Conversa
com os leitores, e comigo mesmo
Paulo Roberto de Almeida
Fim
de semana, tempo de atualizar leituras, terminar os jornais e revistas da
semana, colocar livros e papeis em ordem, e também revisar as mensagens não
lidas e não respondidas no Inbox (verifiquei agora: tenho 5.647 no total, sendo
1.596 não lidas, a maior parte boletins de informação), bem como de tentar
reorganizar os arquivos de computador, para não me perder na barafunda dos
múltiplos trabalhos, simultâneos (meu “pipeline”, ou lista de trabalhos a
fazer, sempre tem cinco ou seis urgentes).
Não
sou expert em nada do que se refira ao ferramental que utilizo para divulgação
de materiais, trabalhos e escritos, meus ou de terceiros (geralmente da
imprensa), e por isso meus dois instrumentos principais, o site (www.pralmeida.org) e o blog (http://diplomatizzando.blogspot.com/)
podem dar a impressão de improvisação e até de desorganização, o que
corresponde inteiramente à verdade. Tento fazer direito, mas nem sempre
consigo, geralmente por falta de tempo, mas também porque não tenho paciência
para ler manuais e aprender como se faz. Vou esperar meu neto ficar um pouco
maior para ele fazer para mim, mas quem tiver alguém de cinco a dez anos que
queira me ajudar, também aceito...
Bem,
constato agora, por ter chegado ao final da coluna da direita do meu blog (que
é esquerda, da perspectiva do blog) que meus “acompanhantes” se aproximam do
número 700 (mais exatamente 697 neste dia 14 de julho; salut la France!). Grato pela distinção, mas confesso que eu não
sei muito bem o que isso representa: são apenas aqueles que se inscreveram para
me seguir (entre eles gente da CIA, da NSA, etc.)?; são os que recebem cada
postagem quando eu publico, usam algum tipo de feed, reader, ou “assemblador”
de notícias?; de verdade não sei como isso se reflete do outro lado, ou seja,
dos quase 700 “membros”, como tal classificados pelo sistema que me hospeda.
Acima dessa seção, também tem uma outra, relativa a “Amigos”, e eles são 165
que me adicionaram a seus “círculos”, mas não me perguntem tampouco o que isso
significa, que eu não sei dizer. Simplesmente vou clicando nas possibilidades
oferecidas por todas essas ferramentas, mas depois não imagino, e não sei dizer
qual efeito prático elas têm.
Por
vezes, eu entro em “frias”, sem saber como, com essas ferramentas de redes
sociais, como Twitter, Facebook e outras. Sempre imagino que vou poder ler
materiais que me interessam – e se trata, geralmente, de artigos da imprensa
internacional, cujas páginas sempre exibem os logos desses instrumentos, como
remetendo ao conteúdo que busco – e acabo tendo de responder a um imenso volume
de mensagens de pessoas que também estão ali – geralmente para interagir com
outras que possuem os mesmos interesses. Aí a coisa se complica, como diria o
Sempé, pois eu mal tenho tempo de ler tudo o que me aparece ao longo do dia,
quanto mais para interagir com todos os frequentadores desses instrumentos.
Posso até parecer grosseiro, ou desatento, mas o fato é que eu não consigo, e
não pretendia, comentar temas bilateralmente, ou até “multilateralmente”,
quando mal dou conta de ler o que me espera no computador. Por isso me desculpo
preventivamente, e até retrospectivamente, com todos aqueles que me buscaram
nesses instrumentos, mas que depois constataram que eu “desapareci”. De fato
não estou, inclusive, e principalmente, devido ao meu natural “reservoso”, como
diria o Coronel Ponciano de Azeredo Furtado, do “Coronel e o Lobisomem”, do genial
José Cândido de Carvalho (um romance que preciso ler outra vez...).
