Paulo Roberto de Almeida
CELAC: O que será o amanhã?
Mauro Laviola
O Globo, 1002/2013
A reunião de
suposto congraçamento entre a Comunidade dos Estados Latino-americanos e
Caribenhos (Celac, versão latina da Organização dos Estados Americanos sem os
EUA e o Canadá) e a União Europeia, ocorrida em Santiago do Chile no fim de
janeiro, revelou o velho anacronismo existente em boa parte dos países da
região dirigidos sob uma visão terceiromundista.
Inútil encontro
porque restou apenas a constatação de que a "estratégica associação
transatlântica" pretendida jamais se solidificará frente à existência da
brecha político-ideológica que separa países latino-americanos com visões
planetárias da outra metade que ainda cultuam gestões político-econômicas do
passado.
O pior da
história é que o Brasil parece situar-se no lado errado, ainda preso à
"Doutrina Garcia" (esplendidamente destrinchada em magistral artigo
do sociólogo Demétrio Magnoli). Como principal conselheiro presidencial para
assuntos externos, suas opiniões conduziram a política externa brasileira nos
últimos dez anos a um estrondoso fracasso. Logrou destronar o Ministério das
Relações Exteriores de seu encargo constitucional ao induzir os dirigentes do
país a seguir os ditames "lulopetistas", "chavistas" e
"kirchneristas" de integração regional e aversão aos países
capitalistas. Não é por outra razão que o Brasil, supostamente o líder
econômico continental, aceita e até apoia toda sorte de subversões comerciais
praticadas pela Argentina no último decênio. Outro feito importante da dita
"doutrina" foi orientar o governo a participar do conhecido plano
para ingressar a Venezuela no Mercosul pela janela.
Em matéria de
relacionamento extrarregional, o bloco dispõe apenas de dois insípidos acordos
vigentes com a Índia e Israel e três outros com a União Aduaneira da África
Austral (Sacu, na sigla em inglês), Egito e Palestina à espera de aprovações
parlamentares.
Os
(des)entendimentos com a União Europeia estão próximos de completar vinte anos
e, a julgar pela Argentina, jamais serão finalizados enquanto perdurar a atual
postura Kirchner, enquanto o Brasil, preso às amarras da Decisão do Conselho do
Mercado Comum do Mercosul 32/00, não tem outro papel a não ser ir dourando a
pílula.
Enquanto isso, os
países da Aliança Atlântica (Colômbia, Chile, Peru e México) - contando com
crescentes observadores (Panamá, Costa Rica, Uruguai e mais recentemente o
Paraguai) - estão voando à velocidade do som para recuperar décadas perdidas de
atrasos e demagogias.
E nós? Como estamos
no período de carnaval, só nos resta cantar o conhecido samba-enredo da União
da Ilha:
"O que será
o amanhã?
Descubra quem
puder
O que irá me
acontecer?
O meu destino
será o que Deus quiser..."
Mauro Laviola é
vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.