Paulo Roberto de Almeida
Vidas Paralelas: Rubens Ricupero e Celso Lafer nas relações internacionais do Brasil
(Rio de Janeiro: Ateliê de Humanidades, 2025)
Sumário
PREFÁCIO – Fernando de Mello Barreto
A TÍTULO DE APRESENTAÇÃO: UMA NOTA PESSOAL SOBRE MINHAS AFINIDADES ELETIVAS
1. UMA HISTÓRIA INTELECTUAL: PARALELAS QUE SE CRUZAM
Por que uma história intelectual paralela?
Por que vidas paralelas numa história intelectual?
Quão “paralelos” são Rubens Ricupero e Celso Lafer?
A importância de Ricupero e de Lafer nas relações
internacionais do Brasil
O sentido ético de uma vida dedicada à construção do Brasil
2. RUBENS RICUPERO: UM PROJETO PARA O BRASIL NO MUNDO
Do Brás italiano para o Rio de Janeiro cosmopolita
Um começo desconcertante na vida diplomática
Uma carreira progressivamente ascendente, pela via amazônica
Afinidades eletivas com base no estudo do Brasil e no conhecimento do mundo
Professor de diplomatas e de universitários, no Instituto Rio Branco e na UnB
O assessor internacional e o Diário de Bordo da viagem de Tancredo Neves
O Brasil no sistema multilateral de comércio
O mais importante plano de estabilização da história econômica brasileira
UNCTAD: a batalha pela redução das desigualdades globais
Um pensador internacionalista, o George Kennan brasileiro
A figura incontornável de Rio Branco, o paradigma da ação diplomática
Brasil: um futuro pior que o passado?
O Brasil foi construído pela sua diplomacia? De certo modo, sim
Quais as grandes leituras de Rubens Ricupero?
3. CELSO LAFER: UM DOS PAIS FUNDADORES DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS NO BRASIL
A abertura de asas de um intelectual promissor
A tese de Cornell sobre o Plano de Metas de JK
Irredutível liberal: ensaios e desafios
As relações econômicas internacionais: reciprocidade de interesses
A trajetória de Celso Lafer nas relações internacionais do Brasil
Direitos humanos: a dimensão moral do trabalho intelectual
Um diálogo permanente com Hannah Arendt
Norberto Bobbio: afinidades eletivas com o sábio italiano
A aventura da revista Política Externa e seu papel no cenário editorial
A diplomacia na prática: a primeira experiência na chancelaria, 1992
A diplomacia na prática: a segunda experiência na chancelaria, 2001-2002
No templo dos imortais: “intelectual militante” e “observador participante”
O judaísmo laico de Lafer e a unidade espiritual do mundo de Zweig
Uma coletânea dos mais importantes artigos num amplo espectro intelectual
4. PARALELAS CONVERGENTES: CONSIDERAÇÕES FINAIS
Bildung pessoal nas relações internacionais do Brasil
A dupla dimensão das vidas paralelas
Dois “professores” e não só de política externa
A République des Lettres do Itamaraty e dois dos seus representantes
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Prefácio de Fernando de Mello Barreto
Prefaciar obra a respeito de Rubens Ricupero e Celso Lafer, dois ícones, não apenas da política externa brasileira, mas de muitas outras áreas do cenário nacional, constitui enorme honra e imensa responsabilidade. Tanto o autor, Paulo Roberto de Almeida, meu amigo e colega de concurso para o Instituto Rio Branco, como eu temos tido o privilégio de conviver há décadas com os dois protagonistas deste livro.
Imagino que para Paulo, como ocorre comigo, a admiração por ambos os biografados pode nos impedir de manter a necessária isenção em obra destinada ao público. Por outro lado, essa convivência com Ricupero e Lafer nos proporcionou, ao longo doa anos, postos de observação destacados onde pudemos vê-los atuar e exibir muitas das qualidades que ambos os biografados compartilham, entre as quais a sabedoria, a erudição, a capacidade analítica, o incansável labor intelectual, a simplicidade, a gentileza no trato e as abundantes qualidades humanas de cada um. Paulo as chamou de “afinidades eletivas”. Aliás, não esconde sua admiração pelos “traços do caráter de cada um” de seus biografados.
