão presos em uma "operação de varejo" com a Argentina, em que negociam a expedição de cada licença de importação. Os governos argentino e brasileiro liberam a documentação a "conta-gotas", à medida que o outro lado também faz o mesmo.
"Essa operação varejo está destruindo a relação de confiança entre clientes argentinos e fornecedores brasileiros", diz Fernando Pimentel, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). Segundo ele, como não há previsibilidade na liberação das licenças, as roupas brasileiras chegam ao país vizinho fora da estação.
Segundo Heitor Klein, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados), o setor tem conversado "continuamente" com o Ministério do Desenvolvimento, sem solução. Até 22 de julho, o setor tinha 526 mil pares aguardando as licenças para entrar na Argentina a mais de 60 dias - ou seja, fora do prazo aceito internacionalmente.
Olavo de Carvalho sobre Maquiavel, a proposito de seu livro
Neste sábado (30/Julho), às 19:30, o Prof. Olavo de Carvalho dará uma palestra sobre o seu novo livro:
Maquiavel, ou a Confusão Demoníaca
A palestra é aberta a todos que queiram assistir e será transmitida por vários sites, inclusive a Livraria do Seminário de Filosofia.
Gostaríamos ainda de destacar alguns títulos novos que chegaram recentemente às nossas prateleiras:
- Diário Filosófico – Constantin Noica
- Regras da Vida Cotidiana – Louis Lavelle
- Imposturas Intelectuais – Alan Sokal
- Como Escrever um Romance – Miguel de Unamuno
- Guia Politicamente Correto da História do Brasil – Leandro Narloch
- A Origem da Linguagem – Eugene Rosenstock-Huessy
- Astrologia Medieval – Raimundo Lúlio
- Diário de um Pároco de Aldeia – Georges Bernanos
- O Caminho da Servidão – F. Hayek
Gratos pela atenção,
Equipe da Livraria do Seminário de Filsofia
livraria.seminariodefilosofia.org
Rua Angelo Vicentim, 70 - Campinas - SP - 13084060
Maquiavel, ou a Confusão Demoníaca
A palestra é aberta a todos que queiram assistir e será transmitida por vários sites, inclusive a Livraria do Seminário de Filosofia.
Gostaríamos ainda de destacar alguns títulos novos que chegaram recentemente às nossas prateleiras:
- Diário Filosófico – Constantin Noica
- Regras da Vida Cotidiana – Louis Lavelle
- Imposturas Intelectuais – Alan Sokal
- Como Escrever um Romance – Miguel de Unamuno
- Guia Politicamente Correto da História do Brasil – Leandro Narloch
- A Origem da Linguagem – Eugene Rosenstock-Huessy
- Astrologia Medieval – Raimundo Lúlio
- Diário de um Pároco de Aldeia – Georges Bernanos
- O Caminho da Servidão – F. Hayek
Gratos pela atenção,
Equipe da Livraria do Seminário de Filsofia
livraria.seminariodefilosofia.org
Rua Angelo Vicentim, 70 - Campinas - SP - 13084060
Raul Prebisch: um economista controverso
Reportagem de capa:
Biografia resgata o legado do economista argentino Raúl Prebisch, líder da Cepal e da teoria desenvolvimentista latino-americana.
Prebisch e o continente
Diego Viana | De São Paulo
Valor Econômico, 29/07/2011
No turbilhão das crises, o conhecimento acumulado sobre o funcionamento da economia muitas vezes é questionado e as vozes de economistas heterodoxos passam a soar mais atraentes. Assim como as livrarias alemãs puderam comemorar em 2008 uma discreta corrida por edições atuais de "O Capital", de Karl Marx, o terremoto no mercado financeiro americano naquele ano foi celebrado como um renascimento da teoria keynesiana.
Foi também no ano da crise que chegou às livrarias dos EUA e do Canadá a biografia de Raúl Prebisch (1901-1986), o economista argentino que, para muitos, é o "Keynes latino-americano". Escrita por Edgar Dosman, da Universidade de York, no Canadá, "Raúl Prebisch: a Construção da América Latina e do Terceiro Mundo" tem publicação prevista no Brasil para o dia 15, em parceria do Centro Internacional Celso Furtado (CICF) com a editora Contraponto.
"O fim de 2008 foi o momento perfeito para sair o livro, porque assinala o começo de uma crise que pode vir a ser um colapso global", diz o autor. O lançamento permite resgatar a memória do pai da teoria estruturalista do desenvolvimento econômico. Prebisch, segundo Dosman, foi o primeiro economista a estender a teoria ao mundo em desenvolvimento e a enxergar a América Latina como uma entidade à parte. A tradução prática de seu pensamento foi a liderança da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal) e da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento). Grandes economistas brasileiros, como Celso Furtado (1920-2004) e Maria da Conceição Tavares, beberam na fonte de Prebisch.
O caos econômico dos anos 1930 desnudou, para o economista, a fraqueza da teoria hegemônica de comércio internacional
"Acredito que sei o que Prebisch recomendaria para o Brasil neste momento de boom de commodities e risco de desindustrialização", diz Dosman. Ao contrário do que se possa imaginar de um economista que preconizou o protecionismo e intervenção estatal para industrializar países periféricos, substituindo importações de manufaturados por produção local, Prebisch apoiava um setor primário forte. A explosão de commodities pode ser usada a favor do Brasil, se o país não se descuidar de ampliar as condições de produzir com alto valor agregado.
"Uma das vantagens da idade é ter acompanhado o ir e vir dos ciclos econômicos", comenta o autor. O próprio Prebisch presenciou uma alta acentuada de preços de produtos agrários na década de 20. "Levando em consideração as mudanças de humor do mercado de commodities, a pergunta passa a ser: o que é preciso fazer para se manter como potência industrial?"
Para Dosman, que vem ao Brasil no mês que vem para uma série de seminários organizados pelo CICF, Prebisch diria aos governos latino-americanos que encarassem o boom das commodities como temporário. A recomendação seria administrar a situação para evitar a "doença holandesa", ou seja, desindustrialização por dependência de um único produto exportado. "Não se pode esquecer que os países só têm sucesso se contarem com uma infraestrutura física, intelectual e produtiva que garanta o desenvolvimento de longo prazo", alerta Dosman.
Como Keynes, Prebisch desenvolveu suas teorias a partir da experiência traumática da Grande Depressão, que atingiu a economia argentina com uma violência particularmente atroz. O país era, até então, um dos mais prósperos do mundo, com sua economia assentada sobre a exportação de carne bovina e trigo para a Europa. A implosão do comércio mundial carregou consigo o país platino, que atravessou o violento período conhecido como "década infame".