Bem,
o fato é que tenho, voluntariamente ou não, episodicamente ou não, regularmente
ou não (e acredito que seja mais ocasional), quase 700 seguidores num blog que
tinha sido concebido, originalmente, apenas como uma espécie de “repositório”
de materiais de leitura – ou um arquivo virtual, sempre disponível em qualquer
plataforma – e que depois se converteu num instrumento auxiliar do meu site mais
“sério” (ou seja, aquele no qual coloco exclusivamente meus trabalhos, sempre
voltados para a pesquisa, numa perspectiva didática) e que também pode ter
servido, na fase mais recente, como plataforma de discussão dos temas mais
relevantes que atraem minha atenção e que mobilizam minhas reflexões como
cidadão participante do debate intelectual sobre as políticas públicas do
Brasil. Aqui tenho que me desculpar com todos aqueles que buscavam
exclusivamente materiais relativos à política externa e às relações internacionais
do Brasil, e que acabam se deparando com muito material relativo à política
interna, em especial política econômica. São os tempos!
Se
vou então às estatísticas de visitas em meu blog, a coisa fica ainda mais
assustadora. Constato, por exemplo, que já foram mais de 1,5 milhão de
visualizações de páginas, para quase dez mil postagens, o que permite supor uma
média superior a 150 visualizações por postagem. Esses números seriam bem
superiores se computados todos os meus blogs (e eles foram e são vários, ao
longo dos últimos oito ou nove anos, tão diversos e sucessivos, quanto é a
minha incompetência total de gerenciamento). Aparentemente, tenho quase 70 mil
visitas por mês, mas suponho que a maior parte dessas “visitas” seja de
instrumentos de busca, não de leitores ávidos pelo material que vai depositado
no blog de forma praticamente contínua, a partir do computador, do iPad ou do
iPhone (e também de outros computadores que não o meu fiel MacAir).
Enfim,
não junto esses números para qualquer exercício de autocongratulação, mas
apenas porque sempre busco verificar, no blog ou no site, o que os visitadores
mais tem buscado, e é isso que me motiva a aperfeiçoar o “atendimento”, com
material talhado para corresponder aos desejos, ou necessidades, dos
frequentadores e/ou passantes ocasionais (geralmente alunos em busca de
material para algum trabalho). As palavras de busca realmente refletem aqueles
temas objeto de demandas do professor, sem deixar de mencionar que há uma
grande correlação com o estado mental, se ouso dizer, da academia atualmente.
Digo isto porque também aparecem as consultas diretas, no site ou em
correspondência, sobre as obsessões dos nossos masturbadores sociais: o
capitalismo (financeiro, claro), a globalização (sempre desigual e perversa), a
“mídia” (já nem preciso explicar, não é mesmo?), em breve, todo o rol de
injustiças sociais de que padece o nosso Brasil. Deixo de lado aqui, por
impertinente, todos os comentários ofensivos que me chegam, por postar
materiais, e escrever o que penso, sobre essas mesmas mazelas brasileiras, mas
do ponto de vista de quem não concorda, longe disso, com o pensamento único,
medíocre, ideológico e desonesto, que vem tomando conta, crescentemente, dos
instrumentos de comunicação social no Brasil.
Pois
bem, ao redigir este pequeno texto para registrar estas constatações, e
aproveitar para agradecer a confiança dos meus poucos leitores, gostaria de
dizer que vários jovens me escrevem para pedir conselhos, até sobre assuntos
sobre os quais eu não possuo a menor competência. Geralmente se trata de
trabalhos escolares, como já apontado (universitários, na maior parte, mas não
só), muitas vezes em torno das suas perspectivas de carreira (e aqui a
diplomática aparece naturalmente na frente), ou apenas para tentar aprofundar,
em tom interrogativo, algum problema qualquer que tenha sido, ou não, tratado
no blog. Nem sempre tenho tempo de responder de forma imediata, ou completa, a
todas essas demandas, e me desculpo também por não me ser humanamente possível
fazê-lo em tempo hábil. Deixo também de lado aqueles pedidos impertinentes, de preguiçosos
que acham que eu estou sempre disponível para fazer por eles, pesquisa ou
trabalho, que não querem ou não são capazes de fazer por si mesmos.
