terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Russia's War Crimes and Human Rights Violations in its war against Ukraine

 RUSSIAN WAR CRIMES AND HUMAN RIGHT VIOLATIONS IN THE WAR AGAINST UKRAINE

The use of weapons of mass destruction against civilians is a crime against humanity and a violation of the four Geneva Conventions of 1949.

By killing civilians, the aggressor's forces continue to commit crimes against humanity as defined by the Statute of the International Military Tribunal and the Rome Statute of the International Criminal Court, cynically disregarding all the requirements of the Geneva Convention relative to the Protection of Civilian Persons in Time of War. According to these norms, deliberate attacks on civilians who are not directly involved in hostilities are equated to war crimes.

The taking of civilian hostages is a direct violation of Articles 3 and 34 of the Geneva Convention with regard to the Protection of Civilian Persons in Time of War, Article 9 of the International Covenant on Civil and Political Rights and Article 5 of the European Convention on Human Rights.

Sources: Commissioner for Human Rights of the Verkhovna Rada of Ukraine, Office of the Prosecutor General, Ministry of Defense, Ministry of Internal Affairs, State Emergency Service, National Police, relevant city and town councils and regional state administrations

Summary update as of January 30, 2023

Full report: 

https://www.academia.edu/96072007/RUSSIAN_WAR_CRIMES_AND_HUMAN_RIGHT_VIOLATIONS_IN_THE_WAR_AGAINST_UKRAINE_30Jan2023_


O difícil caminho do não alinhamento do Brasil - Oliver Stuenkel; A miragem dos Brics - Paulo Roberto de Almeida


  Acadêmicos receberam com grande entusiasmo a formação do grupo Brics, achando que seria finalmente a via para escapar do "hegemonismo ocidental". Eu sempre critiquei essa aliança contra natureza, essa ilusão descabida, um grande erro estratégico da diplomacia lulopetista. Muitos não gostaram, na diplomacia, mas não tenho por que esconder minha total desconformidade com essa miragem, como demonstrei por este livro publicado no ano passado: 

Paulo Roberto de Almeida: A grande ilusão do Brics e o universo paralelo da diplomacia brasileira (Brasília: Diplomatizzando, 2022, 187 p.; Kindle book; ISBN: 978-65-00-46587-7; ASIN: B0B3WC59F4; Apresentação link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/06/meu-proximo-kindle-sobre-miragem-dos.html). 

O difícil caminho do não alinhamento do Brasil

Por Oliver Stuenkel
O Estado de S. Paulo, 30/01/2023

Com a decisão do Ocidente de fornecer mais de cem tanques à Ucrânia e o debate crescente sobre uma possível tentativa de reconquistar a península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, o conflito na Europa entra em nova fase. Depois de o governo Biden ter fornecido quase US$ 30 bilhões em ajuda militar aos ucranianos desde o início do conflito, uma derrota ucraniana seria um desastre político dificilmente aceitável para o presidente americano, que já está se preparando para sua campanha de reeleição.

Da mesma forma, uma conquista russa de Kiev – o que parece ser a meta da contraofensiva militar que o Kremlin prepara – causaria um terremoto político na Europa, onde o premiê alemão Olaf Scholz, depois de muita hesitação, decidiu aprovar o envio de tanques à Ucrânia, país a menos de 700 quilômetros da fronteira alemã. Há pouca dúvida de que avanços decisivos russos aumentariam a probabilidade de o Ocidente fornecer caças à Ucrânia, algo inimaginável no início do conflito.

Do lado russo, também aumentaram muito as apostas: com uma onda nacionalista varrendo o país, Vladimir Putin sabe que uma derrota militar na Ucrânia representaria grave ameaça política. Tudo indica que o presidente russo está disposto a fazer o máximo possível – inclusive uma mobilização geral, que implicaria o envio de centenas de milhares de soldados para o front – para vencer o conflito. O Kremlin admitiu que tomou a decisão pouco usual de recrutar presidiários, como mercenários do Grupo Wagner, 40 mil dos quais, segundo estimativas, estão lutando na Ucrânia.

Com a guerra cada vez mais intensa, tudo leva a crer que o conflito contaminará a geopolítica ainda mais do que no ano passado, tornando-se um dos temas prioritários a ser discutidos nas principais plataformas multilaterais, como o G-7, o G-20, e o grupo Brics. Essa é uma notícia ruim para o Brasil, que deve participar de reunião dos três grupos, afinal, enquanto o País tem como brilhar na questão climática – tema que pode ajudar a reconquistar o status de ator indispensável no sistema internacional –, o conflito na Ucrânia dificulta a estratégia de não-alinhamento, pilar da política externa brasileira.

Tanto no encontro do G-7 quanto na cúpula do Brics, o Brasil estará em uma posição pouco confortável. Situações como a do recente pedido do governo alemão para o envio de munição brasileira – feito dias antes da visita do premiê a Brasília e declinado pelo presidente Lula – se tornarão mais comuns. Enquanto o G-7 fará uma declaração condenando a Rússia nos termos mais explícitos e buscará intensificar o isolamento econômico de Moscou – algo que o governo brasileiro não apoia –, o Brasil terá de se empenhar para evitar que a declaração final do grupo Brics vire um manifesto pró-Rússia. Afinal, com a postura cada vez mais pró-Moscou da África do Sul, o Brasil é o integrante que mais tem a perder com um posicionamento anti-ocidental do bloco.

Essa tensão intra-Brics não é nova: certa vez, em reunião preparatória para a cúpula do grupo em Moscou, um participante russo afirmou em discurso que o Brics deveria se posicionar como “bloco anti-ocidental”, ideia prontamente criticada por um representante brasileiro, o qual lembrou que o Brasil também faz parte do Ocidente e, portanto, rejeita a caracterização.

Com os dois lados dobrando as apostas na guerra, o Brasil precisa se preparar para o cenário de uma conversa global cada vez mais monotemática, a qual deverá levar a uma intensificação das sanções econômicas contra a Rússia, a mais volatilidade dos preços de alimentos e a espaço cada vez mais estreito para construir acordos em outras áreas. As negociações para se chegar a um acordo nuclear com o Irã são o melhor exemplo: com o regime em Teerã fornecendo drones à Rússia, é pouca a disposição ocidental de negociar com o país.