Para Simão Davi Silber, da USP, a tese de Prebisch é falha porque se baseia no pior período da história do comércio internacional
Prebisch, nascido em Tucumán, filho de um imigrante alemão com uma descendente de aristocratas coloniais, era então um economista ortodoxo e diretor-geral do Banco Central de seu país, que também fundou. Atravessou no BC, onde trabalhou de 1930 a 1945, períodos turbulentos da crise e presenciou a ascensão do populismo de Juan Domingo Perón (1895-1974), que se tornaria seu desafeto. A magnitude do caos econômico dos anos 1930 desnudou, aos olhos do economista, as fraquezas práticas da teoria hegemônica de comércio internacional, fundada sobre o conceito de vantagens comparativas de David Ricardo (1772-1823). Para o economista inglês, os países devem se especializar na produção daquilo em que têm maior eficiência, para ampliar o comércio e gerar maior riqueza.
Uma das razões encontradas por Prebisch para explicar que os benefícios da vantagem comparativa não fossem repassados aos países periféricos, segundo o economista Nelson Marconi, da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e organizador do seminário paulistano sobre o argentino, foi a escassez de mão de obra nas sociedades industriais. Em consequência, os salários eram mais altos, porque os empresários tinham de investir em qualificação dos operários. "A vantagem comparativa chegava ao bolso do operário europeu, mas não ao camponês latino-americano", diz Marconi. Na crise, Prebisch observou que os preços do trigo e da carne argentinos despencaram com violência maior do que os de manufaturados. Os resultados foram divulgados na ONU (Organização das Nações Unidas) em 1949, com o texto "O Desenvolvimento Econômico da América Latina e Alguns de Seus Principais Problemas". Ao mesmo tempo, o economista alemão Hans Singer (1910-2006) chegava a conclusões semelhantes, de tal maneira que a teoria ficou conhecida como tese Prebisch-Singer.
O rebento da observação de Prebisch seria a teoria estruturalista do desenvolvimento econômico, que marca a ruptura do argentino com a ortodoxia. "O desenvolvimentismo da Cepal foi uma teoria muito importante para sua época", assinala o economista da FGV Luiz Carlos Bresser-Pereira, ex-ministro da Fazenda. "Foi a base de todo o desenvolvimento no Brasil, no México, no Chile e, em menor escala, na Argentina." Ironicamente, no país de Perón, Prebisch era persona non grata. Seus dois breves retornos à terra natal, como conselheiro dos presidentes Pedro Aramburu, em 1955, e Raúl Alfonsín, em 1983, foram desastrosos. "Ninguém queria escutar seus conselhos. Ele era associado ao 'antigo regime', período em que presidiu o Banco Central", diz Dosman.
"A vantagem comparativa nessa relação de comércio chegava ao bolso do operário europeu, mas não ao camponês latino-americano"
O ostracismo de Prebisch contrasta com o renome de que goza o outro grande economista heterodoxo do continente, o brasileiro Celso Furtado. O autor do monumental "Formação Econômica do Brasil" foi um prolífico colaborador de Prebisch na Cepal, além de amigo do argentino. "Prebisch deu o pontapé inicial", segundo Marconi. "Furtado ampliou a teoria e introduziu a questão da desigualdade de renda, que faltava."
Quando se conheceram, no Chile, o brasileiro era um jovem economista promissor. Prebisch, segundo Dosman, logo reconheceu nele um colega brilhante. "Era uma admiração mútua. Prebisch admirava a integridade pessoal de Furtado." A colaboração durou décadas, mas houve discordâncias, que chegaram a um breve rompimento em 1957. "Ambos tinham vontades fortes... eram 'machos alfa'", brinca o biógrafo.
Uma explicação para os destinos divergentes reside no acesso aos textos de ambos. Enquanto Furtado legou uma bibliografia ainda amplamente estudada, Prebisch escreveu apenas profissionalmente. Como diz seu biógrafo, "ele assinava como chefe de pesquisas, na Cepal e na Unctad. Seus textos individuais, para apresentação na ONU, ficaram indisponíveis". O projeto de publicar os manuscritos e correspondências do economista argentino avança lentamente.
"O estruturalismo entende que o processo de desenvolvimento implica uma mudança estrutural na composição da produção", diz Marconi. A necessidade de industrializar, ponto fundamental das ideias de Prebisch, é parte de um estímulo generalizado à demanda, por intervenção estatal ou investimento externo, à medida que uma economia deixa de ser primária. No horizonte situa-se um "ponto de maturidade", com consumo de massa e uma demanda de perfil mais sofisticado, em que a população exige serviços públicos, educação, saúde, lazer.
O ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira defende um desenvolvimentismo inspirado nas ideias de economistas como Raúl Prebisch
Segundo Bresser-Pereira, o desenvolvimentismo de Prebisch, Furtado e outros autores tem o mérito de reconhecer na economia um pensamento social e, portanto, histórico, em oposição à teoria neoclássica, que se pretende a-histórica. À exceção do pioneiro Reino Unido, aponta Bresser-Pereira, "todos os países que se industrializaram no século XIX protegeram a produção local": França, EUA, Alemanha, Japão.
Ao fim da Grande Depressão dos anos 1930, os governos latino-americanos tomaram interesse pelas teses da Cepal, que prometiam desenvolvimento e proteção contra novas recessões. A substituição de importações, ponto inaugural da doutrina, foi buscada no Brasil, no México, no Chile e em outros países. Nas décadas seguintes, o crescimento do continente foi um dos mais fortes do mundo e a estrutura econômica e social na região foi radicalmente transformada. As cidades cresceram com as fábricas. Mas ao fim da década de 1970, o quadro era outro: inflação, estagnação, crises políticas e ditaduras.
O desenvolvimentismo e as teses da Cepal foram relegadas a um plano secundário a partir da década seguinte, quando as teorias neoclássicas voltaram ao centro dos debates e o Consenso de Washington tomou forma. O próprio Raúl Prebisch foi esquecido e esquecido morreu, no Chile, em 1986. "A hipótese de Prebisch e Singer era muito ruim. Ela se baseava em dados apenas do período mais terrível da história do mercado mundial, que foi a Grande Depressão", argumenta o economista Simão Davi Silber, da Universidade de São Paulo (USP). Segundo Silber, as pesquisas empíricas revelam o oposto daquilo que diagnosticou o economista argentino: quem exporta commodities está em situação melhor do que o exportador de produtos industriais. "A história não corrobora a hipótese. A melhor maneira de verificá-lo é comparar o desempenho da América Latina com o Sudeste Asiático, onde a substituição de importações foi abandonada tão logo perceberam o erro."
