Abaixo uma correção que fiz em 2005 a um desses editoriais mal escritos e mal informados...
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
sábado, 30 de junho de 2012
O Tratado de Nao-Proliferacao Nuclear: corrigindo um editorial de jornal (2005)
Abaixo uma correção que fiz em 2005 a um desses editoriais mal escritos e mal informados...
A politica externa de Lula, um texto de 2005 - Paulo Roberto de Almeida
O Brasil e o Conselho de Seguranca: um texto de 2005 - Paulo Roberto de Almeida
O governo contra a economia (e os cidadaos), 2: petroleo e gasolina
O artigo é de um ano atrás, mas sua atualidade é ainda mais atual, se me permito dizer. Tanto é assim que a Petrobras está tentando reverter algumas das péssimas decisões tomadas na gestão anterior, aliás, como quase todos os mesmos personagens do passado, à exclusão de dois presidentes, agora ex, que fizeram muito mal à empresa. Diga-se de passagem, os responsáveis diretos estão aí mesmo, no comando...
O governo sempre mete os pés pelas mãos, quando pretende criar um capitalismo dirigido, obediente, amestrado, subserviente. Tentou fazer assim com a Vale, que é uma empresa privada, mas que é considerada em certos setores como uma "perda estratégica" (vejam vocês: o governo gosta de exportar minérios, ou aço).
Sempre fez assim com a Petrobras, que foi uma empresa medíocre (a despeito de ser financiada por todos os brasileiros), até adquirir autonomia, sob o regime anterior, e crescer tecnologicamente e no mercado. Agora a empresa vem sendo usada para fins políticos (e eu nem menciono os milhões de reais repassados à máfia sindical) e com isso perde valor de mercado e não consegue cumprir objetivos empresariais, pois tem de cumprir objetivos que não são os seus (como, por exemplo, produzir renda para deputados e companheiros sequiosos de recursos públicos).
Infelizmente, temos de conviver com bobagens econômicas enquanto durar o reino dos companheiros no poder.
Paulo Roberto de Almeida
Petrobras perde US$5,7 bi em valor de mercado e cai no ranking do setor
Bruno Villas Bôas
O Globo, 9/07/2011
O mau desempenho das ações da Petrobras na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) — efeito da ingerência política sobre o reajuste do preço da gasolina nos postos — fez a companhia cair da terceira para a quinta posição no ranking das maiores empresas de petróleo do mundo. O valor de mercado da estatal encolheu US$5,77 bilhões desde 24 de setembro de 2010, data da sua megacapitalização (a maior da história), para US$207,33 bilhões ontem.
A companhia ficou, assim, menos valiosa pelo critério valor de mercado (que consiste em multiplicar as ações da empresa pelo seu preço) em comparação à anglo-holandesa Royal Dutch Shell (US$220,47 bilhões), agora a terceira no ranking. E também foi ultrapassada na listagem pela americana Chevron (US$211,54 bilhões), que assumiu a quarta posição.
Especialistas lembram que a perda de valor não foi maior porque as ações da estatal são negociadas em reais e a moeda americana, usada no ranking, desvalorizou-se 8,42% de 24 de setembro do ano passado até ontem. Desde o fim da capitalização, as ações preferenciais (PN, sem voto) caíram 9,71% na Bovespa e as ordinárias (ON, com voto), 11,82%.
Segundo Osmar Camilo, analista da corretora Socopa, além da interferência do governo, outros fatores afetaram as ações da empresa nos últimos meses, como a “digestão” da capitalização de R$120 bilhões e as incertezas sobre o plano de negócios da companhia.
— A empresa tem um desafio muito grande pela frente, que é fazer caixa para financiar o desenvolvimento do pré-sal — explica o analista. — No longo prazo, no entanto, esperamos que os investimentos realizados agora se mostrem benéficos, já que a produção de petróleo pode dobrar nos próximos dez anos.
O ranking segue liderado pela americana Exxon Mobil, com valor de mercado de US$402,21 bilhões. Em setembro, a Exxon valia US$314,93 bilhões. O aumento foi provocado pelo alta do preço do barril de petróleo. Na segunda posição aparece a Petrochina, com valor de mercado de US$265,92 bilhões.
Epidemia de ideias malucas - Moises Naim
O adjetivo "maluca" é meu, achei mais apropriado.
Ele trata das más ideias em geral, mas se fossemos fazer um inventário daquelas exclusivamente brasileiras, ou seja, das jabuticabas, um artigo só não bastaria; precisaríamos de meio livro, pelo menos.
Paulo Roberto de Almeida
Epidemia de malas ideas
Moisés Naím
El País (España), 10/07/2011
¿Caerá Grecia? ¿Se llevará consigo al euro? ¿Qué sucede si Pakistán entra en un caos político, o si las revueltas árabes producen incontenibles oleadas de refugiados hacia Europa? ¿Qué es más amenazante para la estabilidad de la economía mundial: un eventual estancamiento de China o la explosión de la deuda pública en Estados Unidos? El mundo está lleno de fragilidades y las noticias nos lo recuerdan a diario. Pero también hay otro tipo de fragilidad que, aunque menos visible, puede ser igual de peligrosa: la fragilidad intelectual.