O
que também aparece de maneira recorrente são perguntas ou pedidos de sugestões
para trabalhos de final de curso, em graduação ou até já em especialização, o
que me surpreende, por um lado (uma vez que imagino que cada aluno deveria
falar, em primeiro lugar, com seu próprio professor ou orientador), mas que
revela, por outro lado, o grau de preparação (ou falta de) que caracteriza hoje
a maior parte do ensino de nível superior no Brasil, o que não deixa de
aumentar o meu pessimismo “educativo”. Hoje mesmo, por exemplo, me apareceu
alguém com o pedido de ajuda para uma dissertação de mestrado em engenharia mecânica
(sic três vezes e vários pontos de exclamação). Como acho que o que escrevi
pode servir para outros alunos na mesma situação, ou desespero, transcrevo aqui
o que escrevi a esse aluno:
“Meu
caro Xxxxx,
Eu
sou um total incompetente para a sua área, mas qualquer que seja a área, uma
coisa é muito simples.
A
gente sempre deve tratar, num mestrado (e a mais forte razão num doutorado), de
algum problema que nos fascina, que nos intriga, que represente um desafio, em
relação ao qual tenhamos forte empatia, para ficar pesquisando em torno dele, e
passar noites e noites lendo, acumulando notas, fazendo esquemas, projetos,
para depois, dali tirar um tema, um problema, uma questão, um desafio que
represente um avanço intelectual para nós, e que represente uma alavanca,
prática ou teórica, para nossa profissionalização e especialização.
Não
tenho a menor ideia de qual problema você deve tratar em engenharia mecânica,
mas olhe em volte de si, dê uma volta pela cidade, entre nas lojas, converse
com várias pessoas, e veja qual problema, com os conhecimentos que você
adquiriu nos 4 anos de estudos da sua área, qual problema você poderia contribuir
para definir, avançar, solucionar alguma questão prática, ou puramente
especulativa.
Estou
certo de que o Brasil, a sua cidade, vão se beneficiar com o seu entusiasmo por
alguma causa relevante. Basta estudar muito.
Pense
em algo que também possa ser de utilidade para o seu doutoramento futuro, ou
seja, uma temática que lhe permita fazer mestrado e depois doutoramento. Se você
quer seguir carreira acadêmica, vai precisar ter continuidade nas suas
pesquisas.
Comece
colocando no papel todos os seus pensamentos, e depois pense em escrever uma
pequena nota, que pode ser o começo de um artigo.
Cordialmente, (etc.).”
Bem, com isso termino esta nota, e vou agora trabalhar, de verdade...
Paulo Roberto de Almeida
(Hartford, 14 de julho de 2013, 21h12)
--Caro professor,
ResponderExcluiruma das utilidades deste blog é nos instigar ao passo maior que as pernas, isto é, tentar ir além em nossos desafios intelectuais...
por isso sou grato e passo por aqui.
Aproveitando que está conversando consigo mesmo, o senhor deve se lembrar deste seu texto de uns anos atrás, não? Parece-me bem atual ainda; afinal o Brasil não muda (não para melhor).
ResponderExcluirhttp://paulomre.blogspot.com.br/2005/12/43-uma-proposta-modesta-reforma-do.html
Confesso também que não sei bem por quê cliquei em "seguir", apenas sei que com quase 21 anos tenho uma sede de conhecimento que me fez, à alguns anos atrás, encontrar o blog através de pesquisas no google (lembro como hoje), estava pesquisando a respeito da dívida externa que Lula vivia dizendo ter "exterminado"... Sempre fui (nas palavras dos colegas) "um cabra cabuloso" rsrs Não me conformo com explicações "avulsas" principalmente quando falamos de política (ainda mais do Brasil) e isso é o que me prende ao blog: O conteúdo prático e bem explicativo. A simplicidade com a qual as informações são disponibilizadas e os comentários do professor são extasiante! Simplesmente virei leitor ávido do blog, já faz parte da minha rotina diária.
