Você
já ouviu falar do "Boi"?
Renato Lemos
Recebido em 1 de março de 2014.
No DOI-CODI, ele
era conhecido por esse nome - "agente Boi"
"Boi"
era o nome usado nos tempos do regime militar para esconder a identidade de um
informante.
Não me refiro ao boi
que vive no pasto, muitas vezes em manada e que, abatido nos matadouros, proporciona
carne para bifes e churrasco.
Este é o boi
"marido" da vaca.
Falo de outro
"Boi". A carne dele não serve nem para bife nem para churrasco.
É imprópria para
consumo. Está toda infestada de vermes e parasitas que resistem a qualquer
tratamento.
Até mesmo de
veterinários e médicos cubanos!...
Convém lembrar que há
"vacas" também no caminho e nas andanças desse "Boi", mas
isto é outra história...
E bem
"cabeluda"!!!...
No DOI-CODI, ele era
conhecido por esse nome - "agente Boi" - e em público, com sua
verdadeira identidade e falação, procurava ganhar prestígio entre os
trabalhadores como líder sindical.
O homem, barbudo e
chegado a uma 51, jogava nos dois times.
Dava aos militares
informações sobre o que acontecia no meio sindical.
Muitos companheiros
saíram de cena, vítimas desse seu trabalho.
Quando reunido com os
trabalhadores, tratava de assuntos trabalhistas e sindicais, ao mesmo tempo em
que criticava e condenava o regime militar.
Era um pelego a
serviço dos militares e usava de todos os recursos no meio sindical para
enganar os trabalhadores.
Tirou proveito da
confiança que conquistou entre os trabalhadores à custa de mentiras e esperteza,
enquanto recebia benefícios e vantagens dos militares como pagamento pela sua
função
de dedo-duro e
agente infiltrado entre os trabalhadores.
Foi assim que ele
cresceu no meio sindical.
Tudo começou quando os
militares se empenharam em eliminar o que ainda restava do populismo getulista
depois de 1964.
Para conseguir isto,
houve um trabalho de doutrinação executado por intelectuais da USP, - alguns
deles considerados "esquerdistas" - que, com seus escritos,
procuraram desacreditar o trabalhismo getulista e desmoralizar antigos líderes,
como Leonel Brizola, Jango Goulart, Almino Afonso e outros.
Para uma ação mais
direta no meio sindical, com a finalidade de anular a influência da CGT -
Comando Geral dos Trabalhadores, era necessário alguém aceito e ouvido pelos
trabalhadores.
Quem ajudou a
encontrar o homem capaz dessa tarefa foi o empresário Paulo Villares, das
Indústrias Villares.
Foi ele a ponte que
estabeleceu a ligação entre os militares e aquele que atuaria como líder sindical e informante conhecido pela alcunha de
"Boi".
Ele já havia prestado
"favores" a Paulo Villares, que lhe era grato por isso.
Promovera a pedido
dele uma greve que as Indústrias Villares pretendiam usar, depois, - assim
aconteceu, - como pretexto para rescindir um contrato com a COFAP e desta forma
evitar prejuízos para a empresa.
Ele foi apresentado ao
general Golbery do Couto e Silva num churrasco na casa dele na Granja do
Riacho Fundo.
Como era uma figura
sem estudo e cultura, os militares decidiram que ele deveria ter uma formação à
altura, para poder atuar de forma eficiente como líder sindical.
Ele começou como aluno
do IADESIL - Instituto Americano de Desenvolvimento do Sindicalismo Livre, escola
de doutrinação que funcionava em São Paulo, desde 1963, por iniciativa e às
custas dos sindicatos norte-americanos da AFL-CIO.
Em seguida, ele
teve viagem e estada pagas pelo regime militar para fazer curso de sindicalismo
nos Estados Unidos, em 1972.
Lá recebeu aulas
sobre a matéria, acompanhado de tradutor, na Johns Hopkins University, em
Baltimore, e nos sindicatos norte-americanos, aulas de que saiu com
"diploma" de aluno bem aproveitado.
E tão bem
aproveitado que, pela forma como passou a agir posteriormente, o que se conclui
é que aprendeu todo tipo de lições sobre sindicalismo, até mesmo aquelas que
mancham a história de algumas dessas organizações norte-americanas, controladas
por mafiosos e exploradas por espertalhões e bandidos.
Nomes como Jimmy
Hoffa, Bugsy Siegel e Lucky Luciano, entre outros, fazem parte dessa história, muito
bem retratada em filmes como Sindicato de Ladrões.
De volta ao Brasil,
pôs em prática tudo que aprendera.
O lícito e o ilícito.