Me refiero a la creciente frecuencia con la que las malas ideas se transforman en decisiones que nos afectan a todos.
Los gobernantes siempre se han mostrado vulnerables a la seducción de las malas ideas, muchas veces potenciadas por intelectuales, periodistas y otros actores influyentes. Pero ahora, las nuevas tecnologías, la globalización y la creciente presión para responder con rapidez y audacia a los problemas -muchos de ellos sin precedentes- han acentuado esta fragilidad. Las malas ideas se popularizan y se esparcen rápidamente por el mundo, antes de que aparezcan sus defectos. Y lo que es peor: enfrentados a las crisis (políticas, económicas, militares), los líderes se ven cada vez más tentados a apostar en grande -vidas, dinero, capital político- basados en ideas espurias. La invasión de Irak es un buen ejemplo, como lo son también la reacción inicial a la crisis económica mundial o, más recientemente, a la de Grecia.
Esto no es nuevo. La historia está salpicada de teorías que se ponen de moda e inspiran políticas, para terminar siendo refutadas o reemplazadas por otras. Algunas, como el comunismo o el fascismo, son construcciones ambiciosas, que proponen una visión total del mundo. Otras son más modestas en su alcance. La teoría de la dependencia, la curva de Laffer popularizada por Ronald Reagan, la presunta superioridad de la cultura gerencial japonesa o la idea de que es inteligente invertir grandes sumas en compañías de Internet sin ingresos fueron conceptos populares, luego demolidos por la realidad.
Igualmente hay buenas ideas que, después de ganar cierta notoriedad, son ignoradas porque resultan políticamente onerosas. La crisis económica puso sobre la mesa la necesidad de dotar al mundo de una "nueva arquitectura financiera". Hoy la necesidad sigue en pie, pero la propuesta ha pasado de moda y ya no cuenta con el apoyo que tenía durante el clímax del pánico financiero.
Si bien el ciclo nacimiento, apogeo y descarte (algunas veces incluso resurrección) ha sido una constante histórica de las ideas que influyen sobre grandes decisiones, su duración se ha abreviado. Esta aceleración se traduce en la volatilidad de las políticas, en detrimento de la adopción de alternativas más sólidas y duraderas.
La creciente necesidad de respuestas para problemas tan nuevos como amenazantes aumenta la probabilidad de que malas ideas se transformen en decisiones. A los jefes de empresa se les exige más resultados y más rápido; los dirigentes políticos se enfrentan a electorados cada vez más impacientes, los funcionarios están obligados a improvisar respuestas a emergencias sin precedentes... Así, las "soluciones milagrosas" e instantáneas se imponen a buenas propuestas que tardan en dar frutos. Aunque tarde o temprano las malas ideas quedan en evidencia y son descartadas, algunas duran lo suficiente como para causar grandes daños. Y cabe el riesgo de que sean sustituidas por una nueva "buena" idea igualmente engañosa y efímera. Un círculo vicioso.
Esta volatilidad intelectual es amplificada por las nuevas tecnologías de la información. Si bien la rapidez y la comodidad con las que nos comunicamos facilitan el escrutinio y la crítica de ideas y propuestas, no es menos cierto que el volumen y la velocidad de la información que circula por estos canales superan nuestra capacidad de discernimiento, aprendizaje, ponderación y reacción. En medio de un flujo continuo de datos, es imposible discriminar el ruido de todo lo demás. Qué idea es válida y qué crítica es ilegítima, tendenciosa o errónea. En este caso, a menudo, más es menos: cuanto más debate, menos claridad. Tanta información aumenta los costes de averiguar a qué y a quién creer.
Como pasa con muchos problemas, la fragilidad intelectual de estos tiempos no tiene remedios simples. Es inevitable que nuestros dirigentes sigan siendo seducidos por imposturas intelectuales, con los consabidos resultados indeseables. Pero, como lo han demostrado tanto los ataques terroristas como la crisis financiera, el primer paso para ser menos vulnerables a los encantos de las malas ideas es reconocer nuestra preocupante propensión a adoptarlas. Es tan prioritario estar alerta a la creciente influencia de las malas ideas como a los terroristas suicidas o a las letales innovaciones financieras.
Twitter: @moisesnaim
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Enrique Krauze: a dificil democracia latino-americana
A destituição de Lugo é menos polêmica que a que ocorreu em Honduras, pois temos a impressão que ao menos ela se deu nos termos das cláusulas constitucionais do país. O que acontece é que a democracia em nossos países é tão jovem e frágil que qualquer coisa que pareça ruim resulta ruim. Em um contexto de fragilidade democrática, a estabilidade e a continuidade são vistas como um valor, enquanto a interrupção de um governo é admitida apenas como exceção. Pessoalmente, faço votos de que a marcha institucional do Paraguai termine por demonstrar que o processo como se deu, que de fato não parece tão bom, tenha sido um recurso necessário.
