segunda-feira, 28 de julho de 2025

Relações Brasil-EUA sob o impacto do antiamericanismo de Lula e do PT - 👆Humberto Saccomandi (Valor)

Antiamericanismo de Lula e do PT prejudica o Brasil

Humberto Saccomandi

Valor Econômico, 28/07/2025


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um dos poucos líderes mundiais que vêm adotando uma abordagem de confronto em relação a Donald Trump. A maioria dos líderes vêm sendo mais cautelosos no trato com o presidente americano e buscam algum tipo de acomodação, por meio de concessões e bajulação. Não está claro se isso teve alguma influência na decisão de Trump de adotar o tarifaço contra o Brasil e nem se vem dificultando as negociações com Washington. Mas certamente não ajuda.


A Presidência de Trump marcou uma ruptura na relação dos EUA com o resto do mundo. O discurso diplomático foi substituído por uma prática transacional e, frequentemente, de confronto. Trump trata aliados e adversários do mesmo modo, com ameaças públicas, pressão econômica, humilhação retórica e imprevisibilidade como tática. Isso levantou a questão de como os demais governos devem reagir ao seu estilo de coerção e bullying político. O retrospecto mostra que desafiá-lo e manter a tensão alta não costuma ser a melhor opção.


Fora do grupo de países declaradamente inimigos dos EUA (como Venezuela e Irã), Lula tem se destacado por seus ataques frequentes ao presidente americano. Isso começou antes mesmo da eleição de Trump. O presidente brasileiro apoiou publicamente a candidata democrata, Kamala Harris, sugeriu que a vitória do republicano era uma ameaça à democracia americana e significaria a volta do fascismo com outra cara. Chegou a chamar Trump de “desumano”.

Após as eleições, o tom confrontador continuou. Em fevereiro, por exemplo, Lula afirmou que Trump queria ser “imperador do mundo”, algo que repetiu agora em julho. Depois do tarifaço, as provocações são quase diárias. O brasileiro disse que a taxação tem como base uma “mentira” (seria mais diplomático dizer “um erro”), que é “um desaforo ao Brasil e à Justiça brasileira”, uma "chantagem inaceitável". Disse ainda que Trump “não quer conversar”, que “se estiver trucando, vai tomar um seis”, que “deveria ser menos internet e mais chefe de Estado” e que Trump deveria "falar manso" se quiser ser respeitado. A lista é longa.

O presidente brasileiro frequentemente ironiza Trump. Comentando a carta do americano que falava em caça às bruxas contra Jair Bolsonaro, Lula disse: “Primeiro, ele acredita em bruxas. Alguém aqui acredita em bruxa?”. Em outra ocasião, sugeriu que Trump pensou mais com o fígado e com o intestino do que com a cabeça ao decidir pelo tarifaço.


Trump é vaidoso e não gosta de ser confrontado, especialmente por quem não tem as cartas para isso, como ele costuma dizer. Poucos têm essas cartas, talvez apenas China, Rússia e União Europeia. Mas como outros líderes reagiram?

O caso mais interessante e próximo é o da presidente mexicana, a esquerdista Claudia Sheinbaum. O México é o país amigo com o qual Trump tem mais atritos, principalmente nas questões de comércio, imigração e narcotráfico. Ele anunciou tarifas, ignorando um acordo comercial que ele mesmo negociou e assinou. Acusou ainda os mexicanos de invadirem os EUA e de serem estupradores. Foi várias vezes desrespeitoso com o país e chegou a rebatizar o Golfo do México de Golfo da América (ou seja, dos EUA).

Ainda assim, Sheinbaum manteve uma postura tranquila e pragmática. Ao contrário de Lula, ela fala muito pouco em público sobre os problemas com os EUA e com Trump. Logo após as primeiras medidas contra o México, ela fez voluntariamente algumas concessões. Enviou cerca de dez mil soldados para patrulhar a fronteira com os EUA, visando reduzir o fluxo de migrantes (mexicanos e de outros países) e o narcotráfico, e revertendo políticas de seu predecessor e mentor, Andrés Manuel López Obrador.

Quanto às tarifas americanas, Sheinbaum criticou-as e ameaçou retaliar, mas prometeu importar mais dos EUA, menos da China, e buscou esfriar as tensões. Sua estratégia tem sido a a de defender o país, mas sem atacar ou provocar Trump diretamente. É uma resistência passiva, como fez a ex-premiê alemã Angela Merkel no primeiro mandato do americano.

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Isso tudo significa que Lula é culpado pelo tarifaço?

Possivelmente não. Como disse a revista “The Economist”, as ameaças de Trump são uma “chocante agressão” ao Brasil e uma rara interferência profunda na América Latina desde a Guerra Fria. Os objetivos parecem ser ajudar Bolsonaro, enfraquecer e punir os Brics e favorecer empresas financeiras e de tecnologia americanas.

Mas, se não é necessariamente parte do problema, Lula parece não estar se esforçando para ser parte da solução, ao antagonizar regularmente Trump como vem fazendo. A Casa Branca sinalizou que vem prestando atenção a isso.


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