quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Semana de Economia: textos importantes...

Transcrevo um simples post informativo do blog do economista do Ipea Mansueto Almeida (no kinship or relationship), mais importante pelas referências de leitura do que pela simples informação relativa a esse encontro de economia em Ribeirão Preto.
Já participei uma vez dessa semana de economia, ou pelo menos de um encontro de economia em RP, onde falei sobre Mercosul, integração e temas correlatos. Saí com excelente impressão, dos alunos e dos professores.
O tema da educação, que reputo importantíssimo, junto com a questão fiscal, para o Brasil de hoje (e de amanhã, infelizmente o de ontem já passou, sem...), e que vêm sendo, ambos, mal tratados, desprezados, torturados, pelos governantes e pela sociedade. Infelizmente, por causa disso mesmo, o Brasil vai continuar crescendo pouco e sendo um país desigual.
Transcrevo abaixo meus comentários a este post do Mansueto Almeida.
Paulo Roberto de Almeida

III Semana Acadêmica de Economia USP-Riberão Preto
Blog do Mansueto (de Almeida), 17/08/2011

Na próxima semana volto, depois de mais de dez anos, a Riberão Preto para participar como palestrante na III Semana Acadêmica de Economia. Recebí hoje a programação que me parece ser muito boa (clique aqui) e com bons palestrantes para tratar de temas que estão longe de serem triviais.

A mesa de abertura vai tratar do tema educação que para mim é um dos temas mais importantes para o futuro do Brasil. Parte dos avanços recentes nesta área deve-se ao trabalho de um dos palestrantes, Reynaldo Fernandes, que passou pelo INEP e melhorou o sistema de avaliação daquele órgão. Hoje, há no Brasil um grande debate sobre (1) modelos alternativos de gestão escolas e promoção de competição; (2) modalidades diferente de currículos para ensino médio; (3) avaliação de professores e mecanimos de incentivo à eficiência, etc.

O debate sobre qualidade de educação envolve tudo isso e um dos temas mais polêmicos é justamente a questão do ensino médio que no Brasil segue um modelo único voltado para a universidade. Há um grupo de pesquisadores que defende que deveríamos adotar não um, mas vários modelos de escola média, inclusive um voltado para o mercado de trabalho para aqueles que não querem ingressar na universidade. É claro que o problema desse modelo, que funciona bem na Alemanha, é que forçamos um adolescente a tomar uma decisão difícil muito cedo — seguir com os estudos voltado para universidade ou para o mercado de trabalho.

Uma boa leitura sobre esse debate são os capítulos da parte 3 do livro Brasil: A nova Agenda Social, 2011, organizado por Edmar Bacha e Simon Schwartzman. No caso específico do ensino médio sugiro também o curto artigo do Claudio Moura Castro publicado recentemente no Estado de São Paulo (clique aqui).

Há vários outros paineis interessante. O painel que participo vai tratar do tema espinhoso da especialização, doença holandesa e o papel das commodities na economia. Há hoje um quase consenso entre economistas que o Brasil tornou-se um país caro para se produzir manufatura. O que não está claro é como lidar com o problema ou mesmo se isso é um problema.

O argumento daqueles que acham que a perda de participação na indústria no PIB é um problema pode ser resumido neste artigo do Dani Rodrik reproduzido no Valor Econômico (clique aqui). E para aqueles que não acham que isso seja um problema recomendo os vários artigos anexos do Pedro Cavalcanti e do Renato Fragelli da FGV-RJ (clique aqui).

A única certeza que tenho neste debate é que: (1) a tendência do Brasil é sim que a indústria perca competitividade e diminua sua participação no PIB. O Brasil tornou-se um país caro espremido entre os baixos salários da China (e outros países Asiáticos) e os altos salários, mas elevada de produtividade de países como Alemanha; e (2) não vejo espaço fiscal sendo criado para desonerar seletivamente a indústria e modificar preços relativos. Esse é um debate que está em aberto no Brasil.

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Paulo Roberto de Almeida [Comentário ao post acima]

O Brasil tem enormes problemas de governança econômica e enormes problemas estruturais, sistêmicos, Entre os primeiros eu colocaria o desgoverno fiscal atual, que me parece uma pesada bola de ferro grudada na perna dos empresários a impedi-los de serem competitivos externamente e internamente e de obterem ganhos de produtividade em vista da enorme porção de seu faturamento que vai direto para as burras do tesouro (nunca um nome foi tão apropriado). Sem falar, claro, nas distorções do mercado de crédito, no mercado de capitais, que estão diretamente vinculados à baixa taxa de poupança voluntária (ou privada) no Brasil (sim, por que a compulsória atinge níveis quase chineses, mas não é “desviada” para fins produtivos), e consequentemente à pífia taxa de investimento. O Estado é não apenas um despoupador líquido como um deformador absoluto do ambiente de negócios no Brasil.
Entre os problemas estruturais mais relevantes eu colocaria o da educação. Sei que muitos economistas não atribuem um papel tão relevante para a educação no processo de transformação produtiva e de ganhos tecnológicos, achando que se pode fazer muito com ilhas de excelência e alguma importação de know-how, mas a educação de base é fundamental para a melhoria da produtividade como um todo e para a distribuição de renda.
Infelizmente, o Brasil está fazendo TUDO (e eu sublinho TUDO) errado em matéria de educação, sobretudo na formação de professores, terreno no qual predominam as novas saúvas do Brasil, as pedagogas freirenas. Se o Brasil tomasse consciência do que vem fazendo de errado e começasse a corrigir esses problemas AGORA, ainda teria tempo de consertar alguma coisa no espaço de 15 anos (SIM, sublinho novamente, 15 anos) e aproveitar o bônus demográfico para ficar um pouco mais rico e pagar pelos velhinhos que vão comprimir a PEA dentro de mais 20 a 25 anos. Infelizmente isso não vai acontecer e vamos perder boa parte do bônus demográfico com as mesmas bobagens freireanas que devastam, aniquilam a educação brasileira na atualidade (e desde os últimos 40 anos).
Sou moderadamente pessimista quanto à marcha geral da economia brasileira, mas sou absolutamente pessimista quanto aos problemas fiscais e educacionais. Enfim, esqueço a corrupção por enquanto.
Mil desculpas por ser pessimista, e a despeito de encontrar excelentes nomes nessa semana de economia em RP, sinto que são (e serão, por muito tempo) poucas vozes clamando no deserto.
Infelizmente o retrocesso econômico no Brasil é muito grande, e ele é muito mais mental do que material…
Paulo Roberto de Almeida
Brasília.

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