É impossível prever o percurso da guerra, mas tanto a queda de Kiev aos russos – forçando Zelenski a fugir – quanto a reconquista ucraniana da Crimeia, que provavelmente levaria a uma queda de Putin – são possibilidades reais ao longo dos próximos anos. Ambos produziriam transformações significativas no sistema internacional: uma derrota russa na Ucrânia aumentaria as chances de instabilidade na Ásia Central, antigo quintal de Moscou, além de um possível atrito na sucessão presidencial russa. A queda de Zelenski poderia causar uma onda de refugiados ucranianos com profundas consequências para a Europa. Todos os cenários teriam consequências amplas para a economia brasileira e sua inserção internacional.

* É ANALISTA POLÍTICO E PROFESSOR DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS DA FGV EM SÃO PAULO


Haverá paz no mundo em 2023? - Paulo Roberto de Almeida

 Haverá paz no mundo em 2023? 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Artigo de fim de ano publicado em versão ligeiramente modificada na revista Crusoé (n. 244, sexta-feira, 30/12/2022, link: https://crusoe.uol.com.br/edicoes/244/paz-impossivel-guerra-improvavel/).

 

Uma resposta precisa a esta complexa questão é um enfático e rotundo NÃO! Mas a concisão e a simplicidade desta afirmação não significam que o mundo conhecerá alguma guerra de proporção equivalente à dos grandes conflitos globais que marcaram a primeira metade do “curto século XX”, de que falava o historiador marxista Eric J. Hobsbawm. O que se descarta é a ocorrência de uma nova guerra total entre adversários geoestratégicos, não a recorrência de guerras interestatais, civis, étnicas, religiosas, ou de proxy wars, conflitos por procuração, entre as grandes potências existentes, nunca interrompidas em qualquer época.

A razão da negativa a uma hipótese jamais descartada pelos planejadores militares é a mesma que já tinha sido dada desde 1948 pelo conhecido filósofo e pensador estratégico francês Raymond Aron, ao considerar a possibilidade de uma nova guerra total entre grandes impérios, no imediato seguimento da Segunda Guerra Mundial: “paz impossível, guerra improvável”. Ele ainda confirmou seu argumento, formulado originalmente no livro Le Grand Schisme (O grande cisma; Paris: Gallimard), em seu livro de memórias, publicado pouco antes de sua morte, Les dernières années du siècle(Os últimos anos do século, 1983), pelos mesmos motivos que sustentavam seu raciocínio: a emergência da arma atômica, a grande dissuasora de qualquer novo enfrentamento global passada a tecnologia das guerras convencionais (exércitos no terreno, mais aviação e frotas bélicas) que ainda marcaram o início das guerras de 1914 e de 1939 (armas de destruição em massa, como o recurso à guerra química e as bombas nucleares foram introduzidas num fase mais avançada das duas grandes guerras mundiais. Registre-se que sua peremptória e durável frase foi feita ainda no período em que a superpotência americana detinha o monopólio da arma atômica, mas Aron nunca duvidou que a União Soviética alcançasse a paridade em breve tempo (ela o fez em 1949, como resultado da espionagem atômica e da capacitação própria dos físicos nucleares russos).

De fato, mais do que as promessas de paz e de segurança internacionais, inscritas no preâmbulo e nos primeiros artigos da Carta de San Francisco (1945), o que realmente evitou uma nova guerra total foi a promessa de uma destruição generalizada entre contendores dotados da ultima ratio do holocausto nuclear. Não que o emprego tático, ou mesmo estratégico, de armas atômicas não tenha sido cogitado ao longo dos últimos 77 anos desde Hiroshima e Nagasaki, mas é que o cogumelo cada vez maior previsto com o aumento dos megatons acrescidos desde então faz com que os líderes políticos, bem mais do que os oficiais militares superiores, retenham a respiração antes de considerar o recurso ao que se convencionou chamar de Armagedom. O general MacArthur, cujas tropas (supostamente a serviço da ONU) tinham sido empurradas de volta para a extremidade sul da Coreia depois do ingresso de “voluntários” chineses na primeira guerra quente da Guerra Fria, cogitou ordenar um bombardeio atômico nas fronteiras da China para cortar o fluxo de tropas e de equipamentos em apoio às forças do ditador Kim Il Sung, da Coreia do Norte; ele foi demitido na mesma hora pelo presidente Truman, o mesmo que tinha aprovado o bombardeio das duas cidades japonesas cinco anos antes. 

Recorde-se, também, que o mundo caminhou para a borda do precipício nuclear, quando da extrema tensão entre os Estados Unidos e a União Soviética, em outubro de 1962, depois da descoberta da instalação de mísseis soviéticos em Cuba, a poucas milhas da Flórida. O jogo de poker entre os dois gigantes da Guerra Fria foi brilhantemente descrita pelo professor Graham Allison, autor da obra The Essence of Decision (1971), sobre as difíceis negociações entre o presidente John Kennedy e o líder russo Nikita Kruschev até conseguirem desarmar o ímpeto bélico de seus generais e comandantes navais, quando do embargo total sobre a ilha do Caribe decretado pelos americanos. Curiosamente, o mesmo pesquisador tornou-se novamente famoso ao explorar, em 2017, a possibilidade de uma nova guerra total entre os impérios americano e chinês, em seu livro Destined for War: Can America and China Escape Thucydides's Trap? (Condenados à guerra: podem a América e a China escapar à armadilha de Tucídides?), obra supostamente destinada a evitar uma repetição da guerra do Peloponeso descrita pelo conhecido historiador grego, contemporâneo daquela contenda fatal entre a Esparta autoritária e a democrática Atenas.

Mais recentemente, o espectro de um conflito nuclear entre os mesmos contendores da velha Guerra Fria voltou a ser aventado pelo próprio neoczar russo, Putin, ao declarar que não hesitaria em recorrer às suas armas mais poderosas caso a Otan viesse em socorro direto à Ucrânia depois de sua frustrada invasão e guerra de agressão iniciada em fevereiro de 2022, contra um vizinho não nuclear, depois de sua separação do império soviético em 1991. No caso, os planejadores militares exploraram o recurso a armas nucleares táticas, ou seja, de terreno, não o deslanchar de um ataque devastador contra os territórios adversários, mas ainda assim proliferaram especulações sobre a efetiva possibilidade desse recurso último, caso a Rússia seja humilhada no terreno (como está sendo) pelas forças ucranianas (apoiadas maciçamente pelos países da Otan e outras democracias ocidentais). Seria interessante ter novamente Raymond Aron formulando seus argumentos sobre esse terrível conflito.

