O Massacre da Praça da Paz Celestial em 1989
Paulo Roberto de Almeida
Em 4 de junho de 1989, eu me encontrava em Washington, para uma conferência diplomática internacional da OMPI, sobre circuitos integrados (não serviu para nada). Mas segui as manifestações, nos dias anteriores, pela CNN, que transmitia tudo diretamente. No próprio dia, deu blecaute total, e a famosa foto do chinês carregando uma sacola de compras e barrando uma coluna de quatro tanques, só vim a conhecer algum tempo depois.
Onze anos depois, eu me encontrava na China, trabalhando a serviço da diplomacia brasileira, e realmente tinha acesso aos canais estrangeiros (CNN, BBC, Deutsche Welle, France 24 etc.), mas não acesso às redes de comunicação social (desde o Google e todos os demais), e tive de assinar um VPN (50 dólares anuais) para acessar meu. próprio blog e outros canais simplesmente vetados na China.
Os canais estrangeiros funcionavam sob estreito controle dos batalhões (milhares deles) de censores: podíamos ter as notícias normais, sobre temas correntes de cada rede estrangeira, inclusive sobre a China, mas quaisquer menções a Tibete, Xinjiang, manifestações contra o governo, direitos humanos na China (até sobre a Primavera Árabe, em pleno curso então) eram imediatamente barradas na TV: um painel preto, nas línguas desses canais (francês, inglês, alemão, japonês etc), tentava enganar a audiência mencionando um problema técnico temporário. Durava o tempo da notícia que os censores consideravam negativa ao poder do PCC, depois voltava ao normal, geralmente os poucos minutos da notícia. Quando se tratava de uma matéria mais extensa, os censores tentavam enganar mais ainda, colocando no lugar uma matéria daquele próprio canal, sobre turismo, por exemplo, enquanto durasse a matéria.
A censura era tão extensa e atenta que, em jogos de futebol em países estrangeiros, quando aparecia algum cartaz grande no alambrado, que os militantes democráticos pudessem colocar, tipo "Free Tibet" por exemplo, a transmissão do jogo também era interrompida, e no seu lugar entrava qualquer outro jogo.
Quando a CNN fez uma emissão especial dos seus 30 anos em funcionamento, justamente em 2010, eu também me encontrava na China: a CNN fez uma síntese de suas grandes matérias no período – guerra do Golfo, desastres naturais etc. –, mas ao chegar nos eventos de 4 de junho de 1989, novo blecaute total, e substituição ridícula por outras matérias "inocentes" da própria CNN.
A China um dia será livre e democrática, e esses eventos serão recuperados para a história, assim como a Alemanha unificada recuperou a memória do período totalitário da RDA e da URSS.
Vai demorar, mas virá um dia...
Onze anos depois, eu me encontrava na China, trabalhando a serviço da diplomacia brasileira, e realmente tinha acesso aos canais estrangeiros (CNN, BBC, Deutsche Welle, France 24 etc.), mas não acesso às redes de comunicação social (desde o Google e todos os demais), e tive de assinar um VPN (50 dólares anuais) para acessar meu. próprio blog e outros canais simplesmente vetados na China.
Os canais estrangeiros funcionavam sob estreito controle dos batalhões (milhares deles) de censores: podíamos ter as notícias normais, sobre temas correntes de cada rede estrangeira, inclusive sobre a China, mas quaisquer menções a Tibete, Xinjiang, manifestações contra o governo, direitos humanos na China (até sobre a Primavera Árabe, em pleno curso então) eram imediatamente barradas na TV: um painel preto, nas línguas desses canais (francês, inglês, alemão, japonês etc), tentava enganar a audiência mencionando um problema técnico temporário. Durava o tempo da notícia que os censores consideravam negativa ao poder do PCC, depois voltava ao normal, geralmente os poucos minutos da notícia. Quando se tratava de uma matéria mais extensa, os censores tentavam enganar mais ainda, colocando no lugar uma matéria daquele próprio canal, sobre turismo, por exemplo, enquanto durasse a matéria.
A censura era tão extensa e atenta que, em jogos de futebol em países estrangeiros, quando aparecia algum cartaz grande no alambrado, que os militantes democráticos pudessem colocar, tipo "Free Tibet" por exemplo, a transmissão do jogo também era interrompida, e no seu lugar entrava qualquer outro jogo.
Quando a CNN fez uma emissão especial dos seus 30 anos em funcionamento, justamente em 2010, eu também me encontrava na China: a CNN fez uma síntese de suas grandes matérias no período – guerra do Golfo, desastres naturais etc. –, mas ao chegar nos eventos de 4 de junho de 1989, novo blecaute total, e substituição ridícula por outras matérias "inocentes" da própria CNN.
A China um dia será livre e democrática, e esses eventos serão recuperados para a história, assim como a Alemanha unificada recuperou a memória do período totalitário da RDA e da URSS.
Vai demorar, mas virá um dia...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 3/06/2025 (já é 4 de junho na China)
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