O Brasil tem jeito?
Paulo Roberto de Almeida
[Objetivo: comentário econômico; finalidade: debate público]
Ou seja, quando voltaremos a crescer de maneira sustentada (o que nunca conseguimos fazer, verdadeiramente), com transformações estruturais e distribuição social desses benefícios?
Não sei, sinceramente, pois que os obstáculos não estão propriamente na área técnico-econômica, que pode ser corrigida em dois ou três anos, bastando responsabilidade fiscal, estabilidade macroeconômica, competição microeconômica (o que ainda não temos), boa governança (está difícil), alta qualidade dos recursos humanos (este o gargalo principal) e abertura ao comércio exterior e aos investimentos estrangeiros (temos aquele protecionismo atávico, que vem dos barões-ladrões da indústria, e aquele sentimento de amor e ódio: amamos o capital estrangeiro, mas detestamos o capitalista estrangeiro).
Está difícil de conseguir tudo isso?
Eu sei.
A última vez que crescemos um pouquinho (mas era quase nos arrastando), foi no início do século, entre 2003 e 2008, mas isso porque a economia mundial retomou, por breve tempo, as taxas que ela não mais exibia desde o primeiro choque do petróleo (1973).
De fato, a vida melhorou sob Lula, mas 30% disso eram o resultado do Tripé do Plano Real, finalmente consolidado entre 1999 e 2000 (metas de inflação, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal, com o tal de superávit primário); os outros 30% nos foram dados pela China (soja a quase 600 dólares a tonelada, minério a quase 200, etc.); e os outros 30% eram distributivismo estatal não sustentável (gasto público crescendo sistematicamente mais que inflação, mais que PIB, mais que a produtividade, que Dona Dilma, vulgo Madame Pasadena, praticou desde 2005; quando ela ficou de presidente-fantoche conseguiu criar a maior recessão made in Brazil de nossa história).
Como não era sustentável, deu no que deu, e ainda não saimos disso, nem vamos sair facilmente, por causa de Dona Pandemia, que vai nos manter no pântano por mais dez anos pelo menos.
Como as “zelites”, os mandarins do Estado e os políticos em geral são, pela ordem, (a) predatórios, (b) medíocres e (c) egoístas-perversos, os pobres estarão onde estão hoje por mais de uma geração, ou seja, 25 a 30 anos, por baixo.
Com todos esses defeitos das nossas elites, vocês queriam o quê?
Um Canadá no Brasil?
Sinto muito, mas não vai dar...
Fica para mais ou menos 2060, está bem?
Mas, sem a neve do Canadá.
Não se desesperem: vão sobrar alguns índios e os últimos gramscianos da Fefelech da USP.
O Brasil não acaba tão fácil.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 3734, 15 de agosto de 2020
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