terça-feira, 12 de agosto de 2014

Educacao: gastos no Brasil e na Coreia - Roberto Ellery

Creio que não é preciso acrescentar nenhum comentário, basta ler esta nota de Roberto Ellery sobre gastos com educação. O Brasil, além de gastar muito, gasta mal, e gasta de forma totalmente ineficiente. O dinheiro, aliás, está indo para as mãos erradas, ou os bolsos errados.
Paulo Roberto de Almeida

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Lições da Coreia para Educação: "Mais Dinheiro" ou "Melhor Gestão"?

Blog do Roberto Ellery, 11/08/2014

Sei que hoje em dia comparar o Brasil com qualquer país virou crime de lesa pátria, a ideologia oficial determinou que o Brasil é um país único e que não pode ser comparado com nenhum outro. Porém em um passado recente não era assim, podíamos comparar o Brasil com outros países sem que isto causasse comoção. Não que o Brasil fosse considerado igual a outros países, mas entendia-se que a comparação era um exercício útil para ter uma medida relativa dos efeitos de nossas políticas. Naquela época era comum comparar o desempenho de longo prazo do Brasil com o da Coreia do Sul.
No início da década de 1950 a Coreia tinha uma renda per capita próxima à do Brasil. É claro que a Guerra da Coreia (1950 – 1953) tem um efeito nesta estatística, mas a proximidade entre a renda per capita dos dois países permaneceu até bem depois do final da guerra. De acordo com os dados da Penn World Table (PWT) a renda per capita da Coreia era 80% da brasileira em 1953, ano que terminou a guerra, em 1977 ainda estava no mesmo patamar. Entre 1953 e 1980 o maior valor da renda per capita da Coreia em relação ao Brasil foi de 87% em 1979 e o menor foi de 61% em 1962. No começo da década de 1980 a renda per capita da Coréia do Sul ultrapassou a do Brasil, em 1983 era 12% maior, a partir daí começou a crescer em relação a nossa, em 2011 o coreano médio tinha uma renda mais de três vezes maior que a do brasileiro médio. Os números mudam a depender da medida de renda per capita, mas a história é sempre a mesma. A partir da década de 1980 a Coréia do Sul ultrapassa o Brasil e segue uma trajetória de crescimento enquanto nós ficamos quase estagnados. A figura abaixo ilustra esta história.

Um motivo frequentemente apontado para explicar a diferença nas trajetórias de Brasil e Coreia do Sul é o desempenho da educação. A tese é que os coreanos investiram em educação e o Brasil não. Aceitando a tese temos na Coreia um exemplo de como a educação pode colocar um país em uma trajetória de crescimento sustentado. Não tardou para que alguns economistas comparassem o gasto com educação no Brasil e na Coreia, de acordo com os dados da ONU o setor público brasileiro em 2008 gastou 5,53% do PIB em educação enquanto na Coreia o setor público gastou 4,76% do PIB, o padrão não é diferente de outros anos. De posse destes números vários analistas alertaram que aumentar o gasto com educação não é receita certa para resolver o problema da educação brasileira. Os defensores do aumento dos gastos responderam que não é certo comparar o gasto como proporção do PIB, como a renda da Coreia é maior que a brasileira se os dois países gastam o mesmo percentual do PIB com educação então o gasto absoluto da Coreia é maior. Com os números da PWT o governo da Coreia gasta, em média, U$ 1.295 em educação por pessoa enquanto o governo brasileiro gasta, em média, U$ 460 por pessoa.
O argumento procede, uma pessoa muito rica pode gastar menos de 1% da própria renda para manter o filho na melhor escola da cidade, um sujeito com uma renda mais modesta pode gastar 10% de sua renda para manter seu filho em uma escola bem pior. No final o fato de um gastar menos de 1% da renda com educação dos filhos e o outro gastar 10% da renda com educação não significa que o que gastou mais está dando uma educação melhor e, mais importante, que aumentar o percentual da renda gasta com educação não melhore a educação do filho. Dessa forma, comparar percentual do PIB gasto em educação não ajuda muito quando a renda per capita dos países é muito diferente. Porém, como vimos, nem sempre a renda da Coreia foi tão maior que a do Brasil, pelo contrário, de 1953 a 1982 a renda da Coreia foi menor que a do Brasil. Mais interessante, se a disparada da Coreia em relação ao Brasil foi devida à educação então é o gasto do período em que os coreanos eram “pobres como nós” que deve ser observado, pois foi nesta época que a educação que proporcionou a disparada foi construída.
Pois bem, de acordo com os dados da ONU entre 1975 (primeiro ano da série que encontrei) e 1983 o governo da Coreia gastou, em média, 2,85% do PIB com educação, bem menos do que o Brasil gasta hoje. Com exceção de 1982 (6,65%) e 2009 (5,02%) o gasto do setor público com educação na Coreia ficou todos os anos abaixo de 5% do PIB. Infelizmente a base dados que usei não tinha os gastos com educação do Brasil na época que nossa renda era maior que a da Coreia, a série para o Brasil começa em 1989. Porém, se for considerado o período com dados em comum (tive de fazer algumas interpolações) o Brasil via de regra gastou mais que a Coreia em proporção ao PIB, a exceção é o período entre 2001 e 2005. Os dados estão na figura abaixo.

Existem duas limitações importantes nos dados que usei: (i) são considerados apenas gastos públicos em educação e (ii) não tenho os dados para o Brasil no período em que nossa renda per capita era maior que a da Coreia. Porém, mesmo com estas limitações, considero que é possível concluir que o problema da educação no Brasil não é falta de dinheiro. Já passou da trocar o mantra “mais dinheiro” por “melhor gestão”.
P.S. Considerar os gastos privados pode mudar a conclusão, mas daí a conclusão seria que não é o governo que deve gastar mais com educação...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.