O confronto entre latino-americanos e asiáticos em matéria de desenvolvimento também atrai os defensores do estruturalismo. Bresser-Pereira lembra que a substituição de importações é uma "pequena fase inicial de industrialização", cujo substrato é, nas palavras de Nelson Marconi, "um forte investimento na qualificação da mão de obra", com vista a galgar as etapas de desenvolvimento e reestruturar o sistema econômico. Um erro do Brasil, lamenta Marconi, foi não investir no capital humano. O modelo de industrialização que importou a matriz tecnológica foi concentrador de renda e não colaborou para atingir fases mais avançadas de desenvolvimento.
"A substituição de importações funcionou bem até os anos 1960", diz Bresser-Pereira. "Os asiáticos começaram assim e saíram rápido." Embora não se baseassem no pensamento de Raúl Prebisch, os economistas e burocratas daquele continente são pragmáticos, segundo Bresser-Pereira, e "olham para como a economia funciona de verdade". Países como a China e a Índia são encarados como exemplos de sucesso de políticas desenvolvimentistas.
Bresser-Pereira conclui que o erro latino-americano foi demorar a sair da etapa de substituição de importações. As raízes dessa demora podem ser políticas, já que as massas recém-incorporadas à economia urbana e industrial se tornaram um eleitorado atraente para os líderes do continente. "Por trás das ideias de Prebisch está um ativismo governamental pronunciado, daí o fato de ter caído no gosto do nacional-desenvolvimentismo latino-americano", afirma Simão Silber, ressaltando o caráter estatista da teoria heterodoxa da Cepal.
O renascimento do interesse pelo keynesianismo e por teorias centradas no desenvolvimento, a partir da crise de 2008, se faz acompanhar de um olhar mais benevolente para a atuação do Estado. "A estratégia do novo desenvolvimentismo é crescer com estabilidade, mas defendendo um Estado mais participativo", diz Bresser-Pereira. Nesse modelo, o Estado deixa de ser produtor, dono de empresas, e se torna indutor de investimentos privados. "O estágio de desenvolvimento é outro. Não precisamos mais fazer a revolução industrial e capitalista", diz. "Já existe uma classe de empresários capazes de investir."
Marconi lamenta que o Brasil tenha passado tantas décadas investindo na modernização da estrutura sem modernizar também a formação da mão de obra. "Só agora esse problema está sendo atacado no Brasil." O desenvolvimentismo de hoje, segundo Marconi, é a corrente que chama a atenção para a necessidade de agregar valor à produção, seja no setor industrial ou nos serviços mais dinâmicos.
Análise:
Raúl Prebisch, a ascensão da China e o Terceiro Mundo
Carlos Lessa | Para o Valor, do Rio
29/07/2011
Edgar Dosman: Prebisch não excluía apoio a um setor primário forte
A coruja do conhecimento, geralmente, levanta voo ao entardecer. As grandes passagens da economia mundial produzem revoadas de corujas. Destas, muitas fazem a releitura de antigos pensadores deixados, provisoriamente, de lado. Essa releitura auxiliará a construção de novas interpretações. Hegel falava da fácil sabedoria da visão retrospectiva, ou seja, como o curso histórico tem suas razões, a releitura permite explicitar algumas delas. Entretanto, a criação intelectual que ilumina o amanhã exige o que Nietzsche denominava "espírito de águia", que não teme se debruçar sobre o abismo.
Li "Raúl Prebisch (1901-1986): A Construção da América Latina e do Terceiro Mundo", de Edgar Dosman, editado pela Contraponto em parceria com o Centro Internacional Celso Furtado. Uma biografia exaustiva e rigorosa, do ponto de vista documental, do economista argentino que escreveu o livro "O Desenvolvimento Econômico da América Latina e Alguns de Seus Principais Problemas", conhecido como "Manifesto Latino-Americano", divulgado em Havana em 1949. Nele, Prebisch demonstrou que a distribuição de benefícios do crescimento mundial era desigual entre o centro e a periferia e se aprofundava secularmente, pois a dinâmica dos ciclos de comércio exterior favorecia, a longo prazo, as economias já industrializadas e dominantes.
Prebisch demonstrou que a distribuição de benefícios do crescimento mundial era desigual entre o centro e a periferia e só se aprofundava
O alicerce ortodoxo da economia política clássica inglesa foi a teoria ricardiana de comércio exterior. Seu teorema dos custos comparativos "justificava" como maximizante para todos os integrantes do comércio internacional a especialização nos bens que produzia com maior eficiência. Se cada país se especializasse e obtivesse, pelo comércio internacional, aquilo que tinha menor produtividade interna, haveria o máximo bem-estar das economias interligadas. David Ricardo construiu o argumento perfeito para a hegemonia inglesa, nação que sediou a Primeira Revolução Industrial. Investir, intelectual e politicamente, contra a ortodoxia do país dominante foi a prática dos pais fundadores dos Estados Unidos. Alexander Hamilton defendeu a ideia da industrialização como essencial ao padrão de vida e à soberania nacional das 13 ex-colônias. Friedrich List, em 1841, publica "O Sistema Nacional de Economia Política", que se sucedeu à Zollverein, união aduaneira alemã, de 1834. List explicita que o projeto nacional de desenvolvimento via industrialização é uma exceção ao livre-câmbio e livre-comércio. A Revolução Meiji realiza uma modernização à força no Japão, sob o argumento de que sacrifícios no presente produziriam felicidade no futuro. A França, de Napoleão III, também critica Ricardo e defende a prioridade da industrialização nacional. O denominador histórico comum de todas essas experiências de industrialização consiste na adesão ao livre-câmbio e livre- comércio, tão logo esteja consolidada sua maturidade industrial. Foram poucas as nações que se industrializaram e nenhuma nação latino-americana, no século XIX e década iniciais do século XX.
