O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 31 de maio de 2009

1128) Um manifesto anti-escravista seriamente enviesado

Abaixo figura uma petição contra um concurso português que pretende protestar contra o "encobrimento" do passado escravista desse país.
Ele foi redigido, em três idiomas, por um conjunto de acadêmicos, em grande parte professores de história, que criticam a visão mistificadora do referido concurso, cujas características estão descritas abaixo.
Ainda que concordando em grande medida com a descrição dos horrores da escravidão atlântica, eu me pergunto por que apenas atlântica, quando a escravidão é um processo mundial que, desde a antiguidade envolveu não apenas povos africanos e o tráfico atlântico. Mesmo considerando-se apenas a escravidão dos povos africanos, o comércio escravo náo foi apenas atlântico, tendo aliás persistido no Indico durante mais tempo que no Atlântico, sendo os comerciantes árabes os mais ativos no tráfico. Países árabes, por sinal, aboliram a escravidão apenas na segunda metade do século XX (a Árabia Saudita em 1962 e a Mauritânia em 1975, sendo que, na verdade, a escravidão ainda não acabou totalmente nesse últiumo país).
Considero, portanto, altamente enviesado esse manifesto e, embora transcrevendo-o aqui, não pretendo firmá-lo. Reputo seu teor digno de atenção, mas entendo que os historiadores que o compuseram pecam por parcialidade e falta de objetividade na consideração do processo histórico como um todo, além de exibirem um revisionismo histórico totalmente ilegítimo para verdadeiros historiadores.
Que a escravidão -- não apenas africana -- tenha sido uma tragédia da humanidade, disso ninguém tem dúvidas, embora ela deva ser considerada como um dos elementos de um passado histórico que deve ser considerado em seu próprio contexto, e não julgado com base em nossos valores e critérios históricos e filosóficos atuais.

O concurso 'As 7 maravilhas portuguesas no mundo' ignora a história da escravidão e do tráfico atlântico
link

Há mais ou menos vinte anos, vários países europeus, americanos e africanos vêm afirmando a memória dolorosa do comércio de africanos escravizados e valorizando o patrimônio que lhe é associado. Essa valorização se traduziu não somente na publicação de um grande número de obras historiográficas, mas também se expressou na realização de projetos como A Rota do Escravo iniciado pela UNESCO em 1994.

Apesar das dificuldades e das lutas políticas que envolveram a emergência da memória do passado escravista das nações europeias, americanas e africanas, de dez anos para cá a memória e a história do comércio atlântico passaram a fazer parte da memória pública de muitos países nos três continentes circundando o Atlântico. Em 2001, através da Lei Taubira, a França foi o primeiro país a reconhecer a escravidão e o tráfico atlântico como crimes contra a humanidade. Também na França, o 10 de Maio é doravante “dia nacional de comemoração das memórias do tráfico negreiro, da escravatura e das suas abolições”. Em 2001, em Durban na África do Sul, a Terceira Conferência da ONU contra o racismo inscreveu em suas declarações finais a escravidão como “crime contra a humanidade”. Em 1992, na Casa dos Escravos na Ilha de Gorée no Senegal, o Papa João Paulo II expressou suas desculpas pelo papel desempenhado pela Igreja Católica durante o tráfico atlântico. Bill Clinton, George W. Bush, e o próprio Presidente do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva, condenaram publicamente a participação passada de seus países no comércio atlântico de africanos escravizados. Em 2006, Michaelle Jean, governadora geral do Canadá, escolheu o Castelo de Elmina em Gana para denunciar passado escravista. Em 2007, durante as comemorações do aniversário de duzentos anos da abolição do tráfico de escravos pela Inglaterra, foi a vez do ministro Tony Blair expressar publicamente seu profundo pesar pelo papel da Grã-Bretanha no comércio de africanos escravizados.

Em pleno ano de 2009, o governo de Portugal e instituições portuguesas como a Universidade de Coimbra, escolheram um caminho oposto ao descrito acima. No primeiro semestre desse ano essas instituições apoiaram a realização de um concurso para escolher as Sete Maravilhas Portuguesas no Mundo. Na lista das Sete Maravilhas a serem votadas pelo público na internet (http://www.7maravilhas.sapo.pt), constam não somente o Castelo São Jorge da Mina (Elmina), entreposto comercial fundado pelos portugueses em 1482, mas também a Cidade Velha (Ribeira Grande) na Ilha de Santiago em Cabo Verde, além de Luanda e da Ilha de Moçambique. Ao descrever esses sítios, a organização do concurso optou por omitir o uso desses lugares para o comércio de escravos. No texto descrevendo o Castelo São Jorge da Mina ou Elmina chegou-se ao cúmulo de afirmar que aquele local foi entreposto de escravos somente a partir da ocupação holandesa em 1637.

Para ser fiel à história e moralmente responsável, consideramos que a inclusão desses “monumentos” no dito concurso deveria ser acompanhada de informações completas sobre o papel deles no tráfico atlântico, assim como sobre seu uso atual. O Castelo de São Jorge da Mina ou Elmina, por exemplo, é hoje um museu que tenta retratar a história do tráfico. Trata-se de um lugar visitado por milhares de turistas de todo o mundo, entre os quais muitos representantes da diáspora africana que buscam ali prestar homenagem a seus ancestrais. O governo português, as instituições que apóiam o concurso e sua organização ignoraram a dor daqueles que tiveram seus antepassados deportados desses entrepostos comerciais e muitas vezes ali mortos. Seria possível desvincular a arquitetura dessas construções do papel que elas tiveram no passado e que ainda têm no presente enquanto lugares de memória da imensa tragédia que representou o tráfico transatlântico e a escravidão africana nas colônias européias ? Segundo as estimativas mais recentes (www.slavevoyages.org), Portugal e posteriormente sua ex-colônia, o Brasil, foram juntos responsáveis por quase a metade dos 12 milhões de cativos transportados através do Atlântico.

Em respeito à história e à memória dos milhões de vítimas do tráfico atlântico de escravos, viemos através desta carta aberta repudiar a omissão do papel que tiveram esses lugares no comércio atlântico de africanos escravizados. Convidamos todos aqueles que têm um compromisso com a pesquisa do tráfico atlântico de escravos e da escravidão a repudiar que essa história seja banalizada e apagada em prol da exaltação de um passado português glorioso expresso na suposta "beleza" arquitetural de tais sítios de morte e tragédia.

Ana Lucia Araujo, Howard University, Washington DC, Estados Unidos
Arlindo Manuel Caldeira, professor, Centro de História de Além-Mar, Universidade Nova de Lisboa, Portugal
Mariana Pinho Candido, Princeton University, Princeton, Estados Unidos
Michel Cahen, CNRS, Centre d’Études de l’Afrique, Bordeaux, França
Christine Chivallon, CNRS, Centre d’Études de l’Afrique, Bordeaux, França
Myriam Cottias, CNRS, Diretora do Centre International de recherches sur les esclavages, Paris, França
Hebe Mattos, Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, Brasil
Maurice Jackson, Georgetown University, Washington, Estados Unidos
Hendrik Kraay, University of Calgary, Canadá
Jane Landers, Vanderbilt University, Nashville, Estados Unidos
Jean-Marc Masseaut, Cahiers Anneaux de la Mémoire, Nantes, França
Claudia Mosquera Rosero-Labbé, Universidad Nacional de Colombia, Bogotá, Colombia
João José Reis, Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil
Anna Seiderer, Museu Real da África Central, Tervuren, Bélgica
Simão Souindola, Historiador, Luanda, Angola
Jean-Michel Mabeko-Tali, Howard University, Washington, Estados Unidos

Sincerely,
The Undersigned

Em inglês e em francês neste link
The contest « The Seven Portuguese Wonders » ignores the history of slavery and the slave trade
Le concours « Les 7 merveilles portugaises » ignore l’histoire de l’esclavage et de la traite transatlantique

sábado, 30 de maio de 2009

1127) O pais mais importante do mundo, ou pelo menos da America Latina

El país más importante de Latinoamérica
MOISÉS NAÍM
El País, 31/05/2009

La pequeña isla de Cuba suscita más interés que una potencia dinámica como Brasil

Bill Clinton y George W. Bush acaban de tener un debate cara a cara en Canadá donde discutieron los grandes temas de nuestro tiempo. ¿Cuál fue el único país de América Latina mencionado en la conversación? Cuba. En abril se reunieron en Trinidad los jefes de Estado de las Américas. ¿El tema central? Cuba -el único país que no fue invitado a esa cumbre-. Ahora, se reúne la Organización de Estados Americanos (OEA) en Honduras. ¿Cuál es el problema central que domina las deliberaciones de los ministros del continente y que obliga a Hillary Clinton a distraer su atención de la bomba atómica norcoreana y de las crisis en Oriente Próximo, Afganistán y Pakistán para viajar a esta cumbre de la OEA? Cuba, por supuesto.

Hace poco, el Brookings Institution, un think tank de Washington, organizó una reunión para debatir la situación de Cuba. La sala se llenó. Pocos días después convoco a otra reunión a la que no fue casi nadie. ¿El tema? Brasil.

Este enorme interés por Cuba no es sólo de presidentes, ministros y periodistas de América. En Europa pasa lo mismo. Y según Google, Cuba casi duplica a Brasil en número de sitios de Internet relacionados con cada uno de los dos países.

Así las cosas, si un marciano aterrizase en nuestro planeta le sería obvio que Cuba es el país más importante de América Latina. Pero esta conclusión duraría sólo hasta que tuviese que ubicar a la isla en un mapa. O comparar a Cuba con otros países de la región: con Brasil, por ejemplo.

Brasil ocupa casi la mitad de todo el territorio de Suramérica y es el quinto país más vasto del mundo. Su superficie es casi 80 veces más grande que la de Cuba. En una sola ciudad brasileña -São Paulo- vive más gente que en toda Cuba. La economía brasileña es una de las más grandes y dinámicas del mundo, y es 31 veces más grande que la de Cuba. El intercambio comercial entre Brasil y el resto del mundo es 25 veces mayor que el de Cuba. Las fuerzas armadas de Brasil son diez veces más numerosas que las de Cuba. En las negociaciones mundiales sobre medio ambiente, comercio, seguridad nuclear, sistema financiero, energía o la lucha contra la pobreza, Brasil es un actor principal.

¿A qué se debe, entonces, esta atención casi obsesiva a la pequeña isla caribeña? ¿Por qué hay más interés en Cuba que en Brasil?

La explicación más común es que Cuba tiene un valor simbólico más potente que el de Brasil. Es el pequeño país que decidió enfrentarse al imperio yanqui y al cual el imperio no ha podido doblegar. Es la isla con líderes icónicos como Fidel Castro y el Che Guevara, y el país latinoamericano que encarna la lucha del humanismo socialista contra el materialismo capitalista. Cuba también fue la pequeña nación que en otras épocas envió sus tropas a América Latina y a África a luchar y morir por defender a los más pobres [y los intereses del Kremlin, pero ésa es otra historia]. Y también el país cuyos avances en materia de atención médica y educación para la mayoría fueron legendarios. Es el pequeño país al cual Estados Unidos agrede desde hace décadas con un absurdo embargo.

Lástima que también sea el país en el cual hay gente dispuesta a echarse al mar y arriesgar la vida con tal de escapar de las privaciones materiales, la represión y la asfixia política. Un país cuya economía depende de las limosnas de sus aliados para subsistir, y donde la escasez y el desabastecimiento son la norma. También el país donde, por más de medio siglo, el poder ha estado en manos de la misma familia.

Mientras tanto, en Brasil... Gobierna un presidente de izquierda, líder sindical que fue democráticamente electo dos veces y goza de los niveles de popularidad más altos del mundo. También es el país que más ha logrado reducir la desigualdad económica. Sucesivos Gobiernos brasileños -de partidos rivales- han logrado mejorar la calidad de vida, la educación y la salud de millones de pobres y Brasil es hoy uno de los modelos por sus éxitos en la lucha contra el sida, el analfabetismo o el uso de fuentes alternas de energía. En fin, un país que no es tan interesante como la fracasada isla del Caribe.