Mas, excluindo-se, de forma ingênua ou otimista, um novo passeio à beira do abismo, cabe reafirmar que o mundo não terá paz em 2023 ou mais além, pelo simples motivo de que os Estados nacionais ou apenas grupos armados e dotados de qualquer causa bélica legítima ou ilegítima estão sempre dispostos a recorrer ao uso da força em defesa de seus interesses nacionais, étnicos, religiosos e até mesmo tribais. Uma visita ao cenário atual de conflitos latentes ou potenciais pode confirmar a grande disseminação das guerras entre Estados ou intra Estados na presente conjuntura: Somália, Etiópia, República Democrática do Congo, República Centro-Africana, Burkina Faso, Chade, Mali, Niger, Nigéria e Sudão são os pontos mais visíveis no continente africano; Iêmen, Síria, Líbano, no Oriente Médio; Afeganistão, Paquistão e Mianmar, na Ásia do sul; talvez até Venezuela e novamente no Haiti não podem ser excluídos o ressurgimento ou a continuidade de conflitos armados. Em muitos outros países, bandos armados já em ação não excluem a passagem a guerras civis localizadas. 

A Ucrânia, obviamente, garante a continuidade do maior conflito na Europa desde o final da Segunda Guerra Mundial, não esquecendo os que já ocorreram nos Balcãs, cenário do início da Grande Guerra, e diversos outros latentes, como entre Azerbaijão e Armênia, ou a longa luta dos curdos e dos próprios palestinos a propósito da denegação de um dos mais difíceis princípios expostos pelo presidente Woodrow Wilson para as negociações de paz de Paris em 1919: a autodeterminação dos povos. Todos esses conflitos e outros ainda possíveis garantem uma agenda sempre problemática para debate e eventual encaminhamento ao Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), encarregado justamente de promover e defender a paz e a segurança internacionais, segundo os artigos mais relevantes da Carta da ONU. Pode-se também antecipar que mais da metade deles sequer serão objeto de qualquer decisão do CSNU em 2023 ou nos anos à frente, e não apenas em virtude do famigerado direito de veto exercido arbitrariamente por algum dos seus cinco membros permanentes.

Com efeito, a despeito da Corte Internacional de Justiça já ter formado maioria contra a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, e de ter ordenado a retirada imediata das tropas invasoras, nada de efetivo ocorreu, pois que a CIJ “não tem dentes”, dependente que é de resoluções do CSNU para o cumprimento de suas decisões, o que permanece uma hipótese altamente aleatória. Mesmo quando esse órgão de última instância da ONU aprova uma decisão em favor de uma nova missão de manutenção ou de imposição da paz, isto não quer dizer que ela será imediatamente cumprida, uma vez que a ONU, essa velha senhora, não dispõe de seus próprios “cães de guarda”, sendo totalmente dependente, por sua vez, da vontade ou da propensão dos membros permanentes e temporários do CSNU, ou outros membros da organização, de colocarem tropas, equipamentos e recursos para a formação de uma missão de paz (de qualquer tipo) e para o seu deslocamento para o terreno. No caso da Ucrânia, como já visto ao longo de 2022, essa possibilidade é totalmente inexistente, razão pela qual os “aliados” do país da Europa oriental introduziram sanções unilaterais contra a potência agressora, ainda que num espírito e modalidades totalmente convergentes com os artigos da Carta que regulam tais medidas (já utilizadas multilateralmente nos casos da Coreia do Norte, do ex-Congo belga, da Rodésia do Sul e da África do Sul nos tempos dos governos de minoria branca, do Iraque invasor do Kuwait em 1990 e do Afeganistão, em 2001, como “hospedeiro” dos terroristas que atacaram os EUA no mesmo ano). 

A Rússia vetou qualquer resolução do CSNU tendente a sancioná-la pela guerra de agressão, ainda que não tivesse podido impedir manifestações maciças da Assembleia Geral e do Conselho de Direitos Humanos condenando-a pela invasão e pelos crimes de guerra que estão sendo continuamente perpetrados pela Rússia, o que garantiria a Putin o “direito” a um Nuremberg só seu, hipótese tão improvável quanto um processo e condenação pelo TPI da Haia. Não existe, por outro lado, qualquer possibilidade, no futuro previsível, de que a Carta da ONU seja revista para impedir, por exemplo, que os membros permanentes utilizem essa excrescência do direito de veto quando são eles próprios violadores dos artigos da Carta. O cenário provável é, portanto, o da continuidade dessa guerra monstruosa, assim como de diversas outras praticamente esquecidas pela parte “civilizada” do planeta, neste ano de 2023 e nos que se lhe seguirão. A agenda do CSNU e da própria AGNU permanecerá bloqueada para as questões mais delicadas, que são sempre aquelas nas quais as grandes potências possuem interesses relevantes, e também para as outras, em relação às quais são indiferentes.

Esse cenário coloca na agenda multilateral do Brasil, e também humanitária, ou no plano simplesmente moral, a questão de saber qual postura sua diplomacia deveria adotar nesses casos que impactam, direta ou indiretamente seus interesses nacionais, ou mesmo a consciência ética de seus líderes, se por acaso esse elemento entra em linha de conta. Na diplomacia do “primeiro” Lula, seu chanceler por dois mandatos, Celso Amorim, invocou o princípio subjetivo da “não indiferença” para justificar a aceitação da sugestão feita pelos EUA e França da liderança do Brasil numa missão de estabilização dos agudos conflitos internos no Haiti, que ameaçam desbordar para essas duas potências “coloniais”. Não se sabe se na gestão de Lula “terceiro” o mesmo princípio será invocado para retomar o caminho da antiga Minustah numa nova modalidade de intervenção humanitária e assistencial. O mais relevante, porém, é saber qual postura o país adotará em relação a um possível agravamento da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, que é o cenário mais provável de ocorrer em 2023, em face das contínuas dificuldades de Putin no enfrentamento do seu “Vietnã” nouvelle manière. Até aqui, o Brasil refugiou-se numa posição de neutralidade hipócrita, pois que objetivamente favorável à Rússia, com a qual o governo Bolsonaro negociou a continuidade do fornecimento de fertilizantes e até a importação de combustíveis. 

Essa guerra já provocou uma dramática crise energética (sobretudo na Europa), uma igualmente dramática ameaça ao comércio de grãos (em direção de importadores pobres), além de fenômenos mais recorrentes no cenário da economia mundial: inflação, alta de juros e, ainda mais preocupante, uma nova recessão nas principais economias afetadas pelo conflito, com repercussões inevitáveis sobre todos os demais países. Por mais que o Brasil possua uma matriz energética diversificada e uma amplíssima produção primária de bens agrícolas e minerais, ele não é insensível à volatilidade desses mercados, assim como aos fluxos financeiros e cambiais que podem acelerar o ímpeto inflacionário interno, assim como agravar eventual carência de empréstimos, financiamentos ou investimentos externos. No plano propriamente diplomático, a possível consolidação de uma nova Guerra Fria (desta vez mais propriamente econômica do que geopolítica, mas também esta) acarretará angústias semelhantes ou similares àquelas ressentidas nos anos 1940-80, quando o Brasil buscava firmar uma agenda universalista e ecumênica, capaz de fortalecer sua autonomia decisória e a exclusiva defesa dos interesses nacionais em face das grandes contendas da época.