Depois de perder um
dedinho - sabe-se lá como!... - quando ainda estava na Villares, parou de
trabalhar, e desde então nunca mais se interessou pelo assunto.
Desta forma, com a
vida garantida, ficou com tempo livre para atuar entre os trabalhadores e
passar horas nos botecos, onde se distraía com doses generosas de 51.
Nas reuniões, fazia
circular várias ideias e propostas entre os trabalhadores e acompanhava com
atenção a reação deles, passando a defender a que parecia ter apoio da maioria.
Foi assim, à custa
deste e de outros recursos, que não excluem a fraude e a mentira, que ele
conquistou a simpatia e confiança dos trabalhadores.
Como torneiro, quando
ainda trabalhava, filiou-se ao Sindicato dos Metalúrgicos, em que ocupou cargos
importantes até se tornar seu presidente em 1975.
Nesta época estava em
vigor o AI-5.
Por isso muitos
asseguram que sua ligação com os militares foi decisiva para ele chegar à
presidência do sindicato.
Eles têm razão. Todos
os sindicatos estavam sob intervenção e ninguém assumiria a presidência,
principalmente de um sindicato tão importante como o dos Metalúrgicos, sem
aprovação dos militares.
Nesta época, ele
dividia o tempo como líder sindical e informante do DOI-CODI.
Sem dispensar,
naturalmente, os botecos...
Sua atividade como
líder e dirigente sindical era conhecida de todos os trabalhadores, mas a de informante,
apenas da cúpula do DOI-CODI, ou, mais exatamente, do então delegado do DOPS
Romeu Tuma.
Muitos tentaram obter
do antigo delegado dados esclarecedores sobre o informante, mas Tuma, quando
senador da República, sempre se mostrou evasivo a respeito do assunto e acabou levando
para o túmulo as informações que ajudariam a delinear um perfil bem acabado do
"agente Boi".
Foi uma pena os
trabalhadores não terem sabido desses fatos naquela época.
O "Boi"
teria morrido de inanição e desaparecido, como resto descartável, jogado no
lixo da História!...
Em 1980 ele foi preso.
Foi um acontecimento
que causou surpresa, pois nessa época já gozava de prestígio como líder
sindical.
Muitos estranharam
isto e perguntavam por que ele havia sido poupado durante as agitações e
manifestações dos anos anteriores, quando ainda estava em vigor o AI-5.
Pelo que aconteceu
depois, a prisão parece ter sido uma manobra para chamar a atenção e colocá-lo
em evidência. Na prisão, o "Boi" foi tratado a pão-de-ló.
Enganou o público com
uma greve de fome sabidamente furada e gozou de regalias de que não desfrutavam
os demais presos, tudo graças ao delegado Romeu Tuma.
O resultado do período
em que esteve preso é conhecido.
Ganhou a auréola de
"mártir da ditadura", que lhe foi conferida por amigos, mas, para
Leonel Brizola, conhecedor do que escondia o nome "Boi", ele não
passava de "filho da ditadura" .
Com os civis de volta
ao poder, fez-se passar por perseguido político, vítima do antigo regime, e
isto lhe rendeu, mais tarde, uma gorda indenização coroada com uma
aposentadoria vitalícia isenta de imposto de renda.
Atualmente recebe
mais de R$ 6.000,00 (seis mil reais) mensalmente.
Aposentadoria por
vagabundagem, se comparada com a de qualquer trabalhador depois de 40 anos de
serviço.
Aconselhado e
apoiado pelo general Golbery, dentro daquela mesma linha antigetulista, liderou a criação de um partido político a que deu o
nome dos trabalhadores.
Assim, com o fim do
regime militar, deixou de ser o "agente Boi", um título e função que
ficaram para trás como parte do passado, perdidos nas sombras e ignorados pelos
trabalhadores.
Desde então o que se
viu foi um homem membro de um sindicato transformado em líder político, com os
piores vícios que podem manchar um político.
Um político da pior
espécie, sem princípios morais e éticos, mentiroso, ardiloso, trapaceiro,
desonesto, corrupto, oportunista, que
usa as pessoas para chegar ao poder, para "subir sem se elevar", que
trai os amigos para salvar a própria pele.
Em resumo, um político
que se conduz pelo princípio segundo o qual o fim justifica os meios.
A continuação dessa
história é o que o Brasil, infelizmente, está vivendo desde 2003!!!...
-Fim -
(desta história, mas não das suas consequências para o Brasil e para os brasileiros, infelizmente...)
Caro
ResponderExcluirO que nos conta Renato Lemos hoje era endossado pela totalidade da esquerda marxista-leninista na segunda metade dos anos 70. O Boi era um deles e não um dos nossos, diziam.