1126) Saida da Bolivia ao mar: por um tunel, direto ao mar...

Artigo do Le Monde, de seu correspondente no Rio de Janeiro. As informações devem ter saído da imprensa chilena ou boliviana, pois nunca li qualquer comentário a esse respeito na imprensa brasileira.
Em todo caso, se espera que esse túnel resolva o problema diplomático, e não constitua nenhum novo problema financeiro para a Bolívia, pois deve ficar caro todo o projeto. Talvez investidores internacionais se interessem pela sua construção, desde que a Bolívia possa pagar em gás.
O problema é que a Bolívia tem um regime de investimentos estrangeiros muito restritivo, tendo nacionalizado todos os seus recursos de hidrocarburos, que agora ela não consegue explorar por falta de capitais e de competência.
A seguir...
PRA

Un tunnel de 150 km, et la Bolivie "retournera à l'océan"
LE MONDE, 30.05.09

Un long tunnel, en partie creusé sous la cordillère des Andes, pourrait résoudre le plus douloureux conflit territorial d'Amérique du Sud, en redonnant un accès maritime à la Bolivie. Ce projet titanesque, à première vue utopique, a été proposé par trois architectes chiliens renommés, qui le jugent techniquement plus facile à réaliser que le tunnel sous la Manche.

Ce tunnel serait long de 150 km, un record mondial. Il partirait de la ville bolivienne de Charana et suivrait la frontière entre le Pérou et le Chili. Après avoir traversé les Andes et le désert d'Atacama, il déboucherait sur une île artificielle construite dans le Pacifique, à 800 mètres au large.

L'île serait propriété bolivienne. Elle marquerait la pointe d'un triangle maritime transformé en zone internationale. L'ouvrage abriterait une voie routière et un gazoduc permettant le transport du gaz bolivien, principale source de devises du pays. Cette solution permettrait de satisfaire la Bolivie sans porter atteinte à la souveraineté du Chili et du Pérou.

Les gouvernements bolivien et chilien ont accueilli favorablement le projet. La Paz s'est dit prêt à étudier "cette proposition d'avant-garde et imaginative". Santiago s'est déclaré ouvert "à toutes les suggestions susceptibles d'améliorer l'intégration latino-américaine".

GUERRE DU PACIFIQUE
La Bolivie a perdu son littoral lors de la guerre du Pacifique (1879-1884), qui eut pour enjeu le contrôle des richesses du désert d'Atacama, notamment le guano et le salpêtre. A l'issue de ce conflit armé entre un Chili conquérant et ses deux voisins du Nord, la Bolivie fut privée de sa souveraineté sur une bande côtière de 400 km. Depuis, elle est, avec le Paraguay, le seul Etat enclavé en Amérique du Sud.

Cent vingt-cinq ans plus tard, cette profonde blessure de l'Histoire reste à vif. La Constitution bolivienne fait de l'"accès souverain à la mer" un "droit imprescriptible". Chaque 23 mars, le pays commémore le Jour de la mer. "Tôt ou tard nous retournerons à l'océan", promet le président Evo Morales.

Au fil des décennies, diverses solutions ont été imaginées : couloir d'accès terrestre, enclave bolivienne au statut douanier spécial, sectorisation de la ville côtière d'Arica, frontalière entre Chili et Pérou.

En 2007, pour la première fois, le Chili a accepté que l'accès à la mer fasse partie d'un agenda de discussion de 13 points, malgré l'absence de relations diplomatiques depuis 1978. On y parlera peut-être, un jour, du projet de tunnel. En attendant son éventuelle construction, les navires de la marine bolivienne continueront de patrouiller sur le lac Titicaca, à 3 800 m d'altitude.

Jean-Pierre Langellier (Rio de Janeiro, correspondant)
Article paru dans l'édition du 31.05.09.

1125) O soft power brasileiro: incipiente, mas prometedor

Tendo, recentemente, efetuado palestra em curso de RI, recebi, ao final da palestra uma pergunta escrita que obviamente não pude responder. Faço-o agora, transcrevendo abaixo a pergunta e a minha resposta, embutidas em mensagem despachado a meu questionador.

Não foi possivel responder à sua pergunta durante minha palestra e assim formulo aqui alguns comentarios à questão colocada por voce, que foi a seguinte:
"Na sua (minha) opiniao, qual o papel do soft power brasileiro nas negociacoes diplomaticas?"

Eu diria que ele é importante, menos, talvez, nas negociações diplomáticas estrito senso, e mais no ambiente contextual que envolvem essas negociações, ou mais propriamente as relacoes bilaterais.
Soft power é um conjunto de atributos que tem a ver mais com a influência, o exemplo, a inducao por vias indiretas, do que a projecao direta de poder, por pressoes economicas, militares ou politicas, que seriam atributos do hard power e se apresentam nas relacoes muito desequilibradas, geralmente entre uma grande potencia e paises menores ou satelizaveis.
Soft Power tem a ver com a exportacao de capitais, de tecnologia, de bens tangiveis e intangiveis que vao conformado uma crescente influencia de um parceiro sobre outros, ou varios outros. Trata-se de uma outra maneira de dominacao, ou poder, segundo a definicao classica de Max Weber, que dizia que este era a capacidade de determinar a acao de outros pelo exercicio de sua vontade unilateral.
No caso do soft power o que está em jogo é mais a doce persuasao, ou a rendicao a argumentos indiretos de autoridade, do que a determinacao unilateral pela via da imposicao da vontade. Falamos de soft power, por exemplo, quando as pessoas consomem produtos americanos (hamburgueres, Coca-Cola, filmes, musica), usam ou desejam usar tecnologia produzida naquele pais (iPod, iPhone etc) e se beneficiam amplamente da cultura cientifica e tecnologica produzida nesse pais em beneficio proprio, sem necessariamente contrair obrigacoes ou fazer contratos expressando uma relacao de reciprocidade direta. Geralmente isso é adquirido ao longo de uma expansao global dos bens, servicos e ideias produzidos num centro dinamico, que por isso mesmo se torna dominante e adquire condicoes de "extrair renda" dos demais paises, sem recorrer às formas classicas da dominacao colonial antiga, ou a manifestacoes do velho imperialismo, baseado na forca bruta.
Os EUA possuem inegavel poder de inducao, atraves do soft power, bem superior, obviamente ao do Brasil, que possui modesta capacidade de soft power, alias comensuravel com a modesta expressao de seus produtos materiais ou culturais exportados pela economia nacional. Podemos falar de soft power quando as novelas brasileiras fazem sucesso no exterior (em Portugal, nos paises vizinhos, ou até em continentes distantes), divulgando nosso modo de vida, nossas paisagens, induzindo portanto os estrangeiros a visitarem o Brasil ou a comprarem produtos brasileiros.
Outra maneira é o acolhimento de estudantes estrangeiros em nossas universidades, por meio de bolsas, ou toda a cooperacao tecnica prestada pelo Brasil a paises lusofonos da Africa ou outros paises em desenvolvimento. Tudo isso, mais a exportacao de capitais brasileiros (a Petrobras está instalada em varios paises, assim como diversas outras empresas brasileiras), cria um ambiente favoravel ao Brasil no plano das relacoes internacionais. Nao podemos esquecer nossa "exportacao" de futebolistas, de modelos e da propria musica brasileira, que tem excelente acolhimento no exterior, embora nao com a disseminacao da musica pop anglo-saxa, por falta de merchandising ou maraketing, ou de canais proprios de distribuicao. Tampouco ostentamos muitas marcas internacionais, praticamente nenhuma, o que diminui bastante nossa capacidade de exercer soft power.
Em sintese, ele tem a ver mais com a penetracao natural de produtos e servicos brasileiros no exterior por forca de sua economia, cultura, boa imagem (por vezes nao muito boa, por causa dos problemas de direitos humanos e devastacao ambiental), do que propriamente com negociacoes, terreno no qual os diplomatas tendem a medir diretamente vantagens e desvantagens de um acordo determinado mais na expressao literal de um tratado do que com base em elementos externos a ele.

Se voce escrever soft power nos instrumentos de busca tradicionais, terá uma vasta literatura a respeito, mas provavelmente quase nada relativo ao Brasil; isso tem a ver com a nossa baixa producao teorica e analitica no campo das relacoes internacionais, o que confirma, alias, que o nosso soft power é ainda muito incipiente.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

1124) Associacao Brasileira de Relacoes Internacionais escolhe nova diretoria

Atenção eventuais candidatos, interessados na ABRI, internacionalistas:

Associação Brasileira de Relações Internacionais – ABRI
Registro de chapas para eleições

Prezadas e prezados membros da ABRI:

Lembramos a todos o disposto no "Regimento Interno que Disciplina o Processo de Eleição dos Conselhos Diretor e Fiscal da ABRI", aprovado na 1ª Assembléia Geral Ordinária da Associação Brasileira de Relações Internacionais – ABRI, realizada durante o seu I Encontro Nacional, conforme o disposto no Art. 11, parágrafo 3º do seu Estatuto:
"III - Os candidatos aos cargos do Conselho Diretor e do Conselho Fiscal deverão ser sócios plenos doutores quites com suas obrigações associativas, conforme disposto nos artigos 9º e 11º do Estatuto.
"IV - Os candidatos se agruparão em chapas organizadas de acordo com o disposto nos artigos 12º e 13º do Estatuto.
"V - As chapas deverão ser inscritas junto à Secretaria da Associação com antecedência mínima de um mês da data de realização da Assembléia Geral Ordinária do Encontro Nacional em que terá lugar."
Uma vez que a próxima Assembléia Geral Ordinária da ABRI ocorrerá durante o Encontro ABRI-ISA, de 22 a 24 de julho de 2009, os interessados devem enviar suas chapas para a Secretaria da Associação, por Sedex/AR, até o dia 22 de junho de 2009, no seguinte endereço:

Prof. Eugenio Diniz
Secretário-Executivo da Associação Brasileira de Relações Internacionais – ABRI
Departamento de Relações Internacionais - PUC Minas
Av. Dom José Gaspar, 500
Bairro Coração Eucarístico
30535-920 Belo Horizonte MG

Na correspondência deverão constar os nomes que, caso eleitos, ocuparão os cargos abaixo relacionados, e carta de escolta, assinada por um dos componentes da chapa. Os cargos são, conforme os artigos 12 e 13 do Estatuto:
Conselho Diretor:
I. Presidente;
II. Secretário Executivo
III. Secretário Adjunto;
IV. Tesoureiro;
V. 4 (quatro) Diretores.
Conselho Fiscal: 2 membros.
Para mais informações, por favor, consultem o Estatuto da ABRI, e o Regimento Eleitoral, disponíveis em http://www.pucminas.br/abri/index_padrao.php?pagina=3412

Pedimos a gentileza de comunicarem por e-mail (secretaria.abri@gmail.com) o envio da chapa, incluindo os nomes e os cargos.

Atenciosamente,

Monica Herz
Presidente
Eugenio Diniz
Secretário-Executivo
Associação Brasileira de Relações Internacionais – ABRI

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Associação Brasileira em Relações Internacionais (ABRI)

1123) Chile: uma experiencia economica bem sucedida

Chile cosecha los frutos de haber ahorrado durante el auge de las materias primas
The Wall Street Journal, 27/5/2009

Santiago, 27 de mayo.-Durante el reciente boom en los precios de las materias primas Andrés Velasco, el ministro chileno de Hacienda, fue un aguafiestas. Chile, el mayor productor de cobre del mundo, estaba cosechando la bonanza proveniente de la cuadruplicación del precio del metal, pero Velasco insistió en destinar una buena porción de esos ingresos a un fondo de estabilización.