Uma retórica geopolítica pretendendo superar o atraso pela boa convivência de nações foi recorrente. Por exemplo, o brasileiro Rui Barbosa, que conhecia a heterodoxa visão de finanças industrializantes dos fundadores americanos, defendeu o "desenvolvimento" da periferia na famosa e inútil 2ª Conferência de Haia, em 1907. Após a Primeira Guerra Mundial e no umbral da Grande Crise de 1929, Mihail Manoïlesco, ministro da Indústria e Comércio da Romênia, defendeu, em "Teoria do Protecionismo e da Permuta Internacional", a industrialização como único caminho para a superação do atraso. Essa defesa explicitou o argumento-chave de indústria nascente e das relações interindustriais de um sistema industrial nacional. O brasileiro Roberto Simonsen, presidente do Centro das Indústrias de São Paulo, traduziu e publicou, em 1931, o trabalho do economista romeno. A ideia da industrialização como projeto nacional impregnou a gestão Getúlio Vargas durante os anos 30 e a Segunda Guerra Mundial. O ideal de produzir as máquinas que fazem máquinas apareceu no discurso do obelisco, precedendo o governo Vargas, que realizou uma política keynesiana antes da publicação do clássico livro de Keynes.
Ouso dizer que a obra de Prebisch, menos pelo pioneirismo e mais pela oportunidade, decisão, habilidade e poder mobilizador, foi um voo de coruja decisivo para o esforço latino-americano de superação do atraso. O conceito de América Latina foi consolidado e tornado, em alto nível de abstração, homogêneo pela crítica atualizada e politizada da ortodoxia das economias dominantes. Prebisch, com visão política historicamente correta, evitou refletir sobre as estruturas internas dos países latino-americanos. Apesar do trabalho intelectual de economistas latino-americanos como Aníbal Pinto Santa Cruz e Celso Furtado, que mergulharam na heterogeneidade e na formação histórica singular de cada país latino-americano, o sonho bolivariano da integração recebeu um forte estímulo a partir do Manifesto, de Prebisch, e do trabalho dos estruturalistas da Cepal.
Em tempos de crise, a coruja voa revitalizando o passado, porém o fato mais relevante do momento atual é o desenvolvimento da China e não pode ser atribuído a nenhuma receita ortodoxa de livre-comércio e livre-câmbio. Não é uma economia de mercado. Regula - de perto e com instrumentos estatais variados, discriminatórios e poderosos - finanças, câmbio e atuação empresarial. O maior sucesso nacional do momento é, em si, questionador frontal da ortodoxia neoliberal.
Prebisch, hoje, teria se debruçado sobre a experiência chinesa e chamaria a atenção para a geopolítica dominante que a China vem fazendo no chamado Terceiro Mundo.
Carlos Francisco Theodoro Machado Ribeiro de Lessa é professor emérito de economia brasileira e ex-reitor da UFRJ. Foi presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES
Biografia resgata o legado do economista argentino Raúl Prebisch, líder da Cepal e da teoria desenvolvimentista latino-americana.
Prebisch e o continente
Diego Viana | De São Paulo
Valor Econômico, 29/07/2011
No turbilhão das crises, o conhecimento acumulado sobre o funcionamento da economia muitas vezes é questionado e as vozes de economistas heterodoxos passam a soar mais atraentes. Assim como as livrarias alemãs puderam comemorar em 2008 uma discreta corrida por edições atuais de "O Capital", de Karl Marx, o terremoto no mercado financeiro americano naquele ano foi celebrado como um renascimento da teoria keynesiana.
Foi também no ano da crise que chegou às livrarias dos EUA e do Canadá a biografia de Raúl Prebisch (1901-1986), o economista argentino que, para muitos, é o "Keynes latino-americano". Escrita por Edgar Dosman, da Universidade de York, no Canadá, "Raúl Prebisch: a Construção da América Latina e do Terceiro Mundo" tem publicação prevista no Brasil para o dia 15, em parceria do Centro Internacional Celso Furtado (CICF) com a editora Contraponto.
"O fim de 2008 foi o momento perfeito para sair o livro, porque assinala o começo de uma crise que pode vir a ser um colapso global", diz o autor. O lançamento permite resgatar a memória do pai da teoria estruturalista do desenvolvimento econômico. Prebisch, segundo Dosman, foi o primeiro economista a estender a teoria ao mundo em desenvolvimento e a enxergar a América Latina como uma entidade à parte. A tradução prática de seu pensamento foi a liderança da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal) e da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento). Grandes economistas brasileiros, como Celso Furtado (1920-2004) e Maria da Conceição Tavares, beberam na fonte de Prebisch.
O caos econômico dos anos 1930 desnudou, para o economista, a fraqueza da teoria hegemônica de comércio internacional
"Acredito que sei o que Prebisch recomendaria para o Brasil neste momento de boom de commodities e risco de desindustrialização", diz Dosman. Ao contrário do que se possa imaginar de um economista que preconizou o protecionismo e intervenção estatal para industrializar países periféricos, substituindo importações de manufaturados por produção local, Prebisch apoiava um setor primário forte. A explosão de commodities pode ser usada a favor do Brasil, se o país não se descuidar de ampliar as condições de produzir com alto valor agregado.
"Uma das vantagens da idade é ter acompanhado o ir e vir dos ciclos econômicos", comenta o autor. O próprio Prebisch presenciou uma alta acentuada de preços de produtos agrários na década de 20. "Levando em consideração as mudanças de humor do mercado de commodities, a pergunta passa a ser: o que é preciso fazer para se manter como potência industrial?"
Para Dosman, que vem ao Brasil no mês que vem para uma série de seminários organizados pelo CICF, Prebisch diria aos governos latino-americanos que encarassem o boom das commodities como temporário. A recomendação seria administrar a situação para evitar a "doença holandesa", ou seja, desindustrialização por dependência de um único produto exportado. "Não se pode esquecer que os países só têm sucesso se contarem com uma infraestrutura física, intelectual e produtiva que garanta o desenvolvimento de longo prazo", alerta Dosman.
Como Keynes, Prebisch desenvolveu suas teorias a partir da experiência traumática da Grande Depressão, que atingiu a economia argentina com uma violência particularmente atroz. O país era, até então, um dos mais prósperos do mundo, com sua economia assentada sobre a exportação de carne bovina e trigo para a Europa. A implosão do comércio mundial carregou consigo o país platino, que atravessou o violento período conhecido como "década infame".
Para Simão Davi Silber, da USP, a tese de Prebisch é falha porque se baseia no pior período da história do comércio internacional
Prebisch, nascido em Tucumán, filho de um imigrante alemão com uma descendente de aristocratas coloniais, era então um economista ortodoxo e diretor-geral do Banco Central de seu país, que também fundou. Atravessou no BC, onde trabalhou de 1930 a 1945, períodos turbulentos da crise e presenciou a ascensão do populismo de Juan Domingo Perón (1895-1974), que se tornaria seu desafeto. A magnitude do caos econômico dos anos 1930 desnudou, aos olhos do economista, as fraquezas práticas da teoria hegemônica de comércio internacional, fundada sobre o conceito de vantagens comparativas de David Ricardo (1772-1823). Para o economista inglês, os países devem se especializar na produção daquilo em que têm maior eficiência, para ampliar o comércio e gerar maior riqueza.
