sábado, 12 de março de 2016

Banco de "desenvolvimento" do BRICS: um grande negocio para a China - James T. Areddy (WSJ)

Uau! Um banco MULTILATERAL que depende de UM SÓ país? Nem os EUA, nos tempos gloriosos e exorbitantes do dólar-rei dispuseram de tamanho poder exclusivo nas instituições de Bretton Woods, FMI e Banco Mundial, pois sempre tiveram de dividir as responsabilidades pelas decisões com seus principais parceiros (notadamente os europeus e japoneses). Agora, os quatro outros membros do BRICS dependem da China, e só da China, para todas as operações que desejarem empreender, seja financiamento de infraestrutura em países em desenvolvimento (para maior benefício de construtoras chinesas, com a legitimidade de um selo "multilateral"), seja para emissão de seus próprios títulos a partir do NDB. Que o governo companheiro tenha concordado em colocar algumas centenas de milhões de dólares nesse empreendimento, a pretexto de "alavancar" suas próprias iniciativas nas duas vertentes (ou seja, retirar mais do que colocaram), não impede que toda a iniciativa é uma grande vitória para a China, e o Brasil dos companheiros, mais uma vez, coloca a azeitona na empada dos outros.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 12 de março de 2016

Novo banco do Brics depende do mercado chinês

Homem passa diante de propaganda promovendo o yuan. A China é essencial para as tentativas dos mercados emergentes de criar novas estratégias financeiras globais. 
Homem passa diante de propaganda promovendo o yuan. A China é essencial para as tentativas dos mercados emergentes de criar novas estratégias financeiras globais. Photo: Reuters
Quando os líderes de cinco das economias de crescimento mais rápido do mundo se reuniram numa conferência, há quatro anos, concluíram que um banco de desenvolvimento daria a eles mais voz nas questões financeiras internacionais. Agora, muitas dessas economias estão em apuros, e os planos imediatos do banco dependem da China.
O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), a instituição recém-criada pelos países que formam o grupo chamado Brics — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — está esperando a aprovação de reguladores chineses para emitir cerca de US$ 1 bilhão de títulos de longo prazo em yuan, disse ontem o presidente do banco, K.V. Kamath, ao The Wall Street Journal.
A decisão chinesa ajudará a determinar quando o banco poderá começar a emprestar. O conselho da instituição vai começar a analisar propostas a partir de abril.
Um projeto possível é uma usina hidrelétrica no oeste da Rússia, parte dos planos do banco de se concentrar em projetos de energia renovável.
Ele pretende emprestar para a África do Sul em rand, a moeda local, para limitar a exposição do país a possíveis oscilações do dólar. Dirigentes do banco dizem que os desembolsos podem chegar a US$ 2 bilhões neste ano e mais do que triplicar em 2017.
O mercado chinês de títulos de dívida é maior que os dos demais países e, teoricamente, mais favorável ao banco porque ele já obteve uma nota de crédito AAA no país, o que reduziria o custo de suas captações.
Mas os empréstimos no mercado de dívida interbancária do país são altamente regulados.
“Certamente, captar recursos na China é uma oportunidade”, diz Kamath. “Esperamos, nas próximas seis a oito semanas, conseguir realizar nossa primeira emissão de títulos na China.” Ele acrescentou que nenhum outro mercado de dívida parece viável no momento.
ENLARGE
O Novo Banco de Desenvolvimento, que vai funcionar como um mini-Banco Mundial para os países do Brics, ilustra os esforços dos países emergentes, principalmente a China, para conceber novas instituições financeiras internacionais que atendam a seus interesses. O banco nasceu numa conferência realizada na Índia em 2012.
Num comunicado, os líderes do Brics expressaram frustração com sua limitada “voz e representação” nos fóruns globais, dado o tamanho de suas economias, que na época cresciam a uma média de mais de 5% ao ano.
Desde então, a queda dos preços das commodities levou o Brasil e a Rússia à recessão e enfraqueceu a África do Sul, enquanto a China atravessa uma desaceleração dolorosa. Do grupo, apenas a Índia deve registrar um crescimento mais rápido neste ano do que quando o banco foi concebido.
O FMI prevê um crescimento médio de 2% neste ano para os países do Brics.
O NBD deve começar a operar em um momento delicado. O rebaixamento da dívida soberana de alguns de seus países-membros, inclusive o Brasil, pode elevar o custo dos empréstimos para o banco nos mercados internacionais. E a desaceleração do crescimento torna ainda mais arriscados os projetos de infraestrutura de baixo retorno que os bancos de desenvolvimento costumam financiar.
Kamath disse que as economias permanecem dinâmicas e ainda precisam de financiamento para se desenvolver. “Elas podem estar desacelerando, mas, juntas, contribuem mais para o crescimento que o resto do sistema”, disse ele.
A China é essencial para as tentativas dos mercados emergentes de criar novas estratégias financeiras globais. O país também é patrocinador de outro banco de desenvolvimento recém-lançado: o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.