Cuando los ahorros superaron los US$20.000 millones —más del 15% del Producto Interno Bruto— creció la presión para que el ministro de 48 años rompiera la alcancía. En septiembre, un grupo de manifestantes irrumpió en una presentación de Velasco, portando una pancarta con su figura y gritando "la plata del cobre es para la gente humilde".

Velasco, preocupado de que un alud de ingresos provocara burbujas de crédito y consumo, se mantuvo firme a pesar de que la popularidad del gobierno de la presidenta Michelle Bachelet se desvanecía. La historia latinoamericana, advirtió, está "plagada de episodios de auges mal manejados que terminaron con el desperdicio de los recursos".

Hoy, Velasco parece un profeta. Desde el inicio de la crisis económica global, los precios del cobre han caído 50%, parte del pronunciado declive de otras materias primas. Las economías emergentes que no cuidaron el bolsillo en los años de vacas gordas ahora sufren las consecuencias. Argentina, donde abunda la soya, enfrenta una posible cesación de pagos mientras que Rusia, rica en petróleo, ha tenido que salir al rescate de bancos y empresas que se sobreendeudaron.

(ler o restante da matéria neste link)

terça-feira, 26 de maio de 2009

1122) Uma nota sobre o Uzbequistao, cujo presidente vem ao Brasil

O presidente do Uzbequistão, país com o qual o Brasil mantem relações diplomáticas normais, vem ao Brasil, nesta quarta-feira, 27 de maio de 2009.
Abaixo uma nota que poderia ser apenas curiosa, mas que pode ser também estarrecedora, sobre a situação nesse país.

Ahmadinejad, não. Mas Karimov pode?
Blog de Pedro Doria
May 26th, 2009

Um amigo, que por motivos profissionais é obrigado a acompanhar de perto a diplomacia brasileira, anda intrigado com o que sugere ser uma incoerência pátria.

Na quinta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva receberá seu par uzbeque Islam Karimov, que vem em visita oficial ao Brasil. O Planalto vem ampliando as relações comerciais e institucionais com o Uzbequistão.

Sim: saíram uma meia dúzia de linhas sobre a visita na imprensa.

Quando o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad organizou sua visita ao Brasil, houve uma enxurrada de protestos questionando os direitos humanos em seu país. Eram protestos coerentes.

Islam Karimov, segundo o ex-embaixador britânico Craig Murray, fervia em água até a morte seus inimigos políticos. Literalmente. O governo uzbeque talvez seja o mais fechado do mundo. Conseguir um visto de entrada no país, para um jornalista, é praticamente impossível. Outro amigo, Burt Herman, que até há um ano era o diretor da sucursal nas Coréias da AP, foi um dos raros repórteres a entrar no Uzbequistão. Em 2005, Karimov ordenou que o exército abrisse fogo contra manifestantes, incluindo mulheres e crianças. Lá estava a passeata, então todos os corpos no chão. Herman tentou levantar quantos morreram. Ele acredita que foram mais de mil, mas não tem como provar.

Nenhum dos direitos fundamentais de uma democracia existem no Uzbequistão. Tortura e prisões sem mandado judicial são a norma. Segundo a Human Rights Watch, a prática habitual na lida com prisioneiros inclui choques elétricos, abuso sexual e asfixia. Não há liberdades de culto, de imprensa, de livre associação ou de assembléia. Estados Unidos, União Européia e ONU já pediram que investigações a respeito da conduta do governo uzbeque fossem conduzidas. Karimov sempre negou qualquer tipo de acesso.

No entanto: nem um pio. Ahmadinejad não pode, o que pode é Karimov.

1121) Pausa para um pouco de musica: Stacey Kent - What a Wonderful World

Simplesmente uma das melhores gravações desta famosa música que eu conheço, por uma artista primorosa e uma intérprete de voz melodiosa, em inglês ou em francês:

Stacey Kent: What a Wonderful World

1120) AInda a questao das cotas raciais e sociais: uma liminar na Justica

O debate em torno da questao, na verdade, comeca viciado e deformado, tanto da parte do deputado que se pronuciou contra o regime de cotas estaduais, como da parte do juiz que pretendia estabelecer a igualdade formal atraves da lei.
Acreito que ainda teremos muita confusao e equivocos em torno desta questao.
A seguir
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Paulo Roberto de Almeida

20:09 | Brasil
TJ-RJ suspende cotas em universidades públicas
25 de Maio de 2009
Por Fabiana Cimieri e Talita Figueiredo

Rio de Janeiro - O Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro concedeu hoje à tarde uma liminar que suspende os efeitos da lei estadual que estabeleceu cotas em universidades públicas estaduais. A ação contra as cotas para negros e estudantes de escolas públicas foi proposta pelo deputado estadual Flávio Bolsonaro (PP), que entrou na Justiça com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN). O deputado, que também é advogado, defendeu a ação no plenário do Órgão Especial.

Para ele, a lei é demagógica, discriminatória e não atinge seus objetivos. "O preconceito existe, não tem como negar, mas a lei provoca um acirramento da discriminação na sociedade. Até quando o critério cor da pele vai continuar prevalecendo? A ditadura do politicamente correto impede que o Legislativo discuta a questão", disse ele, durante sua defesa. A lei estadual tem o objetivo de garantir vagas a negros, indígenas, alunos da rede pública de ensino, pessoas portadoras de deficiência, filhos de policiais civis e militares, bombeiros militares e inspetores de segurança e administração penitenciária, mortos ou incapacitados em razão do serviço.

O relator do processo, desembargador Sérgio Cavalieri Filho, votou contra a liminar por achar que a política "de ação afirmativa tem por finalidade a igualdade formal e material". O Órgão Especial, no entanto, decidiu por maioria dos votos conceder a liminar, suspendendo os efeitos da lei. A decisão definitiva sobre o assunto ainda será analisada pelo Órgão Especial. A Uerj, a primeira instituição a adotar o regime de cotas, informou por meio de sua assessoria de imprensa que deverá se pronunciar amanhã sobre o tema.

1119) De volta ao problema do Apartheid racial: mais um artigo

Eu sou, aparentemente, da fração majoritária e privilegiada da população brasileira. Branco, diplomata, enfim um membro da elite branca, como diriam os promotores atuais do Apartheid, disfarçados de justiceiros da discriminação racial que acreditam existir no Brasil, portanto requerendo políticas de ação afirmativa sob a forma de cotas raciais.
Acontece que sou neto de avós europeus, imigrantes pobres, analfabetos, que vieram para o Brasil substituir os escravos nas plantações de café. Esse é um fato, não uma declaração de auto-comiseração.
A história tem certamente muitas injustiças, mas não se corrigem injustiças passadas criando novas injustiças.
Minha avó analfabeta tinha um imenso orgulho de meus estudos, o que certamente foi um fator importante, de ordem familiar, para estimular minha passagem das chamadas classes subalternas para uma posição que alguns (equivocadamente) classificam como de elite. Admito apenas a elite do saber, do conhecimento, do esforço individual na busca do auto-aperfeiçoamento, o que obtive unicamente com base em meu empenho individual nos estudos e no trabalho.
Minha avó analfabeta certamente não concordaria em que eu alcançasse qualquer situação por uma política de favor. Ela morreu analfabeta, mas trabalhou até morrer, sempre com muito orgulho de meus estudos.
Infelizmente, outros brasileiros, brancos e negros pobres, não tiveram uma situação social, uma condição familia, um background cultural, que os incitassem aos estudos, nem as escolas ajudaram nesse sentido. Trata-se de uma falha coletiva que temos de corrigir, pois eu, felizmente, pude dispor de uma escola e ensino de qualidade, e de uma biblioteca pública onde passei a maior parte da minha infância e pré-adoslecência. Credito unicamente a esses fatores minha ascensão para a elite. Acredito que outros poderiam conseguir, também, com base em esforços individuais.
Enfim, isto, apenas para introduzir o artigo abaixo que me parece apropriado para os tempos que correm.
Paulo Roberto de Almeida (26.05.2009)


Estatuto da Diferença Racial
ALI KAMEL
O Globo, Quarta-feira, 20 de Maio de 2009

A Câmara está para votar uma lei cujos efeitos são os opostos do que anuncia seu nome: “Estatuto da Igualdade Racial”. O que seus autores estabelecem no projeto é um “Estatuto da Diferença Racial”, pois dividem, autocraticamente, os brasileiros em duas “raças” estanques: negros e brancos.

O estatuto, na sua essência, é muito similar às leis segregacionistas em vigor nos Estados Unidos antes da vitória da luta pelos direitos civis e às leis sul-africanas ao tempo do Apartheid.

Não importa que o objetivo explícito aqui seja “promover” a “raça” negra; importa que, para fazê-lo, o estatuto olha os brasileiros, vê dois grupos estanques, impõe-lhes a afiliação a uma de duas “raças”, separa-os, conta-os e concede privilégios a um e não ao outro. Não há igualdade nisso, apenas discriminação.

Os Estados Unidos sempre estiveram sob o comando da Constituição, e esta sempre declarou que todos os homens são iguais. Como explicar, então, que, por tantos anos, tenham estado em vigor leis segregacionistas? Porque, lá, construíram-se leis como as que querem construir aqui: cidadãos iguais, sim, mas separados, cada um do seu lado “para o seu próprio bem”. A mistura era vista com horror, como algo que enfraqueceria tanto os negros quanto os brancos, daí a segregação.

No Apartheid da África do Sul, o discurso era o mesmo. O mestiço era considerado um pária, algo que já começam a repetir no Brasil, segundo denúncia de Demétrio Magnoli aqui mesmo nesta página. Esse estatuto, em que pesem as intenções em direção oposta, tem exatamente a mesma essência. O resultado será sempre o pior possível.

Vou dar apenas dois, de muitos exemplos. O projeto determina que todas as informações do SUS sejam desagregadas por “raça, cor, etnia e gênero” (vejam a obsessão, “raça, cor e etnia”), para que as doenças da população negra sejam mais bem entendidas e combatidas. Ocorre que a ciência já provou que não existem doenças vinculadas à cor da pele da pessoa: não existe doença de branco, de negro, de moreno.

Existem doenças que, geneticamente, estão mais presentes em grupamentos humanos, especialmente entre aqueles que não se misturam. É só pensar na África: ali, a imensa maioria é negra, mas a incidência de certas doenças varia de região para região. Algumas tribos, que não se casam com gente de fora, perpetuam certa doença que não ocorre em outras tribos, igualmente negras. Da mesma forma e pelos mesmos motivos, num país onde a segregação foi muito severa, talvez seja possível encontrar incidência maior de uma doença entre negros. Mas, em países abençoadamente miscigenados, como o nosso, isso simplesmente não existe.

Como todos sabem, o SUS é procurado mais que preponderantemente por pessoas pobres, brancas ou negras ou morenas, ou amarelas. Qualquer estatística produzida pelo SUS, hoje, mostrará quais as doenças que afetam mais os pobres, e essa incidência será relacionada corretamente à pobreza. Se o estatuto for aprovado, haverá uma distorção enorme: como os negros são a maioria entre os pobres, as doenças que acometem mais os pobres em geral, pelas péssimas condições em que vivem, serão vistas como doenças dos negros, de qualquer renda. A crença dos que defendem o estatuto é que, com esse dado na mão, os negros poderão se beneficiar de políticas de prevenção.

Não tardarão a aparecer, contudo, racistas em algumas empresas evitando, disfarçadamente, a contratação de negros porque, supostamente, eles são mais vulneráveis a tais e tais doenças. Será o efeito oposto do que prevê o estatuto.

Outro exemplo: o projeto também impõe que toda criança declare a sua cor e a sua “raça” em todos os instrumentos de coleta do Censo Escolar (válido para escolas públicas e privadas). A ciência já mais do que provou que todos os seres humanos, independentemente da cor da pele, têm o mesmo potencial de aprendizado, ou, dito de uma maneira mais clara, são igualmente inteligentes.

