sábado, 4 de outubro de 2025

Uma nova “guerra do Peloponeso” em sua versão global? - Paulo Roberto de Almeida

Uma nova “guerra do Peloponeso” em sua versão global?

Considerações sobre o impossível containment da China e a hipótese de um novo Peloponeso invertido.        

A um amigo que me sugere que a Rússia continua sendo uma “aldeia Potenkim” e que o principal esforço do outrora “farol da democracia” é agora o de conter a reemergência do novo Império do Meio, eu diria o seguinte.  Essa tentativa, de um novo containment, já estava fadada ao fracasso desde a sua concepção, pois a China nunca foi, jamais será, uma nova União Soviética. 

        Agora temos um novo Império do Meio sem mais imperadores absolutos — dotados do poder de vida E de morte sobre seus súditos — no seu comando. A China é uma economia de mercado diferente, com um Estado weberiano inteiramente administrado por tecnocratas competentes, teoricamente comandados por um partido leninista, mas a ideologia é o que menos importa no seu modo de dominação: este é do ideal-typus racional-burocrático, temporariamente liderado por uma personalidade carismática. 

        Na verdade, é esse novo Hegemon que terá, por sua vez, de exercer certo containment contra o Hegemon declinante, para evitar acidentes bélicos mais graves. A “armadilha de Tucídides” agora é outra: como uma “Esparta” racional-burocrática conseguirá conter os espasmos irracionais, eventualmente violentos, de uma “Atenas” insatisfeita com sua própria diminuição nos grandes espaços geopoliticos. 

        Algum Tucídides do século XXI vai ter de descrever esse novo drama geopolítico, segundo um cenário diferente, pois sabemos que a História não se repete, mas pode rimar, como dizia Mark Twain (o mesmo que tinha enorme desconfiança de políticos, preferindo pessoas práticas).

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4/10/2025


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