A mim me parece deplorável que a Igreja, a essas alturas da história, siga tendo um peso político tão grande em alguns países. Eu não sou jacobino, mas penso que esse não é um signo de modernidade. A mim tampouco me parece que os costumes estritamente privados dos governantes tenham que ter mais importância que seu desempenho público. Entretanto, essa já é uma situação mundial - vide o que se constata nos Estados Unidos até hoje, quase uma intolerância puritana em relação aos hábitos dos candidatos, algo lamentável. Mas trata-se de um vício quase universal da democracia.
Eu não conheço a Constituição do Paraguai, mas o país é soberano em suas próprias decisões e é preciso respeitá-las. Ainda assim, não podemos fechar os olhos diante da realidade política de que o prestígio democrático da América Latina não é o mais alto. E é preciso ser muito cuidadoso em relação à forma como certas decisões são tomadas. De novo, evoco um velho ditado espanhol que não sei se tem correspondente em português: No hagas cosas buenas que parescan malas (não faça coisas boas que pareçam más). Eu acredito que no Paraguai se fizeram coisas que podem até estar corretas, mas de uma forma que não parece correta. Por isso, os paraguaios vão padecer até que esse capítulo se encerre. Em política, as aparências são tão importantes quanto a realidade.
Essa instabilidade é rotineira, mas é uma boa notícia que os governos populistas estejam enfrentando as consequências de suas promessas. Ainda que nossas jovens democracias muitas vezes não entendam a importância da responsabilidade, na vida não é possível receber sem dar, nem dar sem receber. Se não se tem consciência de que todas as liberdades vêm acompanhadas de responsabilidades, o tecido social se desvirtua. Quem planta por todos os lados promessas de riqueza infinitas, uma hora vai encontrar os destinatários a cobrá-las. Agora vamos ver como esses governos populistas sairão dessa.
Eu considero que, assim como há "redentores" de esquerda, também existem os de direita. E Álvaro Uribe está se aproximando perigosamente de tal perfil, começando a pensar que a história da Colômbia não pode caminhar nem avançar sem sua presidência. Esse enfrentamento direto que ele tem feito a Santos me parece muito perigoso. Porque a Colômbia, com todos os problemas que conhecemos, sempre foi um país exemplar em sua marcha democrática. Quero dizer uma coisa: não creio em "homens indispensáveis". A ideia de que certos líderes são necessários e indispensáveis é muito ruim. A postura de Uribe hoje é tremendamente criticável.
O México enfrenta neste domingo um novo desafio em sua vida democrática. Irão às urnas mais de 40 milhões de pessoas. O país hoje tem instituições eleitorais autônomas que manejam o pleito de maneira confiável e a vitória, segundo os institutos de pesquisa, deverá ser do PRI (Partido Revolucionário Institucional, hoje na oposição). O PRI conserva muito dos aspectos que nos levaram a chamá-lo de "partido dos dinossauros", mas também tem uma ala jovem que pode vir a modernizar o partido. Isso nós ainda vamos saber. Ainda que o partido tenha o hábito de grande corrupção política e econômica, também é verdade que o México mudou tanto nos últimos anos que uma restauração pura e simples do velho sistema será impossível. Acredito que, muito mais que o PRI, vai triunfar hoje a democracia do nosso país, que não tem mais que 14 anos de vida, mas tem avançado substancialmente.
Não costumo pensar em termos de ondas. O que vejo ocorrer é um fortalecimento da democracia no continente. Sou um otimista. E creio que as novas gerações na América Latina estão se dando conta de que a via proposta por Chávez e Fidel é ruim, que a saída de "esquerda radical revolucionária socialista", todo esse delírio, não é viável nem conveniente. E os países da região estão agora flutuando entre governos ora mais conservadores, ora mais liberais, inclusive social-democratas. Nisso, o Brasil, por seu exemplo, jogou um papel fundamental.
O Brasil teve, consecutivamente, três presidentes oriundos da esquerda - a acadêmica, a sindical e até a guerrilheira. Todos, no entanto, comprometidos com a democracia e a modernização. Conhecemos Fernando Henrique Cardoso nos anos 1960 e 70 como um teórico marxista e foi esse mesmo homem que logrou fazer as reformas liberalizantes no país. Lula também conseguiu se livrar de seu passado no sindicalismo radical e modernizar o Brasil. E Dilma, que cerrou fileiras com um grupo armado, mostra-se hoje um exemplo de racionalidade política. Diante do exemplo brasileiro, ficou evidenciado o absurdo de uma via populista para a América Latina. Não quero cantar nada em definitivo, mas talvez estejamos assistindo ao último adeus do populismo no continente. As exceções seguem sendo Venezuela e Argentina, esta última aprisionada por um peronismo que virou uma espécie de religião lá.
Correa ganhou certo destaque, mas o Equador jamais terá o peso geopolítico de uma Venezuela, com suas imensas jazidas de petróleo. E o destino de Chávez será jogado nas eleições venezuelanas de outubro, que serão verdadeiramente históricas.