Com essa medida, o que os proponentes do estatuto desejam é, ao final de um período, mostrar o desempenho de alunos negros e brancos.

Como, novamente, os negros são a maioria entre os pobres e como os pobres estudam nas piores escolas, é provável que os negros apresentem um desempenho pior, o que será exibido, não como resultado da penúria por que passam os pobres em geral (negros ou brancos), mas do racismo.

A crença dos proponentes é que os dados tornarão possível uma ajuda maior aos negros, mas o efeito prático é que os negros, de todas as faixas de renda, ganharão mais um rótulo, a ser explorado pelos racistas abjetos que existem em toda parte.

Estão criando um monstro.

Aos deputados que vão votar o projeto, especialmente àqueles que ainda não se decidiram, eu lembro: a ciência já provou que raças não existem, nós seres humanos somos incrivelmente iguais, apesar da diferença de nossos tons de pele; reforçar a noção de “raça” só aumenta o racismo; todas as políticas devem ser voltadas à promoção dos pobres em geral, negros, brancos, pardos, amarelos, qualquer um; nossa maior contribuição ao mundo, até aqui, foi a exaltação da nossa miscigenação, algo realmente inédito na história dos povos.

Mudar isso é mudar a essência de nossa nação. Para pior, muito pior.

No século XXI, nossa visão de mundo tem de ser pós-racial: lutar com todas as forças contra o racismo, não para enaltecer as “raças”, que não existem. Mas para que todos possam ser vistos apenas pelo que são: homens e mulheres. Alguém não deve ser ajudado porque é dessa ou daquela cor ou “raça”, mas simplesmente porque precisa.

Não há igualdade racial no estatuto proposto; apenas discriminação.

ALI KAMEL é jornalista. E-mail

segunda-feira, 25 de maio de 2009

1118) Livro sobre classes sociais: um autor derrotista?

Primeiro, permito-me transcrever a breve apresentação de um livro recentemente publicado, que pode ter sido feita pelo próprio autor, como soe acontecer:

QUESTÃO DE CLASSES: Direito, Estado e capitalismo em Menger, Stutchka e Pachukanis
Adriano de Assis Ferreira
(São Paulo: Editora Alfa-Omega, 2009)
O início do século marca o desaparecimento de ilusões teóricas e de ideologias, revelando a irracionalidade nua e crua de um capitalismo em vias do colapso. Já não é mais necessário o recurso a discursos ideológicos como o direito e o Estado para se produzir e fazer circular as mercadorias e os capitais. Todos sabem que a sociedade contemporânea é profundamente desigual, que o trabalhador é explorado, que a riqueza é mal distribuída, que a publicidade engana. Mas tudo continua num mesmo curso econômico, sem perspectivas de transformação.

Agora comento:
Se "tudo continua num mesmo curso econômico, sem perspectivas de transformação", por que, então, o autor escreveu e publicou esse livro Ele já não está condenando ab initio seu esforço analítico?

Por outro lado, essa afirmação de que o início do século " marca o desaparecimento de ilusões teóricas e de ideologias", só pode ser coisa de gente jovem demais. Já em 1955, o sociólogo Daniel Bell proclamava o "fim das ideologias".

Ainda: essa coisa de "irracionalidade nua e crua de um capitalismo em vias do colapso" só pode ser argumento de quem não conhece o capitalismo, que ainda vai trazer bons lucros a esse autor, se por acaso o seu livro for bem sucedido (Deve ser: as academias vivem desse tipo de afirmação gratuita, que encanta gregos e goianos anti-capitalistas).

Quanto a isso: "Já não é mais necessário o recurso a discursos ideológicos como o direito e o Estado para se produzir e fazer circular as mercadorias e os capitais."
Sinceramente não entendi: as mercadorias e os capitais nunca precisaram de muito discurso para circular. Esse rapaz precisa urgentemente fazer um crash-course de economia capitalista.

Finalmente, se:
"Todos sabem que a sociedade contemporânea é profundamente desigual, que o trabalhador é explorado, que a riqueza é mal distribuída, que a publicidade engana."
Precisaria escrever um livro para nos dizer isso?

Ou estou muito enganado, ou já não se fazem mais acadêmicos como antigamente...

domingo, 24 de maio de 2009

1117) Eleicoes europeias de junho de 2009: informacoes

Recebido da Belgica:

Lettre d'information du CEVIPOL du 25/05/2009
CEVIPOL's Newsletter of 2009-05-25

Bonjour,

A l'occasion des élections européennes qui auront lieu du 4 au 7 juin 2009, le CEVIPOL vous propose de suivre l’actualité de la campagne électorale dans les différents Etats membres de l’UE. Chaque semaine, les articles traitant des élections européennes vous sont résumés sur notre site Int ernet. Plusieurs quotidiens nationaux ont été sélectionnés pour chacun des 22 pays observés.

Pour accéder au dossier spécial « Elections européennes 2009 », cliquez-ici

Pour de plus amples informations, vous pouvez contacter les coordinateurs de
ce projet collectif :
Nathalie BRACK
Yann-Sven RITTELMEYER
Cristina STANCULESCU

CEVIPOL - Centre d'étude de la vie politique
www.cevipol.be - cevipol@ulb.ac.be
Avenue F.D. Roosevelt, 39 - B-1050 Bruxelles - Belgique

1116) Producao cientifica no Brasil: os numeros e a realidade

Transcrevo, em primeiro lugar, um boletim oficial quanto ao aumento da produção científica no Brasil. Depois apresentarei alguns comentários.

Produção científica cresce 56% no Brasil
O Brasil alcançou na 13ª posição na classificação mundial em produção científica em 2008 e ultrapassou a Rússia (15ª) e a Holanda (14ª). De 19.436 artigos em 2007, essa produção subiu para 30.451 publicações no ano passado, crescimento de 56%. Os dados são do National Science Indicators, base de dados estatísticos sobre pesquisa e ciência que reúne dados atualizados de mais de 180 países.
Segundo o ministro da Educação, Fernando Haddad, o resultado alcançado pelo Brasil se deve, entre outros fatores, ao aumento no orçamento das universidades federais; à ampliação do número de mestres e doutores no Brasil e ao crescimento no número de bolsas concedidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
“O indicador mostra o esforço nacional e o vigor das universidades federais”, disse o ministro. Haddad afirmou, que, se a produção científica brasileira mantiver o ritmo de crescimento, o País poderá estar, dentro de pouco tempo, entre os dez maiores produtores de conhecimento científico do mundo.
Estados Unidos, China, Alemanha, Japão e Inglaterra são os cinco primeiros colocados no ranking, seguidos da França, Canadá, Itália, Espanha, Índia, Austrália e Coréia do Sul. Com o aumento registrado na produção científica em 2008, o Brasil passa a contribuir com 2,12% dos artigos de todos países monitorados pela base de dados.
Portal - Outro fator que contribui para o a boa colocação do Brasil no ranking é o acesso livre ao conhecimento gerado mundialmente, oferecido pelo Portal de Periódicos: www.periodicos.capes.gov.br.
Quando foi criado, em 2000, o portal contava com 1,8 mil títulos. Em 2009, são 13 mil periódicos, 126 bases de dados referenciais e seis bases dedicadas exclusivamente a patentes.
Nesse período, o número de consultas ao portal passou de 1.735.606 acessos às bases de texto completo e 1.287.545 às bases referenciais para 21.111.922 textos completos baixados e 39.591.556 pesquisas aos abstracts (resumos) oferecidos pelas bases referenciais, o que totaliza 60.703.478 acessos ao conteúdo assinado.
Cresceu também o número de instituições que fazem pesquisas no portal - de 72, em 2001, para 268 em 2009. A intenção da instituição é incentivar ainda mais a internacionalização da pesquisa brasileira por meio de acordos com editoras para permitir o livre acesso no mundo a artigos científicos publicados por autores brasileiros.
Capes - Criada em 1951, a Capes é uma autarquia do Ministério da Educação que cumpre papel estratégico na qualidade da educação superior e na formação de mestres e doutores. Em 2007, a Capes passou a investir também na formação de professores da educação básica (educação infantil e ensinos fundamental e médio). O aumento do número de doutores e mestres é uma das prioridades da política nacional de educação e de ciência e tecnologia do governo federal.

Comentários PRA:
Esse tipo de atitude auto-congratulatoria com os pretensos progressos da pesquisa cientifica no Brasil é totalmente mistificador da verdadeira realidade da pesquisa cientifica no Brasil, uma especie de auto-engano coletivo.
Os dados se referem ao volume (portanto quantitativo) de artigos supostamente "cientificos" publicados em veiculos especializados, a vasta maioria dos quais nacionais, e de faculdades nao preciso lembrar.
Ora, quem conhece o ambiente universitario brasileiro, sobretudo e especialmente (desculpem a redundancia) a area de humanidades, sabe muito bem que mais da metade dessa pretensa producao academica, que nao tem nada de cientifica, sequer seria considerada por revistas cientificas serias, com selecao rigorosa dos publicaveis com base em criterios de "blind evaluation".
Como a Capes comecou a pontuar esse tipo de "coisa" (desculpem mas o termo se aplica), ocorreu uma corrida nas faculdades para a "edicao" de revistas, com equipes editoriais na base do compadrio e a publicacao quase sem nenhuma avaliacao de conteudo ou de qualidade.
No mundo cientifico, o que vale, realmente, sao os citation indexes, que coleta a "produtividade" de um artigo a partir de sua citacao por outros pesquisadores, o que aproxima um pouco mais a producao do seu valor substantivo.
O resto é transpiracao de quem precisa de pontos nos sistemas brasileiros de avaliacao, muito pouco rigorosos...
Nao querendo ofender ninguem, eu diria que povo com cultura cientifica boa é povo com Premios Nobel (ainda que seus criterios possam ser questionaveis em determinados aspectos) e povos com muitas patentes produzidas.
O Brasil nao tem absolutamente nada nos dois criterios...

1115) Acao afirmativa nos EUA: o debate politico e juridico

O artigo abaixo foi publicado em 2008, mas conserva toda a sua atualidade, não apenas em torno da complexidade do debate jurídico e social ocorrendo nas instâncias governamentais e no âmbito da opinião pública dos EUA sobre a questão das cotas raciais nas universidades, mas ele também pode ajudar a iluminar um pouco esse debate (tão pobre) que ocorre no Brasil.

Op-Ed Contributor
Affirmative Distraction
By STEPHEN L. CARTER
New York Times, July 6, 2008

THIRTY years ago last week, the Supreme Court handed down its Bakke decision, hoping to end the argument over the constitutionality of affirmative action in college admission. But with hindsight, it’s clear that the justices mainly helped hasten the end of serious discussion about racial justice in America. As they set the stage for a lasting argument over who should get into college, the wound of race continued to fester, unhealed, and our politics moved on.

The ruling in Regents of the University of California v. Bakke was the court’s disorderly attempt in 1978 to bring some order to racially conscious admissions programs. The medical school of the University of California at Davis had set aside 16 spots for members of groups described as having been subjected to past discrimination.
(...)

