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O’Neill nega crise em emergentes e diz que Brasil se distrai com Copa e Olimpíadas
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Economista sugere ajustes no país para incentivar investimentos do setor privado
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O economista Jim O'Neill, criador do termo Bricacrônimo Bric Thomas Lee / Bloomberg/14-10-2014
RIO - Economista que criou o termo Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) em 2001, Jim O’Neill afirma que problemas de emergentes são específicos, o Brasil deve observar o México e “redescobrir as reformas”.
— O Brasil usa muito o Estado para garantir o crescimento da economia: o Estado precisa sair do caminho — diz ele, que defende reformas para incentivar o setor privado a investir.
Sobre a turbulência em mercados emergentes nos últimos dias, O’Neill defende que não há crise e os problemas são específicos de alguns países.
Como vê a atual turbulência nos países emergentes?
Não está muito claro porque os mercados ficaram tão instáveis. E o mais importante: muito do que tem sido escrito não está correto. No momento em quefalamos, dois dos melhores mercados no mundo, Jacarta, na Indonésia, e Shenzhen, na China, estão subindo. Não sei porque alguns falam de uma crise nos emergentes: é uma coisa muito específica de alguns lugares. Para mim, a grande surpresa este ano é a performance desapontadora do mercado de ações americano, quando tantos estavam confiantes. E vemos evidência de que os dados de atividade americana estão desapontando levemente. Talvez o mercado tenha subido tanto que já não é mais tão barato ou os últimos indicadores econômicos tenham sido levemente desapontadores.
Como divide hoje os emergentes?
Não acredito que se pode falar de todos os emergentes como um só. É por isso que criei a expressão Bric. A China é hoje maior que a Alemanha, França e Itália combinadas. Como se pode falar dos emergentes como uma coisa só? O Brasil tem suas questões, mas na minha opinião o México está mostrando alguns aspectos promissores. A Nigéria terá seu PIB (soma dos bens e serviços produzidos no país) recalculado em uma ou duas semanas e o crescimento será 6% maior. Há problemas na América Latina, com algumas políticas loucas na Argentina. Tivemos problemas na Índia, mas acho que já foram ultrapassados. Temos problemas na Turquia e na Ucrânia. Mas também temos problemas na França e na Itália.
O senhor tem falado do potencial do Mints(México, Indonésia, Nigéria e Turquia). O que vê?
Estou particularmente otimista a curto prazo com o México e a Nigéria. Com o aumento dos salários na China, o México se tornou o local com custo mais baixo de produção dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) e passa por sérias reformas estruturais. Na Nigéria, veremos revisão nos dados do PIB que apontarão que já é a maior economia da África. A Turquia e a Indonésia são os países com os quais estou animado a médio e longo prazo, embora haja questões de curto prazo. Ambos têm déficit em contas correntes muito elevados, especialmente a Turquia, que também precisa resolver questões políticas.
O México parece ter ofuscado o Brasil em Davos. Como vê o Brasil hoje?
Não me preocuparia com Davos, mas é claro que é uma reflexão precisa do clima dos investidores. O Brasil deve pensar sobre o que o México está fazendo, o Brasil tem que redescobrir as reformas. O país tem estado muito distraído com a organização da Copa do Mundo e das Olimpíadas. O Brasil usa muito o Estado para garantir o crescimento da economia: o Estado precisa sair do caminho. São muito gastos e muito uso do BNDES. É preciso incentivar o setor privado a investir.
E como fazer isso?
São necessárias reformas e redução de taxas de juros. É preciso tornar o Brasil mais competitivo. Para acelerar o crescimento, o Brasil precisa investimento mais forte do setor privado.
O Brics ainda é uma realidade?
Claro. Um crescimento desapontador por dois anos não é nada para o contexto do Brics. Até o fim de 2016, o Brics ainda podem ser maiores que os Estados Unidos. São os chamados ciclos econômicos. Se considerarmos o avanço econômico nesta década, embora o crescimento brasileiro tenha sido abaixo, a expansão foi maior do que nos três primeiros anos da última década. O Brasil segue por ciclos erráticos.
Como vê a China?
Estou realmente impressionado com a China. Imaginava que o crescimento médio nessa década seria de 7,5% e a China já cresceu 8,2% em média nesses primeiros três anos. A economia chega a US$ 9,2 trilhões A China cria um novo Brasil a cada dois anos. O crescimento está desacelerando, mas por ação deliberada do governo. Eles não tentam ignorar os desafios, mas sim lidar com eles.
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