Previsões
imprevisíveis para 2019:
Finalmente uma mudança de paradigmas?
Paulo
Roberto de Almeida
Pela primeira vez em muitos anos, desde o início da era companheira
em nossa política, eu me encontro em um terreno verdadeiramente minado, no que
concerne minha série de “previsões imprevisíveis”, que sempre fiz a cada final
de ano, para “prever” o que NÃO deveria ocorrer no ano seguinte. Sim, esta
minha série tinha exatamente esse objetivo: interrogar os astros, como fazem os
astrólogos profissionais, mas com essa peculiaridade que minhas previsões
deveriam ser totalmente, ou pelo menos parcialmente, imprevidentes, refletindo,
portanto, meu pouco secreto desejo de continuar um contrarianista oficial. Pelo
que observo das tendências recentes, os novos tempos vão tornar minha tarefa
mais difícil, depois de anos e anos acostumado a tripudiar sobre as
idiossincrasias companheiras. Para que vocês tenham uma ideia do que eu
costumava apostar como um conjunto sempre confirmados de previsões fracassadas,
reproduzo aqui, novamente, o que eu previ, em dezembro de 2004, para o governo
companheiro que recém tinha iniciado sua trajetória errática no ano anterior,
como promessas válidas para 2005:
1. O governo decreta
sua conversão ao capitalismo;
2. O Estado decide
retirar-se parcialmente de cena;
3. Radical inversão das
políticas sociais;
4. Concentração de
recursos na educação fundamental;
5. Acaba a era Vargas:
abolida a Justiça do Trabalho;
6. Decretado o fim da
reforma agrária; e
7. Maior abertura e
inserção econômica internacional.
Ganhei fácil, não só naquele ano como em todos os seguintes, o que,
confesso, me era facilitado pelas qualidades singularmente estúpidas do
lulopetismo em ação. Querem mais uma prova? Para 2007, eu previa estas rotundas
impossibilidades, sempre contando com a proverbial capacidade companheira de
fazer as coisas erradas várias vezes seguidas (um pouco como os argentinos,
digamos assim):
1. O Brasil crescerá pelo menos 5% a partir de 2007, com queda no
desemprego;
2. As contas fiscais caminharão para o equilíbrio, com tendência ao
superávit nominal;
3. O Congresso vai conhecer um ano de alta produtividade e baixos
gastos correntes;
4. O dólar vai se valorizar e a paridade do real satisfará aos
exportadores e agricultores;
5. O déficit da Previdência caminha para o desaparecimento, com um
choque de gestão;
6. A infraestrutura brasileira é renovada, com base em investimentos
privados;
7. A integração regional avança, com a adesão de Cuba, Bolívia e
Equador;
8. O governo demonstra alto grau de coesão política e grande
eficiência administrativa;
9. O ensino público dá salto de qualidade e universidades não fazem
greve por salários;
10. O MST reconhece que o agronegócio e a biotecnologia são
benéficos ao Brasil.
A coisa agora se complica, pois tivemos uma mudança fundamental nas
forças políticas que controlarão o poder executivo a partir de janeiro de 2019,
o que pode até contribuir para realizar algumas das previsões imprevisíveis que
eu fazia para 2007. Será que o governo vai, pela primeira vez em nossa
história, deixar o capitalismo florescer no Brasil? É uma aposta difícil de
fazer, mas nunca se pode desconfiar da capacidade que possuem certas pessoas de
contrariar nossas mais arraigadas tendências desde Cabral até Lula.
Mas, o que dizer da minha última previsão, aquela que eu fiz no
primeiro ano completo do governo golpista, válida para o ano que se extinguirá
em poucos dias? Eis as previsões feitas em dezembro passado, que vocês podem
conferir na minha postagem de 9 de dezembro de 2017, com previsões
imprevisíveis de natureza sobretudo política, tendo em vista o ano eleitoral,
que foram postadas neste blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/12/previsoes-imprevisiveis-para-2018.html):
1. Governo promete reduzir a base congressual para apenas 15
partidos;
2. Odebrecht patrocina nova cadeira na FEA-USP: Economia Política da
Corrupção;
3. Tucanos se unem para ganhar as eleições de 2018;
4. Petistas se dividem quanto a colaborar na caixinha do chefe com
contas bloqueadas;
5. Peemedebistas firmam pacto contra a corrupção;
6. FIESP quer que o Brasil conclua um acordo de livre comércio com a
China;
7. Congresso aprova projeto de resolução extinguindo o Fundo
Partidário;
8. Candidata da Rede consegue conceder uma entrevista compreensível;
9. Professores da UERJ atravessam o ano sem nenhuma greve;
10. Novo presidente eleito em outubro promete privatizar Petrobras e
Banco do Brasil.
Vamos reconhecer, em primeiro lugar que eu
acertei – ou seja, fui confirmado no erro – para a maior parte, senão todas as
dez previsões imprevisíveis e totalmente imprevidentes. Senão vejamos:
1. A base congressual não só não recuou para apenas 15 partidos,
como não cessou de aumentar, ao que parece para quase três dezenas de
inutilidades congressuais.
2. A Odebrecht, no seu esforço de arrependimento, não foi tão longe
quanto eu sugeria, no sentido de criar uma nova disciplina de Economia Política
da Corrupção.