Uma das razões encontradas por Prebisch para explicar que os benefícios da vantagem comparativa não fossem repassados aos países periféricos, segundo o economista Nelson Marconi, da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e organizador do seminário paulistano sobre o argentino, foi a escassez de mão de obra nas sociedades industriais. Em consequência, os salários eram mais altos, porque os empresários tinham de investir em qualificação dos operários. "A vantagem comparativa chegava ao bolso do operário europeu, mas não ao camponês latino-americano", diz Marconi. Na crise, Prebisch observou que os preços do trigo e da carne argentinos despencaram com violência maior do que os de manufaturados. Os resultados foram divulgados na ONU (Organização das Nações Unidas) em 1949, com o texto "O Desenvolvimento Econômico da América Latina e Alguns de Seus Principais Problemas". Ao mesmo tempo, o economista alemão Hans Singer (1910-2006) chegava a conclusões semelhantes, de tal maneira que a teoria ficou conhecida como tese Prebisch-Singer.
O rebento da observação de Prebisch seria a teoria estruturalista do desenvolvimento econômico, que marca a ruptura do argentino com a ortodoxia. "O desenvolvimentismo da Cepal foi uma teoria muito importante para sua época", assinala o economista da FGV Luiz Carlos Bresser-Pereira, ex-ministro da Fazenda. "Foi a base de todo o desenvolvimento no Brasil, no México, no Chile e, em menor escala, na Argentina." Ironicamente, no país de Perón, Prebisch era persona non grata. Seus dois breves retornos à terra natal, como conselheiro dos presidentes Pedro Aramburu, em 1955, e Raúl Alfonsín, em 1983, foram desastrosos. "Ninguém queria escutar seus conselhos. Ele era associado ao 'antigo regime', período em que presidiu o Banco Central", diz Dosman.
"A vantagem comparativa nessa relação de comércio chegava ao bolso do operário europeu, mas não ao camponês latino-americano"
O ostracismo de Prebisch contrasta com o renome de que goza o outro grande economista heterodoxo do continente, o brasileiro Celso Furtado. O autor do monumental "Formação Econômica do Brasil" foi um prolífico colaborador de Prebisch na Cepal, além de amigo do argentino. "Prebisch deu o pontapé inicial", segundo Marconi. "Furtado ampliou a teoria e introduziu a questão da desigualdade de renda, que faltava."
Quando se conheceram, no Chile, o brasileiro era um jovem economista promissor. Prebisch, segundo Dosman, logo reconheceu nele um colega brilhante. "Era uma admiração mútua. Prebisch admirava a integridade pessoal de Furtado." A colaboração durou décadas, mas houve discordâncias, que chegaram a um breve rompimento em 1957. "Ambos tinham vontades fortes... eram 'machos alfa'", brinca o biógrafo.
Uma explicação para os destinos divergentes reside no acesso aos textos de ambos. Enquanto Furtado legou uma bibliografia ainda amplamente estudada, Prebisch escreveu apenas profissionalmente. Como diz seu biógrafo, "ele assinava como chefe de pesquisas, na Cepal e na Unctad. Seus textos individuais, para apresentação na ONU, ficaram indisponíveis". O projeto de publicar os manuscritos e correspondências do economista argentino avança lentamente.
"O estruturalismo entende que o processo de desenvolvimento implica uma mudança estrutural na composição da produção", diz Marconi. A necessidade de industrializar, ponto fundamental das ideias de Prebisch, é parte de um estímulo generalizado à demanda, por intervenção estatal ou investimento externo, à medida que uma economia deixa de ser primária. No horizonte situa-se um "ponto de maturidade", com consumo de massa e uma demanda de perfil mais sofisticado, em que a população exige serviços públicos, educação, saúde, lazer.
O ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira defende um desenvolvimentismo inspirado nas ideias de economistas como Raúl Prebisch
Segundo Bresser-Pereira, o desenvolvimentismo de Prebisch, Furtado e outros autores tem o mérito de reconhecer na economia um pensamento social e, portanto, histórico, em oposição à teoria neoclássica, que se pretende a-histórica. À exceção do pioneiro Reino Unido, aponta Bresser-Pereira, "todos os países que se industrializaram no século XIX protegeram a produção local": França, EUA, Alemanha, Japão.
Ao fim da Grande Depressão dos anos 1930, os governos latino-americanos tomaram interesse pelas teses da Cepal, que prometiam desenvolvimento e proteção contra novas recessões. A substituição de importações, ponto inaugural da doutrina, foi buscada no Brasil, no México, no Chile e em outros países. Nas décadas seguintes, o crescimento do continente foi um dos mais fortes do mundo e a estrutura econômica e social na região foi radicalmente transformada. As cidades cresceram com as fábricas. Mas ao fim da década de 1970, o quadro era outro: inflação, estagnação, crises políticas e ditaduras.
O desenvolvimentismo e as teses da Cepal foram relegadas a um plano secundário a partir da década seguinte, quando as teorias neoclássicas voltaram ao centro dos debates e o Consenso de Washington tomou forma. O próprio Raúl Prebisch foi esquecido e esquecido morreu, no Chile, em 1986. "A hipótese de Prebisch e Singer era muito ruim. Ela se baseava em dados apenas do período mais terrível da história do mercado mundial, que foi a Grande Depressão", argumenta o economista Simão Davi Silber, da Universidade de São Paulo (USP). Segundo Silber, as pesquisas empíricas revelam o oposto daquilo que diagnosticou o economista argentino: quem exporta commodities está em situação melhor do que o exportador de produtos industriais. "A história não corrobora a hipótese. A melhor maneira de verificá-lo é comparar o desempenho da América Latina com o Sudeste Asiático, onde a substituição de importações foi abandonada tão logo perceberam o erro."
O confronto entre latino-americanos e asiáticos em matéria de desenvolvimento também atrai os defensores do estruturalismo. Bresser-Pereira lembra que a substituição de importações é uma "pequena fase inicial de industrialização", cujo substrato é, nas palavras de Nelson Marconi, "um forte investimento na qualificação da mão de obra", com vista a galgar as etapas de desenvolvimento e reestruturar o sistema econômico. Um erro do Brasil, lamenta Marconi, foi não investir no capital humano. O modelo de industrialização que importou a matriz tecnológica foi concentrador de renda e não colaborou para atingir fases mais avançadas de desenvolvimento.
