8. Como a luta armada se desenvolveu?
(ver neste link)
9. Por que
houve luta armada no Brasil?
Provavelmente por causa de
indução externa, já que ela jamais teria existido na sequência “normal” do
processo político brasileiro, mesmo em situação de “golpe militar”, ou de
“ditadura”. Como consagrado em outro tipo de literatura – em obras menos
passionais, de brasilianistas, por exemplo – existia já uma tradição estabelecida
de intervenção militar na política doméstica, e não se pode dizer que o mores político brasileiro fosse
naturalmente democrático e civilista. As tradições positivistas, castilhistas,
comtianas, e até fascistas, ou pelo menos corporativas, existiam desde até
antes da República e na maior parte desta não se conheceu, de verdade, um
sistema de representação política, aberta, transparente, accountable, enfim, democrático.
Tanto quanto os militares,
os líderes de esquerda também eram autoritários, quando não totalitários, e em
nome da democracia pretendiam, na verdade, implantar um regime de “ditadura do
proletariado”, ou o que lhe fosse equivalente, segundo as possibilidades e
arranjos da fase “pós-burguesa”, que de todo modo se pensava superar
rapidamente. Creio que não existe nenhuma dúvida quanto a isso, e desafio
qualquer saudosista dos movimentos armados a me provar que se pretendia
implantar no Brasil um sistema liberal, de livre competição política com
partidos “burgueses”: se tratava justamente do contrário, de assegurar o
predomínio da causa proletária ou alguma variante disso, se não a mais extrema,
a via chinesa do comunismo agrário integral.
O mais importante, porém,
e isso é preciso ressaltar sempre, é que ela não teria existindo sem o impulso,
o apoio, ou praticamente o apelo dos dirigentes cubanos, para que seus
verdadeiros amigos do continente empreendessem, rapidamente, outros processos
revolucionários, com vistas a romper o isolamento cubano. O mesmo fenômeno
ocorreu no início da revolução bolchevique, quando líderes como Lênin e Trotsky
trataram de impulsionar a revolução comunista na Alemanha e em outros países,
para romper o “cerco imperialista” ao regime bolchevique; a Terceira
Internacional foi constituída justamente para isso e por isso, e foi em função
de suas diretivas, e ordens diretas, que Prestes empreendeu a sua patética (mas
traumática) intentona no final de 1935. O PCB era, até 1961, o Partido
Comunista do Brasil, como o Komintern tinha exigido que se chamassem as “seções
nacionais” da III Internacional. A revolução cubana tendeu recriar essas
estruturas através da OLAS e da OPANAL, mas eram iniciativas totalmente
artificiais, no contexto dos países latino-americanos, como foram artificiais,
e por isso derrotadas, as aventuras guerrilheiras de inspiração castrista e
guevarista em diversos países da região.
Não importa quais fossem
as especificidades nacionais, o fato é que a luta armada no Brasil foi um
empreendimento nacional, mas basicamente impulsionado de fora, com dinheiro,
treinamento e suporte logístico vindos de fora, essencialmente dos amigos
cubanos (que podiam repassar alguns recursos soviéticos, que sempre quiseram
estar no comando de várias frentes de combate). O apoio cubano extravasou,
aliás, o simples financiamento da guerrilha, e se manifestou, durante muito
tempo, em diversas outras “frentes de trabalho”, algumas não de todo reveladas,
ainda – embora não desconhecidas – e que poderão vir a público se a
inteligência cubana não tiver tempo de destruir os seus arquivos antes da
derrocada final daquele regime moribundo. Esta é uma realidade que muitos dos
companheiros atuais não gostam de admitir, mas que eles sabem ser verdade, como
o sabem também os órgãos de inteligência do Brasil. O dia em que a história for
escrita, em todos os seus matizes e com todas as suas fontes, esses aspectos
poderão aparecer em toda a sua luminosidade obscura, se vale o trocadilho.
(continua, para a última postagem desta série)