Dissimulação não vai conter a inflação
Marcelo de Paiva AbreuO governo tem demonstrado persistência na adoção de técnicas de dissimulação com o objetivo, pelo menos secundário, de dificultar análises objetivas da situação econômica do País. Alguns falariam até mesmo em tentativas canhestras de ludibriar a opinião pública.
As estripulias com dados fiscais envolvendo operações entre Tesouro, BNDES, Caixa Econômica Federal e Petrobrás têm sido ventiladas exaustivamente na mídia. Têm como objetivo ocultar que o governo vem gradativamente abandonando seus compromissos quanto à geração de um superávit primário adequado nas suas contas.
Agora, mágicas semelhantes têm sido adotadas em relação à inflação crescente. Afinal, se a inflação puder ser mantida abaixo dos 6,5% - limite superior da meta -, o governo poderá defender-se com menos dificuldade da acusação de que está abandonando o compromisso com políticas minimamente prudentes e de que está disposto a aceitar uma clara violação do modesto compromisso inflacionário implícito no atual regime de metas. O aumento das tarifas de transportes coletivos no Rio de Janeiro e em São Paulo foi postergado. Embora a redução das tarifas de energia elétrica faça sentido do ponto de vista da melhoria da competitividade dos produtos brasileiros, é sempre verdade que haverá impacto não desprezível sobre a inflação. O mesmo se aplica à desoneração fiscal da cesta básica: embora bem-vinda do ponto de vista social, alivia pressões inflacionárias. É com melancolia que se lê sobre reuniões do ministro da Fazenda com donos de supermercados com o objetivo de conter preços. Desde as grotescas iniciativas de laçar bois no pasto, que marcaram a agonia do Plano Cruzado, presumia-se que o País tivesse aprendido que, para controlar a inflação, é fundamental conter a demanda e que os instrumentos adequados para isso são a taxa de juros ou o aperto fiscal.
Nos velhos tempos, práticas que pretendiam escamotear evidências factuais - desde a tortura até a inflação crescente - eram típicas de regimes totalitários. Regimes de exceção permitem que sejam reprimidas com impunidade revelações consideradas inconvenientes. Em episódio conhecido, em 1973, o governo teria patrocinado o uso de preços tabelados para o cômputo da inflação, algo reconhecido alguns anos depois pelo Banco Mundial e pelo próprio governo. No final dos anos 70, o governo andou expurgando índices no célebre episódio da inflação do chuchu. A argumentação fazia sentido, pois não parecia razoável manter o peso do chuchu no cálculo do índice inflacionário, pois o aumento expressivo do preço do chuchu certamente resultaria em contração da quantidade demandada. O problema era convencer a opinião pública, mesmo com a censura da mídia, de que não se tratava de mais uma mentira oficial destinada a reduzir a inflação com a adoção de métodos pouco convencionais.
Modernamente, a manipulação de preços tornou-se habitual em regimes populistas, entre os quais a Argentina talvez seja o exemplo mais notável. Lá, a indecente divergência entre a inflação oficial e diversos cômputos extraoficiais levou o FMI a censurar explicitamente o governo - aplicar-lhe cartão amarelo, na metáfora da senhora Lagarde, com ameaça de cartão vermelho, se não houver progresso em três meses. A "resposta argentina" foi "congelar" preços nos supermercados por 60 dias...
Avaliando as raízes do populismo no Brasil, há claro contraste entre as políticas econômicas do peronismo e do varguismo. E, no entanto, o governo atual, useiro e vezeiro na invocação de suas raízes varguistas, está de fato tomando o péssimo exemplo da Argentina como algo que merecesse ser copiado. Sob Vargas, houve pouco que se aproximasse da sistemática penalização dos interesses agrícolas que seria tradicional em governos peronistas e neoperonistas. No seu primeiro período de governo, o momento mais controvertido foi quando suspendeu o pagamento da dívida externa em 1937, atitude extrema que começou a ser revertida depois de um ano. Eleito presidente em 1950, deu espaço às trapalhadas de Ricardo Jafet e João Goulart, no Banco do Brasil e no Ministério do Trabalho, mas, ambíguo, não deixou de contemplar os círculos mais conservadores. No cerne, era um populista bastante prudente do ponto de vista econômico e financeiro.
É preciso aceitar que a febre não vai ser reduzida com a quebra do termômetro.
Não sou economista e, sendo assim, tenho maior probabilidade de estar certo do que eles. Por que posso considerar que estou mais próximo da realidade do que eles. Talvez feeling. Percebo que, independente das análises complexas que fazem das condições macroeconômicas, das políticas geradas no ventre dos governantes, a observação direta, ainda que pontuais, o comportamento dos agentes econômicos se fazem à revelia das teorias. Há mais fenômenos psicológicos do que econômicos. E o nome disso é insegurança gerada pela desconfiança nos poderes constituídos. Uma coisa é a inflação determinada pela emissão de dinheiro pelo governo e que altera o relação de preços no mercado. Inflação pode ser efeito de acontecimentos externos ao país? Pode, basta que se perceba o preço de produtos essenciais ao país que e que não os produzimos. Mas o dono da quitanda, do mercadinho, do bar, do restaurante, do cabelereiro, da floricultura, do verdureiro, não está interessado em se enquadrar nos conceitos teóricos dos economistas. Por serem agentes, tomam a iniciativa de se defenderem do que consideram ameaça e vão, por conta dessa insegurança, alterando por conta o preço de suas mercadorias e serviços. É isso que se percebe claramente sem nenhuma necessidade de se recorrer aos alfarrábios. Quando recebemos as informações, ditas oficiais, sobre os índices de inflação, estes já aconteceram no bolso do indigitado contribuinte. Somente quem vive no mundo da lua não percebe que os preços estão sendo alterados e muito além dos dados oficiais. Quando um alface passa de R$ 1,00 para R$ 1,50 no mercadinho, isto não chega nos dados obtidos pela equipe que está em campo para fiscalizar ou levantar os preços nos supermercados. E mesmo nestes, a inflação está ocorrendo solta. Só não percebe que não está presente no dia-a-dia de uma dona de casa. E as políticas do governos estão afastadas da realidade como filme de ficção. Basta que se verifique o quanto está se gastando na preparação das copas e das necessidades imediatas da população carente nas filas de hospitais públicos. Fico pasmo diante da realidade, diante do que se considera Estado e do que se chama cidadão. É pura obra de imaginação. Um povo inculto, ignorante, sujeito a políticos que saem exatamente dessa fonte gestora.
ResponderExcluirE o Brasil está se tornando o país da boçalidade. Ah! Ortega y Gasset!!! O quanto profetizaste quando a massa chegasse ao poder. Tudo iria se mediocrizar. E fico pasmo diante dos estudiosos que tentam se afinar com a cultura das massas. É assim que se colocam hoje as escolas, à serviço da ignorância. Um contra senso. Invés de forçarem, exigirem do homem que atualize suas potencialidades, ela, a escola, defende a preservação do idiota que existe em cada um de nós. Como afirmei, antes de termos economia, temos psicologia. O homem lutando pela sobrevivência e não importa em que nível. Os governos deveriam existir para elevar o estágio biológico de sua população, mas o que se vê é uma luta desenfreada pelo poder para lá desfrutar do que ele proporciona. Pode-se considerar que Brasília detém o que há de melhor em se tratando de estadistas?