Para ler a sequencia, veja este post de meu outro blog, Textos PRA:
426) Acao afirmativa nos EUA: o debate juridico e politico

sexta-feira, 22 de maio de 2009

1114) Contra o Racismo e o Apartheid oficiais

Minha colaboração: transcrever um excelente artigo deste professor da UERJ:
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Paulo Roberto de Almeida

COTAS E LOROTAS
Ubirataran Iorio
20/05/2009
http://www.ubirataniorio.org/blog.htm

Nestes dias em que nossos congressistas estão para votar o chamado “Estatuto da Igualdade Racial”, que deveria ser denominado de Estatuto da Desigualdade Instituída, reproduzo o artigo que publiquei no Jornal do Brasil em 9/7/2007:

“Há poucos dias, a Suprema Corte dos Estados Unidos, em decisão apertada – cinco votos contra quatro – desferiu um golpe letal no denominado princípio de ação afirmativa, ao decidir pela inconstitucionalidade do sistema de cotas étnicas em dois distritos: Seattle, no estado de Washington e Louisville, em Kentuky. Tal decisão deverá firmar jurisprudência, dando margem a ações judiciais contra as cotas, o que poderá pôr fim a essa prática. Entrementes, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o sistema de cotas acaba de ser aprovado...
Ações afirmativas são políticas que têm o objetivo de garantir o acesso à educação ou a empregos a grupos “historicamente não dominantes”, como as chamadas minorias - mulheres, homossexuais, negros e índios -, por meio de tratamentos preferenciais que os beneficiem, dos quais a imposição de cotas é um exemplo.
À época em que ocupava o cargo de diretor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ, vi com preocupação o governo estadual impor, pela primeira vez no Brasil, cotas nos vestibulares da universidade, para candidatos afrodescendentes (dos quais a maioria - os mulatos - também são eurodescendentes!) e para os originários de escolas públicas. Meu ceticismo era motivado por diversas razões: não há constituição em qualquer sociedade que se preze que não abrace o princípio da igualdade perante a lei; reprimindo pessoas qualificadas em favor de pessoas não qualificadas, fere-se a meritocracia; trata-se de uma forma aberta de discriminação; é uma prática do coletivismo; ao gerar ressentimentos contra os beneficiados, incita ao racismo; sob o ponto de vista da economia, as cotas são claramente contra-produtivas; contribuem para piorar a já tão enfraquecida qualidade acadêmica; tenta-se combater injustiças “históricas” mediante novas injustiças e enfrentar discriminação com mais discriminação - olho por olho e dente por dente.
Apenas com a melhoria da educação básica - e não usando critérios de raça (sempre discutíveis), etnia ou sexo - é que seremos uma sociedade com mais igualdade de oportunidades! Isto é de uma clareza tão visível que é difícil acreditar existirem pessoas que não pensem assim! A luta deve ser por maior igualdade de oportunidades, ou seja, para que todos os cidadãos, indistintamente, tenham acessos semelhantes aos benefícios e que, mediante o esforço e a capacidade de cada um, possam deles usufruir. Não será lançando uns contra outros que construiremos uma grande nação!
O argumento de que as políticas afirmativas reparam “injustiças históricas” pode até ser bem intencionado, mas é uma bazófia que padece de impressionante falta de praticidade: muitos povos, historicamente, sofreram injustiças com guerras e outros flagelos, mas como consertá-las de forma “justa”? Babilônicos, assírios, sumérios, caldeus, amoritas, acádios, godos, visigodos, medos, celtas, samaritanos, cartagineses, etruscos, índios, negros, asiáticos, coríntios, efésios, hebreus e tantos outros... Se, por exemplo, algum remoto descendente de um cidadão da Esparta do general Leônidas fosse descoberto, seria “justo” obrigar um também longínquo descendente do exército de Xerxes da Pérsia a indenizá-lo por aquela injustiça “histórica”? Seria “justo” entregar a Alemanha para os judeus de hoje, a título de reparar os crimes hediondos de que seus pais, avós e bisavós foram vítimas? É “justo” contemplar descendentes de escravos negros com cotas, em detrimento de tataranetos de senhores de engenho, que nem conheceram? Quantas tribos foram massacradas por outras tribos, ainda na África? E quantos brancos, hoje, não serão descendentes distantes de escravos dos romanos ou atenienses, por exemplo?
Boas intenções, apenas, não bastam. Não se corrigem velhos erros com erros novos. A ação realmente afirmativa de que carece o país é uma boa educação para todos, sem qualquer distinção, e que premie o mérito. Basta de cotas e de lorotas!”

Se deixarmos o racismo invadir o Brasil, dividindo-o e agredindo a formação de nosso povo, vai ser muito difícil extirpá-lo mais tarde!

1113) Twitter: para mim uma inutilidade

Depois que me inscrevi no Twitter (e não me perguntem por que fiz isso, pois não tenho a menor idéia), tenho recebido dezenas de mensagens como esta:

Hi, Paulo Almeida
[XXXX] has requested to follow your updates on Twitter!
A little information about [XXXX]:

Na mesma mensagem, o sistema avisa que eu tenho:

0 followers
0 updates
following 13 people
Since you protect your updates, you need to either approve or deny this request. You can do this by visiting http://twitter.com/friend_requests. For more information or help, please visit our help article

De fato, eu sou um fracasso nesse novo sistema interativo, do qual eu tinha vagamente ouvido falar como a nova moda, ou febre, interativa.
Pelo que percebi, as pessoas postam, como se fosse num mini-blog, pequenas notas sobre o que estão fazendo, para que outros curiosos, ou voyeurs, possam saber o que, exatamente, elas estão pensando, fazendo, indo, saindo, etc, ou seja, um perfeito narcisismo dirigido, ou um voyeurismo organizado, e público, obviamente...
Sinto muito, a todos os que pretenderiam saber de minhas atividades, mas não sou dado a este tipo de coisas. Sem querer ofender a todos os conhecidos que demonstraram curiosidade por me seguir no Twitter, não pretendo alimentar tal tipo de instrumento.
E, de antemão, me desculpo com todos aqueles que buscam interação por esse veículo.
Aceitei algumas demandas por pura cortesia, de pessoas conhecidas, mas elas devem estar se perguntando quando eu pretendo postar a primeira mensagem.
Respondo de imediato: NEVER.
Sinto muito, mas não é o meu estilo.

O mesmo Twitter Team informa que:
Turn off these emails at: http://twitter.com/account/notifications

É o que pretendo fazer, e talvez até cancelar minha conta no Twitter, pois não pretendo usá-lo. Como disse, entrei por pura distração, ao pretender me informar melhor o que era, ou o que é, exatamente, esse novo instrumento, mas posso parar por aqui mesmo.

Sorry twitters, mas estou fora dessa...

quinta-feira, 21 de maio de 2009

1112) Carreira Diplomatica: respondendo a um questionario

Carreira Diplomática: respondendo a um questionário
Paulo Roberto de Almeida (www.pralmeida.org)
Respostas a questões colocadas por graduanda em administração na UFSC.

1. Como você se sente por ter escolhido essa profissão (área de atuação)?
PRA: Bastante bem: de certa forma, a profissão me escolheu, posto que desde muito cedo comecei a viajar, primeiro pelo Brasil, depois pela América do Sul e, finalmente, ao completar 21 anos, decidi estudar na Europa, por meus próprios meios e obtendo meus próprios recursos. Foi uma escolha que me preparou para uma vida nômade e aventureira e nunca me arrependi de ter-me lançado ao mundo em fase ainda precoce e sem sequer ter terminado o segundo ano da graduação. Como minha intenção era estudar fora do Brasil, pode-se dizer que realizei meu intento. Quando regressei ao Brasil, depois de quase sete anos na Europa, eu já estava preparado, digamos assim, para tornar-me diplomata. Mas, antes, não tinha pensado: “tropecei” com a carreira, se ouso dizer. Até então, eu só queria derrubar o governo militar.

2. Como você descreveria a sua profissão?
PRA: Uma burocracia de alto nível de qualificação técnica com ampla abertura para as humanidades e o conhecimento especializado. Trata-se, simplesmente, da mais intelectualizada carreira na burocracia federal, combinando aspectos da carreira acadêmica, da pesquisa aplicada e da elaboração de decisões em ambiente altamente competitivo, tanto interna, quanto externamente. Uma elite, como se costuma dizer.

3. Qual sua formação acadêmica? Você considera que ela foi fundamental para o sucesso profissional?
PRA: Ciências Sociais, ou humanidades, no sentido lato, e acredito que ela foi fundamental no ingresso e sucesso na carreira escolhida. Desde muito cedo inclinei-me para os estudos sociais, com forte ênfase na história, na política e na economia, complementados por uma dedicação similar a geografia, antropologia, línguas e cultura refinada, de uma maneira geral. Sou basicamente um autodidata e creio que isso facilitou-me enormemente o ingresso na carreira, pois quase não necessitei de muito estudo para os exames de ingresso. Aliás, entre a decisão de fazer o concurso (direto, no meu caso) e o ingresso efetivo, decorreram pouquíssimos meses (três).

4. Quais as principais dificuldades enfrentadas para conseguir passar no concurso?
PRA: Direito e Inglês, posto que eu havia estudado amplamente todas as demais matérias, mas não Direito, e todos os meus estudos foram feitos em Francês, que eu dominava amplamente. Mas, meu Inglês era muito elementar, servindo tão somente para leituras. Acho que passei raspando nessas duas matérias, nas outras fui bem.

5. Quando você iniciou sua carreira você tinha definido alguns objetivos e metas de onde queria chegar?
PRA: Não especialmente: nunca fui carreirista, no sentido tradicional do termo, e não me preocupava em ser embaixador ou ocupar qualquer posto de distinção. O que me seduzia era a profissão em si, a mobilidade geográfica, o conhecimento de novos países, a possibilidade de estar sempre aprendendo, estudando, viajando. Sou basicamente um estudioso, um observador da realidade, um “compilador” de informações e análises e um escritor improvisado. Todo o resto me é secundário.

6. Como você integra as diversas esferas de sua vida (trabalho, família, lazer, esporte, cursos, etc.)? Está satisfeito?
PRA: Imenso sacrifício para consegui fazer tudo aquilo que tenho vontade, pela simples razão que eu tenho vontade de ler tudo, o tempo todo, em qualquer circunstância, assim como tenho vontade de viajar, de participar de atividades acadêmicas e intelectuais, tendo ao mesmo tempo de me desempenhar em funções atribuídas pela burocracia no meio de tudo isso. Ora, é praticamente impossível conciliar tantas vontades, e ainda ser um marido perfeito, um pai de família perfeito e outras coisas da vida social e relacional. Em síntese, esses outros aspectos foram de certa forma sacrificados no empenho pessoal em ler, estudar e escrever. Reconheço essas imperfeições, mas não se pode ter tudo na vida: escolhas são inevitáveis, e as minhas estão do lado da leitura, do saber e da escrita. São atividades nas quais eu me realizo plenamente. Em outros termos, ninguém consegue integrar todos os seus interesses perfeitamente, e algum aspecto (ou vários) acaba sempre sendo sacrificado; no meu caso, são horas de sono, de lazer, de simples far niente, e também certa negligência familiar, reconheço. Não pratico esportes, a não ser caminhadas moderadas, já em idade madura. Pratico leituras, com alguma intensidade, eu diria intensíssima, e sobretudo o gosto da escrita. No mais, sou um pouco eremita...

7. Quais os períodos de sua carreira que você mais gostou?
PRA: Todos, pois em todos e em cada um eu fiz aquilo que mais gosto: viajar, muito, intensamente, ler, também intensamente, escrever, observar, aprender, em toda e qualquer circunstância, mesmo em situações difíceis de abastecimento, conforto, restrições monetárias ou outras. Toda a minha carreira me trouxe algo de bom, mesmo em situações temporariamente de sacrifício. Nunca deixei de fazer aquilo que mais gosto, e que já foi descrito anteriormente.

8. Quais os períodos de sua carreira que você menos gostou?
PRA: Numa ou noutra situação, alguns postos apresentam dificuldades materiais, desconfortos psicológicos, desafios razoáveis: por pequenos momentos, chega-se a desejar voltar ao Brasil e retornar à rotina burocrática do cerrado central, onde os atrativos são menores, mas também as surpresas. De toda forma, sempre aproveitei os momentos de dificuldade para refletir e escrever, como sempre, aliás.