3. Tucanos não só não uniram para ganhar as eleições de 2018, como
praticamente se anularam para as quatro ou cinco eleições seguintes; meus
parabéns a todos eles.
4. Petistas e petralhas permanecem unidos, apoiando o deus vivo na
gaiola de Curitiba, e pretendem continuar assim até o fim dos tempos; minha
solidariedade a eles.
5. Peemedebistas renovam o seu tradicional pacto pró-corrupção, com
discrição, porém.
6. A FIESP continua a ser o sindicato de ladrões que sempre foi, mas
pelo menos oferece algumas exposições interessantes em sua sede luxuosa da
Avenida Paulista.
7. Congresso não só aumentou o Fundo Partidário, tremendamente, como
criou um Fundo extra, Eleitoral, pornográfico por natureza, pois o que andam fazendo com os
contribuintes não pode ser revelado por impróprio a menores; safados.
8. A candidata da Rede conseguiu confirmar minhas melhores (ou
piores) previsões.
9. Professores da UERJ atravessaram o ano sem greve? Não sei:
confirmem por favor.
10. O presidente eleito já prometeu NÃO privatizar Petrobras e Banco
do Brasil.
Nota 10/10, ou seja, sucesso total. Agora a
coisa se complica, como já disse, pois o novo governo tem um pouco de tudo para
todos os gostos e todas as tendências políticas, econômicas, filosóficas,
religiosas, culturais e espirituais. Não, não quero com isso dizer que se trata
de um saco de gatos, pois gatos costumam ter um comportamento uniforme, ainda
que imprevisível: eles sempre arranham o dono, por mais carinhoso que este
seja, e sempre arranham o sofá da sala. Com o próximo governo simplesmente não
sabemos o que pode acontecer, mas com os militares representando a parte mais
segura, firme, democrática, confiável que se pode ter num governo com metade de
amadores, já se trata de uma característica anti-imprevidente. Como os
militares são mais ou menos um terço do governo, com isso já temos pelo menos
um terço de previsibilidade, o que complica sobremaneira meu exercício de
antever o impossível. Como tampouco posso retirar os militares do governo – o
que obviamente seria uma loucura, vamos reconhecer –, temos de arriscar
previsões imprevidentes nessas novas circunstâncias.
Vamos então ver o que poderia me deixar totalmente otimista e
confiável quanto à improbabilidade de minhas previsões imprevidentes. Arrisco
algumas poucas.
1. Governo consegue começar a trabalhar de verdade em menos de três
meses;
2. Governo cria uma estatal para livrar-se das estatais; começa
contratando mais gente;
3. Para livrar-se da imprevisibilidade econômica trumpista, Banco
Central aplica metade das reservas em moeda chinesa e mais um terço em
bitcoins;
4. República de Curitiba coloca todo o patrimônio do PT em leilão
para tentar recuperar 5% do que foi roubado entre 2003 e 2016;
5. MST aproveita seus vínculos multinacionais para criar uma trading
especializada em transgênicos;
6. Ministro da Fazenda propõe uma Loteria Patriótica, baseada no
jogo do bicho, para resolver o déficit orçamentário;
7. Depois do Fundo Partidário e do Fundo Eleitoral, Congresso cria
um Fundo Religioso, para financiar renovação dos templos, em geral, pagar curso
de internet para pastores, sacerdotes, bispos e catequistas e dar um laptop a
cada um;
8. PCdoB faz uma frente com a FIESP e a CNI para se opor às
privatizações, à abertura comercial e ao fim das contribuições sindicais em
geral;
9. China se oferece para pagar todos os salários atrasados dos
funcionários públicos do estado do Rio de Janeiro, desde que possa explorar o
bondinho do Pão de Açúcar durante quarenta anos;
10. STF começa a julgar o Petrolão político, mas seis pedidos de
vistas remetem o processo a 2020.
Em todas as minhas previsões imprevidentes, ou imprevisíveis, dos anos anteriores, eu fui
tremendamente bem sucedido, ou seja, errei todas, sem exceção, o que é um
tremendo sucesso. Mas eu contava com os companheiros para me confirmar nos
equívocos mais flagrantes, tão previsíveis eles eram na sua imprevisibilidade.
Agora, confesso não saber se vou acertar – ou seja, errar – ou se o saco de
gatos, ops!, perdão, o novo governo, me induzirá a erros, ou seja, a acertos. Não
se confundam, por favor, por mais que vocês já estejam confusos com certas
coisas que estão ocorrendo atualmente. O Brasil está acima de todos, como vocês
já sabem, assim que ele vai de toda forma sobreviver a todos os erros e acertos
que venham a ser cometidos por vontade própria, ou por puro acaso, na próxima administração.
Cobrem-me resultados, ou falta deles, em um ano exatamente, na
alegria ou na tristeza de ter de acertar – ou seja, me equivocar – por puro acaso,
ou seja, um pouco como vão funcionar certas coisas daqui para a frente. Vou
sentir falta dos companheiros que sempre me ajudaram nos anos anteriores, e
lamentar que alguns deles tenham de cumprir tempo de cadeia, impossibilitados,
portanto, de me fornecerem mais matéria prima para exercícios como este. Esperemos
que eles sejam substituídos por gente mais competente nessa difícil tarefa de
fazer bobagens...
Vale! Até dezembro de 2019.
Brasília,
25 de dezembro de 2018.
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