O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 4 de março de 2009

1030) Metade trabalha, a outra metade recebe...

Algumas verdades muito simples:

Tudo que uma pessoa recebe, sem que tenha trabalhado, virá necessariamente do trabalho de alguém que não receberá por isso.

Um governo não pode dar algo a quem quer que seja, que este mesmo governo não tenha tirado antes de outra pessoa.

Quando metade da população de um país entende que não precisa trabalhar, porque a outra metade da população cuidará e proverá por ela, a metade que se vê obrigada a prover a outra entenderá que não adianta trabalhar, porque o fruto de seu labor não será seu.
E esse, meu amigo, é o fim de qualquer nação.

Não há como multiplicar a riqueza pela subtração.

Não é possível legislar em prol da liberdade dos pobres, legislando de forma a cortar a liberdade dos ricos.

Dr. Adrian Rogers, 1931 - 2005

8 comentários:

Anônimo disse...

Extremamente profunda a colocação que o senhor fez Prof. Paulo. Pois nos remete á várias reflexões sobre nosso país, sobre a nossa casa, sobre o sentido do trabalho,o sentido de nosso estudo, à sua valorização e seu reconhecimento. Nos remete a avaliarmos onde estamos, para onde vamos, mas peculiarmente, o que queremos. Faz com que questionemos atitudes dos nossos governantes sejam locais ou nacionais. E aí perguntamos: vale a pena lutar por um país melhor ? por uma vida melhor ?
Nos questionamos o tempo todo e muitas vezes saimos até de nosso equilíbrio emocional, nos indignando com a realidade de um sistema falido, como é o brasileiro. Pois é assim que a população se sente, presa, sufocada sem poder dizer ao governo, o que verdadeiramente gostaria. Mas, mesmo com tudo isso conspirando contra existem outras pessoas que nós fazem acreditar que devemos seguir ainda que explorados historicamente ou momentaneamente. Sem abaixar a cabeça, sem se comiserar, sem desistir nunca, mas nunca mesmo de um ideal de vida. Buscar atingir uma força interior de um lugar que nem nós mesmos conhecemos. E dizer: sim, esse país vale a pena, sim! E ele precisa de mim, mesmo que eu grite e ninguém ouça. Pois são os "Paulos" da vida (Paulo Freire, Paulo Roberto de Almeida) que deixam seu legado, a sua história de vida, para que possamos usá-las como referencial em nossa vida profissional. Este sim, é o sentido ideológico da luta para que esta nação tenha o mínimo de dignidade possível, ainda que os corruptos ou se não forem corruptos, os anti-éticos não deteriorem nossa nação na íntegra.
Parabéns mais uma vez por este texto tão coerente, atual e de reflexão...

Gustavo Tenório Trancoso Viana disse...

Estranhamente isso remete à imagem da insatisfação observada na Baixa Idade Média, em que os trabalhadores destinavam seus ganhos aos senhores feudais em troca de condições mínimas e segurança. Parece bem o que estamos vivendo hoje. A história mostra que este ciclo sempre se repete, de forma que a renda concentra-se em uma pequena parcela da população - principalmente nas mãos dos que poucos fazem. Obviamente que a conversa segue princípios mais específicos, entretanto, no que tange à relação em termos de trabalho e produção vemos realmente uma relação desproporcional. Em um outro esboço, postado em um outro blog do PRA, entitulado: "Uma proposta modesta: a reforma do Brasil", o senhor elencou vários tópicos aos quais para esta obsevação aqui presente valeriam recordar. Trata-se do fim da estabilidade do servidor público. Certamente, acrescido de outros ajustes, esta seria uma opção plausível de ser estudada de forma a garantir a eficiência dos mesmos, já que a aprovação no concurso os assegura de trabalhar como bem desejarem, no ritmo que entenderem. Esta foi minha constatação. Caberia refletir sobre tal citação.

Anônimo disse...

Hm...difícil decidir.

Estamos falando:

(a) de Bolsa Família, no qual pessoas miseráveis recebem 50 reais por mês e, normalmente, continuam trabalhando 8h por dia; ou

(b) do lucro privado, no qual pessoas que trabalham 15 horas por semana e passam o resto do tempo na piscina andam por aí em carros de cem mil dólares - fabricados por pessoas que trabalham 15 horas por dia e nunca terão esses carros?

Ideologically unclear, como diria o Zizek...

Paulo Roberto de Almeida disse...

