sábado, 20 de abril de 2013

Pode o Brasil crescer a 5pc ao ano? Evidentemente nao - editoriais

Já escrevi, há muito tempo, um artigo perguntando se o Brasil poderia crescer de forma sustentável em torno de 5% ao ano (vejam neste link). A resposta que dei era obviamente negativa, tendo em conta a ausência de reformas, as tendências extrativas do Estado, a falta de investimentos.
Parece que vamos continuar numa linha de mediocridade pelo futuro previsível.
Paulo Roberto de Almeida

Um país fora do ritmo

20 de abril de 2013 | 2h 05
Rolf Kuntz *
O Brasil manterá o passo errado nos próximos cinco anos e avançará bem menos que outros emergentes até 2018, segundo projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI). Sua inflação continuará mais alta e suas contas externas deverão piorar nesse período, com o déficit em transações correntes passando de 2,4% para 3,4% do produto interno bruto (PIB). Projeções de prazo longo aparecem no fim do Panorama Econômico Mundial publicado em abril e setembro pelo Fundo, num apêndice pouco visitado e pouco citado pela maior parte da imprensa. Estimativas desse tipo são sujeitas a erros importantes. Não são, no entanto, arbitrárias, nem inúteis. Ajudam a ver como poderá ser o futuro, se as tendências dos últimos anos persistirem, se as políticas forem mantidas e se as reformas necessárias forem levadas adiante ou negligenciadas. No caso do Brasil, os autores do estudo obviamente esperam poucas mudanças com potencial para tornar a economia mais dinâmica e mais sólida em seus fundamentos.

Segundo as projeções, a economia mundial crescerá 3,3% neste ano, 4% no próximo e 4,5% em 2018, puxada, como tem sido há alguns anos, pelos países emergentes e em desenvolvimento. A convalescença europeia será lenta e penosa. Os Estados Unidos continuarão avançando com firmeza. Seu PIB crescerá apenas 1,2% em 2013, por causa do arrocho fiscal, mas aumentará 2,2% em 2014 e em 2018 terá atingido um ritmo de expansão 2,5%. A média dos emergentes e em desenvolvimento ficará em 5,3%, 5,7% e 6,2% em cada um desses três pontos de referência. Para a Ásia em desenvolvimento, incluída a China, os números estimados são 7,1%, 7,3% e 7,7%. Há uma aposta, portanto, no êxito dos programas de ajuste e de renovação dos modelos já iniciados em algumas dessas economias.

Nesse quadro, o avanço brasileiro continuará mais lento que o de vários países latino-americanos. Segundo o Panorama, o PIB do Brasil aumentará 3% em 2013, 4% no próximo ano e 4,2% em 2018. Se a projeção para este ano for confirmada, o resultado será bem melhor que o de 2012, quando o crescimento ficou em apenas 0,9%, apesar dos estímulos criados pelo governo. Alguns incentivos ao investimento privado poderão finalmente produzir algum efeito neste ano, de acordo com a análise apresentada no capitulo 2 do relatório.

Mas "restrições de oferta podem limitar o ritmo de crescimento a curto prazo", advertem os autores do trabalho. Em outras palavras: os entraves observados nos últimos anos poderão ainda atrapalhar a economia brasileira em 2013. Sem examinar em detalhes a política seguida no Brasil depois da crise de 2008 e especialmente a partir de 2011, os economistas do FMI apontaram, no entanto, o grande problema negligenciado por muito tempo pelo governo brasileiro. Durante dois anos a equipe da presidente Dilma Rousseff insistiu em estimular a demanda, principalmente de consumo, sem dar a atenção necessária ao lado da produção e, portanto, da oferta.

O crescimento de 3% estimado para 2013 ficará muito abaixo do necessário para compensar o baixo desempenho dos dois anos anteriores. É preciso levar também isso em conta ao confrontar os números do Brasil com os de outros países do Hemisfério. Chile, Colômbia, Equador, Peru e México também foram afetados pela crise internacional, mas em pouco tempo voltaram a crescer em ritmo parecido com o dos anos anteriores à recessão no mundo rico. Todos bateram o Brasil com muita folga desde 2010.

Para 2013, 2014 e 2018 as projeções do Fundo indicam as seguintes taxas de expansão para esses países: Chile, 4,9%, 4,6% e 4,6%; Colômbia, 4,1%, 4,5% e 4,5%; Equador, 4,4%, 3,9% e 3,5%; Peru, 6,3%, 6,1% e 6%; México, 3,4%, 3,4% e 3,3%. Entre 2010 e 2012 a economia equatoriana acumulou expansão de 17,14%; a mexicana, de 13,67%; a brasileira, de apenas 11,40%. Em todos esses países a inflação foi menor que a brasileira e assim deverá continuar neste e no próximo ano.

Os economistas do FMI estimam para o Brasil inflação de 5,5% em 2013 e 4,5% em 2014. Para o Chile, a projeção é de 3% em cada um dos dois anos. Para a Colômbia, de 2,4% e 3%. Para o Peru, de 2,1% e 2%. Para o México, de 3,6% e 3,3%. A presidente Dilma Rousseff deveria desconhecer esses números quando falou sobre crescimento e inflação em Durban, na África do Sul. Naquele pronunciamento, ela rejeitou uma ação mais forte contra a alta de preços como se fosse incompatível com a expansão do PIB. Parece ter esquecido, ou talvez ignorasse, a experiência internacional. Inflação alta e resistente, como a brasileira, dificulta o planejamento empresarial e corrói o poder de compra dos consumidores. Tende a tornar-se, portanto, um obstáculo ao crescimento da economia.