"A substituição de importações funcionou bem até os anos 1960", diz Bresser-Pereira. "Os asiáticos começaram assim e saíram rápido." Embora não se baseassem no pensamento de Raúl Prebisch, os economistas e burocratas daquele continente são pragmáticos, segundo Bresser-Pereira, e "olham para como a economia funciona de verdade". Países como a China e a Índia são encarados como exemplos de sucesso de políticas desenvolvimentistas.
Bresser-Pereira conclui que o erro latino-americano foi demorar a sair da etapa de substituição de importações. As raízes dessa demora podem ser políticas, já que as massas recém-incorporadas à economia urbana e industrial se tornaram um eleitorado atraente para os líderes do continente. "Por trás das ideias de Prebisch está um ativismo governamental pronunciado, daí o fato de ter caído no gosto do nacional-desenvolvimentismo latino-americano", afirma Simão Silber, ressaltando o caráter estatista da teoria heterodoxa da Cepal.
O renascimento do interesse pelo keynesianismo e por teorias centradas no desenvolvimento, a partir da crise de 2008, se faz acompanhar de um olhar mais benevolente para a atuação do Estado. "A estratégia do novo desenvolvimentismo é crescer com estabilidade, mas defendendo um Estado mais participativo", diz Bresser-Pereira. Nesse modelo, o Estado deixa de ser produtor, dono de empresas, e se torna indutor de investimentos privados. "O estágio de desenvolvimento é outro. Não precisamos mais fazer a revolução industrial e capitalista", diz. "Já existe uma classe de empresários capazes de investir."
Marconi lamenta que o Brasil tenha passado tantas décadas investindo na modernização da estrutura sem modernizar também a formação da mão de obra. "Só agora esse problema está sendo atacado no Brasil." O desenvolvimentismo de hoje, segundo Marconi, é a corrente que chama a atenção para a necessidade de agregar valor à produção, seja no setor industrial ou nos serviços mais dinâmicos.
Análise:
Raúl Prebisch, a ascensão da China e o Terceiro Mundo
Carlos Lessa | Para o Valor, do Rio
29/07/2011
Edgar Dosman: Prebisch não excluía apoio a um setor primário forte
A coruja do conhecimento, geralmente, levanta voo ao entardecer. As grandes passagens da economia mundial produzem revoadas de corujas. Destas, muitas fazem a releitura de antigos pensadores deixados, provisoriamente, de lado. Essa releitura auxiliará a construção de novas interpretações. Hegel falava da fácil sabedoria da visão retrospectiva, ou seja, como o curso histórico tem suas razões, a releitura permite explicitar algumas delas. Entretanto, a criação intelectual que ilumina o amanhã exige o que Nietzsche denominava "espírito de águia", que não teme se debruçar sobre o abismo.
Li "Raúl Prebisch (1901-1986): A Construção da América Latina e do Terceiro Mundo", de Edgar Dosman, editado pela Contraponto em parceria com o Centro Internacional Celso Furtado. Uma biografia exaustiva e rigorosa, do ponto de vista documental, do economista argentino que escreveu o livro "O Desenvolvimento Econômico da América Latina e Alguns de Seus Principais Problemas", conhecido como "Manifesto Latino-Americano", divulgado em Havana em 1949. Nele, Prebisch demonstrou que a distribuição de benefícios do crescimento mundial era desigual entre o centro e a periferia e se aprofundava secularmente, pois a dinâmica dos ciclos de comércio exterior favorecia, a longo prazo, as economias já industrializadas e dominantes.
Prebisch demonstrou que a distribuição de benefícios do crescimento mundial era desigual entre o centro e a periferia e só se aprofundava
O alicerce ortodoxo da economia política clássica inglesa foi a teoria ricardiana de comércio exterior. Seu teorema dos custos comparativos "justificava" como maximizante para todos os integrantes do comércio internacional a especialização nos bens que produzia com maior eficiência. Se cada país se especializasse e obtivesse, pelo comércio internacional, aquilo que tinha menor produtividade interna, haveria o máximo bem-estar das economias interligadas. David Ricardo construiu o argumento perfeito para a hegemonia inglesa, nação que sediou a Primeira Revolução Industrial. Investir, intelectual e politicamente, contra a ortodoxia do país dominante foi a prática dos pais fundadores dos Estados Unidos. Alexander Hamilton defendeu a ideia da industrialização como essencial ao padrão de vida e à soberania nacional das 13 ex-colônias. Friedrich List, em 1841, publica "O Sistema Nacional de Economia Política", que se sucedeu à Zollverein, união aduaneira alemã, de 1834. List explicita que o projeto nacional de desenvolvimento via industrialização é uma exceção ao livre-câmbio e livre-comércio. A Revolução Meiji realiza uma modernização à força no Japão, sob o argumento de que sacrifícios no presente produziriam felicidade no futuro. A França, de Napoleão III, também critica Ricardo e defende a prioridade da industrialização nacional. O denominador histórico comum de todas essas experiências de industrialização consiste na adesão ao livre-câmbio e livre- comércio, tão logo esteja consolidada sua maturidade industrial. Foram poucas as nações que se industrializaram e nenhuma nação latino-americana, no século XIX e década iniciais do século XX.
Uma retórica geopolítica pretendendo superar o atraso pela boa convivência de nações foi recorrente. Por exemplo, o brasileiro Rui Barbosa, que conhecia a heterodoxa visão de finanças industrializantes dos fundadores americanos, defendeu o "desenvolvimento" da periferia na famosa e inútil 2ª Conferência de Haia, em 1907. Após a Primeira Guerra Mundial e no umbral da Grande Crise de 1929, Mihail Manoïlesco, ministro da Indústria e Comércio da Romênia, defendeu, em "Teoria do Protecionismo e da Permuta Internacional", a industrialização como único caminho para a superação do atraso. Essa defesa explicitou o argumento-chave de indústria nascente e das relações interindustriais de um sistema industrial nacional. O brasileiro Roberto Simonsen, presidente do Centro das Indústrias de São Paulo, traduziu e publicou, em 1931, o trabalho do economista romeno. A ideia da industrialização como projeto nacional impregnou a gestão Getúlio Vargas durante os anos 30 e a Segunda Guerra Mundial. O ideal de produzir as máquinas que fazem máquinas apareceu no discurso do obelisco, precedendo o governo Vargas, que realizou uma política keynesiana antes da publicação do clássico livro de Keynes.
