terça-feira, 21 de agosto de 2018

Sergio Vieira de Mello: um heroi brasileiro


Quinze anos sem Sérgio Vieira de Mello, alto comissário da ONU

Viera foi morto num ataque terrorista em Bagdá em 2003



postado em 19/08/2018 08:00

(foto: AFP PHOTO / YASUYOSHI CHIBA)
(foto: AFP PHOTO / YASUYOSHI CHIBA)

Uma das figuras brasileiras de maior destaque no mundo, Sérgio Vieira de Mello, alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, teve o destino selado num ataque terrorista em Bagdá (Iraque), em 19 de agosto de 2003. A organização extremista Al-Qaeda assumiu a autoria do atentado a bomba contra a sede local da ONU, que matou mais 20 pessoas. O grupo afirmou que o carioca era o alvo principal.

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O auge da carreira de Mello ocorreu na independência do Timor-Leste. Ele chegou dias depois do referendo de 1999, com o país destruído. Por lá ficou dois anos e meio. No livro Sérgio Vieira de Mello — o legado de um herói brasileiro, de Wagner Sarmento, José Ramos-Horta, Prêmio Nobel da Paz de 1999 por causa da luta para a independência, descreveu no prefácio: “Tendo ouvido falar de Sérgio e conhecendo sua fama, eu em parte julgo ter influenciado Kofi Annan a nomeá-lo como administrador de transição da ONU no Timor-Leste”. 

Ex-presidente do país asiático, Ramos-Horta justificou a declaração. "Bem, eu não disse a Kofi Annan:  'Você tem de nomear Sérgio'. Seria falta de delicadeza da minha parte. Não se diz isso a um secretário-geral da ONU. Mas falei: 'O timorense é um povo traumatizado por conflitos, sofrimento e violência. Nós precisamos de um representante especial que não seja um mero burocrata sem coração. Há burocratas supercompetentes, mas que só sabem lidar com números, administração, computadores. Falta-lhes, porém, verdadeiramente o tato humano. Nós precisamos de alguém que fale português e que tenha um coração'. E então, dito tudo isso, Kofi Annan sabia quem tinha de escolher. Sérgio era quem preenchia o desenho humano que eu fiz da pessoa ideal para Timor-Leste.”

No texto, Ramos-Horta disse ainda que “Sérgio era uma pessoa acadêmica e intelectualmente muito qualificada, com doutorado pela Sorbonne (tradicional universidade francesa), vindo de família de diplomata". Ele também fez elogios ao tipo físico do brasileiro. "Era uma figura que passava perfeitamente como ator de Hollywood, bonito, elegante. Dominava completamente os dossiês de cada problema e cada conflito ao qual era nomeado ou designado para gerir.” 

O livro será lançado na quarta-feira, às 16h, no Instituto Rio Branco, conforme informou o embaixador Paulo Roberto de Almeida, diretor do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IPRI) do Ministério das Relações Exteriores (MRE).

De acordo com Almeida, a imprensa nacional e internacional erra ao identificar Mello como um "diplomata brasileiro", quando ele, na verdade, era apenas brasileiro e “estava” diplomata pela natureza das funções desempenhadas. “Eu o conheci em Genebra, no fim dos anos 1980. Minha esposa, Carmen Licia Palazzo, chegou a dar aulas de português e de cultura brasileira a dois filhos dele, franceses, mas que ele pretendia 'transformar' em brasileiros ou, pelo menos, mais conhecedores da língua e das coisas do Brasil”, destacou. Ele contou que Mello gostava do Brasil, embora fosse magoado com a grande injustiça cometida pelo Itamaraty ao cassar o pai dele.

Situações difíceis

“Ele poderia ter se tornado um ‘diplomata brasileiro’, se o golpe sofrido pelo pai, em 1969, não tivesse alimentado nele (Mello) uma certa reação contrária ao Brasil e ao seu serviço exterior. E também teria tido, como já demonstrava, novo papel de destaque, se não tivesse sido sacrificado depois do caos que os Estados Unidos criaram no Iraque. Sérgio, com certeza, teria conduzido o Iraque para um destino mais feliz”, lamentou.

O também diplomata e especialista em políticas internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Henrique Cardim conviveu com Mello, no fim dos anos 1990, quando era diretor do Centro de Estudos da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE). “Ele trabalhou sempre em situações muito difíceis. Em Ruanda e Kosovo, me disse que o que mais o chocou foi a violação dos direitos humanos. Mas o que mais me chamou a atenção foi a observação dele sobre a importância do Estado e a ausência do Pacto Robbesiano (sem o Estado, a vida do homem seria solitária, pobre, sórdida, brutal e breve)”, afirmou. “Ele detectou o problema de fundo na Ásia, na Africa e no Oriente Médio. Sérgio faz falta, porque era uma pessoa extremamente valiosa e de coragem.”

A vida de Mello, que passou 34 dos 55 anos trabalhando para a ONU, será retratada em filme. Ele será representado pelo ator Wagner Moura.

Entre cursos e missões

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Mello foi o primeiro brasileiro a chegar ao alto escalão da organização. Como negociador, atuou nos principais conflitos mundiais em Bangladesh, Camboja, Líbano, Bósnia e Herzegovina, Kosovo, Ruanda e Timor-Leste. Em 1970, terminou o mestrado em filosofia na Universidade de Paris e entrou para o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). No ano seguinte, foi enviado para Dhaka, em Bangladesh. O diplomata foi para o Peru com a mulher em 1978. Lá, nasceu o primeiro filho do casal. Em 1980, assumiu a divisão de pessoal da Acnur, em Genebra, onde nasceu Adrien, o segundo filho.

O Camboja foi o destino dele em 1991.Em 1998, Mello se mudou para Nova York. Em 12 de setembro de 2002, foi nomeado por Kofi Annan para o cargo de Alto Comissário de Direitos Humanos. Em maio de 2003, assumiu a função de representante especial do secretário-geral no Iraque, país onde sua trajetória foi brutalmente encerrada. 

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