Naquela fase, o Brasil tinha sido sede da assinatura do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (de 1947), um predecessor do princípio da segurança coletiva que seria depois implantado no Tratado de Washington de 1949, criando a Otan, um dos personagens mais ativos na atual guerra da Ucrânia. A diplomacia brasileira manteve-se pouco propensa a invocar o TIAR quando da guerra das Malvinas, em 1982, mas lembrou-se dele, para oferecer solidariedade aos EUA, quando dos ataques terroristas de setembro de 2001. Um elemento novo na equação da segurança, que afetará diplomaticamente o Brasil na presente conjuntura, é a existência do Brics, um foro de consulta e coordenação que congrega, ademais da Índia, da China e da África do Sul, o próprio agressor da Ucrânia e violador da Carta da ONU. Saber o que decidirá a diplomacia de “Lula III” em face do que se afigura um dilema dos mais angustiantes é a grande incógnita do presente momento. Bem-vindos a 2023.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4290: 18 dezembro 2022, 5 p.


Revista de História da Biblioteca Nacional: como recuperar os números?

 

Saiba como ter acesso ao site desativado da Revista de História da Biblioteca Nacional

Site da revista, que circulou entre 2005 e 2015, foi desativado há alguns anos, mas nós sabemos como acessar seu conteúdo.

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A crise financeira foi implacável para a mais importante experiência de popularização de história no Brasil. Há pouco mais de um ano, a Revista de História da Biblioteca Nacional (RHBN) deixou de circular nas bancas. E há alguns meses, um golpe ainda maior: o site da revista saiu do ar – aparentemente, de forma definitiva. Mas nem tudo parece perdido. Existe uma maneira bem fácil de acessar o conteúdo do site da revista.

Trata-se da ferramenta WayBack Machineum enorme arquivo digital criado por uma organização sem fins lucrativos chamada Internet Archive. Ela arquiva atualmente mais de 475 bilhões de páginas da internet, desde 1996. Em outras palavras, o serviço permite aos usuários visualizar versões de páginas de um determinado site mesmo que ele tenha saído do ar. Basta acessar o site da ferramenta e inserir no campo de busca o endereço eletrônico da RHBN: revistadehistoria.com.br. Pronto, você já pode voltar a navegar entre artigos e entrevistas. O serviço de recuperação do serviço é bastante satisfatório. As imagens nem sempre são recuperadas, mas os textos são arquivados perfeitamente.

Uma incursão na indignidade da diplomacia lulopetista - Paulo Roberto de Almeida

Um momento de verdade para a diplomacia brasileira, infelizmente submergido pelo mais vulgar escapismo


Lula, como fundador do BRIC original, não é só um aliado da Rússia, mas, sobretudo, um amigo de Putin. Ao defender uma falsa “neutralidade” e ao tergiversar sobre a natureza da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, ele vai confrontar não só a Carta da ONU, mas todos os valores e princípios da diplomacia brasileira, tendo de enganar a si próprio, e mentir ao país e aos interlocutores estrangeiros, para manter tal postura indefensável. 

Mais do que tudo, lhe falta qualquer sentido moral em face dos bárbaros crimes de guerra, contra a paz e contra a humanidade sendo perpetrados pelo tirano de Moscou contra o povo ucraniano.

O oportunismo calhorda da diplomacia lulista, no tocante à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, produz o resultado infeliz de equipará-la objetivamente à antidiplomacia sem quaisquer princípios da Bolsodiplomacia anterior.

Um dos momentos mais baixos da diplomacia brasileira nos últimos duzentos anos.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 31/01/2023


Guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia: os novos mercenários, saídos das prisões (NYT)

 

Graves of Wagner group fighters, most of them prison conscripts, in a cemetery near the village of Bakinskaya, Russia, this month.Reuters

Russia’s convict fighters

In July, Yevgeny Prigozhin, the founder of Russia’s largest private military group, Wagner, started arriving via helicopter at prisons around the country with an offer to the inmates: Pay your debt to society by joining a private army in Ukraine.

Prigozhin promised the prisoners they would receive 100,000 rubles a month — the equivalent of $1,700 at the time, and nearly double Russia’s average monthly wage. He also offered bravery bonuses, $80,000 death payouts and, should they fulfill the six-month contract, freedom in the form of a presidential pardon.

Those who ran away, used drugs or alcohol or had sexual relations, he warned, would be killed.

My colleagues Anatoly Kurmanaev, Alina Lobzina and Ekaterina Bodyagina reported on the recruitment drive and the return to Russia of some convict fighters after they fulfilled the contract. 

“These are psychologically broken people who are returning with a sense of righteousness, a belief that they have killed to defend the Motherland,” said Yana Gelmel, a Russian prisoner rights lawyer who works with enlisted inmates. “These can be very dangerous people.”

Since July, around 40,000 inmates have joined the Russian forces, according to Western intelligence agencies, the Ukrainian government and a prisoners’ rights association. Ukraine claims that nearly 30,000 have deserted or been killed or wounded, mostly in the fighting around the eastern city of Bakhmut, though that figure is difficult to confirm.

former inmate himself, Prigozhin showed that he understood prison culture, skillfully combining a threat of punishment with a promise of a new, dignified life, according to rights activists and families.

“I needed your criminal talents to kill the enemy in the war,” Prigozhin said in one video. “Those who want to return, we are waiting for you to come back. Those who want to get married, get baptized, study — go ahead with a blessing.”

Most of the enlisted men were serving time for petty crimes like robbery and theft, but records from one penal colony seen by The New York Times show that the recruits also included men convicted of aggravated rape and multiple murders.

“There are no more crimes and no more punishments,” Olga Romanova, the head of Russia Behind Bars, said. “Anything is permissible now, and this brings very far-reaching consequences for any country.”

NYT Ukraine War Briefing, Jan 30, 2023

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Sobre os impedimentos político-estruturais do Mercosul - Tomas Guggenheim

 Transcrevo, de um debate entre colegas diplomatas e economistas:

 Diversamente da UE, o Mercosul não é nem deveria ser um "projeto político". A nossa política na região, como no resto do mundo, se processa bilateralmente e só se tomam decisões em grupo ou regionais caso a caso. E isso é relativamente raro quando estão em jogo interesses concretos, para implementação efetiva. 


