Nos "bons tempos" do lulopetismo já tínhamos, desde junho de 2002, de uma "Carta ao Povo Brasileiro", na qual se prometia não chutar o pau da barraca, preservar as bases da política econômica -– ou seja, o tal de neoliberalismo, tão atacado e vilipendiado nos anos anteriores –, honrar os contratos firmados pelo governo brasileiro que deixava o poder – o que significava não dar calote nem na dívida interna, nem na externas, pois os temores nesse sentido tinham feito a inflação disparar, o dólar idem, a confiança nos títulos da dívida externa despencado a valores inferiores a 50% do valor face, e outros desastres anunciados –, enfim, se pretendia deixar as coisas mais ou menos como estavam, a despeito dos anúncios de "mudar tudo isso que está aí".
Iniciado o governo, soubemos que ali começava a verdadeira história do Brasil, que tudo resplandeceria em benefício de todos doravante, que haveria três refeições por dia para todos e cada um, no âmbito do malfadado programa "Fome Zero" – um monumental fracasso, aliás anunciado desde antes por economistas competentes, e a despeito disso o salvador da pátria prometia salvar o mundo também, através de um "Fome Zero Universal", também fracassado, como era fatal –, e que "nunca antes na história do Brasil" tinha havido um governo tão bom para os pobres. Tão bom que deixou 13 milhões desempregados ao cabo de uma década e meia de experimentos aloprados em economia e de uma gigantesca corrupção, como "nunca antes vista no Brasil e no mundo".
Mas, a propaganda era, pelo menos, muito eficaz. Convenceu a todos, sobretudo os que não precisavam ser convencidos – banqueiros agiotas, capitalistas promíscuos, corporatistas de todos os tipos, políticos oportunistas, carreiristas de todos os matizes –, que a política geral do lulopetismo seria a favor de todos, em especial dos já incluídos e privilegiados, aos quais vieram se agregar os novos espertos, as construtoras geneticamente corruptas, os sindicalistas amigos, que estenderam suas práticas mafiosas a todas as esferas do poder (com destaque para os fundos de pensão das estatais), os acadêmicos gramscianos, ao MST e aos fisiológicos em geral (incluindo vários de toga), e assim continuaram os lulopetistas a gastar o que tinham e o que não tinha: nos treze anos e meio em que durou o horror macroeconômico dos companheiros, as despesas públicas subiram sistematicamente acima da inflação, acima do crescimento do PIB (que foi medíocre, abaixo da média mundial, abaixo das taxas da América Latina, três vezes menos do que os emergentes dinâmicos), e sobretudo acima da produtividade, que continuou crescendo a taxas medíocres igualmente, se não retrocedeu (pela incorporação irresponsável de novas fontes de repressão fiscal, aumento irresponsável do crediário ao consumo, etc.).
Nenhum país, em qualquer lugar do mundo, jamais na história, cresceu à base de consumo, quando deveria crescer à base de investimentos, de trabalho, de produtividade. Se cresceu, como ocorreu no Brasil graças à demanda chinesa, foi de curto folego e de curta duração. Isso sem falar na mais gigantesca corrupção nunca antes vista em nosso país.
Aqui me permito contradizer frontalmente vários observadores que insistem em dizer que Lula e o PT não fizeram nada demais, que fizeram exatamente igual ao que fizeram e faziam todos os demais partidos e políticos. Mentira! Nunca houve uma corrupção cientificamente planejada, sistematicamente aplicada, tão disseminada e determinada como sob o regime dos companheiros, uma verdadeira quadrilha mafiosa, uma organização criminosa no comando do país durante mais de uma década.
No que se refere à diplomacia, ou à política externa, tema título desta postagem, tampouco sabemos do que será feito, pois a despeito de muitas postagens e tweets, tudo aquilo que foi dito – que, além de "exportar frango e soja, carne e açúcar, [o Brasil também] passará a exportar também esperança e liberdade" – , não se encaixa bem em diretrizes adaptadas a uma política externa inserida no mundo, que trabalha bem mais com resultados e práticas tangíveis, do que com anúncios intangíveis.
