Não confundir com as minhas “Previsões Imprevidentes”, que são uma especialidade minha há quase 20 anos (vejam sob esses conceitos em meu blog Diplomatizando).
Estas são apenas “imprevisíveis”, mas na verdade todas elas muito previsíveis, e até esperadas
Paulo Roberto de Almeida
O texto é do Eduardo Affonso
"Há mais de uma década, meu alter ego, o Pai Dudu, vem tendo êxito com suas previsões de ano novo. Elas consistem em sutis variações em torno dos mesmos temas, com margem de erro desprezível. Porque o que muda é o ano, não o mundo, o Brasil ou o ser humano.
Haverá um escândalo na família real britânica. Vazarão nudes de uma subcelebridade. Alguém famoso morrerá de overdose. Um político será flagrado com a boca na botija. A Justiça soltará um político flagrado com a boca na botija. Uma chuva atípica inundará o Rio de Janeiro. O prefeito do Rio de Janeiro combaterá os efeitos da chuva atípica aumentando os gastos com publicidade.
Teremos protestos na França, greves na Itália, terremotos no Japão, crise humanitária na África, furacões e denúncias de assédio nos Estados Unidos. Ivete Sangalo fará uma propaganda. Gerson Camarotti começará um comentário dizendo “Você tem aí...”. Luana Piovani criará um caso. Contraventores circularão livremente pelo Sambódromo. Um casal famoso, que vive expondo sua privacidade na mídia, vai se separar e exigir que a mídia respeite sua privacidade.
Para 2020, Pai Dudu vislumbra em sua bola de policarbonato que o presidente dará uma declaração desastrada e romperá com um (já então ex) aliado. Isso uma vez por semana. Alguém da família presidencial afirmará estar sofrendo perseguição por parte da PM, do MP, da PF, da FSP, do PSL ou de qualquer outra combinação alfabética. Presidente e prole só não estarão gerando uma crise atrás da outra quando estiverem gerando crises simultâneas. O governo atacará a imprensa, que fará um editorial contra o governo, que retaliará a imprensa, que fará outro editorial — em loop.
Haverá troca de tiros em favelas, com a bala perdida saindo inevitavelmente da arma de um policial. O ministro da Educação cometerá erros de grafia, propriedade vocabular, acentuação, pontuação, colocação pronominal, concordâncias verbal e nominal, crase e regência. Até perder o cargo — mas não por esse motivo.
Os progressistas se perguntarão, atônitos, como conviver no carnaval com o tiozão que se veste de mulher (uma forma de perpetuar violências simbólicas contra o gênero feminino), com a tia do zap que se fantasia de melindrosa (eternizando paradigmas arcaicos de feminilidade) e até com a prima tatuada que bota perna de pau e sai num bloco descolado (ignorando o quanto isso possa ser ofensivo aos amputados).
Alguém da área cultural do governo denunciará a ideologização das festas juninas, que tentam solapar as bases da família cristã com o incentivo à troca de casais, implícito no “changez de dame”. A esquerda, por seu lado, verá nas quadrilhas uma crítica ao seu modo de fazer política, no “anarriê” um bordão integralista e na própria festa uma apropriação da cultura caipira.
A economia irá bem, porém abaixo do prometido pelos liberais — o que equivale a ir mal, porém acima da catástrofe sonhada pela esquerda. Líderes impopulares serão eleitos pelo voto popular. Forças conservadoras pedirão o boicote a uma nova novela (se esquecendo de que o controle remoto existe é pra isso mesmo), e a novela boicotada vai bombar. Ministros e máscaras cairão. Os preços e a pressão subirão. Os votos dos ministros do STF continuarão mastodônticos, supervacâneos, adiáforos e indeslindáveis.
Os militantes de esquerda terão dificuldade para conviver com a família na praia no feriadão da Semana Santa, na fazenda no feriadão de Tiradentes, na serra no feriadão de Corpus Christi, e no cemitério no feriadão de Finados. Empresariado fascista e militância finalmente estarão do mesmo lado, reclamando dos feriadões, que atrapalham a economia e envenenam os relacionamentos.
Gente que jamais criticou a corrupção terá olhos de lince para detectar qualquer desvio ético do governo. Gente que não se cansou de detectar desvios éticos dos últimos governos fará vista grossa para os novos casos de corrupção.
No Natal, o Porta dos Fundos fará um vídeo polêmico, possivelmente com Nossa Senhora lésbica, o Espírito Santo trans e Deus ateu. Haverá uma reação desproporcional, e o vídeo será um sucesso.
Com ajustes mínimos, já estão prontas as previsões imprevisíveis do Pai Dudu para 2021 e 2022. 2023 ainda está meio embaçado."
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