Na UE o projeto de integração caminhou passo a passo mas nunca perdeu de vista a possibilidade ou a expectativa de progressiva abdicação das soberanias nacionais em muitas áreas. Só não avançou realmente nas questões de segurança externa, entre outras, porque os países não quiseram ir tão longe, confiando mais no guarda chuva americano (OTAN) do que numa eventual e problemática liderança militar franco-alemã-britânica. Mas puderam chegar a um alto grau de integração/cooperação em matéria econômica, exceto (sobretudo) nas áreas fiscal e social, pois era inevitável reservá-las para a jurisdição dos parlamentos nacionais devido ao próprio funcionamento dos seus regimes políticos .

Nada disso é possível no Mercosul, nem mesmo a cooperação política, porque os quatro países, sem falar no enxerto venezuelano aprovado à época por 3 governos esquerdistas (infringindo a legislação da instituição), não têm a suficiente estabilidade para que as decisões e orientações sejam mantidas - como ocorre na UE - a despeito das mudanças de governo. A politização é até contrária aos interesses do Brasil, porque os parceiros invocam argumentos políticos para extrair vantagens econômicas e quase nunca acontece o contrário, até pela influência do Itamaraty, porque o papel institucional das chancelarias, quando podem decidir sozinhas, as inclina a fazer concessões para manter "boas relações", sendo o exemplo mais óbvio a aceitação das permanentes restrições ilegais argentinas às importações do Brasil. Isso é turbinado quando o próprio presidente adota essa postura, como ocorreu na expropriação de bens da Petrobrás pela Bolívia, nossa endêmica tolerância com o contrabando paraguaio e os financiamentos à Cuba e Venezuela, até agora "a fundo perdido".

A proposta argentina de moeda escritural é só um pretexto para financiar as importações originárias do Brasil e escolheram o oportuno momento político para dar o bote, a volta de Lula, disposto a pagar por uma efêmera  popularidade ou "liderança" na região, que, mesmo se fosse autêntica, não serviria para nada prático, às custas do contribuinte.

O Mercosul é uma simples zona de livre comércio imperfeita, incompleta, incapaz de transcender as limitações impostas pelas leis do mercado, o que já foi testado ao longo das décadas. Ele tem representado apenas 7 por cento do nosso comércio exterior, mas nos impede de negociar livremente outros acordos com terceiros países. A reivindicação uruguaia deveria ser a brasileira, não que quiséssemos agora abrir nosso mercado a um acordo com a China ou a Grã Bretanha, mas sim ter o direito de fazê-lo quando e como decidirmos sem depender da aprovação de 3 países menores, com outra estrutura produtiva. Aliás, não há precedente no mundo de um país abrir mão de sua soberania em política comercial dessa maneira e com tais parceiros. 

A propósito, é óbvio que o Uruguai poderia vir a ser uma plataforma de reexportação de produtos industriais chineses como resultado do acordo que pleiteiam com aquele país ou com a Associação do Acordo Transpacífico. Num caso como esse, o procedimento natural dos demais países do Mercosul seria fazer valer o sistema de requisitos de origem, pelo qual os produtos ou seus componentes que não fossem legitimamente processados no Uruguai não se beneficiariam das concessões tarifárias do bloco. Só que isso demandaria que inspetores brasileiros, por ex., em caso de dúvida, inspecionassem as unidades produtivas e a contabilidade dos exportadores uruguaios, o que seria "políticamente inviável". ”
Tomas Guggenheim
30/01/2023

Dúvidas em torno de certos aspectos depressivos da política nacional - Paulo Roberto de Almeida

Dúvidas em torno de certos aspectos depressivos da política nacional

Paulo Roberto de Almeida


Existe algum ramo da psiquiatria que seja especificamente encarregada da política? Ela possui algum conceito para expressar suprema indignidade para com ações de terceiros? Seria possível incluir algumas outras ações ou omissões na categoria de “crimes contra a humanidade”? Por exemplo, extorsão dos recursos coletivos da população por aqueles mesmos encarregados de repartir as dotações orçamentárias, ou então, deixar de prestar socorro, com os meios à sua disposição, a quem está sendo deliberadamente agredido por alguém de força maior?


Já era possível sofrer de vergonha alheia ao assistir a nação ser extorquida pelos próprios encarregados de representá-la politicamente. Ao ver mandatários colaborar indiretamente com um empreendimento de extermínio de um povo, no caso o ucraniano, sobrevém um sofrimento indizível ante nossa incapacidade de prevenir o morticínio.


Não, não estou no limiar da depressão política ou requerendo ajuda psiquiátrica, mas sei de várias pessoas que poderiam ser internadas por algum alienista especializado na “arte” da política.  Diagnóstico? Crueldade extrema na condução da representação política. 

Ou seria antipolítica?


Os argumentos contra a aplicação de sanções ou contra o fornecimento de armas de defesas por serem “ineficientes” ou por “aumentar o número de vítimas e o sofrimento geral” representam a sordidez consumada e uma covardia vergonhosa.


Por enquanto é o que temos no teatro indigno da política nacional. Impossível não sofrer de vergonha alheia. 

30/01/2023

Wladyslaw Szpilman (1911, Sosnowiec- 2000, Varsovie)

 Un grand merci à Daniel Pinto pour cette touchante histoire, rien que la terrible vérité d’une vie dilacérée… (PRA)

Wladyslaw Szpilman (1911, Sosnowiec- 2000, Varsovie)

Il est né dans une famille de musiciens. Son père était violoniste dans l’orchestre de Katowice, sa mère jouait joliment du piano. Ses parents n’ayant pas les moyens d’acheter un poste de radio, Wladyslaw lisait les partitions de Tchaïkovski, Scriabine, Beethoven et Brahms, Szymanowski qui se trouvaient à la maison. Il eut quelques difficultés à convaincre son père de le laisser tenter sa chance au Conservatoire Chopin de Varsovie

Cinq années plus tard, en 1931, Szpilman fut admis à l’Académie de musique de Berlin, où il eut la chance de travailler avec Fritz Kreisler et Arthur Schnabel. Il assista aux concerts de la Philharmonie de Berlin, sous la direction de Wilhelm Furtwängler, et rencontra même le compositeur Paul Hindemith et le grand violoncelliste Emmanuel Feueurmann. Il rentra cependant à Varsovie pendant l’été 1932 car l’atmosphère était déjà très tendue à Berlin.

