O lulopetismo diplomático: um experimento exótico no
Itamaraty
Paulo Roberto de Almeida
[Comentários
sobre a degradação da diplomacia brasileira pelo lulopetismo.]
Meus comentários adicionais
à “teoria geral do lulopetismo” (ver neste link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/09/teoria-geral-do-lulopetismo-treze-teses.html),
desta vez adstritos ao terreno da política externa e da diplomacia.
1) O lulopetismo diplomático não estava formado ainda,
quando o partido totalitário assaltou o Estado central. Ele se limitava a um
conjunto fragmentado de proposições parciais, geralmente equivocadas, sobre a
política internacional e sobre o papel do Brasil no mundo, baseadas em
concepções totalmente anacrônicas, derivadas das obsessões e preconceitos típicos
dos partidos esquerdistas da América Latina, mas com a peculiaridade de que os
apparatchiks que os exibiam mantinham “relações carnais”, de fidelidade e
identidade de propósitos, com seus mestres cubanos.
2) O lulopetismo diplomático foi sendo formulado gradualmente,
a partir de um comando político exótico à diplomacia profissional, e pode
contar com o auxílio e a colaboração prática de “técnicos” voluntários e de
profissionais escolados, integralmente devotados à causa e comprometidos com os
objetivos gerais do lulopetismo no plano interno, doravante voltados para o
grande mundo da política mundial. Foram esses técnicos e profissionais que
completaram a formação rudimentar dos líderes petistas em política
internacional e lhes forneceram todos os meios para enfim expressar no cenário
externo todas as suas más concepções e preconceitos anacrônicos, dando-lhes uma
linguagem e um formato adequados à projeção internacional do Brasil,
transformada em novo cenário para a expansão do lulopetismo dessa vez em âmbito
mundial.
3) O lulopetismo diplomático passou a servir, com
total subserviência, ao mesmo ego gigantesco da mesma personalidade
megalomaníaca já transformada em carisma nacional: todos os profissionais foram
gentilmente convidados a “vestir a camisa” do governo lulopetista – isto é, do
partido totalitário –, para a maior glória daquele que passou a ser denominado
de Nosso Guia. Durante todo o seu reinado, tudo foi feito para contemplar suas
obsessões e desejos, até o limite dos meios disponíveis.
4) O lulopetismo diplomático passou a ser exercido com
relativa proficiência graças ao bom funcionamento do aparelho estatal colocado
a seu serviço, máquina operada por profissionais competentes, vários
convencidos dos bons propósitos da causa, e até entusiastas por se engajar,
enfim, na expressão externa de uma política enfim correspondendo ao Brasil
real, já que a antiga diplomacia teria padecido de um indesejado viés elitista
e conservador. O lulopetismo diplomático começou então a ser exibido como a nova
representação de um Brasil finalmente comprometido com a transformação das
relações iníquas e injustas que sempre prevaleceram na sociedade
brasileira e, de forma geral, no mundo, o que permitia oferecer um bônus extra
de legitimidade política, já que supostamente identificado com as “boas causas”.
5) O lulopetismo diplomático foi exercido
principalmente pelos profissionais da área, mas estreitamente vigiado,
controlado e guiado pelos apparatchiks do partido, mas devidamente orientados,
todos eles, pelo Nosso Guia, cuja palavra era lei, para o bem e para o mal, nas
grandes definições e iniciativas então tomadas nessa projeção internacional do
demiurgo da causa. Todos os padrões tradicionais da instituição se dobraram ao
novo gênio da política internacional, que se permitia até zombar dos
profissionais, desprezar seus subsídios mais ou menos eruditos e talhados no
formato aceitável ao ambiente externo, e que foram devidamente substituídos
pelas mesmas arengas de sindicalista empírico, toleradas e até saudadas como
sendo à imagem e semelhança do Brasil profundo, popular e popularesco como
deveria ser.
6) O lulopetismo diplomático alcançou todos os
terrenos da diplomacia profissional, com ênfase nas questões regionais e do
mundo em desenvolvimento em geral, este eleito como o terreno de ação
privilegiada da nova doutrina, pois que supostamente em contradição política
com os antigos poderes “hegemônicos”, e consequentemente aliados na grande
causa mudancista em escala mundial. Todas as consultas bilaterais passaram a ser
guiadas por novas “alianças estratégicas”, invariavelmente escolhidas, até
preventivamente, entre parceiros supostamente engajados nas mesmas causas.
7) O lulopetismo diplomático definiu quais seriam as
novas linhas de atuação, de forma independente das bases econômicas e materiais
das relações internacionais do Brasil, doravante concentradas numa suposta
identidade de interesses que partia das mesmas concepções políticas equivocadas
que guiavam o partido em sua Weltanschauung.
