quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Across the Empire, 2014 (14): Flanando em Vancouver


Across the Empire, 2014 (14): Flanando em Vancouver

Paulo Roberto de Almeida

            A palavra do título é um tremendo galicismo, mas ela se aplica à ocasião: Walter Benjamin, um autor que reencontrei na loja do museu de arte de Vancouver, que visitamos pela manhã, era um adepto das flanêries em Paris. O museu em si não é nenhuma maravilha de nenhuma arte: tem coisas modernas e contemporâneas, horríveis e não visitáveis (no terceiro andar), e coisas razoáveis e amplamente visitáveis, no segundo andar: arte regional canadense, inclusive uma “escola flamenga” em pleno Canadá. O artista mais importante é Emily Carr, presente com muitos quadros tanto de sua fase parisiense, quanto do retorno ao Canadá, cem anos atrás.
           
Mas a lojinha do museu era muito boa, e como sempre eu fui direto na seção de livros. Lá encontrei a nova (talvez definitiva) biografia (crítica) de Walter Benjamin por Howard Eiland e Michael W. Jennings, da qual já tinha ouvido falar por notas ou mini-resenhas nos jornais, mas sem prestar muita atenção pois ainda não saiu uma daquelas grandes, na NYRBooks ou outros pasquins literários. A biografia é, em si, impressionante, tanto pelo volume (mais de 700 páginas), como pelas fontes utilizadas, as mais variadas possíveis, primárias, secundárias, depoimentos, correspondência, etc.. Encontrei na bibliografia o título que primeiro me introduziu à obra de Benjamin, a correspondência de Gershom Sholem com ele, que li numa edição francesa, no começo dos anos 1980: Histoire d’une Amitié. Mesmo sendo um judeu engajado, e religioso, Scholem foi um dos melhores amigos, senão o melhor, de Benjamin, um judeu ateu, ou agnóstico, e totalmente imerso na alta cultura germânica, mas grande admirador da modernidade, que vinha em grande medida da França (pelo lado literário) e da Grã-Bretanha (pelo lado prático). Em sua época, primeira metade do século 20 (na verdade só até 1940, pois ele morreu na fronteira da França com a Espanha, em Port Bou, tentando escapar dos nazistas), a Alemanha já tinha ascendido à condição de primeira potência europeia, tanto no domínio das técnicas, como no das artes, onde os vanguardistas se destacavam justamente na modernidade artística e arquitetural (mas também na música, nos musicais, no teatro, enfim, em tudo).
            Benjamin teve de sair da Alemanha no momento da ascensão de Hitler ao poder, em 1933, e foi para a sua cidade preferida, Paris, ao passo que Gershom Scholem já tinha ido para a Palestina britânica, como bom sionista que era. No Brasil se conhece pouco da obra de Benjamin, basicamente o “panfleto” sobre a obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica (estou citando de cabeça, e posso me enganar no título), e seria recomendável que essa biografia fosse traduzida e publicada, pois ela apresenta o essencial, numa perspectiva crítica, como diz o subtítulo. Não comprei o livro, não tanto pelo seu volume, ou pelo seu preço (bastante modesto para um livro dessas dimensões e ilustrado, mas talvez porque seja de uma editora universitária), mas pelo fato de que ainda não terminei um outro grosso volume, a biografia de Albert Hirschman (outro alemão que fugiu do nazismo no mesmo momento da ascensão de Hitler) por Jeremy Adelman, que é também espetacular.
            Pela tarde, fomos ao Canadá Place, um imenso embarcadouro projetado sobre um canal do mar, com imensos painéis da história canadense. Carmen Lícia me fotografou em frente de um, sobre as guerras sustentadas pelos súditos de Sua Majestade no dominion da América do Norte, contra os vizinhos irriquietos do sul, sempre imperialistas, como diriam alguns mais ao sul. Ao largo da costa, heliporto e embarcadouro de hidroaviões de passeio por Vancouver, Vitória e imediações. Os navios vão passando ao largo, carregados de conteiners. Isso ao norte do West End, que é a ponta mais ocidental na qual estamos (sem contar a grande ilha Vancouver, mais a oeste), mas plenamente urbana, aliás em pleno centro da cidade.

            Depois fomos do outro lado, mar aberto, justamente na English Bay beach, onde fica nosso hotel. Passeio a pé, portanto, com direito a esculturas gigantes, gaivotas que parecem desprezar a presença humana, e uma foca do Pacífico nadando tranquilamente a 20 metros da praia. Desta vez não entrei no mar, pois estava muito frio, e de toda forma não teria entrado mesmo; ficamos ali contemplando o por-do-sol, e Carmen Lícia fez mais algumas de suas fotos profissionais.
            Amanhã, ou melhor, hoje, 11 de setembro (dia fatídico para dois países do continente), temos mais visitas: museu de antropologia, talvez o mercado da ilha de Granville, e o que sobrar... Vancouver é provavelmente uma das melhores cidades do Canadá, junto com Montreal, sem desprezar Toronto (onde também vamos voltar desta vez) e Ottawa, que é bonitinha, com seu parlamento estilo inglês, e seu museu cultural excepcional e espetacular.
            Mas é hora de ler mais notícias e dormir quando o sono cerrar os olhos.

Paulo Roberto de Almeida
Vancouver, 11 de setembro de 2014

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