terça-feira, 28 de outubro de 2025

Da importância de uma reflexão aprofundada para um sólido planejamento diplomático - Paulo Roberto de Almeida

 Em 3 de outubro de 2025 eu postava uma avaliação sobre os prejuizos à credibilidade de um serviço diplomático profissional como é o do Brasil derivados do excesso de personalismo no exercicio de uma diplomacia presidencial excessivamente baseada nos instintos pessoais do chefe de Estado, à margem de estudos acurados do tipo custo-benedicio que deveriam provir dos próprios quadros da diplomacia profissional. Mais de três semanas depois, mantrnho minha critica e reafirmo o alerta que formulei ao início do mês de outubro de 1925.

Paulo Roberto de Almeida 

Uma pequena avaliação sobre certas inconsequências de uma diplomacia presidencialista excessivamente personalista:

Muitas das iniciativas diplomáticas do lulopetismo na política externa do Brasil, como a Unasul, por exemplo, se mostraram inviáveis por “defeitos de origem”, digamos assim, ou de concepção e de condução, sem que tivessem produzido os bons frutos esperados, neste caso, uma pretensa liderança brasileira na América do Sul, o que se revelou ilusório, como a errática trajetória política do continente depois o demonstrou sobejamente.

Mas, nenhuma foi tão pesada, em seus desenvolvimentos futuros, como a decisão voluntarista, sem estudos ou reflexões diplomáticas ponderadas, de criar um BRIC, com base em uma sugestão puramente externa, com objetivos totalmente desprovidos de qualquer conotação diplomática, alheios aos interesses nacionais permanentes e em contradição com padrões, princípios e valores de uma diplomacia profissional comprometida  com a condição do Brasil no grande jogo do poder global.

De BRIC a BRICS, e agora BRICS+, o voluntarismo personalista cobra um preço em termos de coerência com a sempre defendida, pela diplomacia profissional, postura de autonomia decisória, de neutralidade e de imparcialidade com respeito a conflitos interimperiais, que foram a sua marca nos 183 anos anteriores de sua trajetória, desde o Manifesto às Nações Amigas concebido em agosto de 1822 por José Bonifácio de Andrada e Silva, postura também partilhada por Hipólito da Costa.

Os EUA também se ressentem de certos excessos de diplomacia personalista, marcados por muita megalomania, mas sobretudo por ignorância fundamental quanto aos mecanismos do grande jogo do poder global. Fatores contingentes superam muitas vezes tendências estruturais que se acreditavam mais sólidas. A guerra de Troia, por sinal, não está muito longe de nosso horizonte de possibilidades históricas. Paixões e interesses ainda movem certos dirigentes que se movimentam guiados apenas por seus instintos primitivos individuais.

A primeira metade do século XX foi pródiga em terríveis consequências involuntárias das paixões humanas. Se esperava que o novo século não repetisse o padrão…

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3/10/2025

Postado novamente em 28/10/2025

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