Não tenho maiores comentários a fazer, a não ser relembrar que uma "outra diplomacia é possível", como sempre será Nos tempos aloprados do lulopetismo, se costumava dizer, nos shows pirotécnicos do Fórum Social Mundial, que "um outro mundo é possível",
Eu sempre achei isso, mas o problema é que os adeptos da nova doutrina salvadora nunca disseram exatamente como seria feito e do que seria feito esse "outro mundo possível", como ele seria construído e implementado, além daquelas formas usadas e abusadas de acusar o capitalismo de todos os vícios e males da civilização.
Não sei se uma "outra diplomacia é possível" para a frente, mas vou me permitir apenas relembrar que, no passado, sim, uma outra diplomacia foi possível, que não a tal de "ativa e altiva" do lulopetismo diplomático, uma fraude completa, sob a roupagem do "Sul Global", da "diplomacia Sul-Sul", e outras bobagens do gênero.
Nisso reside a minha discordância com, provavelmente, 90% dos acadêmicos, que saudaram alegremente a tal diplomacia soberana dos companheiros alucinados, que venderam nossa soberania aos comunistas cubanos, os controladores do Foro de São Paulo, os manipuladores dos partidos progressistas, os fracassados do socialismo do século XXI (e do XIX também), enfim, a vertigem ideológica na qual fomos precipitados pelos governos – não hesito em dizer – mais criminoso que tivemos na história do Brasil.
Voltando à questão da diplomacia alternativa, sim, antes do lulopetismo alucinado, houve uma diplomacia normal, e depois também, como pode ser visto por duas obras que acabam de ser publicadas pela Funag, e que já foram de registro neste espaço democrático e libertário. Permito-me simplesmente terminar esta postagem, indicando os links para acesso a essas duas obras que retomam as bases de uma diplomacia sem slogans, simplesmente normal:
3379. “A Casa de
Rio Branco recebe Celso Lafer”, Brasília, 19 dezembro 2018, 8 p. Junção dos
trabalhos 3375 e 3377, para postagem em substituição a eventuais pronunciamentos
no lançamento de sua obra em dois volumes: Relações
internacionais, política externa e diplomacia brasileira: pensamento e ação
(Brasília: Funag, 2018, 2 vols., 1437 p.; lo. vol., ISBN: 978-85-7631-787-6;
762 p.; 2o. vol., ISBN: 978-85-7631-788-3, 675 p.; disponível na Biblioteca
Digital; link: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/search&search=Celso%20Lafer).
Postado no blog Diplomatizzando (link:
https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/12/a-casa-de-rio-branco-recebe-celso-lafer.html).
Trechos reproduzidos em artigo de Pedro Rodrigues, no Diário do Poder (20/12/2018; link: https://diariodopoder.com.br/celso-lafer-de-volta/)
e igualmente reproduzido no blog Diplomatizzando
(21/12/2018; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/12/celso-lafer-de-volta-ao-itamaraty-pedro.html).
Livros de Celso Lafer disponíveis nos seguintes links: 1o. volume: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=970&search=Celso+Lafer;
2o. volume: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=971&search=Celso+Lafer.
Podem ser complementados, para a diplomacia recente (2016-2018), pelo livro
contendo discursos e pronunciamentos do presidente Michel Temer: O Brasil no mundo: abertura e
responsabilidade – Escritos de diplomacia presidencial (2016-2018) (Brasília:
Funag, 2018, 420 p.; ISBN: 978-85-7631-791-3
http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=969&search=Michel+Temer).
Fico por aqui neste Natal diferente – por se situar num final de governo e, talvez, num final de regime, ainda não sabemos –, desejando a todos boas leituras neste final de ano, e muita sensatez no ano que se inicia. Sem crenças ingênuas, sem fundamentalismos, apenas argumentos racionais, ceticismo sadio, e uma dose de contrarianismo.
Boas leituras a todos.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 25 de dezembro de 2018
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