9. Dentro da perspectiva de sua carreira tem alguma coisa que você gostaria especialmente de evitar?
PRA: Sim, talvez eu devesse ter dedicado menos atenção aos livros e mais às pessoas, mas essas são escolhas que fazemos deliberadamente, por opções próprias, pensadas ou não. Quem tem a compulsão pela leitura e pela escrita, não consegue acalmar-se a menos de satisfazer o seu “vicio”, daí o sacrifício de outros aspectos da vida social que muita gente valoriza em primeiro lugar. Por outro lado, nunca, na carreira, fui obrigado a assumir obrigações que eu mesmo não desejasse assumir, como por exemplo trabalhar em áreas para as quais eu não me sinto talhado nem tenho a mínima vontade de experimentar: administração, por exemplo, ou cerimonial, ou talvez ainda consular. São áreas nas quais eu provavelmente me sentiria infeliz, pois o meu terreno natural são os estudos, de qualquer tipo: geográfico, político, econômico, cultura, antropológico, no sentido amplo. Todas as áreas funcionais de caráter geográfico, político ou sobretudo econômico me servem perfeitamente. Aliás, nunca me pediram para trabalhar em áreas nas quais eu não gosto, e se me pedissem eu não teria nenhuma hesitação em recusar, mesmo podendo incorrer em alguma falta funcional ou ser sancionado por isto. Sou um pouco anarquista, e não gosto de fazer o que me mandam e sim o que eu decido e gosto de fazer.
Por outro lado, jamais me pediram para escrever ou dizer algo que violentasse minha consciência, e eu não hesitaria um segundo em recusar-me terminantemente, como algumas vezes me recusei a defender determinados pontos de vista, que não eram os meus. Por outro lado, jamais enfrentei a obrigação de escrever naquele estilo clássico, ou chatérrimo, que é o diplomatês habitual, cheio de adjetivos hipócritas e de pura formalidade vazia: não tenho espírito, paciência nem disposição para esse tipo de enrolação. Costumo escrever o que penso, sem qualquer concessão a formalismos. Sobretudo, não costumo produzir bullshits, muito freqüentes nesta profissão...

10. Você tem objetivo em longo prazo na sua carreira? Você tem uma visão de futuro profissional?
PRA: Acredito que o diplomata deve servir antes à Nação do que a governos, deve defender valores, e não se subordinar a teses momentaneamente vitoriosas que por alguma eventualidade confrontem esses valores. Já escrevi algo a esse respeito, e remeto a meu trabalho: “Dez Regras Modernas de Diplomacia” (Chicago, 22 jul. 2001; São Paulo-Miami-Washington 12 ago. 2001, 6 p., n. 800; ensaio breve sobre novas regras da diplomacia; revista eletrônica Espaço Acadêmico, a. 1, n. 4, setembro de 2001; link: http://www.espacoacademico.com.br/004/04almeida.htm).

11. Você se considera realmente bom em quê? Quais são seus pontos fortes? E como você aproveita seus pontos fortes no seu trabalho?
PRA: Creio que sou capaz de fazer análises contextuais que envolvam conhecimento histórico, embasamento econômico e situação política, ou seja, tenho instrumentos analíticos e amplos conhecimentos que me permitem situar qualquer problema (ou quase) em um contexto mais amplo, e daí extrair alguns elementos de informação para a instrução de um processo decisório que tenha em conta o interesse nacional. Toda a minha vida eu estudei o Brasil e o mundo, visando tornar o primeiro melhor, num mundo que nem sempre é cooperativo. Registre-se que eu não pretendo tornar o Brasil melhor para si mesmo, ou seja, uma grande potência ou qualquer pretensão desse gênero, que encontro simplesmente ridícula. Eu pretendo tornar o Brasil melhor para os brasileiros, ponto. Contento-me apenas com isso. Minha perspectiva, a despeito de ser um funcionário de Estado, não é a do Estado. Não pretendo trabalhar no Estado, para o Estado, com o Estado: minha perspectiva é a dos indivíduos concretos, e meus objetivos são promover os indivíduos, se preciso for contra o Estado. Não tenho nenhum culto ao Estado e nem pretendo torná-lo maior ou mais poderoso, apenas mais eficiente para servir aos indivíduos, não a si mesmo. Desespera-me essas pretensões nacionalistas estatizantes, pois elas se fazem, em geral, em detrimento do bem-estar individual da maior parte dos cidadãos.
Por outro lado, não me considero patriota, no sentido corriqueiro do termo. Sou brasileiro por puro acidente geográfico, pois poderia ter nascido em qualquer outro país ou em qualquer outra época, por puro acaso. Gostaria de reiterar esse ponto, com toda a ênfase que me é permitida. Não sou dado a patriotismos, nem a chauvinismos ultrapassados e ridículos. A nacionalidade, repito, é um acidente geográfico, ou talvez seja a naturalidade, da qual decorre a primeira. Parto do pressuposto da unidade fundamental e universal da espécie humana. Sou brasileiro, como poderia ter sido esquimó, hotentote ou pigmeu, e ninguém seria responsável por esses acasos demográficos, nem mesmo meus pais, posto que ninguém “fabrica” uma pessoa com base em especificações pré-determinadas. Somos em parte o resultado da herança genética (em grande medida, talvez mais do que o indicado ou desejável, mas talvez não a parte mais decisiva de nossas personalidades); em parte o resultado do meio social e cultural no qual crescemos, e das influências que experimentamos involuntariamente em diversas etapas formativas de nosso caráter; e em parte ainda (o que espero mais substancial ou importante), somos o produto de nossa própria formação ativa, dos estudos empreendidos e dos esforços que fazemos nós mesmos para moldar nossas vidas, nosso estilo de comportamento e nossa maneira de pensar, com base em escolhas e preferências que adotamos ao longo da vida. Devemos sempre assumir responsabilidade pelo que somos, e jamais atribuir ao meio ou a qualquer herança genética determinados traços que podem eventualmente revelar-se menos funcionais para nosso desempenho profissional ou intelectual.
Meus pontos fortes, portanto, são minha capacidade analítica, meus conhecimentos acumulados e meu devotamento à causa dos indivíduos, não dos Estados, e sempre tento passar esses pontos à frente de qualquer outra consideração. Não hesito em defender meus pontos de vista, mesmo contra meus interesses imediatos, que poderiam recomendar uma acomodação com a situação presente – a lei da inércia é uma das mais disseminadas na humanidade – ou com autoridades de qualquer tipo. Não costumo fazer concessões a autoridades apenas para obter vantagens pessoais, e acho essa atitude basicamente correta (ainda que a um custo por vezes enorme no plano pessoal). Talvez seja teimosia de minha parte, mas considero isso antes uma virtude, do que um defeito. Enfim, tendo concepções fortes sobre determinados temas, me é muito mais fácil preparar e expor posições do interesse do Brasil, com base em conhecimentos previamente acumulados, o que me dispensa de longas pesquisas ou buscas em arquivos.

12. Quais são seus pontos fracos?
PRA: Devo ter (e tenho) vários, sendo os mais evidentes essa introversão habitual, essa preferência ao convívio com os livros, mais do que a convivência com pessoas, uma certa arrogância intelectual (que reconheço plenamente), derivada de leituras intensas e de uma imensa acumulação de conhecimentos e informações – que em excesso podem ser prejudiciais, dizem alguns – essa pretensão a saber mais do que os outros (o que em parte é verdade, pela simples intensidade de leituras, mas os outros não gostam que se lhes confronte os argumentos, obviamente). Por outro lado, não tenho nenhum respeito pela hierarquia ou pela autoridade, o que muitos consideram um defeito (mas não eu, dado meu anarquismo particular). Não sou de respeitar o argumento da autoridade, mas apenas a autoridade do argumento, a lógica impecável, e a decisão bem formulada, posto que empiricamente embasada, tecnicamente sólida, com menor custo-oportunidade ou a melhor relação custo-benefício. Enfim, sou um racionalista, e detesto impressionismos e subjetivismos, o que é muito fácil de encontrar em quaisquer meios. Daí choques inevitáveis com determinadas pessoas que pretendem mandar a partir de sua vontade exclusiva, não de um estudo aprofundado de situação. Enfim, ser rebelde assim deve ser um defeito...

13. O que você mais deseja na sua carreira?
PRA: Todos somos egocêntricos ou narcisistas em certa medida. Todos queremos reconhecimento e prestígio, por mais que se diga o contrário. Todos queremos ser elogiados e premiados (no meu caso não monetariamente ou em qualquer aspecto material). Assim, desejo ser reconhecido não necessariamente como um bom diplomata, mas simplesmente como um bom cidadão, alguém que cumpre seus deveres e atua conscienciosamente em benefício da maioria (que calha de ser o povo brasileiro, mas poderia ser qualquer outro, pois como disse, eu me coloco do ponto de vista dos indivíduos, não do Estado). Gostaria de ser reconhecido como estudioso, como esforçado e, sobretudo, como alguém comprometido com o bem comum. Pode ser vaidade, mas é assim que vejo minha carreira, que para mim não é uma simples carreira de Estado, mas sim uma atividade que me coloca no centro (ou pelo menos numa das agências) do Estado, ali colocado para servir a pessoas, não a instituições abstratas.
Gostaria que se dissesse de mim, em algum momento futuro: foi um funcionário dedicado, foi um homem bom, esforçado, devotado ao bem comum, sobretudo foi correto consigo mesmo e com todas as instâncias de interação social ou profissional. Praticou a honestidade intelectual e se esforçou para fazer do Brasil e do mundo lugares melhores do que aqueles que encontrou em sua etapa inicial de vida.

14. O que você pensa que acontecerá à sua carreira nos próximos dez anos?
PRA: Nada de muito relevante, posto que não sou carreirista e não faço da carreira o centro de minhas preocupações intelectuais ou sequer materiais. Estou na carreira diplomática, como poderia estar na academia ou em alguma outra atividade que tenha a ver com o estudo, o esforço intelectual, a análise e a elaboração de propostas. Sou basicamente um intelectual e a carreira para mim é secundária. Provavelmente vou me aposentar nos próximos dez anos, e aí dispor de todo o meu tempo livre para me dedicar àquilo de que mais gosto: leitura, redação, um pouco de aulas e palestras, viagens, alguns prazeres materiais (como a gastronomia, ou a gourmandise, por exemplo) e espero ter condições físicas de continuar escrevendo, ensinando e colaborando com a elevação intelectual da sociedade pelo maior tempo possível. Se me sobrar tempo gostaria de consertar algumas coisas que encontro muito erradas no Brasil, como por exemplo: a corrupção (generalizada em todas as esferas), a desonestidade intelectual nas academias, a miséria material de grande parte da população (que decorre, em minha opinião, de políticas erradas e do excesso de poderes conferidos ao Estado), enfim, tudo aquilo que sabemos errado em nosso País.

15. O que você aconselharia para alguém que estivesse iniciando na mesma área?
PRA: Seja estudioso, dedicado, honesto intelectualmente, esforçado no trabalho, um pouco (mas apenas um pouco) obediente, inovador, curioso, questionador – mas ostentando um ceticismo sadio, não uma desconfiança doentia –, tente aprender com as adversidades, trate todo mundo bem (e, para mim, da mesma forma, um porteiro e um presidente), não seja preguiçoso (embora dormir seja sumamente agradável), cultive as pessoas, mais do que os livros (o que eu mesmo não faço), seja amado e ame alguém, ou mais de um... Enfim, seja um pouco rebelde, também, pois a humanidade só avança com aqueles que contestam as situações estabelecidas, desafiam o status quo, tomam novos caminhos, propõem novas soluções a velhos problemas (alguns novos também). No meio de tudo isso, não se leve muito a sério, pois a vida é uma só – sim, sou absolutamente irreligioso – e vale a pena se divertir um pouco. Tudo o que eu falei ou escrevi acima, parece sério demais. Não se leve muito a sério, tenha tempo de se divertir, de contentar a si mesmo e os que o cercam.