8) O lulopetismo diplomático passou então a se exercer
em toda a sua plenitude, primeiro para exaltar o Nosso Guia, que tinha especial
prazer em reforçar sua diplomacia personalista e megalomaníaca, já visando
atingir os pináculos da glória nos palcos internacionais, sobretudo nas esferas
regional e africana, nas quais brilhou como nunca, na base de mistificações
políticas (“sem tutela do império) e históricas (a tal de “dívida brasileira”
derivada do tráfico escravo). Os profissionais da área lhe forneceram os meios
e os modos de expulsar o império do âmbito regional, criando e recriando
organismos que fossem exclusivamente sul-americanos ou latinos, o que
correspondia inteiramente às diretrizes emanadas dos dirigentes castristas em
direção de seus serviçais no partido totalitário. A ação externa se exerceu
obviamente além desses interesses vinculados, mas nenhuma das iniciativas e atuações
contradisse ou deixou de servir aos ditos interesses vinculados aos verdadeiros
patrões espirituais do lulopetismo, doméstico e diplomático.
9) O lulopetismo diplomático foi grandioso na sua
mediocridade operacional, sabendo falar grosso com os poderosos e fino com os supostos
oprimidos, segundo a imagem consagrada. De forma geral, consoante o espírito e
a prática do partido totalitário, o lulopetismo diplomático esteve
invariavelmente do lado das, e no apoio às, piores tiranias e ditaduras do
continente e alhures, desde que tais regimes servissem à causa anti-hegemônica
pré-determinada e aos objetivos de “mudança nas relações de força” nos planos regional
e mundial, sem esquecer a bizarra edificação de uma “nova geografia do comércio
internacional”, unicamente defendida pelos companheiros.
10) O lulopetismo diplomático, justamente, substituiu a
definição sensata da política comercial em função dos interesses exclusivos do
setor privado – que é quem, finalmente, exporta e importa, e cria empregos e
riqueza segundo seus critérios basicamente microeconômicos – para grandiosos
planos de redefinição completa dos fluxos de comércio segundo parâmetros ideológicos,
começando pelo unilateralismo da diplomacia Sul-Sul para se estender a uma
completa estupidez proposta pelo Nosso Guia, consistindo na “substituição de
importações” brasileiras em favor desses parceiros do Sul, sobretudo os
regionais, mesmo que – e isto está documentado – os produtos ofertados fossem
mais caros do que alternativas “hegemônicas”, uma vez que se tratava de “ajudar
países mais pobres do que o Brasil”.
11) O lulopetismo diplomático consistiu, basicamente,
numa política externa exótica, feita de um enorme engajamento em ambiciosas
iniciativas, em grande medida fora da agenda diplomática tradicional do
Itamaraty, por certo permitindo uma enorme projeção externa do Brasil
(sobretudo em benefício do seu propulsionador original), mas que tampouco
redundaram em ganhos permanentes para o país. A projeção externa também se deu por
meio de uma exagerada expansão da representação oficial no plano bilateral –
com custos cumulativos pesando permanentemente sobre um orçamento não muito
elástico, além de sujeito às flutuações do câmbio – e de criação de novos
organismos e foros politicamente alinhados com as preferências dos companheiros,
de duvidosa utilidade do ponto de vista dos interesses nacionais. O Mercosul,
por exemplo, deixou de ser um espaço de integração econômica e de liberalização
comercial, para se converter num palanque político, com retrocesso real em relação
a seus objetivos originais.
12) O lulopetismo diplomático se exerceu, sobretudo,
segundo orientações claramente partidárias, quando não sectárias, uma vez que
diversas iniciativas adotadas ou todos os apoios concedidos – aos bolivarianos
da América Latina, por exemplo – seguiram as preferências ideológicas dos
companheiros no poder, não uma análise isenta, de caráter técnico, feita pelos
profissionais da área. O fato de haver uma diplomacia paralela, de nítido corte
partidário, favorecendo regimes ditos de esquerda na região, foi expressamente
reconhecido pelo próprio demiurgo, como sendo um complemento útil às relações
de Estado a Estado. Daí decorreram graves infrações a dispositivos
constitucionais rigorosamente observados pelo Itamaraty ao longo de toda a
história diplomática brasileira – como o da não ingerência do Brasil em
assuntos internos de outros países, com a recorrente interferência do Nosso
Guia nos processos eleitorais em curso em países vizinhos – bem como outro
aspecto sumamente preocupante para a reconstituição dos processos decisórios
que envolveram questões delicadas da ação diplomática brasileira, que é a
ausência de documentação sobre os temas tratados em diversos entendimentos
bilaterais (justamente em tratativas com os aliados políticos preferencias, ou
a propósito de negócios obscuros tratados de forma clandestina pelos
companheiros envolvidos, inclusive alguns profissionais da cúpula).
13) O lulopetismo diplomático deixou atrás de si uma
terra arrasada nas relações internacionais do Brasil, afetando a credibilidade
externa do país e também a de sua diplomacia, e isso até mesmo no momento e
depois de sua derrota política interna, já que se expressando ainda por um sem
número de canais para enfatizar o “golpe” de que tinha sido objeto, e poder
assim firmar a sua versão mentirosa da história tanto no plano interno quanto
no externo. Como a grande fraude lulopetista conta ainda com número razoável de
aliados internos e externos, os inefáveis true believers nos bons propósitos da
causa, os ingênuos políticos e os subintelequituais acadêmicos, o lulopetismo
diplomático vai sobreviver por certo tempo, uma vez que, mais do que fatos,
ideias e concepções podem ser imorredouras quando internalizadas solidamente em
mentes enviesadas.
Paulo Roberto de Almeida
Porto Alegre, 4 de setembro de 2016
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