domingo, 13 de novembro de 2011

E por falar em racionalidade nas universidades brasileiras...

Meu post anterior trata da eleição de uma chapa sensata para o DCE da UnB.
Parece que a tendência a afastar os anacrônicos dos DCEs se instala, finalmente, nos campi universitários. 
Já não era sem tempo...
Paulo Roberto de Almeida 



Reinaldo Azevedo, 13/11/2011

O Diretório Central dos Estudantes da Universidade de São Paulo elege a nova direção entre os dias 22 e 24 deste mês. Nunca as instâncias da universidade precisaram tanto, como precisam agora, ouvir a voz da razão, do equilíbrio, do bom senso. A maioria silenciosa da USP tem de saber que os grupelhos de extrema esquerda - entre alunos, professores e funcionários - estão se organizando para, junto com os petistas, “decretar”, no ano que vem, o que pretendem que seja “a maior greve em dez anos”. Por qual motivo? Cinicamente, eles dizem em seus fóruns que “os motivos vêm depois”. Outros afirmam abertamente: “É para quebrar a espinha do Alckmin e do PSDB”. Querem fazer guerra política jogando com o curso, a carreira e o destino de milhares de estudantes. Para eles, tanto faz! Não estudam mesmo! Estão na universidade para cumprir tarefas partidárias.
Abaixo, segue uma entrevista com membros da chapa “Reação”. É a única não-esquerdista entre as que disputam o DCE. Também é a única que não conta com “estudantes profissionais”. Entre seus 61 membros, apenas sete são filiados a partidos. A filiação, já escrevi aqui, não é um mal em si ou um crime. É um direito democrático. Usar a USP para fortalecer uma agremiação ou seita é que é prática criminosa.
Votar ou não votar pode ser decisivo, alunos da USP, para garantir a sua paz no ano que vem. Votar ou não votar pode ser decisivo para garantir a sua segurança no ano que vem. Votar ou não votar pode ser uma escolha entre a democracia na universidade e a ditadura da minoria. Segue entrevista com Rodrigo Souza Neves (Gestão de Políticas Públicas - EACH, já graduado em História - FFLCH), Winicius do Carmo (Ciências Sociais - FFLCH), José Oswaldo de Oliveira Neto (Engenharia Elétrica - Escola Politécnica); Lucas Sorrillo (Engenharia de Materiais - Escola Politécnica); Edgar Cutar Junior (Engenharia Florestal - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” - ESALQ) e Flavio “Morgenstern” (Letras, Alemão, FFLCH).
Vejam o que eles pensam e quais são as suas propostas. Uma delas me parece central: a USP já dispõe hoje de tecnologia para saber o que realmente pensam e querem os estudantes por meio de votações eletrônicas. Diz um dos entrevistados:
“Nas assembléias, marcadas invariavelmente no horário das aulas, são ‘decididas’ pautas impostas pela mesa, no olhômetro e por uma minoria que mata as aulas. Se as propostas, algumas até criminosas, não são aceitas, fazem outra até dar o resultado que querem, como se deu na invasão recente. Votação eletrônica mostra a real vontade dos estudantes da USP, que estudam e trabalham e não têm tempo a perder com assembléias.”
Perfeito! Segue a entrevista. Reitero: essa questão não interessa só à USP. A reação dos bons interessa ao Brasil.
O que é a chapa “Reação”?
Winicius do Carmo -
A chapa Reação é uma coalizão de estudantes dos mais variados cursos e campi da Universidade de São Paulo, os quais se uniram para reagir ao cenário antidemocrático do Movimento Estudantil da USP. A chapa Reação surge em meio à forte mobilização dos estudantes contra as atitudes autoritárias da atual gestão do DCE e de grupos radicalizados que promoveram a invasão e depredação dos edifícios da Administração da FFLCH e da Reitoria da USP. O grupo possui suas origens nas chapas Reconquista (2009) e Liberdade (2010), as quais foram compostas pelo Movimento Liberdade USP - grupo apartidário de oposição não-marxista ao DCE. O objetivo da chapa é promover a democratização do movimento estudantil da USP e resgatar a representatividade do DCE perante os estudantes, sempre se opondo ao aparelhamento político-partidário existente no movimento estudantil brasileiro, especialmente na USP.
