Quando Macri tentou administrar o desastre do kirchnerismo, ele não foi até o fim, o que implicaria fazer os argentinos sofrerem um pouco, para colocar a casa em ordem, Não teve coragem ou condições de fazêlo.
Se por acaso os liberais ganharem desta vez, tampouco conseguirão, a menos de uma cura realmente radical. Não sei se conseguirão...
Paulo Roberto de Almeida
O POPULISMO E A DERROCADA ARGENTINA!
Helio Beltrão, presidente do instituto Mises Brasil
Folha de S.Paulo, 19/08/2022
É assustador como a paixão pelo populismo —identificado em particular com o caudilho e general Perón e mais recentemente com o kirchnerismo— tenha arrasado o glorioso passado econômico da Argentina.
Cunhada por uma brilhante Constituição —promulgada em 1853 e inspirada por liberais—, poucas décadas depois despontou no século 20 como um dos países mais ricos do mundo. Hoje, um século mais tarde, o país tem 50% da população na pobreza e uma inflação que pode fechar o ano acima de 80%. O que ocorre e como afeta o Brasil?
O povo argentino nutre uma espécie de insanidade continuada, de idolatria a salvadores da pátria que empurrem soluções de cima para baixo. No laboratório de testes de políticas públicas, a Argentina figura como o maior fracasso mundial, com mais de cem anos de declínio.
Desde pelo menos os anos 1940, os políticos argentinos adotam políticas tóxicas ao empreendedor, à poupança, à propriedade privada, à moeda, e à ética do trabalho, o exato oposto ao que fizeram os países que mais prosperaram. O kirchnerismo dobrou a aposta.
O Brasil, rodeado por países governados pela esquerda carnívora, tem DNA parecido. Por longos períodos adotamos o intervencionismo e políticas de cunho socialista. Corremos o risco de tomar o mesmo caminho novamente, portanto é preciso entender o que ocorre nos pampas. Toda atenção é pouca ao "efeito Orloff": "Eu sou você amanhã".
O "hoje" da Argentina é tenebroso. O decadente governo de Alberto Fernández assinou um acordo de US$ 44 bilhões com o FMI. Apesar do selo do Fundo, o título soberano ("bond") em dólares, que vence em 2030, o AL30, está rendendo 50% ao ano ao investidor que encarar o risco. A taxa surrealista indica altíssima probabilidade de mais um calote (default), o nono de sua história.
A inflação está descontrolada: o banco central segue financiando o governo com dinheiro criado do nada. Ato contínuo, tenta enxugar a liquidez emitindo títulos seus (os Leliq) e lançando operações similares às compromissadas que conhecemos aqui. Mas a operação-enxuga é uma bomba-relógio, com pouca toalha e muita liquidez. O frágil represamento dessa enorme liquidez, de quase duas vezes o tamanho da base monetária, vaza continuamente com o pagamento de juros altíssimos, que aumenta a massa monetária e a inflação. O iPhone 13 Pro topo de linha já é encontrado por mais de 1.000.000 (1 milhão) de pesos, por exemplo, e um óleo de cozinha sai mais caro que a cédula mais alta, de 1.000 pesos.
Na política, a oposição já lidera nas pesquisas para presidente. O kirchnerismo ("Frente de Todos") despencou, pontuando abaixo da aliança JxC ("Juntos por el Cambio") de Macri, Larreta e do liberal López Murphy, e empatando com a novidade da terceira via, o "Avanza Libertad", dos libertários Javier Milei e José Luis Espert (que buscam agregar os conservadores em seu apoio).
Os argentinos estão fartos da mesmice da alternância entre o peronismo kirchnerista e o socialismo vegetariano da UCR e aliados (que fracassaram no governo Macri em mudar a agenda econômica e combater os privilégios).
Javier Milei, que lidera em algumas pesquisas, tem mérito ao demonstrar didaticamente, há tempos, que as políticas inflacionárias, de Estado grande, e antinegócios são prejudiciais aos pobres e à prosperidade.
As duas forças de oposição têm uma oportunidade única de se aliar nas próximas eleições e escantear o kirchnerismo de uma vez por todas. Será excelente para a Argentina, e para o Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.