Além disso, inflação mais elevada que a dos outros países desajusta o câmbio e afeta o poder de competição dos produtores nacionais. No entanto, empresários e ilustres economistas brasileiros muito raramente reclamam da inflação, embora esbravejem continuamente contra a valorização cambial. Devem ter esquecido tanto a experiência internacional quanto a nacional.

Durante muito tempo o Brasil se deu mal com o câmbio fixo. O câmbio flexível e ajustado periodicamente pela inflação, adotado em 1968, foi um avanço, mas muito imperfeito. Sem estabilidade monetária, o regime cambial tornou-se uma corrida permanente em busca de ajustes de curta duração. A inflação desarranjava o câmbio e em seguida a correção cambial desarrumava os preços. O sistema passou a funcionar como um cão correndo atrás do próprio rabo. Parece estranho, mas alguns economistas e industriais falam como se tivessem saudade desse tempo.

Os países com melhor desempenho têm combinado controle da inflação, contas públicas em condições razoáveis e integração nos mercados globais. O resto é teimosia, mera insistência em pajelanças bem conhecidas, testadas e desacreditadas.

* Rolf Kuntz é jornalista.

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Crescendo menos

20 de abril de 2013 | 2h 08

Editorial O Estado de S.Paulo
Mais do que confirmar o que o governo Dilma tenta negar - que o desempenho da economia brasileira continuará sendo pior do que o dos demais países emergentes e também do resto do mundo -, o Panorama da Economia Mundial com as novas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) para 2013 adverte para a persistência de gargalos que reduzem o potencial de crescimento do Brasil.
O FMI reviu para baixo suas projeções para o desempenho da economia mundial neste ano, mas a revisão dos dados referentes à economia brasileira foi mais significativa do que as revisões dos dados do resto dos países, inclusive os emergentes. Inicialmente previsto em 3,5%, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2013 agora é estimado em 3%. Ainda é, reconheça-se, um número bem melhor do que o registrado em 2012, quando o PIB brasileiro cresceu apenas 0,9%, mas ruim se comparado com o do resto do mundo. Em média, a economia mundial deverá crescer 3,3%, de acordo com as novas projeções do Fundo Monetário Internacional.
Países aos quais o Brasil tem sido comparado por analistas e investidores internacionais terão desempenho melhor. O FMI espera que, em 2013, a China cresça 8%; a Índia; 5,7%; e a Rússia e o México, 3,4%.
A recente aceleração dos preços no Brasil não parece preocupar o Fundo. Apesar de, em março, a inflação brasileira ter rompido o limite superior da margem de tolerância da meta deste ano, o FMI acredita que a alta média dos preços ao consumidor fique em cerca de 5,5% em 2013 e, no próximo ano, alcance 4,5%, centro da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional.
O que preocupa o Fundo, entre outras dificuldades, são os gargalos da infraestrutura, que podem comprometer o crescimento futuro. Esse problema foi apontado pela diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. "O fornecimento e o escoamento de mercadorias é limitado por gargalos em quase todo o território", disse ela, referindo-se à situação dos portos, aeroportos, rodovias e ferrovias no Brasil. "Aprimorar a infraestrutura poderia melhorar muito a situação do País, e é isso que sugerimos que seja priorizado."
Além da infraestrutura, o chefe da divisão de pesquisa do Fundo, Thomas Helbing, citou outro gargalo que pode tolher o crescimento brasileiro. É o que se localiza no mercado de trabalho. Há um lado positivo da evolução do mercado de trabalho no Brasil nos últimos anos, com o aumento do número de trabalhadores contratados. Isso contribuiu para o aumento da renda real média da população, estimulou o consumo e evitou que o desempenho da economia fosse pior do que o registrado nos dois últimos anos.
Mas um número crescente de empresas começa a enfrentar escassez de mão de obra preparada e treinada para o desempenho de funções mais complexas, que exigem maior domínio de técnicas e maior conhecimento. As políticas públicas na área da educação anunciadas até agora não tiveram o efeito de suprir a demanda desses profissionais na velocidade exigida pelo mercado.
Além do impacto de fatores externos, as economias sul-americanas foram afetadas também por fatores internos, em geral de responsabilidade dos governos - e isso foi particularmente visível no Brasil. "Grandes estímulos falharam em impulsionar o investimento privado", observou o FMI, referindo-se aos generosos incentivos concedidos pelo governo Dilma e que até agora não resultaram em investimentos nem em crescimento. A relativa estagnação brasileira afetou o desempenho da Argentina e do Uruguai.
Quanto à estabilidade da economia brasileira, o vice-diretor de assuntos fiscais do FMI, Philip Gerson, observou que, como a dívida pública bruta ainda é superior a dois terços do PIB, o governo deveria cumprir a meta cheia do superávit primário - necessário para honrar os compromissos decorrentes da dívida -, que está fixada em 3,1% do Produto Interno Bruto. O governo Dilma, no entanto, vem reduzindo essa meta na prática, por meio de artifícios orçamentários e contábeis, e com isso gera desconfianças sobre sua política fiscal.

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