Qual é a diferença entre a chapa “Reação” e o “Movimento Liberdade USP”?
José Oswaldo de Oliveira Neto -
O Movimento Liberdade USP é um dos grupos que compõem a coalizão da chapa Reação, porém não é a sua totalidade. Além do Movimento Liberdade USP, compõem a chapa Reação segmentos dos grupos “A USP pode mais”, de alunos de Ciências Sociais, e “União da Juventude Brasileira”, além de estudantes independentes desses grupos. Os integrantes dessa candidatura compartilham dos mesmos ideais, como democracia representativa, liberdade individual de pensamento, manifestação e excelência acadêmica e foco nos interesses dos estudantes.
Vocês têm contanto com o pessoal da “Liberdade UnB”, que venceu lá a disputa para o DCE?
Rodrigo Souza Neves -
Desde 2009 o Movimento Liberdade USP mantém contato com o Liberdade UnB, e, desde 2010, há uma aliança entre os dois grupos, caracterizada por um apoio mútuo na oposição à partidarização do Movimento Estudantil e pela troca de experiências e informações.
Na opinião de vocês, qual é a principal tarefa de um Diretório Central de Estudantes numa sociedade democrática?
Lucas Sorrillo -
Um Diretório Central Estudantil deve trabalhar na união de todos os centros acadêmicos de uma universidade, não apenas daqueles que comungam de seus ideais político-partidários, como tem ocorrido ultimamente no Brasil, especialmente na USP. Uma instituição do porte da USP é muito visada na sociedade, um centro acadêmico de nossa universidade não pode ser deixado sozinho, sem apoio institucional. O DCE deve ser a entidade que primeiro recebe as críticas, que apóia e dá suporte às ações dos alunos de todo e cada curso que representa.
Um DCE deve servir, também, como a entidade que reivindica e legitima anseios de cada aluno, de cada centro acadêmico, de cada grupo de cultura e extensão, empresa Junior, associação atlética, enfim, de cada entidade que une e representa estudantes, perante sua universidade. Sempre atuando em prol da ampliação e melhoria da infra-estrutura e qualidade do ensino, da pesquisa e da extensão, ou seja, do desenvolvimento técnico-científico e humano da universidade e da sociedade.
Mais um ponto de extrema importância na tarefa de um DCE é levar aos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário as necessidades dos estudantes de um município, de um estado ou de todo o país. A UNE pode ser citada como exemplo disso, entretanto após o movimento dos “cara-pintadas”, devido ao aparelhamento partidário, essa instituição deixou de ser representativa e, hoje, não passa de uma produtora de carteirinhas. Guardando as devidas proporções, isso acontece na USP. O DCE deixou de ser representativo, e hoje, apenas corrobora políticas partidárias da extrema-esquerda, numa oposição viciada a qualquer forma de poder existente no país, até mesmo à Constituição como um todo. De fato, em algumas situações, essas duas entidades reivindicam interesses dos estudantes, porém, mesmo tendo objetivos justos, fazem da maneira errada: reivindicam de maneira radical e sem apresentar propostas dos métodos que devem ser usados para se alcançar tais metas. Além disso, falta na USP a iniciativa do diálogo. Os estudantes que comandam o DCE há vários anos sempre partem para atitudes radicais, como greves, invasões e difamações.