Glaucia,
Voce está comentendo diversas falácias econômicas, bem como presunções não apoiadas em fatos, ou evidências comprovadas.
Vejamos:
Voce afirmou:
"Estamos falando:
(a) de Bolsa Família, no qual pessoas miseráveis recebem 50 reais por mês e, normalmente, continuam trabalhando 8h por dia;"
PRA: Você está presumindo que as pessoas, que você classifica como miseráveis (ou como tal classificadas pela assistência social, embora tenhamos encontrado casos devidamente fraudados), continuam trabalhando mesmo tendo recebido dinheiro do Bolsa Familia.
Se você acompanhar o noticiário relativo ao mercado de trabalho rural, verá que muitos agricultores estão se capitalizando rapidamente (ou seja, adquirindo máquinas), pois que não dispõem mais de oferta de mão de obra, compatível com suas necessidades. Ocorre, então, o fechamento de oportunidades de trabalho para pessoas, miseráveis ou não, que poderiam voltar a trabalhar, caso o Bolsa-Familia (que é supostamente temporário e em todo caso dependente das possibilidades fiscais do Estado) seja suspenso ou descontinuado.

"ou
(b) do lucro privado, no qual pessoas que trabalham 15 horas por semana e passam o resto do tempo na piscina andam por aí em carros de cem mil dólares - fabricados por pessoas que trabalham 15 horas por dia e nunca terão esses carros?"
PRA: Pessoas de alta produtividade, ou que possuem fontes de renda própria, podem trabalhar quantas horas desejarem, e você, ou o Estado, não têm absolutamente nada a ver com isso, pois como você mesma coloca, se trata de "lucro privado". Se é privado, não se trata de uma transferência estatal, correto? Ou seja, sua colocação revela apenas e tão somente seu preconceito pessoal contra o "lucro privado", supostamente espúrio ou ilegitimio em sua concepção.
Com esse tipo de argumento, não há fatos que possam se sustentar, como já disse alguém.
Acredito, pessoalmente, que você deveria distinguir o que é esfera privada e o que são políticas públicas, estas sustentadas exclusivamente com base no lucro privado, pois o Estado não tem outra fonte de recursos a não ser a atividade produtiva dos agentes econômicos primários, que são SEMPRE empresários e trabalhadores. Nao existe, simplesmente, outra fonte de recursos, e isso precisaria ficar bem claro. O Estado não cria, ABSOLUTAMENTE, nenhum recurso, apenas retira recursos criados por outros, que somos nós, aliás...
Ideologically unclear, como diria o Zizek..."

Anônimo disse...

Oi. Como já disse outro dia, admiro sua capacidade de exercer a controvérsia.

Não tenho nada contra o lucro privado, desde que derivado do trabalho. Mas nós dois sabemos bem que, no Brasil, há até bastante gente com bastante lucro privado que não é tão privado assim, né?

Quanto ao não-trabalho dos nossos indolentes caboclos, a crítica vale, desde que com toda a informação disponível.

Qual o salário que essas pessoas recebiam pra passar o dia todo capinando sob o sol? Eu não conheço ninguém que pararia de trabalhar se ganhasse R$100,00 por mês do governo.

Não é sua idéia, eu sei, mas esse argumento levado ao limite advoga pela semi-escravidão. Não quer trabalhar por isso? Morra de fome! E sabemos que no Brasil essa situação é bem pouco fictícia.

(deixemos a fraude pra lá: além do desvio argumentativo - é como deslegitimar a democracia porque há parlamentares corruptos -, quando ocorre fraude a perda é de 300, 400 reais em seis meses. O equivalente, aposto, à corrupção semanal de um pequeno departamento de compras de qualquer município do interior do Brasil; muito menos do que recebe um assessor fantasma de um vereador qualquer)

O custo do Bolsa Família, comparado à liberdade que ele traz, é negligenciável. Liberdade sim, porque para que os indivíduos possam se encontrar e contratar no mercado, é necessário que ambos sejam livres. E o trabalhador cuja família morrerá de fome se ele não aceitar um salário de miséria não é livre. Não é possível legitimar, com um discurso libertário, essa relação completamente desigual que é de completa submissão do trabalhador ao empresário.

Por isso fico com a crítica anterior: o Bolsa Família nada mais é do que uma reunião de programas sociais que já existiam sob Fernando Henrique. É uma política de mínimos direitos sociais, que em nenhum país desenvolvido seria contestada. Tem contribuído pra criar no Brasil uma classe média de verdade, bem diferente daquela que até 1990 monopolizava o mercado nacional - e que na verdade são os 10% mais ricos da população sob outro nome. E, se essa parcela agora tem que pagar 400 em vez de 200 reais pra doméstica, tanto melhor.

Paulo Roberto de Almeida disse...

