Deveria ser um escândalo, mas não é: nem imprensa, nem parlamento, nem autoridades de controle de gastos públicos monitoram seu funcionamento. Um dia o governo será denunciado por malversação de recursos públicos. Vai demorar, mas esse dia chega.
Paulo Roberto de Almeida
O Fundo Soberano e a capitalização do BNDES
Editorial O Estado de S.Paulo, 4/11/2012
Criado em 2008, o
Fundo Soberano do Brasil (FSB) administra recursos do governo destinados a
aplicações de interesse estratégico no Brasil e no exterior. Inspirou-se no
modelo de instituições congêneres, como o da Noruega, Arábia Saudita, China,
Hong Kong, Abu Dabi, Kuwait, Cingapura e Rússia, alguns com patrimônio superior
a US$ 600 bilhões.
Mas, ao contrário
dos demais - que se capitalizaram com recursos extraordinários, como da
exploração de petróleo ou de vultosos saldos comerciais -, o FSB nasceu com
apenas R$ 14 bilhões provenientes da venda de títulos públicos, mediante novo
endividamento, portanto, não do superávit primário, como se previa
originalmente. Era - e é - um dos menores entre os fundos do mesmo tipo
acompanhados pela associação Sovereign Wealth Fund. O FSB tinha, em 2011, R$
15,5 bilhões aplicados em ações da Petrobrás e do Banco do Brasil (R$ 3,2
bilhões menos do que em 2010, quando esses papéis valiam R$ 18,7 bilhões em
Bolsa).
O objetivo de um
fundo como o norueguês Government Pension Fund foi de criar recursos para
financiar os cidadãos mais velhos, no futuro, quando já não houvesse a riqueza
do petróleo. No Brasil, chegou-se a imaginar que os futuros recursos do pré-sal
pudessem se destinar, entre outras coisas, a criar um fundo semelhante, para
capitalizar os regimes de aposentadoria.
Mas, mesmo antes
de o FSB se tornar um grande fundo, o Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) pretende que parte dos ativos seja empregada na
capitalização do banco, para permitir aumento dos empréstimos, segundo
reportagem de Irany Teresa e Vinícius Nader, no Estado.
O presidente do
BNDES, Luciano Coutinho, afirmou, na semana passada, que o banco está em
"situação confortável" no tocante à capitalização. Nos últimos anos,
o BNDES já recebeu R$ 270 bilhões em empréstimos do Tesouro e outros R$ 15
bilhões estão previstos. A vantagem de obter recursos do FSB é que eles
entrariam como capital para o banco, ampliando os limites máximos que a
instituição poderá conceder a um só cliente. Seria uma forma de obter recursos
públicos sem pressionar o Tesouro, em apuros para não fugir muito da meta de
superávit primário.
Todavia, o melhor
mesmo seria capitalizar o BNDES com os lucros obtidos pelo banco, mas estes são
transferidos ao Tesouro Nacional sob a forma de dividendos. No primeiro
semestre, por exemplo, o BNDES pagou R$ 4,11 bilhões ao Tesouro e, em outubro,
antecipou R$ 1,2 bilhão relativo aos lucros futuros.
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