Cabe a mim, neste Prefácio, tarefa muito mais fácil do que a do autor pois ele se propôs a enfrentar o desafio de não apenas tratar de duas vidas paralelas, mas sobretudo o de analisar e comparar seus sofisticados pensamentos, influências recebidas bem como o impacto de cada um no pensamento brasileiro. Chamou seu trabalho de história intelectual que definiu como sendo “uma síntese tentativa do imenso volume de conhecimento que eles [Ricupero e Lafer] colocaram à disposição do público brasileiro”.
Paulo dedicou a obra aos “jovens que sonham com uma carreira na diplomacia, ou mesmo aos simples curiosos pelas nossas relações internacionais” nas últimas décadas. Ao mesmo tempo, referiu-se a este livro como uma “homenagem especial a duas nobres personalidades”.
Na apresentação, Paulo Roberto de Almeida nota o papel dos intelectuais no Itamaraty, tendo destacado José Guilherme Merquior, diplomata cujo brilho intelectual também marcou sua vida, precocemente interrompida. De minha parte, ocorre-me recordar que, desde o início de sua era moderna, no Renascimento, a diplomacia atraiu escritores, entre os quais, Petrarca, Maquiavel, Bocaccio, Ronsard, Chaucer e Dante Alighieri. Haverá algo no trato diário dos temas internacionais que terá levado autores ligados à diplomacia a observar, informar, analisar, propor e expor ideias e pensamentos? Possivelmente sim, pois, como observou Matingly, a diplomacia sempre atraiu “mentes a curiosas e atentas” (Renaissance Diplomacy, Cape, Londres: 1955), p. 39-40).
Com razão, Paulo afirma ser “assustador” o volume e a variedade da produção intelectual de cada um dos biografados. Reconhece terem partido de trajetórias pessoais distintas, mas nota que suas vidas se “cruzaram, se imbricaram e não mais se deligaram, nem se desfizeram”. Data esse encontro do início da década de 1990, quando ambos trabalhavam em Genebra. Devo dizer que testemunhei esse momento pois trabalhava com Lafer naquela cidade e, de vez em quando, presenciava também a atuação de Ricupero na chefia da UNCTAD. Recordo-me de relato que Lafer me fez de um encontro de ambos com um eminente rabino, ocasião em que trataram, entre outros temas, da literatura francesa contemporânea, numa clara demonstração da amplitude de interesses de ambos (e do visitante).
Paulo Roberto de Almeida transcreve, ainda na apresentação, escritos de Lafer e de Ricupero sobre as semelhanças entre ambos, resumidos por este último como politicamente próximos por serem ambos “liberais com consciência social”, além de admiradores de autores como Isaiah Berlin, Bobbio, Hannah Arendt e Raymond Aron. De sua parte, Lafer refere-se a “afinidades intelectuais” que se traduziriam em uma “muito compartilhada visão sobre a inserção internacional do Brasil”.
Não me cabe aqui senão expressar minha conclusão de ter Paulo Roberto de Almeida alcançado o objetivo de seu ambicioso projeto consistente em esmiuçar os pensamentos de Ricupero e de Lafer ao longo dos quatro capítulos de que se compõe o livro: o primeiro dedicado à análise aos paralelos das vidas intelectuais de cada um dos biografados; o segundo voltado exclusivamente à produção intelectual de Ricupero; o terceiro à de Lafer; e, por fim, o quarto, onde o biógrafo apresenta suas considerações finais sobre ambos os biografados, entre as quais aquelas à quais me referi acima no tocante aos traços de caráter de Ricupero e Lafer, nos quais se sobressai a “humildade e a bonomia” com que ambos tratam a todos.
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Lançamento em breve...

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