Glaucia,
Não estou criando controvérsia neste caso, apenas expondo algumas realidades econômicas de nosso país.
O Bolsa Família não está criando uma classe média, pois apenas a integração produtiva no mercado de trabalho seria capaz de efetuar tal mudança social. O que ela está fazendo é atribuindo uma renda de maneira unilateral a muitos cidadão de baixa renda, que assim podem consumir acima de seu padrão normal, o que é em si meritório pelo lado assistencial, mas irrelevante no plano econômico nacional (a não ser estimular o consumo, sem necessariamente agregar mais pelo lado da oferta daqueles mesmos consumidores). Retire-se a BF, e as mesmas pessoas voltarão à condição anterior, sem qualquer mudança significativa...

Anônimo disse...

Nossa virou um debate, vou entrar pq adoro esse tipo de argumentação!!

Com relação aos lucros privados que argumenta a Gláucia vou concordar com totalmente com as palavras do Dr. Paulo Roberto quando dizem que se o lucro é privado, o capital é privado e ninguém tem na com isso. Entendo o ponto de vista da Glácia, olhando rápidamente parece injusto uma pessoa trabalhar o mês inteiro para ganhar R$100,00 no agreste por exemplo, enquanto outro dá umas ordens por telefone enquanto passeia por NY, e é milionário. Mas essa é a velha falácia marxista. Se um cara está rico suficiente para não precisar trabalhar é porque alguém já trabalhou para isso. Ou ele ganhou o próprio dinheiro ou herdou de alguém que trabalhou para dar isso a ele. ( Salvo os que enriquecerem ilicitamente, mas isso é outra discussão)Ou seja, é mérito dele e ele não precisa se envergonhar de comprar seu jato particular pq a maioria não pode ter. E não me venha com esse história de que as oportunidades não são iguais porque se esse for o mérito a ser discutido então não temos porque julgar ricos e pobres, temos que revisar o sistema.

Quanto ao programa de bolsa familia acredito que ele é um bom programa, assim como o que está em fase de aprovação sobre o sistema de cotas. O que os torna viciados é o fato de não ter prazo para acabar. Existem pessoas no interior de algumas cidades que já planejam os filhos pensando no dinheiro do bolsa familia, isso é um absurdo!Não tenho dúvida de que o bolsa familia melhorou a vida de muita gente mas ele sozinho e a longo prazo não resolve o problema da probeza e ainda cria um problema para os cofres públicos. A cada ano o presidente cria uma meta para expandir o programa e os valores são naturalmente reajustados, então ao longo prazo, criamos um problema semelhante ao da previdência social, onde o número de beneficiários é bem maior que o número de contribuintes.

Programas desse tipo não deveriam ser necessários, mas se nós como sociedade decidimos que neste momento ele é indispesável, temos que pensar no que vem depois. Estamos tentando resolver um problema ou estamos criando outro?

Anônimo disse...

Professor e Mila,

O Professor apontou na direção certa: é preciso ultrapassar o nosso tão amado debate filosófico sobre a justiça ou injustiça da coisa toda e concentrar a discussão nos efeitos. E, como sempre, no Brasil todos nos comprazemos em citar Aristóteles, mas ninguém quer ir a campo fazer conta.

O único estudo de que tenho notícia diz que, se o dinheiro é dado à mulher, 85% vão pra produtos da cesta básica e 95% vão pro comércio local.

Ou seja, se isso estiver correto, com essa injeção inicialmente artificial você termina sim gerando uma dinâmica econômica local que antes não existia. Integra ao capitalismo pessoas que viviam sem papel-moeda. A cidade onde não tinha nada começa a ter venda, o sujeito começa a plantar, pescar pra vender ali, e no máximo esse dinheiro vai abastecer os cofres da Perdigão e da Sadia. Se, como na Venezuela, toda a renda escorresse pelo ralo das importações, eu concordaria com o Professor, mas me parece que não é o caso.

Me parece também que o argumento de que essa distribuição seria artificial não cola. Fica parecendo que existe por contraste uma "distribuição natural", que é por acaso que a Finlândia tem uma boa distribuição de renda e o Brasil uma indecente. Que é a mera dinâmica natural dOs Mercados. Mas as instituições importam sim, ja detectava o North. E me parece que programas de distribuição de renda geram sim efeito dominó, encarecendo é verdade o custo das empregadas domésticas e boias-frias - o que não deixa de ser um inconveniente - mas criando uma base social de classe média de verdade que antes não existia, e que com sorte a médio prazo será de técnicos agrícolas em vez de boias-frias, e de secretarias executivas em vez de domésticas.

(a não ser que consideremos que classe média é quem lê a Veja enquanto faz esteira no condomínio)