Ouso dizer que a obra de Prebisch, menos pelo pioneirismo e mais pela oportunidade, decisão, habilidade e poder mobilizador, foi um voo de coruja decisivo para o esforço latino-americano de superação do atraso. O conceito de América Latina foi consolidado e tornado, em alto nível de abstração, homogêneo pela crítica atualizada e politizada da ortodoxia das economias dominantes. Prebisch, com visão política historicamente correta, evitou refletir sobre as estruturas internas dos países latino-americanos. Apesar do trabalho intelectual de economistas latino-americanos como Aníbal Pinto Santa Cruz e Celso Furtado, que mergulharam na heterogeneidade e na formação histórica singular de cada país latino-americano, o sonho bolivariano da integração recebeu um forte estímulo a partir do Manifesto, de Prebisch, e do trabalho dos estruturalistas da Cepal.
Em tempos de crise, a coruja voa revitalizando o passado, porém o fato mais relevante do momento atual é o desenvolvimento da China e não pode ser atribuído a nenhuma receita ortodoxa de livre-comércio e livre-câmbio. Não é uma economia de mercado. Regula - de perto e com instrumentos estatais variados, discriminatórios e poderosos - finanças, câmbio e atuação empresarial. O maior sucesso nacional do momento é, em si, questionador frontal da ortodoxia neoliberal.
Prebisch, hoje, teria se debruçado sobre a experiência chinesa e chamaria a atenção para a geopolítica dominante que a China vem fazendo no chamado Terceiro Mundo.
Carlos Francisco Theodoro Machado Ribeiro de Lessa é professor emérito de economia brasileira e ex-reitor da UFRJ. Foi presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES
Coloquio sobre economia politica dos sistemas-mundo, UniCamp, 8-9 agosto 2011
V Colóquio Brasileiro em Economia Política dos Sistemas-Mundo
A ECONOMIA-MUNDO CONTEMPORÂNEA: CRISE ESTRUTURAL OU TRANSIÇÃO HEGEMÔNICA?
UniCamp, SP
Programação
8 de agosto de 2011
Manhã
9h00 – 9h30: Abertura
9h30 – 12h00: Conferência: Continuities and transformations in the evolution of the modern world-system: Terminal crisis or a new systemic cycle of accumulation? - Christopher Chase-Dunn, University of California-Riverside
Tarde
14h00 - 16h15 - Apresentação de Trabalhos - Mesa 1
Limite econômico ou metamorfose do capitalismo? - Eduardo da Motta e Albuquerque, Cedeplar-FACE-UFMG
Crise Estrutural do Capitalismo nas Análises Sistêmico-Prigogineanas de Immanuel Wallerstein e de István Mészáros: crise inexoravelmente terminal? - Guilherme Vieira Dias, Instituto Federal Fluminense (IFF); José Glauco Ribeiro Tostes, Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) e Colaborador do PGCA/UFF; Marcelo Silva Sthel, Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF)
Notas Comparativas Sobre as Ondas Longas em Kondratiev, Braudel e Arrighi - Luiz Eduardo Simões de Souza, Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
Uma análise econômica crítica da tese da decadência hegemônica dos Estados Unidos de Giovanni Arrighi - Numa Mazat, Doutorando PEPI/UFRJ e membro do grupo de Economia Política do IE/UFRJ.
Debatedor: Fábio Pádua dos Santos
16h15 - 16h30 - Intervalo
16h30 - 18h45 - Apresentação de Trabalhos - Mesa 2
Confronto, desconfiança e cooperação: percepções teóricas das Relações Internacionais sobre a ascensão da China e sua relação com os Estados Unidos e o sistema-mundo moderno - Bruno Hendler, Mestrando UnB
As conseqüências da Ascensão da China para a Economia-mundo Capitalista: apontamentos de investigação - Helton Ricardo Ouriques, UFSC
O princípio, o meio e o fim do mundo moderno: uma análise comparada de Immanuel Wallerstein, Giovanni Arrighi e José Luis Fiori - Pedro Nogueira Gama, Doutorando PEPI/UFRJ
Debatedor: Jales Dantas Costas
18h45 -19h00 -Intervalo
Noite
19h00-20h30 – Palestra
O Brasil e a Economia-Mundo Capitalista: séculos XVI ao XIX - Pedro A. Vieira, UFSC
9 de agosto de 2011
Manhã
9h00 – 10h30 – Palestra
Capitalismo e Ilicitude - Antônio Brussi, UnB
10h30 – 12h45 – Apresentação de Trabalhos - Mesa 3
Território e Crises Econômicas sob a visão de Sistemas-Mundo - Tallyta Rosane Bezerra de Gusmão;
Daniela Monteiro Albuquerque, Graduandas em Ciências Econômicas da Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
A Economia Política dos Sistemas-Mundo e as Cadeias Mercantis - Rosângela de Lima Vieira, UNESP/ Marília
Do combate à funcionalidade: o protecionismo em diferentes ciclos sistêmicos de acumulação - Guilherme A. Astolphi de Aguiar, Mestrando em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista, UNESP/Marília.
O mito da industrialização como desenvolvimento econômico: O comando do excedente na cadeia mercantil da indústria automobilística brasileira - Ricardo Lobato Torres, Universidade Federal do Rio de Janeiro; Silvio Antônio Ferraz Cário, Universidade Federal de Santa Catarina
Debatedor: Luiz Mateus da Silva Ferreira
Tarde
14h30 – 16h15 – Apresentação de Trabalhos – Mesa 4
O Brasil no sistema-mundo neste início de século - Angelita Matos Souza, Unesp/Marília
O Brasil na economia-mundo do último século (1910 a 2010) - Paulo Roberto de Almeida, Ministério das Relações Exteriores, Programa de Pós-Graduação em Direito do Centro Universitário de Brasília (Uniceub)
Pobreza no Brasil na transição da hegemonia mundial dos Estados Unidos - Jales Dantas da Costa, Doutorando em Ciências Sociais no Centro de Pesquisa e Pós-Graduação sobre as Américas (CEPPAC) na Universidade de Brasília (UnB) e servidor no Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).
Debatedor: Helton Ricardo Ouriques
16h15 – 16h30 – Intervalo
16h30 – 18h45 – Apresentação de Trabalhos – Mesa 5
Divergências e Convergências entre Giovanni Arrighi e José Luís Fiori - Tiago Maymussi Sales, Mestrando PEPI /UFRJ
"Escola de Campinas": uma contextualização história para seu estudo - Fábio Pádua dos Santos, Mestrando Unicamp; Leonardo Dias Nunes, Mestrando Unicamp
Revisitando a tese do capitalismo tardio: crítica a razão endogenista a partir do conceito de ciclos sistêmicos de acumulação - Marcelo Arend, UFSM
Acontribuição da Teoria do Sistema-Mundo para a controvérsia sobre a Revolução Burguesa no Brasil - Tiago Camarinha Lopes, Programa de Pós-Graduação em Economia/UFU, MG; Niemeyer Almeida Filho, UFU, MG.
