Paulo Roberto de Almeida
A queda no preço do petróleo coloca algumas questões importantes para economia brasileira, afinal nossa maior empresa é uma petroleira. Por absurdo que pareça alguns viram a queda do preço do petróleo como algo positivo para Petrobras, o absurdo tem uma justificativa. Por conta da política econômica heterodoxa do governo a Petrobras perde dinheiro quando vende gasolina no Brasil, o combate à inflação via controle de preços forçou a empresa a vender com prejuízo. A queda no preço do petróleo e da gasolina no mercado internacional resolveu esta distorção, hoje a Petrobras não está mais tendo prejuízo quando vende.
Há motivo para comemorar? Eu não comemoraria tão rápido. Se a queda do preço for temporária de forma a permitir que a Petrobras reequilibre suas finanças sem correr o risco que a política econômica volte a obrigar que a empresa tenha prejuízos então a notícia pode ser boa. Pequenos ajustes nos preços de gasolina poderão tirar à Petrobras do sufoco sem assustar o governo de plantão. Por outro lado, se a queda for persistente, a Petrobras pode ter enormes prejuízos, só não digo que pode falir porque o governo não vai deixar, em breve eu explico a razão, falemos agora a respeito das perspectivas para o preço petróleo.
A figura abaixo mostra o preço do barril de petróleo desde 1970 (acima) e nos últimos doze meses (abaixo). Os preços estão em dólares e foram ajustados pela inflação americana (link para os dados aqui). Repare que apesar da queda significativa dos últimos meses o preço ainda está acima do que estava em 2006 e bem acima do que estava em 2001 no começo do boom das commodities. Na imprensa internacional fala-se que a queda nos preços pode ser persistente e que o barril de petróleo pode chegar a US$ 60,00 ou mesmo US$ 40,00 (ver aqui e aqui).
A demanda está comprometida pelo fim do ciclo de expansão pós-crise na Europa (alô atenção, fim do ciclo quer dizer que estava crescendo e vai parar de crescer logo não tem relação com o baixo crescimento brasileiro), pela volta do uso de energia nuclear no Japão, pela redução do consumo em vários países por conta de tecnologia e outros fatores (quanto mais quente menos aquecimento e menos consumo de petróleo) e pela oferta de bens substitutos como o gás xisto (shale gas) dos EUA. A crise do Oriente Médio não levou à redução na oferta como em outras oportunidades, pelo contrário, sofrendo ameaças internas e de organizações como o Estado Islâmico os governantes do Oriente Médio não estão dispostos a cotar a produção. Grandes produtores fora do Oriente Médio como a Venezuela também estão desesperados por recursos e não estão dispostos a cortar produção. Acrescente novas fontes de petróleo como o pré-sal brasileiro e o cenário para uma queda mais longa e mais persistente do preço de petróleo está armado. Eu falei pré-sal? Falei, aí está o problema.
O petróleo do pré-sal é um petróleo caro, muito caro. Buscar petróleo no fundo do mar envolve estruturas, pessoal especializado, tecnologia e riscos que não incidem na produção em terra. Estima-se que com o barril abaixo de US$ 85 buscar petróleo em águas profundas no Golfo de México deixa de ser lucrativo (link aqui). Há mas eu li em algum lugar que com o preço do barril acima de R$ 60 o pré-sal é viável, alguém pode dizer. A refinaria de Abreu Lima foi projetada para custar US$ 2,5 bilhões, quando a obra começou em 2009 a Petrobras já esperava investir US$ 13,4 bilhões, até o momento já investiu mais de U$ 18 bilhões (link aqui) e a refinaria ainda não está completa. Se erram tanto em algo relativamente simples como uma refinaria o que esperar de algo complexo e arriscado como o pré-sal? Pelo que já li e conversei por aí com o barril abaixo de US$ 100 o pré-sal não é viável, o número parece ser consistente com os US$ 85 para viabilizar o Golfo do México que é mais simples que nosso pré-sal. Se adicionarmos a margem de erro tradicional das empreitadas públicas brasileiras (vide Copa) é capaz do valor limite ficar acima de US$ 150. Chutei para cima, reconheço, mas não estamos nem perto disso, o barril está abaixo de US$ 85 e sem perspectivas de chegar a US$ 100 em um futuro próximo.
Perceberam? Nos últimos anos a Petrobras investiu pesado em tecnologia, qualificação de pessoal e equipamentos para investir em uma área que pode ficar economicamente inviável pelos próximos anos, a depender do progresso tecnológico e de outras fontes de energia podem ser muitos anos. Para uma empresa com dificuldades de financiar investimento como a Petrobras é hoje um investimento alto e sem retorno a médio prazo pode ser fatal. Pior, não apenas a Petrobras apostou alto no pré-sal, o Brasil também apostou. Marina tentou colocar a questão para debate, mas a máquina do governo não permitiu e a acusou de ser contra o pré-sal. Como sabem os que me acompanham eu não votei em Marina, mas acredito que ela estava certa ao questionar o pré-sal. Como brasileiro torço para que ocorra uma reversão no preço do petróleo e o pré-sal e não fique como um gigantesco elefante branco submarino, como economista que trabalha com macroeconomia e crescimento mas vez por outra gosta de olhar para questões setoriais, particularmente na questão energética, temo que tenhamos posto muito dinheiro em uma aposta por demais arriscada.
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