ResponderExcluirTalvez cliquei em "seguir" por algum sentimento de gratidão e realização em encontrar um blog de nível intelectual tão estimulante. Acho que isso em parte explica a utilidade do gadget "seguidores" em demonstrar quanto o seu trabalho no blog é reconhecido e admirado pelos visitantes. E como isso deve lhe servir? Talvez apenas acrescentar mais estímulo em seu exercício intelectual com o blog... Mas como disse tenho apenas quase 21 e estou certo que nesta fase tenho mais é que ouvir, ler e meditar do quê sair falando dos meus achismos, de qualquer forma agradeço ao Sr. Paulo pela contribuição intelectual. Sigo seguindo seus posts pelo feed como um fã de astro de rock pelas redes sociais rsrsrs
SOU UM SIMPLES SITIANTE , ENTRO AQUI TODAS AS SEMANAS , PARA BUSCAR NOTICIAS E COMENTÁRIOS SENSATOS . PARABENS AO DONO DO BLOG .
ResponderExcluirPrezado Professor,
ResponderExcluirObrigado por este post dedicado ao leitores. Sinto-me prestigiado com textos desse tipo, então resolvi escrever ao blog de modo rápido e um pouco extenso.
Apenas como feedback, sou estudante, leitor do blog há sei lá quantos anos e até já fiz um curso de férias com o professor em São Paulo. Acompanho frequentemente os textos pelo sistema feed e tento não deixar passar nada. Peguei até o confronto com um diplomata-vizinho de Brasília, hehe.
O que me busco no blog é a sua visão qualificada dos acontecimentos presentes, as referências úteis de textos, livros, debates etc. (especialmente de fontes estrangeiras), e também a sua espontaneidade ao expor opiniões que irritam muito gente no poder. No Brasil as pessoas parecem ter medo de discordar e de criticar aquelas conhecidas metafísicas influentes. Creio ser uma grave falha do nosso ambiente essa mania de tornar pessoal qualquer discordância intelectual. Seria um elemento do homem cordial?
Um exemplo de post recente muito útil e que não teria acesso não fosse pelo seu blog, é a crítica acadêmica de Ricardo Vélez-Rodríguez sobre a crise do liberalismo de Pierre Manent. É o tipo de artigo que coloco no meu editor de texto para ler anotando.
Concluindo, acho que não é exagero dizer que o professor está presente na Minha Formação. Espero retribuir no futuro. Obrigado por auxiliar nosostros, pobres e dedicados estudantes brasileiros.
___________________
PS Técnico: Quanto às questões técnicas do blog, diria que não há problema relevante para quem acompanha pelo sistema feed, mas quem se aventura a ler tudo pelo site, deve ter algumas reclamações. But it's just me.
Caro Juliano,
ResponderExcluirAgradeço os seus comentários gentis, o que me confirma que meu trabalho solitário, por vezes extenuante, e certamente em detrimento de outras leituras e escritos que poderia estar fazendo no tempo que dedico ao blog, pode não ser inútil, ou até contribuir para a formação de jovens como você, o que constitui justamente o objetivo inicial e primário autoatribuído quando dei a partida a este empreendimento (concebido mais como repositório, arquivo, e divertimento, do que como uma atividade profissional).
Creio que a seleção de materiais diversos (e recebo dezenas, centenas, de textos interessantes, todos os dias) pode ser útil por si só, mas ela é uma decisão arbitrária deste blogueiro, que coloca algo que lhe chama a atenção e geralmente comenta acima, e encima, da matéria, algum ensinamento a tirar do assunto. Geralmente, estou de acordo, e alerto para seus efeitos no Brasil ou sobre o país. Quando não estou de acordo, e mesmo assim transcrevo, é geralmente para alertar contra uma tendência ou política que considero nefasta do ponto de vista dos interesses brasileiros.
Não preciso dizer que sou particularmente crítico das tendências atuais, que considero nefastas, especialmente e absolutamente no terreno da educação. Acho que o Brasil, e seus dirigentes, estão fazendo muita bobagem, e até besteiras da grossas.
Infelizmente, o Brasil está recuando, relativamente a outros, mas em alguns casos até absolutamente.
Paulo Roberto de Almeida
Muito obrigado pela resposta, Professor.
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