En 1939, Szpilman est engagé par l’Orchestre de la radio de Varsovie. Il donne un concert sous la direction de Grzegorz Fitelberg et se lie avec le compositeur Witold Lutoslawski, qui allait jouer un rôle important dans sa vie, mais surtout dans sa survie. Le 23 septembre de la même année, alors qu’il est en train d’enregistrer la Ballade en fa mineur et la Barcarolle de Chopin, les Allemands encerclent la ville. Soudain, l’électricité saute dans le studio, et c’est la fin, ainsi qu’il l’écrira dans son livre, Mort d’une cité, publié en 1946, et aussitôt interdit par les autorités communistes, parce qu’il fait état de l’attitude de la majorité de la population polonaise à l’encontre des Juifs pendant la Shoah.

Les Allemands ayant occupé Varsovie, la guerre contre les Juifs a aussitôt commencé. Port du brassard blanc et bleu avec l’étoile de David, interdiction de posséder plus de 2000 zlotys, interdiction d’occuper plus d’une pièce par famille, interdiction d’exercer un emploi hors du ghetto. Toute infraction étant punie de mort. Mais ce n’était qu’un début qui dont la finalité fut l’extermination des 500 000 Juifs séquestrés dans le ghetto de Varsovie.

Les première sélections, appelées Aktions, commencèrent. Les SS séparaient les enfants de leurs mères, qu’ils déportaient dans le camp d’extermination de Treblinka. Au début, les Juifs croyaient qu’ils partaient travailler à l’Est. Szpilman le crut aussi. Il jouait de la musique légère de sa composition dans les cafés du ghetto pour gagner sa vie et celle de ses parents qui avaient dû vendre tout ce qu’ils possédaient, y compris leur très beau piano. Ce riche répertoire fut enregistré après la guerre sur les premiers microsillons, distribués aux États-Unis et en Union soviétique.

 Quand ses parents furent sélectionnés pour se présenter sur l’Umschlagplatz, lieu d’où partaient les wagons de marchandises pour Treblinka, Wladyslaw s’y rendit avec eux. Mais les policiers juifs du ghetto qui le reconnurent, l’empêchèrent de monter dans le train. L’épidémie de typhus décimait les habitants du ghetto, mais parce que les nazis avaient très peur d’être contaminés, il y eu pendant quelques temps un répit dans le rythme des Aktions.

Après la déportation de ses parents, Wladyslaw n’avait plus de lieu où habiter, car la pièce où ils avaient vécu, avait été attribuée à d’autres. Considéré comme déporté, il n’avait plus de possibilité de travailler, or les rations alimentaires misérables, n’étaient distribuées qu’à ceux qui justifiaient d’un travail. Wladyslaw se rendit au Judenrat (l’administration juive du ghetto, crée par les Allemands, dont le président Adam Czerniakow se suicida quand les nazis lui donnèrent l’ordre d’établir les listes de Juifs à déporter quotidiennement). On lui conseilla de jouer du piano pour les Allemands « qui aiment la musique ». Ayant refusé, il trouva finalement à se placer dans un kommando qui construisait un immeuble à huit kilomètres des murs. Il profita de la situation pour s’enfuir du côté aryen. Des amis appartenant au milieu musical lui prêtèrent un appartement vide pendant quelques jours. Puis, le compositeur Witold Lutoslawski qui faisait partie de l’organisation secrète Jegota, qui sauva environ 20 000 Juifs, donna un concert avec un violoniste, pour lui en offrir le cachet.

Dès lors, Szpilman erra d’une cachette à l’autre : chez un peintre ; un chef d’orchestre ; puis dans une chambre, dont il ne sortit pas pendant quatre mois, jusqu’au moment où la concierge ayant suspecté quelque chose, vint tambouriner à sa porte. Il ne broncha pas, et s’enfuit la nuit-même. Sans papiers, sans vêtements autres que des loques, il se retrouva à la rue. Il finit par sonner à la porte d’un ami ingénieur. Quand la mère de ce dernier ouvrit la porte, elle ne le reconnut pas et recula, épouvantée. Ils l’hébergèrent pendant dix jours. On lui trouva ensuite une nouvelle cachette : une chambre dont la porte officielle était fermée de l’extérieur, et où on lui apportait à manger épisodiquement.

 Le 19 avril 1943, éclata l’Insurrection du ghetto de Varsovie, dont les nazis avaient entrepris la liquidation. Les jeunes de l’Organisation juive de Combat résistèrent avec des grenades, des cocktails Molotov et quelques vieux fusils aux troupes du général Jürgen Sroop, pendant six semaines. Ce dernier se vanta dans un télégramme envoyé à Hitler, d’avoir brûlé au lance-flamme, un à un, tous les immeubles du ghetto, et liquidé les derniers Juifs de Varsovie. Seule une poignée d’insurgés réussit à s’enfuir par les égouts. Mordechai Anielewicz, le commandant en chef des insurgés, se suicida avec sa compagne Mira Furcher et sa famille, dans son bunker, situé au 18 de la rue Mila, au moment où les nazis le découvrirent, le 8 mai 1943. 

Au mois d’août, il ne restait du ghetto qu’un immense terrain vague, jonché de gravats calcinés. Après l’insurrection de la Varsovie chrétienne, qui dura du mois d’août au mois d’octobre 1944, et l’évacuation de tous ses habitants, Szpilman était le seul survivant parmi les ruines, mais il l’ignorait. Il se réfugia sur le toit de la maison où il était caché, persuadé que les nazis fouillaient plutôt les caves à la recherche d’or dans les immeubles incendiés. Repéré par les soldats qui crièrent « Halt ! », il s’enfuit, passant parmi les décombres, d’une ruelle à l’autre. Il trouva enfin un immeuble qui tenait encore debout et monta dans les combles. Il ignorait qu’un kommando allemand était installé dans un des appartements. Trois jours plus tard, n’ayant plus rien à boire ou à manger, il descendit un étage afin de fouiller dans les placards. Soudain, quelqu’un cria dans son dos : Halt ! Se retournant et pensant vivre ses derniers instants, il se trouva face à un officier qui prononça ces mots : « N’ayez pas peur. » Szpilman qui était en haillons, ne s’était ni lavé ni rasé depuis quatre mois. Il tenta d’abord de justifier sa présence en disant que cette maison avait été la sienne avant la guerre. L’officier lui répondit qu’il ne pouvait pas rester ici. Puis s’amorça un dialogue.

– Quelle est votre profession ?

– Pianiste et compositeur.

– Alors, présentez-vous à la Feldgendarmerie.

– C’est impossible.

– Vous êtes juif ?