Brasília, 21 de maio de 2009.

1111) Volatilidade e paises em desenvolvimento

Um estudo do Center for Global Development, de Washington:

Beyond Lending : How Multilateral Banks Can Help Developing Countries Manage Volatility
Guillermo Perry, 2009
Center for Global Development

Contents
Chapter 1: Causes and Consequences of High Volatility in Developing Countries
Chapter 2: The Role of Financial Insurance and Hedging (and of Multilateral Development Banks) in Reducing Volatility
Chapter 3: Dealing with Liquidity Shocks and the Procyclicality of Private Capital Flows
Chapter 4: Dealing with Currency Risks
Chapter 5: Dealing with Commodity Price, Terms of Trade, and Output Risks
Chapter 6: Dealing with Natural Disaster Risks
Chapter 7: Why Multilateral Development Bank Practices Are So Far from Their Potential
Chapter 8: An Agenda Going Forward

http://www.cgdev.org/content/publications/detail/1422098

terça-feira, 19 de maio de 2009

1110) Joaquim Nabuco nos Estados Unidos

Sim, foi cem anos atrás, eu sei, mas é que recentemente realizou-se um colóquio sobre ele e suas reflexões sobre os EUA na Universidade do Wisconsin, em Madison, do qual participei. Abaixo, transcrevo o artigo de um dos participantes, Humberto França, diretor da Fundação Joaquim Nabuco, do Recife.

Os Estados Unidos e o pensamento de Nabuco
Humberto França,Escritor
DIARIO DE PERNAMBUCO, Recife, Sábado, 16 de maio de 2009

Um seleto grupo de historiadores e diplomatas brasileiros e norte-americanos se reuniu na Universidade de Wisconsin, Madison, EUA, de 24 a 25 de abril passado, para discutir as idéias do pensador social, historiador, político e diplomata pernambucano, - Joaquim Nabuco. O evento “Nabuco and Madison - Uma celebração centenária” - rememorou a apresentação da conferência de Joaquim Nabuco - “The Share of America in Civilization”-, de 1909, e ensejou a inauguração na Biblioteca da Universidade de Wisconsin de uma exposição sobre o líder do Movimento Abolicionista. Na ocasião, igualmente foi lançado um programa de integração científica e cultural - Brazil Initiative - que objetiva um maior diálogo entre os Estados Unidos e o Brasil.
O interesse pelas ideais e trajetória de Nabuco revela que na história das relações Brasil - EUA, nenhum outro brasileiro mereceu tanto reconhecimento público num país estrangeiro, quanto Joaquim Nabuco,na ocasião em que exerceu as funções de primeiro embaixador do Brasil em Washington 1905-10. E, neste momento em que o Brasil assegura a sua posição entre as nações líderes do concerto internacional, a iniciativa da Universidade de Wisconsin muito contribuirá para aproximar, ainda mais, os povos e as instituições dos nossos países. Decerto, promoções desse porte deveriam interessar muito mais as autoridades e as instituições do estado de Pernambuco. No entanto, passaram quase despercebidas. É lamentável que não se obtenha por meio dessas ações, uma maior divulgação da nossa história e dos nossos grandes líderes no Exterior.
O evento em Madison teve a irretocável coordenação do professor Severino Albuquerque, que o realizou com o apoio do Programa de Estudos Latino Americanos, Caribenhos e Ibéricos. A extensa programação teve início com uma saudação do Dr. José Thomaz Nabuco Filho. Em seguida, dois conferencistas ocuparam a tribuna. O embaixador João Almino, cônsul-geral do Brasil em Chicago, tratou do tema: “The importance of Nabuco’s Madison Speech”, e este articulista discorreu sobre “Joaquim Nabuco nos Estados Unidos: A Diplomacia Pan-Americanista, 1905-1910”, encerrando uma sessão solene, muito concorrida, em que estiveram presentes membros da reitoria da Universidade do Wisconsin, autoridades e convidados.
No decorrer da Conferência, realizaram-se treze palestras de notáveis professores, pesquisadores e diplomatas brasileiros e norte-americanos. Todas de altíssima qualidade científica. Destacaram-se as apresentações do vice-presidente da Associação dos Diplomatas do Ministérios das Relações Exteriores, - Dr. Paulo Roberto de Almeida, e da ex-cônsul dos EUA no Recife, Diana Page, e a do Dr. Alfred M. Boll, estes do Departamento de Estado. A primeira parte da programação também contou com as palestras dos professores Dain Borges, Pedro Meira e João Cezar de Castro Rocha, representando as Universidades de Chicago, Princeton, USA e Manchester (Grã-Bretanha), respectivamente.
Na última tarde do evento, os eminentes professores Jefrrey Needell, da Universidade da Florida, e Steven Topic, da Universidade da Califórnia, discorreram acerca do Joaquim Nabuco, o abolicionista e o político liberal. As apresentações prosseguiram com as palestras dos professores Joshua Alma Enlsmen, da Academia Militar de West Point, do Dr. Peter Beattie, de Universidade de Michigan e da pesquisadora Courtney Campbel. A palestra do professor Celso T. Castillo, também da Universidade de Vanderbilt, encerrou uma das mais importantes iniciativas realizadas no Exterior, nos últimos anos, sobre o pensamento mestre e a ação política e diplomática de Joaquim Nabuco.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

1109) Maquiavel, uma reflexao contemporanea

O Moderno Príncipe (Maquiavel revisitado)
Um livro ainda inédito

Ao que consta, Gustave Flaubert, comentando com um correspondente sua obra mais famosa, teria dito: “Madame Bovary c’est moi!”.
Sem querer comparar-me ao ilustre escritor francês do século 19, e muito menos ao meu ainda mais ilustre antecessor do Renascimento italiano – na verdade, tempos bárbaros para a Itália e para ele mesmo –, creio que eu poderia, nos planos intelectual e espiritual, dizer isto: “Machiavelli sono io!”.
As razões estão explicitadas no meu Prefácio e na própria dedicatória ao genial florentino, un vero uomo di Stato, cujas tribulações e frustrações lhe deram o tempo e o lazer, mas também a angústia, de colocar no papel suas muitas reflexões sobre o comando dos homens e administração das armas na construção de um Estado moderno, laico e eficiente. Se ele tivesse tido sucesso em seus outros afazeres, talvez jamais teria encontrado o tempo necessário e o estímulo interior suficiente para escrever sua obra mais genial.
Sou apenas um seu leitor contemporâneo, mas tudo o que eu escrevi, por meio dos conceitos de Maquiavel, foi pensando no Brasil, que talvez enfrente tempos tão bárbaros quanto os da Itália do Renascimento. Espero que não tenhamos de esperar tanto tempo para o nosso Risorgimento...

Para a leitura do Prefácio e da dedicatória deste meu livro dedicado à figura e ao pensamento de Maquiavel, ver este link.

1108) O mundo, 20 anos apos a queda do muro de Berlim; Unisul - Florianopolis, SC

O mundo, 20 anos apos a queda do muro de Berlim
Unisul - Florianopolis, SC

Apresentação
Data de realização: dias 22 a 24 de junho de 2009.

O I Seminário de Pesquisa Interdisciplinar – I SPI é o mais novo evento técnico-científico regional do Brasil que reúne os Cursos de Administração, Relações Internacionais e Turismo da UNISUL (Universidade do Sul de Santa Catarina).

Trata-se de um evento público-privado, que tem por objetivo estimular a produção científica de qualidade, oportunizando e socializando o conhecimento por meio de conferências, debates, apresentações de trabalhos técnico-científicos.

Em sua 1ª edição, o tema geral do evento é "20 anos após a queda do Muro de Berlim”. O objetivo é difundir pesquisas e debates interdisciplinares na região sul do Brasil acerca das visões das áreas da Administração, Relações Internacionais e Turismo sobre o mundo 20 anos após a queda do muro de Berlim.

Não perca a oportunidade você, estudante de graduação ou pós graduação, pesquisador ou profissional da Administração, de Relações Internacionais e do Turismo, assim como demais interessados venham compartilhar o conhecimento conosco.

Submissão de trabalhos

Local: Dependências do Campus Norte da Ilha da UNISUL
Florianópolis-SC

Mais informações com a coordenação:
Prof. Dr. Nilzo Ivo Ladwig
Prof. Msc. Rogério Santos da Costa

Comissão Técnico-Científica
. Prof. Msc. Alvaro Jose Souto - Administração
. Profª. Msc. Kristiane Rico Sanchez - Administração
. Prof. Msc. Márcio Roberto Voigt – Relações Internacionais
. Prof. Dr. Nilzo Ivo Ladwig – Turismo
. Prof. Msc. Rogério Santos da Costa - Relações Internacionais
. Prof. Msc. Victor Henrique Moreira Ferreira – Turismo

1107) Cronica de um assassinato anunciado: Guatemala

Impressionante video de um advogado anunciando seu assassinato pelo presidente da Guatemala, no site da vevista Foreign Policy:

The YouTube video that could bring down Guatemala's government
Thu, 05/14/2009 - 7:50pm

Days before his murder, Guatemalan lawyer Rodrigo Rosenberg recorded this video predicting that he would soon be killed and that the Guatemala's President Alvaro Colom would be responsible:

Rosenberg was shot and killed while riding his bicycle on Sunday. He had been representing a financial expert named Khalil Musa who was himself murdered along with his daughter after accusing a state-owned bank of corruption. Rosenberg had publicly accused the government of conspiring the kill Musa. The video quickly went viral after Rosenberg's death, sparking anti-government demonstrations with thousands of angy protesters demanding Colom's resignation and calling for an international investigation.

Agora o artigo de Moises Naim, editor da Foreign Policy, no jornal El Pais:

¿Cómo se pelea contra un muerto en YouTube?
MOISÉS NAÍM 17/05/2009

Esto es lo que se debe estar preguntando Álvaro Colom, el presidente de Guatemala. Como se sabe, un abogado ha acusado al mandatario, a su secretario privado y a la primera dama de asesinato. El abogado acusador y el muerto son la misma persona: "Mi nombre es Rodrigo Rosenberg Marzano, y lamentablemente, si usted está en este momento oyendo o viendo este mensaje, es porque fui asesinado por el señor presidente Álvaro Colom...", dice con espeluznante calma el prestigioso abogado guatemalteco en un vídeo que ya ha sido visto por millones de personas en todo el mundo gracias a Internet.

Centroamérica no está inexorablemente destinada a convertirse en un infierno de corrupción, crimen y muerte

Rosenberg grabó este vídeo cuatro días antes de su muerte, al convencerse de que un atentado contra su vida era inevitable. En el vídeo también explican los motivos de sus asesinos: era el abogado de un empresario que, al negarse a ser cómplice de negocios sucios en un banco controlado por el Estado, fue asesinado. Y su hija también.

En el vídeo de 18 minutos Rosenberg denuncia que, a través del banco, se financian proyectos inexistentes de la esposa del presidente, se lava dinero de narcotraficantes y se financian negocios turbios del entorno presidencial.

"Yo no soy narcotraficante, no soy asesino, ni todo lo que esa porquería dice", respondió el presidente Colom refiriéndose al vídeo. También enfatizó que tiene la conciencia limpia y que no va a renunciar: "Sólo muerto me sacarán del palacio". Según Colom, todo esto forma parte de una conspiración para desestabilizar a su Gobierno. "Las acusaciones en mi contra son parte de un plan", dijo el mandatario. La primera dama, Sandra Torres, está de acuerdo: "Hay muchos tentáculos detrás del caso Rosenberg".

En su vídeo, el abogado Rodrigo Rosenberg había anticipado que el presidente de Guatemala y sus allegados lo acusarían de formar parte de una conspiración: "Hay algo que siempre oímos, que hay un compló en contra del Gobierno, que es una hipótesis... Esto no es una hipótesis, no tiene nada de hipótesis, esto es una realidad". Y así es. La realidad que tiene que explicar el presidente Colom es por qué Rodrigo Rosenberg está muerto.