Quantas pessoas na chapa têm filiação partidária?
Rodrigo Souza Neves -
Sete pessoas, sendo seis filiadas ao PSDB e uma ao PV. Entretanto, cabe ressaltar que estes não possuem o caráter de “militantes profissionais” como freqüentemente se vê entre os grupos de esquerda do movimento estudantil, em que, muitas vezes, os militantes não só são filiados como são funcionários e membros da hierarquia dos partidos. Também é preciso ressaltar que todos esses assumiram o compromisso de deixar suas fidelidades e simpatias partidárias para fora dos muros da universidade, diferentemente do que ocorre na prática dos partidos de extrema esquerda presentes na USP.
Por que é tão difícil convencer o estudante que realmente estuda a votar?
Edgar Cutar Junior -
Quem estuda hoje na USP dificilmente se sente representado pelo DCE devido a uma contínua sucessão de gestões ligadas a partidos de extrema esquerda, as quais utilizam de fóruns ilegítimos e métodos autoritários para impor a vontade de uma minoria perante a maioria dos alunos. Entre essas ações, encontram-se a promoção e apoio a greves impopulares, com causas muitas vezes opostas aos interesses dos estudantes; a recorrente prática de invasões e depredações de prédios públicos da universidade e o cerceamento do direito de ir e vir dos estudantes por meio de barricadas e piquetes.
Tudo isso fez com que os estudantes de verdade pegassem asco de uma entidade que supostamente deveria representar a todos, não somente os que fazem parte da própria gestão, como vem acontecendo. No caso específico dos campi do interior [Ribeirão Preto, São Carlos, Piracicaba, Lorena, Bauru e Pirassununga], o sentimento de desinteresse e falta de representatividade por parte do DCE é agravado pela quase total desconexão do DCE da realidade desses campi e práticas que impedem a participação destes estudantes no processo decisório.
Entre tais práticas está um tratamento patrão-funcionário por parte dos “coordenadores de campi” do DCE - quase sempre estudantes de Ciências Sociais, da capital, que visitam esporadicamente outros campi - com relação a seus pares.  Outro elemento desmotivador é a prática, por parte da gestão do DCE, de excluir a participação dos estudantes do interior ao se convocarem assembléias, reuniões e Conselhos de Centros Acadêmicos quase que somente na capital paulista.
Todos esses fatores geram um desinteresse destes estudantes e uma sensação, real, de que a gestão do DCE não faz a menor diferença no dia-a-dia dos estudantes desses campí; e que os braços do DCE só alcançam o interior em tempos de eleição, em que milhares de panfletos e militantes até mesmo de outras universidades rondam os campi em busca de “gado eleitoral”.
A PM deve continuar a fazer o policialmente do campus?
Lucas Sorrillo - Não cabe a uma gestão de DCE decidir isso em nome dos alunos. Cabe à gestão do DCE consultar os alunos, por meio de um plebiscito, e acatar a decisão tomada pela maioria dos estudantes. E, nessa questão, em plebiscitos realizados na FEA, POLI e num geral, organizado por alunos da EACH, mais de 60% dos estudantes se manifestaram favoráveis a essa posição.
Inclusive um representante do Grêmio da POLI, encaminhou pedido oficial ao DCE para que realizasse, após muitos debates com os alunos para informar os estudantes, um plebiscito amplo, geral e transparente na USP sobre segurança. Entretanto, a atual gestão negou o pedido, alegando que um plebiscito não representa a vontade real dos alunos. Ao que tudo indica, eles preferem assembléias em que se vota por contraste, e não se tem nem a certeza de que todos os presentes são estudantes.
Digam-me três propostas que vocês consideram centrais ou três compromissos da chapa caso vença a eleição.
Rodrigo Souza Neves -
1) Representatividade real dos estudantes e independência plena do DCE perante os interesses do Sindicato dos Trabalhadores da USP e de partidos políticos. DCE para, pelo e do estudante. 2) Democratização dos fóruns do movimento estudantil e consulta plebiscitária de temas de grande importância, como forma de evitar decisões tomadas em assembléias sem representatividade realizadas nos campi da capital. 3) Reestruturação financeira, transparência nas contas e atos do DCE e um projeto de captação de recursos para a universidade baseado no Endowment da Escola Politécnica
Quem tem medo da chapa “Reação” na USP?
Flavio “Morgenstern” -
Entre todas as chapas inscritas, aparentemente os criminosos da USP apenas temem a chapa “Reação”. É um excelente indício. Tais crimes, que vão de dano ao patrimônio a lesão corporal (já houve casos até de envenenamento de comida do Bandejão), são chamados de “perseguição política”. São crimes comuns que nunca são divulgados.
Quem mais teme a chapa, portanto, é a retórica: uma vitória da única chapa não-esquerdista mostra, afinal, que a comunidade acadêmica não quer crimes, invasões, depredações, greves, piquetes, agressões físicas, como de estudantes que declaram que “por enquanto a gente optou por não impedir fisicamente a entrada dos estudantes”. Assim, não se pode mais falar em nome dos “estudantes”.
Outro temor com a chapa é a proposta da realização de plebiscitos eletrônicos para votações, através de sistemas próprios da USP como o Júpiter Web. Nas assembléias, marcadas invariavelmente no horário das aulas, são “decididas” pautas impostas pela mesa, no olhômetro e por uma minoria que mata as aulas. Se as propostas, algumas até criminosas, não são aceitas, fazem outra até dar o resultado que querem, como se deu na invasão recente. Votação eletrônica mostra a real vontade dos estudantes da USP, que estudam e trabalham e não têm tempo a perder com assembléias.

Os resultados até agora são acachapantes: praticamente 80% da USP quer a PM no campus e é contra greves e invasões. Aqueles que querem impor sua vontade à força têm mesmo razão para temer uma chapa democrática, onde um homem significa um voto.

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