– Oui.

– Suivez-moi.

Ils descendirent dans l’appartement que l’officier occupait quelques étages plus bas. Les vitres de la vaste pièce où ils entrèrent étaient brisées. Mais Szpilman y vit un grand piano à queue.

– Asseyez-vous et jouez-moi quelque chose.

Szpilman n’avait pas posé les mains sur un clavier depuis plus de deux ans. Il joua le Nocturne en Ut dièse mineur de Chopin. L’officier lui demanda comment il avait réussi à se cacher, alors que la ville avait été évacuée. Szpilman le conduisit dans les combles 

L’officier qui se nommait Wilhelm Hosenfeld, lui dit alors à voix basse : « Je sais tout ce qui s’est passé. Les Allemands ont commis un immense massacre, et c’est une honte pour l’éternité. Quel malheur d’être né allemand ! » À trois reprises, Wilhelm Hosenfeld lui apporta des vêtements et de la nourriture. La dernière fois qu’il vint, il dit à Szpilman : « Tenez bon. Nous avons perdu la guerre, dans trois semaines, nous ne serons certainement plus là. » Szpilman lui répondit que s’il survivait, et qu’il avait besoin de lui après la guerre, il pourrait venir le voir à la Radio. Il ne lui donna que son prénom et ne lui demanda pas le sien, craignant que s’il était pris et torturé, il ne révélât son existence.

Les mois et les semaines passèrent et, au mois de décembre 1944, le thermomètre descendit jusqu’à moins 25°. Szpilman ne pouvait plus boire l’eau des gouttières, car elles avaient gelé. Il se résolut donc à sortir, ignorant que l’Armée rouge avait enfin traversé la Vistule. Un soldat allemand déguisé en civil, commença à le poursuivre, mais surgit alors un soldat portant le brassard de l’Armée polonaise. En braquant son arme sur Szpilman, il lui cria : « Haut les mains ! ». Szpilman lui cria en polonais de ne pas tirer. Le soldat lui révéla alors qu’il était le seul civil ayant survécu dans les ruines de Varsovie.

Szpilman le conduisit dans l’appartement où avait vécu Wilhelm Hosenfeld, et passa trois semaines dans cet immeuble avec les soldats pour lesquels il jouait du piano. Un jour, il les quitta et se rendit aux studios de la Radio, où s’étant fait reconnaître, on l’installa devant un piano. Il donna un récital Chopin improvisé qui fut retransmis en direct.

Ce fut le début d’une nouvelle vie. Wladyslaw Szpilman fut nommé directeur de la musique à la Radio et donna des concerts avec le Quintette de Varsovie dont le premier violon était Bronyslaw Gimpel.

En 1950, Szpilman fit la connaissance de Halina Grzecznarowska, qui venait d’achever ses études de médecine en tant qu’hématologue. Le père de Halina, qui avait été le maire socialiste de Radom avant la guerre, avait été déporté par la Gestapo au camp de Sachsenhausen, auquel il survécut. Wladyslaw et Halina se marièrent et eurent deux fils Andrzej et Krzyztof. 

Lorsque je demandai à Wladyslaw ce qu’il était advenu de son sauveur, il me raconta tristement la fin de l’histoire, qu’il n’apprit qu’en 1950, en recevant une lettre d’un survivant Juif allemand, nommé Léon Wurm, également secouru par Hosenfeld.

Léon Wurm lui écrivait que l’officier allemand avait été capturé par l’Armée rouge le 17 janvier 1945, puis condamné à mort pour crimes de guerre. Sa peine avait été commuée en 25 ans de travaux forcés. Il se trouvait à présent dans un camp du côté de Brest-Litovsk. Dans l’espoir d’obtenir sa libération, Szpilman s’adressa à Jakub Berman qui occupait de hautes fonctions dans l’appareil communiste polonais. Il lui fut répondu que les Soviétiques refusaient de libérer le prisonnier, même après avoir été informés qu’il avait porté secours à des Juifs et à des Polonais pendant la guerre.

Wladyslaw Szpilman apprit que Wilhelm Hosenfeld avait subi une première attaque cérébrale au mois de juillet 1947, avant sa condamnation à mort. Victime d’une seconde hémorragie cérébrale, il mourut, complétement paralysé, le 1er janvier 1952. C’est alors que son fils vint à Varsovie avec sa femme et ses enfants, pour rencontrer Wladyslaw Szpilman, que son père avait sauvé. Après une longue enquête, l’Institut Yad Vashem, à Jérusalem, a décerné le titre de Juste parmi les nations à Wilhem Hosenfeld, le 25 novembre 2008.

Le Pianiste sortit deux ans après le décès de Wladyslaw Szpilman, survenu le 6 juillet 2000. Il remporta un succès mondial et reçut la Palme d’Or du Festival de Cannes et l’Oscar du meilleur film étranger en 2003.

Il souhaitait qu’on le revêtît de son habit de concert, et qu’on l’incinérât « comme ses parents l’avaient été à Treblinka ». Ainsi, pensait-il rejoindre ses parents et son peuple. Sa tombe en marbre noir, se trouve au cimetière de Powazki.

Distinctions

Commandeur avec étoile de l’ordre Polonia Restituta

Croix d’or du Mérite

domingo, 29 de janeiro de 2023

Um ano da morte do manipulador de consciências que quase destruiu a política no Brasil: Olavo de Carvalho


Não sou de fazer ofensas pessoais e não acho que OC tenha sido um imbecil. Era um polemista dotado de muita leitura e algumas boas reflexões sobre a deterioração da cultura no Brasil, mas também fez um enorme mal ao debate público pela exacerbação oportunista de uma fantasmagórica ameaça comunista e, sobretudo, por levar os beócios que ocuparam o poder entre 2019 e 2022, a destruir a diplomacia e o meio ambiente em especial. Foi vítima de suas próprias bobagens, sobretudo a insistência no fumo e a recusa das vacinas.

Opinião de um crítico:

“ Esse cara era perigoso. Um verdadeiro encantador de jumentos e de gado. Conseguiu a proeza de fazer com que idiotas se jactassem da sua ignorância e radicalismo. Conseguiu infiltrar seus pensamentos idiotas no meio militar e aproximou a forma de fazer política do Republicanismo radical Norte-americano ao Bolsonarismo. Foi o artífice do golpe, ao ponto de criticar Bolsonaro e os militares, sob o argumento de que haviam "perdido o momento" para o golpe. Seu maior legado foi deixar um Ministro da Educação  medíocre e um Chanceler que conseguiu destruir séculos de respeitabilidade da nossa diplomacia.”