Debatedor: a confirmar.
Noite
19h00 – 21h00 – Palestra e Encerramento
Fundamentos da Hegemonia dos EUA: tendências gerais - Eduardo Barros Mariutti, Unicamp, PPGE
realização: Instituto de Economia UniCamp, Núcleo de História Econômica; Grupo de Pesquisa em Economia Política dos Sistemas-Mundo, UFSC
apoio: UniCamp FAEPEX; PPGE-UFSC; IPEA
A ECONOMIA-MUNDO CONTEMPORÂNEA: CRISE ESTRUTURAL OU TRANSIÇÃO HEGEMÔNICA?
UniCamp, SP
Programação
8 de agosto de 2011
Manhã
9h00 – 9h30: Abertura
9h30 – 12h00: Conferência: Continuities and transformations in the evolution of the modern world-system: Terminal crisis or a new systemic cycle of accumulation? - Christopher Chase-Dunn, University of California-Riverside
Tarde
14h00 - 16h15 - Apresentação de Trabalhos - Mesa 1
Limite econômico ou metamorfose do capitalismo? - Eduardo da Motta e Albuquerque, Cedeplar-FACE-UFMG
Crise Estrutural do Capitalismo nas Análises Sistêmico-Prigogineanas de Immanuel Wallerstein e de István Mészáros: crise inexoravelmente terminal? - Guilherme Vieira Dias, Instituto Federal Fluminense (IFF); José Glauco Ribeiro Tostes, Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) e Colaborador do PGCA/UFF; Marcelo Silva Sthel, Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF)
Notas Comparativas Sobre as Ondas Longas em Kondratiev, Braudel e Arrighi - Luiz Eduardo Simões de Souza, Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
Uma análise econômica crítica da tese da decadência hegemônica dos Estados Unidos de Giovanni Arrighi - Numa Mazat, Doutorando PEPI/UFRJ e membro do grupo de Economia Política do IE/UFRJ.
Debatedor: Fábio Pádua dos Santos
16h15 - 16h30 - Intervalo
16h30 - 18h45 - Apresentação de Trabalhos - Mesa 2
Confronto, desconfiança e cooperação: percepções teóricas das Relações Internacionais sobre a ascensão da China e sua relação com os Estados Unidos e o sistema-mundo moderno - Bruno Hendler, Mestrando UnB
As conseqüências da Ascensão da China para a Economia-mundo Capitalista: apontamentos de investigação - Helton Ricardo Ouriques, UFSC
O princípio, o meio e o fim do mundo moderno: uma análise comparada de Immanuel Wallerstein, Giovanni Arrighi e José Luis Fiori - Pedro Nogueira Gama, Doutorando PEPI/UFRJ
Debatedor: Jales Dantas Costas
18h45 -19h00 -Intervalo
Noite
19h00-20h30 – Palestra
O Brasil e a Economia-Mundo Capitalista: séculos XVI ao XIX - Pedro A. Vieira, UFSC
9 de agosto de 2011
Manhã
9h00 – 10h30 – Palestra
Capitalismo e Ilicitude - Antônio Brussi, UnB
10h30 – 12h45 – Apresentação de Trabalhos - Mesa 3
Território e Crises Econômicas sob a visão de Sistemas-Mundo - Tallyta Rosane Bezerra de Gusmão;
Daniela Monteiro Albuquerque, Graduandas em Ciências Econômicas da Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
A Economia Política dos Sistemas-Mundo e as Cadeias Mercantis - Rosângela de Lima Vieira, UNESP/ Marília
Do combate à funcionalidade: o protecionismo em diferentes ciclos sistêmicos de acumulação - Guilherme A. Astolphi de Aguiar, Mestrando em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista, UNESP/Marília.
O mito da industrialização como desenvolvimento econômico: O comando do excedente na cadeia mercantil da indústria automobilística brasileira - Ricardo Lobato Torres, Universidade Federal do Rio de Janeiro; Silvio Antônio Ferraz Cário, Universidade Federal de Santa Catarina
Debatedor: Luiz Mateus da Silva Ferreira
Tarde
14h30 – 16h15 – Apresentação de Trabalhos – Mesa 4
O Brasil no sistema-mundo neste início de século - Angelita Matos Souza, Unesp/Marília
O Brasil na economia-mundo do último século (1910 a 2010) - Paulo Roberto de Almeida, Ministério das Relações Exteriores, Programa de Pós-Graduação em Direito do Centro Universitário de Brasília (Uniceub)
Pobreza no Brasil na transição da hegemonia mundial dos Estados Unidos - Jales Dantas da Costa, Doutorando em Ciências Sociais no Centro de Pesquisa e Pós-Graduação sobre as Américas (CEPPAC) na Universidade de Brasília (UnB) e servidor no Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).
Debatedor: Helton Ricardo Ouriques
16h15 – 16h30 – Intervalo
16h30 – 18h45 – Apresentação de Trabalhos – Mesa 5
Divergências e Convergências entre Giovanni Arrighi e José Luís Fiori - Tiago Maymussi Sales, Mestrando PEPI /UFRJ
"Escola de Campinas": uma contextualização história para seu estudo - Fábio Pádua dos Santos, Mestrando Unicamp; Leonardo Dias Nunes, Mestrando Unicamp
Revisitando a tese do capitalismo tardio: crítica a razão endogenista a partir do conceito de ciclos sistêmicos de acumulação - Marcelo Arend, UFSM
Acontribuição da Teoria do Sistema-Mundo para a controvérsia sobre a Revolução Burguesa no Brasil - Tiago Camarinha Lopes, Programa de Pós-Graduação em Economia/UFU, MG; Niemeyer Almeida Filho, UFU, MG.
Debatedor: a confirmar.
Noite
19h00 – 21h00 – Palestra e Encerramento
Fundamentos da Hegemonia dos EUA: tendências gerais - Eduardo Barros Mariutti, Unicamp, PPGE
realização: Instituto de Economia UniCamp, Núcleo de História Econômica; Grupo de Pesquisa em Economia Política dos Sistemas-Mundo, UFSC
apoio: UniCamp FAEPEX; PPGE-UFSC; IPEA