Naturalmente, el presidente de Guatemala ha prometido una investigación a fondo sobre este caso. Es interesante notar, sin embargo, que nadie parece creer que el Gobierno o el poder judicial guatemalteco estén capacitados para llevar a cabo una investigación independiente y creíble. Quizás por esto, el presidente Colom solicitó la ayuda del FBI, la Organización de Estados Americanos, la ONU y de otros organismos internacionales para resolver el crimen. De nuevo, Rosenberg adelantó algo de esto en su vídeo: "Hemos caído en una Guatemala que ya no es nuestra; una Guatemala que es de los narcos, de los asesinos y de los ladrones".

En efecto, en las conferencias internacionales ya se ha convertido en algo común oír que Guatemala es un narco-Estado en el cual redes de narcotraficantes y criminales de todo tipo se han infiltrado y ejercen un enorme control sobre importantes instituciones públicas y privadas.

Y el problema trasciende a Guatemala, aunque es en ese país donde se evidencia con más gravedad. En toda Centroamérica, políticos y policías, militares y periodistas, banqueros y congresistas forman parte de los instrumentos que estas redes criminales utilizan para operar a sus anchas.

De hecho, una nueva e importante amenaza para esta región de economías débiles e instituciones más débiles aún es el progreso que México, ahora muy apoyado por Estados Unidos, tendrá en su lucha contra los carteles de la droga.

A medida que las cosas se le pongan más difíciles a las organizaciones de narcotraficantes que tienen sus bases de operaciones en México, los incentivos para trasladarlas a países como Guatemala, Costa Rica, Panamá, El Salvador, Honduras o Nicaragua serán cada vez mayores. Pero Centroamérica no está inexorablemente destinada a convertirse en un infierno de corrupción, crimen y muerte. Hay sociedades que logran producir anticuerpos que repelen estas tendencias. Algunos de estos anticuerpos ahora vienen armados con cámaras de vídeo.

mnaim@elpais.es

domingo, 17 de maio de 2009

1106) Petrobras: um depoimento de um ex-empregado

Recebido por e-mail, de uma lista de informação. Trata-se da opinião de um ex-empregado, que pode ser contestado em suas afirmações, mas certamente não ignorado, já que conheceu a máquina por dentro...

O DRAMA DA PETROBRÁS
Waldo Luís Viana*

Pouca gente sabe, mas já fui empregado da Petrobrás. Não terceirizado, mas por concurso. E pedi demissão, dez meses depois, sendo entrevistado por quatro psicólogas que, naturalmente, me olhavam atônitas. Saí, porque queria completar o curso de Economia na Gama Filho, chegava em casa à meia-noite, atravessando toda a cidade, do bairro de Piedade ao Leme, jantava, dormia de madrugada e acordava às seis e trinta da manhã para estar às oito no Edifício-sede.

Em minha época, 1976, não havia auxílio-refeição, vale-transporte, nem nada. Era só o salário-seco, mais auxílio-periculosidade (para subir e descer de elevador) e cartão de ponto. Ah, como detesto cartão de ponto, mas agradeço a Deus, porque foi o pavor dele que me fez poeta: “sou um homem que vive nos interlúdios concedidos pelo relógio de ponto...” – dizia, nos versos trôpegos da mocidade...

Queria ser escritor – imagina?, no Brasil de Paulo Coelho e José Sarney – e as psicólogas me perguntavam, sofridas, o motivo de eu querer ir embora. Sem muita paciência – já tinha pavio curto naquela época – redargui: “quero ver o sol nascer...”. Elas não entenderam nada, tadinhas, mas eu chegava em casa tarde, saía cedo e não via o sol subir no horizonte. Coisa de poeta.

Fui colocado no serviço de pessoal e era tão bom datilógrafo que me puseram para compulsar documentos sigilosos sobre a empresa. Impressionou-me a quantidade de internações psiquiátricas entre os petroleiros, mas isso não podia comentar com ninguém. Internavam-me em sala sem janela e fui dos únicos datilógrafos a utilizar máquinas elétricas com pedais, já extintas, para confeccionar tabelas de relatórios “top-secret” para a diretoria. Minha curiosidade era imensa e, como era muito rápido, lia tudo e anotava os detalhes escabrosos num bloquinho. Tudo isso eu já destruí, mas de memória, na época, o maior número de internamentos eram os do serviço de contabilidade. Fora a incidência de alcoolismo que era muito grande. Segredo maior do que o da Igreja Católica em relação aos padres...

Há trinta e dois anos, com Shigeaki Ueki na presidência, vivíamos as consequências do choque do petróleo, que fizeram o japonezinho desligar a sua piscina de água quente para poupar energia. Como fazia parte da “peãozada”, fingia-me de morto e não tocava em política, assunto proibido. A Petrobrás já era, então, orgulho nacional e não havia pai de família que não estufasse o peito de orgulho, quando afirmava que o filho trabalhava na empresa.

Quando pedi demissão descontentei meus pais. Resolvera seguir o destino pedregoso e íngreme da não burocracia. Para mim, era insuportável ver aqueles técnicos de administração, de gravatinha, batendo em meu ombro e dizendo a frase-modelo: “meu filho, quando eu me aposentar...”

A empresa articulava uma tecnologia mental no empregado, como se não funcionasse sozinha, dada a sua grandiosidade. Muitos trabalhavam com febre, com medo de ir ao serviço médico e serem mal vistos pelos chefetes de seção.

Naquela época, a empresa gastava 11% de seu orçamento com despesas de pessoal e, atualmente, reduziu esse “gasto” entregando algumas atividades-meio a terceirizados, aliás muito mal vistos pelos concursados, que detêm crachá autêntico. Não sei como está hoje, mas o cartão de ponto é exigido até para profissionais de curso superior, os horários são rígidos e a mega-empresa continua um quartel. De fazer inveja aos atuais militares que nem rancho têm para oferecer aos recrutas.

Os privilégios dos petroleiros existem, mas as benesses e salários-extras continuam em poder de uma elite muito bem estabelecida, estruturada e corporativa. São ciosos de seus privilégios e têm cabeça de funcionários públicos, ou seja, sabem que se mantiverem a cabecinha conservadora, não contestatória, se lamberem muito bem as botas dos chefes, permanecerão até a aposentadoria, quando como verdadeiros trapos humanos vão requerê-las, com complemento financeiro da fundação PETROS.

Essa empresa hoje é imensa, tentacular, um estado dentro do estado, e a União, apesar de todos os esforços do governo tucano para privatizá-la, no que foi impedido pelo Alto Comando do Exército, ainda detém 51% do capital das ações com direito a voto. Com a troca de governo, tornou-se a joia da coroa do PT e é administrada diretamente pelo Palácio do Planalto e pela Casa Civil, passando por cima, na prática, da natural hierarquia do Ministério das Minas e Energia.

Quem manda na Petrobrás é Lula e Lula desmanda na Petrobrás. Era para ser o paraíso petista, mas nunca o foi. Os petistas invadiram a empresa, de alto a baixo, como a KGB fazia na União Soviética com o controle dos bairros em Moscou. Nenhum cargo de confiança ficou incólume. O comissariado manda e desmanda mesmo. Todo mundo baixa a cabeça, naquela técnica de sabujice de quem quer sobreviver, esperando novos tempos. Precisaríamos de um Machado de Assis ou de um Lima Barreto para descrever o que acontece na mente dos chefes de seção e dos engenheiros de staff. Principalmente aqueles que assistem à farra das concessões orçamentárias a diversas ONGs desconhecidas...

Os controles e auditorias internos são draconianos, principalmente no varejo. Os gastos no atacado, em dólares e euros, sob responsabilidade das diretorias e do Conselho de Administração fogem à imaginação dos mortais da planície ou a qualquer vasculhador que não seja do meio. Para quem não conhece economia de petróleo, as tacadas são indetetáveis!

Como uma empresa de petróleo, mesmo mal administrada, é um supernegócio, bastaria uma vista d’olhos nas firmas fornecedoras da Petrobrás, muitas delas criadas por ex-funcionários, e os escritórios de advocacia, para os contenciosos surgidos com os que negociam diretamente com ela, para assuntar diversas surpresas. Isso seria matéria para os serviços de inteligência da Polícia Federal, da ABIN, do CADE e de outras agências, além da curiosidade atenta do que os petistas chamam de mídia golpista. Isso sem falar no Ministério Público, que tem tantos procuradores jovens e loucos para defender os altos interesses da sociedade. Aqui vai a todos eles um terno pedido do poeta: por favor, deem um passo à frente...

Agora vemos essa CPI montada no Senado, com cara e enredo de chantagem. Com a grana e os interesses em torno da empresa, é muito fácil que a Comissão não dê em nada, embora se o esterco for remexido, não venha a sobrar pedra sobre pedra. A Petrobrás é um dos sustentáculos da Pátria, assim como Jerusalém era a capital dos judeus e do cristianismo. Mesmo assim, a cidade um dia foi destruída e mudou a história do mundo.

Não admira que o drama da Petrobrás, orgulho nacional seja tão grande. Tão grande quanto uma plataforma! Aliás, tudo é gigantesco naquela empresa que tantos serviços têm prestado a ela mesma e a sua burocracia. Inclusive batendo às portas da corrupção. O povo brasileiro, seu pretenso proprietário, espera por explicações...

É claro que em 180 dias os senadores não irão apurar coisa alguma. Eles só querem desviar o foco dos escândalos sobre o Congresso e culpam o governo Lula por não os haver defendido, tal como o fez nos tempos dos hierarcas do mensalão.

Mesquinharia se paga com mesquinharia. Assim, nada como mexer com a joia da coroa e fazer a opinião pública esquecer logo das mordomias do Senado e outras futilidades, não defendidas a contento pelo governo atual. E com seis meses decorridos vem o Natal, o Ano Novo, o Carnaval e mais um ano de eleições. E Suas Excelências estarão salvas para disputar novo pleito, quem sabe com financiamento dos próprios lobistas e empresários que sobrevivem dos nababescos negócios ligados ao petróleo brasileiro.

Vamos assistir de camarote a mais uma pantomima teatral. Não é comédia. É o drama da Petrobrás, a grande empresa, orgulho nacional, de qual um dia, num acesso de capa e espada, me demiti...
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*Waldo Luís Viana é escritor, poeta, economista e ex-empregado concursado da PETROBRAS. Aliás, de primeiro emprego a gente nunca esquece...
Teresópolis, 16 de maio de 2009.

1105) Controversias historiograficas sobre 1964

Provavelmente não existe, na historiografia brasileira, tema mais controverso do que o movimento civil militar de 1964, chamado de golpe, pelos seus opositores, e de "revolução" (sic) pelos seus defensores.
Recentemente, redigi um artigo, na série falácias acadêmicas, que tenta discutir alguns dos mitos em torno do movimento de 1964, enquadrado na categoria das falácias porque justamente é objeto dos julgamentos mais maniqueistas por parte da academia.
Os interessados em conhecer esse ensaio podem lê-lo por inteiro no link que segue imediatamente após, ou então em segmentos, como registrado mais abaixo.

Falácias acadêmicas, 7: os mitos em torno do movimento militar de 1964
Espaço Acadêmico, ano 9, n. 95, abril 2009
Para o mesmo texto em pdf, clicar neste link.

Com algumas poucas mudanças, o ensaio foi reproduzido em quatro partes no boletim Via Política: Os mitos em torno do movimento militar de 1964

(1): Uma historiografia enviesada (12.04.2009);
(2) Mitos do Governo Goulart (19.04.2009)
(3) Análise das alegadas ‘reformas de base’ (26.04.2009)
(4) Balanço econômico do Governo Goulart (03.05.2009).