sábado, 4 de outubro de 2025

Resenha peculiar da mais importante obra de Henry Kissinger, World Order, por Arnaldo Barbosa Brandão

DIPLOMACY do Kissinger ou como funciona o jogo do poder mundial. Uma Resenha do a.b.b.

Arnaldo Barbosa Brandão

(4/10/2025)

Pode-se discordar dele, pode-se não acreditar nele, pode-se desconfiar dele, mas o cara é um clássico, queira-se ou não. São nove capítulos, uma conclusão e uma introdução, onde ele conceitua o que seja “ordem mundial” e os diversos tipos de ordem que vigoraram ao longo da história. Kissinger dá um longo passeio e avisa logo no princípio do livro que “jamais existiu uma ordem mundial que fosse verdadeiramente global”. Posso imaginar o Henry sentado no seu luxuoso escritório, cercado de cinco ou seis livros básicos jogados sobre a mesa onde pontifica sua Tese de doutorado feita em Harvard seguida do clássico DIPLOMACY. E sobre o tapete persa, ou arrumadinhos nas prateleiras, centenas de livros sobre os temas mais inusitados que se possa imaginar. Os interesses dele vão da poesia clássica, passando pela geografia, comida, literatura, sem falar que conhece a vida dos personagens históricos de trás pra frente, desde o principal navegador chinês no Século XV até o que se passa na cabeça cheia de turbantes do líder supremo iraniano, o Ali Khamenei ou da careca do presidente russo Vladimir Putin. O livro é dedicado à mulher Nancy. Fez bem, imagine o que a Nancy deve saber dos segredos de estado do EUA. Se a minha mulher que não deixo passar da porta do meu cubículo que chamo apropriadamente de “o buraco da lacraia” vive me ameaçando: “olha que eu conto sobre aquela tua prisão no Forte da Laje”, imagine a Nancy. Na realidade, Kissinger está naquela fase em que acorda de manhã, dá um bocejo e diz: “eu sou o maior”. Esse é o perigo, quando o cara está lá em cima sempre aparece alguém querendo derruba-lo do pedestal. Na minha modesta opinião, não há mais nada que o Kissinger possa temer, a menos que aconteça algo como ocorreu com Ulisses, que  numa de suas viagens em busca do conhecimento foi punido por Deus com um redemoinho gigantesco que revirou seu navio e toda sua tripulação. Kissinger começa com a chamada “Paz da Vestfália” estabelecida há quase quatro séculos, que acabou com a  guerra dos trinta anos e parece ser um paradigma do que se poderia chamar  de “ordem mundial”. Daí vai subindo o morro e chega no Cap. 2 então embarca na canoa em que tem domínio completo e total, a balança de poder entre as duas guerras mundiais. O Cara é corajoso, logo no 3º Capítulo decide enfrentar o Islamismo. Também pudera, para um cara que passou meses conversando secretamente com Le Duc Too para tirar o EUA do atoleiro do Vietnam, nada mais assusta. Existiria no momento uma ordem islâmica ou é uma desordem? Kissinger explica. Ele começa pelo Tratado de Sèvres de 1920, aquele mesmo que dividiu o Oriente como se estivesse construindo uma colcha de retalhos colorida, destas que se usa para forrar a cama durante o dia. É bom saber que nesta época o conceito de “estado nacional” praticamente não existia no Oriente e a ideia de um estado laico era novidade por aquelas bandas. Um capítulo específico é dedicado ao Irã, onde ele aconselha: o EUA precisam calibrar de forma cuidadosa suas relações com a Arábia Saudita e o Irã, há por ali uma luta religiosa que já dura mais de mil anos entre duas correntes do Islã. Em seguida, ele pula para a Ásia e dali ele salta de volta ao EUA pra dar seus conselhos finais de quase duzentas páginas. Resumindo, diz ele: “é preciso alcançar o equilíbrio, mas há que se conter os “cães da guerra” e Putin é um deles. Os americanos contavam com os chineses pra isso , mas agora nem sei mais. Kissinger, como sempre, mais prático que teórico. Com a saída do Trump, os EUA devem voltar ao tabuleiro mundial  e o jogo deve ser “paciência” porque terá como oponente não só o jogo bruto dos russos, mas a paciência dos chineses, tudo indica que terá de lidar também com aliados teimosos como o Brasil(os militares vão facilitar as coisas, pois onde vão comprar seus materiais?). A velha Europa que estava mais ligada no chamado “meio-ambiente”, esta nova religião da qual vamos ter que fazer parte queiramos ou não, gostemos ou não vamos entrar no jogo pesado agora, mas agora é guerra, depois se pensa na diplomacia, ou seja depois da guerra é que entram os diplomatas, e nós temos uma tradição neste campo. Ah, mas tem o Bolsonaro, mas esse logo vai para o xilindró. Vamos ter que lidar com  Trump e seus asseclas e principalmente o Secretario de Estado, um tal Marco Rubio, um cara que ainda não entendeu que o Brasil não é Cuba, bastava olhar no mapa, mas esses caras não olham nada nem tem ideia do tamanho do Brasil, por enquanto ele tá acertando o pessoal do Supremo, como esse é  um povo que vive em outro planeta, tudo bem.

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