Um julgamento peremptório:

"OC era louco. É preciso dizer com todas as letras. O fato de ter escrito alguns textos interessantes, até inteligentes, não elimina esse fato essencial. Era um desequilibrado mental, e nos últimos anos de vida não se dava sequer ao trabalho de esconder isso. De astrólogo, ex-muçulmano e ex-comunista, tornou-se um guru místico e líder de seita, abraçando teses estapafúrdias e distribuindo palavrões contra o mundo moderno, que ele odiava. Se tivesse se confinado aos livros, poderia até ter adquirido algum valor intelectual, como provocador cultural e polemista de algum talento. Mas tiveram a infeliz ideia de levá-lo a sério como "conselheiro político", posição que ele, embora negasse, assumiu com gosto. Os que assim o fizeram agiram como verdadeiros imbecis."

Gustavo Bezerra


Are Tanks Really a Game Changer in Ukraine? - Adam Tooze (Chartbook)

 Capabilities and shortcomings of Tanks.

Are Tanks Really a Game Changer in Ukraine?

Ones and Tooze

It, if I am honest, a topic I’ve been waiting to do a session about. 

I’ve been preoccupied with tanks since I was a little kid. As a small child, perhaps 6 years old, I remember learning that my birthday, 5 July, was the anniversary of the battle of Kursk, the biggest tank battle in history, fought in July 1943. I was surprised to hear that the battle was not in France or North Africa, but in the Soviet Union and I set out to draw, on a giant folding stack of printer paper, the kind that used to be fed through dot matrix printers, every one of the German and Soviet tanks engaged. 

For a fascinating cultural history of the tank as a modern leviathan, check out Patrick Wright’s remarkable book, Tank

The tank was first deployed by the British army in 1916 on the Somme. The French were the first to truly mass produce a tank, in the form of the Renault FT. The Germans became famous for the Blitzkrieg of World War II. Between 1956 and 1973 the Israelis were the masters of the modern art of mechanized warfare. The American M1 Abrams is arguably the most sophisticated tank ever have been deployed in large numbers. 

Like the car you might thus think that the story of the tank was a Western story - a military version of the Fordist story of modernization. And the current reporting of the war in Ukraine tends to reinforce that impression. German, British and American tanks are touted as weapons essential to Ukraine’s war effort, which otherwise tends to be depicted as relying on artillery, reinforced from the West, and plucky infantry, armed with anti-tank rockets, notably, of course, the Javelin.

Such a western-centric, Ford-inspired narrative of the tank inverts the historical record. Along with its rocket program and the Kalashnikov, arguably the main industrial legacy of the Soviet Union for modern history are its tanks - the various iterations of the T-series. 

At a rough estimate, of the 73,000 tanks in the arsenals of the world’s armies today, at least 60 percent were either produced in factories of the former Soviet Union or can trace their design to Soviet models. 

From the first decade of its existence, the Soviet Union embraced the tank as a key tool of modern warfare. By 1941 the Soviet tank fleet was far larger in numerical terms than that of any Western power. And it was not just a matter of numbers. The Soviet T-34 was the best-balanced design of any tank in the war. In the final stages of World War II, in the campaigns that hurled the Wehrmacht back to the borders of Germany, the Red Army conducted armored warfare on a scale that dwarfed anything seen in the West. 

The threat of an armored Soviet assault is what kept NATO planners awake at night from the 1940s onwards. In the 1980s Western analysts anxiously debated the scale and significance of the “tank gap”.

The tank forces facing each other in the Cold War were a truly impressive array. 

Even if we narrow the numbers down to those immediately available in Europe, according to the estimates by Chalmers and Unterseher, the total comes to 50,000 vehicles. 

The war being fought in Ukraine is being fought between two inheritors of this Cold War armory. 

When Barry Posen drew up a defense plan for the newly independent Ukraine in 1994 he assumed that a Russian attack would be met on the Ukrainian side by a tank fleet of 4000 vehicles. It would be a World War II-style encounter writ large, with tank forces maneuvering around each other, as Manstein and the Red Army had done over much the same terrain in 1943. 

Over the following years neither Russia or Ukraine maintained their tank fleets at their early 1990s levels. But following a serious effort at modernization, as the war began in February 2022 Ukraine had a fleet of 900 more or less operational vehicles. That is at least three times more than the Bundeswehr at the time. The Russian assault forces is thought to have counted 2800 tanks, with 400 more in the hands of their proxies in the Donbas. Again, these numbers dwarf anything in the European arsenal.

The losses on both sides have been heavy. The Ukrainians are thought to have been losing tanks at rates as high as 100 per month. And though tank-on-tank fighting is not favored by Soviet doctrine, some at least of the anti-tank action has been done by Ukrainian tank forces, many of them firing anti-tank missiles. 

But the most original development of the war, as far as the tank forces are concerned, is their deployment as long-range artillery. Rather than firing on flat trajectories for which their guns were designed, Ukrainian tankers are elevating their cannons and firing high-explosive rounds on high trajectories, that allow them to reach ranges of 10 km or more. This is enabled by the use of drone spotters and a technical gadget deployed on tablets, known as the Kropyva, that allows Ukrainian tank gunners both to rapidly calculate and adjust their gun aiming and to cooperate in fire teams. 

Equipped with this technology one Ukrainian tank gunner has claimed to have knocked out a Russian T-64 with 20 rounds of high explosive shells, fired from the astonishing range of over 10 kilometers.

The details of this feat remain contentious. But there is no doubt about the novel uses to which the Ukrainians are putting their substantial tank fleet. 

So far in the war in Ukraine the tank forces on both sides have essentially been fighting with similar vehicles. Indeed, the Ukrainians are deploying large numbers of captured Russian tanks. The Western tanks introduce superior new technology. Unlike the counter insurgency wars that they have been deployed into since the early 2000s, where their record is mixed, a fight with Russian T-series tanks is what the Leopards, Abrams and Challengers were designed for. In the two wars in Iraq their superiority was considerable. 

But the question in Ukraine is how they will fit into an existing mode of war-fighting and how significant their contribution can be, when the numbers are so small. In the short-run the Ukrainians will be lucky to be able to deploy a force in brigade strength i.e. c. 100 tanks. Even if the total of tanks supplied to Ukraine by its Western friends were eventually to add up to 321 vehicles, that would amount to a single armored division. The crucial question is whether the Ukrainian planners can identify a front or sector where a force of that type can make a decisive difference. Otherwise, it is hard to avoid the impression that their impact will be more one on morale and politics than on the battlefield. Deployed in small packets, their effect can be no more than local. 

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