A força do sangue
José Casado
O Globo, 12/08/2014
Dos deputados federais com menos de 30 anos, 79% são herdeiros (filhos ou netos) de clãs regionais e estão na disputa eleitoral para perpetuar o poder familiar
Eles somam 52 entre 81
senadores, e 228 dos 513 deputados federais. Juntos, representam 280
votos no plenário do Congresso Nacional. Constituem prova viva da força
das relações de sangue na política brasileira.
O predomínio é claro: um de cada dois parlamentares federais eleitos em 2010 tem pais, filhos, irmãos, avôs, tios, primos, sobrinhos, cônjuges, genros, noras ou cunhados em cargos eletivos do Executivo ou dos Legislativos federal, estaduais e municipais.
Na prática, significa que o controle do Estado brasileiro depende do voto majoritário de um “clube” composto por pouco mais de duas centenas de famílias.
Uma das características desse condomínio é a perpetuação no poder. Exemplo: dos deputados federais eleitos há quatro anos, quando estavam com menos de 30 anos de idade, nada menos que 79% eram herdeiros (filhos ou netos) de clãs políticos regionais — quase todos estão nas ruas à caça de votos para a eleição de outubro.
“Entra e sai governo, os oligarcas e seus filhos, netos, cônjuges, irmãos e sobrinhos seguem dando as cartas", constata Lauren Schoenster, pesquisadora da Transparência, que acaba de mapear o poder dos clãs regionais. Um dos efeitos da perpetuação, ela acha, é a formação de uma base parlamentar avessa a mudanças significativas no país.
Sangue é capital político relevante nas urnas. Isso não é produto típico nacional — como demonstraram os Kennedy e seguem mostrando os Bush nos Estados Unidos. Mas o caso brasileiro ganha relevo pela dimensão alcançada na atual temporada eleitoral.
Há dois herdeiros entre os três mais destacados candidatos à Presidência. Aécio Neves (PSDB), com 54 anos, e Eduardo Campos (PSB), com 49, desde o berço aprenderam a cultivar a ambição pelo poder (para conhecê-los, assim como a sua adversária Dilma Rousseff, há um ótimo livro na rede, “Os candidatos", de Maria Cristina Fernandes).
O familismo se espraia pelos estados, onde o repórter Pedro Marcondes de Moura identificou 24 candidatos a governador oriundos de clãs com tradição na política local.
Há casos como o da Paraíba, com 93% da bancada parlamentar federal produzidos em meia dúzia de famílias, lembra Lauren Schoenster. No Rio Grande do Norte, onde 91% dos parlamentares também são herdeiros, há um candidato a governador, Henrique Eduardo Alves (PMDB), atual presidente da Câmara dos Deputados, cuja parentela inclui um ex-governador, um senador, o prefeito da capital, Natal, e o ministro da Previdência Social.
No Acre, a família Viana se reveza há 16 anos e tenta completar duas décadas no poder, com a reeleição do atual governador. Esse clã cresceu com o PT, desde a época em que o partido gritava nas ruas contra as oligarquias. A sedução do poder muda prioridades. O familismo pode e deve ser exaltado “com muito orgulho”, ensinou Lula a Hélder, filho do seu aliado Jader Barbalho, dias atrás, ao lançá-lo candidato a governador do Pará.
Dilma Rousseff ficou “indignada” com a espionagem de que brasileiros como ela foram vítimas recentemente. Aceitou o pedido de desculpas de Obama e fez as pazes com Washington. Agora, diz-se “indignada” com a violação dos direitos civis de jornalistas na guerrilha cibernética executada a partir do palácio que governa. Ao menos por elegância, Dilma deve um pedido de desculpas às vítimas do seu governo.
O predomínio é claro: um de cada dois parlamentares federais eleitos em 2010 tem pais, filhos, irmãos, avôs, tios, primos, sobrinhos, cônjuges, genros, noras ou cunhados em cargos eletivos do Executivo ou dos Legislativos federal, estaduais e municipais.
Na prática, significa que o controle do Estado brasileiro depende do voto majoritário de um “clube” composto por pouco mais de duas centenas de famílias.
Uma das características desse condomínio é a perpetuação no poder. Exemplo: dos deputados federais eleitos há quatro anos, quando estavam com menos de 30 anos de idade, nada menos que 79% eram herdeiros (filhos ou netos) de clãs políticos regionais — quase todos estão nas ruas à caça de votos para a eleição de outubro.
“Entra e sai governo, os oligarcas e seus filhos, netos, cônjuges, irmãos e sobrinhos seguem dando as cartas", constata Lauren Schoenster, pesquisadora da Transparência, que acaba de mapear o poder dos clãs regionais. Um dos efeitos da perpetuação, ela acha, é a formação de uma base parlamentar avessa a mudanças significativas no país.
Sangue é capital político relevante nas urnas. Isso não é produto típico nacional — como demonstraram os Kennedy e seguem mostrando os Bush nos Estados Unidos. Mas o caso brasileiro ganha relevo pela dimensão alcançada na atual temporada eleitoral.
Há dois herdeiros entre os três mais destacados candidatos à Presidência. Aécio Neves (PSDB), com 54 anos, e Eduardo Campos (PSB), com 49, desde o berço aprenderam a cultivar a ambição pelo poder (para conhecê-los, assim como a sua adversária Dilma Rousseff, há um ótimo livro na rede, “Os candidatos", de Maria Cristina Fernandes).
O familismo se espraia pelos estados, onde o repórter Pedro Marcondes de Moura identificou 24 candidatos a governador oriundos de clãs com tradição na política local.
Há casos como o da Paraíba, com 93% da bancada parlamentar federal produzidos em meia dúzia de famílias, lembra Lauren Schoenster. No Rio Grande do Norte, onde 91% dos parlamentares também são herdeiros, há um candidato a governador, Henrique Eduardo Alves (PMDB), atual presidente da Câmara dos Deputados, cuja parentela inclui um ex-governador, um senador, o prefeito da capital, Natal, e o ministro da Previdência Social.
No Acre, a família Viana se reveza há 16 anos e tenta completar duas décadas no poder, com a reeleição do atual governador. Esse clã cresceu com o PT, desde a época em que o partido gritava nas ruas contra as oligarquias. A sedução do poder muda prioridades. O familismo pode e deve ser exaltado “com muito orgulho”, ensinou Lula a Hélder, filho do seu aliado Jader Barbalho, dias atrás, ao lançá-lo candidato a governador do Pará.
Dilma Rousseff ficou “indignada” com a espionagem de que brasileiros como ela foram vítimas recentemente. Aceitou o pedido de desculpas de Obama e fez as pazes com Washington. Agora, diz-se “indignada” com a violação dos direitos civis de jornalistas na guerrilha cibernética executada a partir do palácio que governa. Ao menos por elegância, Dilma deve um pedido de desculpas às vítimas do seu governo.
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