Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
quinta-feira, 31 de dezembro de 2015
Previsoes imprevidentes para 2016: pela primeira vez a imprevisao ganha da previsao - Paulo Roberto de Almeida
Venezuela: e entao Itamaraty?, pergunta O Antagonista
E então, Itamaraty?
O Antagonista,
O governo brasileiro, tão "valente" com Israel, continua a fazer um silêncio cúmplice e covarde diante das barbaridades de Nicolás Maduro.
Ontem, a coalizão venezuelana de oposição Mesa da Unidade Democrática (MUD) enviou uma carta à ONU e à OEA, condenando a ameaça de impugnação de nove candidatos eleitos pela aliança. A Unasul e ao Mercosul também receberam a carta. Três dos opositores já tiveram a sua eleição suspensa pela "Justiça" bolivariana.
E então, Itamaraty?
Eu queria desejar bom 2016 a todos, mas eis que tropecei com isto ai...
Não se diga que Lula governou bem e o seu poste mal.
Ele foi beneficiado por circunstâncias favoráveis no ambiente internacional e apesar disso não fez NENHUMA reforma importante para o Brasil.
Bandidos.
Em todo caso, eu desejo um feliz 2016 a todos, depois que conseguirmos colocar a tropa de ineptos e corruptos para fora do poder.
Paulo Roberto de Almeida
Preparando as previsoes imprevisiveis de 2016: a lista dos sucessos - Paulo Roberto de Almeida
Nem todas estão linkadas, o que se explica pelos registros truncados dos primeiros tempo...
quarta-feira, 30 de dezembro de 2015
Preparando as previsoes imprevidentes para 2016: conferindo as de 2015 - Paulo Roberto de Almeida
Elas têm isso de particular que NÃO são para serem realizadas, ao contrário de todos os outros adivinhos, astrólogos, economistas, publicitários, apresentadores de programas de auditório, enfim, todos esses fraudadores da crendice alheia, que continuam a abusar da nossa paciência fazendo previsões ditas sérias, ou seja, plausíveis, possíveis ou até previsíveis (vai ter enchente em algum lugar do Brasil, por exemplo, ou um dos ministros será pego roubando, mas essas são fáceis demais).
As minhas tem essa peculiaridade que elas NÃO são para acontecer, e confesso que tenho sido tremendamente ajudado, desde 2003, pelos inefáveis companheiros, mestres habilidosos em prometer o que jamais vão cumprir.
Tenho de agradecer de público seu empenho em me desmentir, no que eu sou bem sucedido.
Os companheiros conseguem decepcionar todo mundo, inclusive este pobre adivinho, que nunca conseguiu emplacar uma só adivinhação imprevisível, e nisso tenho tido sucesso absoluto.
Tenho de agradecer de público, repito ainda outra vez, aos companheiros petistas e petralhas, por me ajudar numa empreitada das mais díficeis da minha carreira de escrevinhador anarco-acadêmico, que é a de errar continuamente, e assim assegurar o triunfo de minhas previsões imprevidentes.
Se vocês duvidam da ajuda dos companheiros, confiram uma lista quase completa que publiquei neste link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2014/12/previsoes-imprevidentes-dez-anos-de.html
Mas, antes de colocar as minhas previsões para 2016, vejamos o que eu tinha prometido para este ano de 2015 um ano atrás, o que aliás estava explícito na matéria em questão.
Confiram as minhas previsões para este ano horribilis, que já tinham sido postadas exatamente no dia 28 de dezembro de 2014, neste link:
http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2014/12/previsoes-imprevidentes-para-2015.html
A seguir, o aperitivo:
Companheiros petistas reclamam do tratamento a supercompanheiro petralha - Nota companheira
O nosso personagem não estava metido nesse tipo de negócio até o pescoço: ele era o próprio negócio, era ele quem determinava quem devia pagar tanto e quem devia receber (ele só ficava com uma comissão, entenderam, uns pixulecos modestos de centenas de milhares a cada vez).
Deve ser duro passar o Natal e o Ano Novo na cadeia, ainda mais tendo de aguentar essas gozações de tucanos voando em volta da notícia, que de resto deve ter sido plantado por quem não tem o mínimo respeito pela reputação do Stalin Sem Gulag.
Gente grossa...
Paulo Roberto de Almeida
Pimenta e Damous acionam presidente do STJ por deboche a José Dirceu no Twitter oficial do Tribunal
PT na Câmara, 30/12/2015---
terça-feira, 29 de dezembro de 2015
Tráfico escravo: números totais e para o Brasil: fontes (Delanceyplace)
Delanceyplace.com End of Year Encores: This year a few encores on slavery. Today's encore selection -- As brought to our attention by Henry Louis Gates in The Root, more slaves were taken to Brazil from Africa than to any other country, and in 1888, Brazil finally abolished slavery, the last country in the Western world to do so. Slaves were brought first for the sugar plantations, then for gold and diamond mining, and then for ranching and agricultural products, especially coffee. Gates writes that "The most comprehensive analysis of shipping records over the course of the slave trade is the Trans-Atlantic Slave Trade Database, edited by professors David Eltis and David Richardson. (While the editors are careful to say that all of their figures are estimates, I believe that they are the best estimates that we have. ...) Between 1525 and 1866, in the entire history of the slave trade to the New World, according to the Trans-Atlantic Slave Trade Database, 12.5 million Africans were shipped to the New World. 10.7 million survived the dreaded Middle Passage, disembarking in North America, the Caribbean and South America. And how many of these 10.7 million Africans were shipped directly to North America? Only about 388,000. That's right: a tiny percentage. In fact, the overwhelming percentage of the African slaves were shipped directly to the Caribbean and South America; Brazil received 4.86 million Africans alone! Some scholars estimate that another 60,000 to 70,000 Africans ended up in the United States after touching down in the Caribbean first, so that would bring the total to approximately 450,000 Africans who arrived in the United States over the course of the slave trade." The following selection is from The Brazil Reader, edited by Robert M. Levine and John J. Crocitti: "At least 3,600,000 black slaves were brought to Brazil alive [4.86 million according to Eltis and Richardson], while thousands more perished aboard the ships traveling from Africa to Brazil. Between 1800 and 1852, during the period when some European nations began to turn against the institution of slavery and pressure slave traders to cease, more than 1,600,000 slaves arrived in Brazil. In Africa, slaves were captured, branded, placed in heavy iron manacles, and transported on voyages that sometimes took as long as eight months to reach their final destination. The international trade was outlawed in 1830, but slave ships continued to journey to Brazil. By the 1840s, the British were seizing ships carrying slaves and freeing their captives, although when slavers saw hostile naval vessels approaching, they often threw their human cargo into the sea to avoid fines and the confiscation of their ships. The first two selections [below] were written in logbooks aboard British naval ships in February 1841. The third passage was written by Joao Dunshee de Abrantes, a Brazilian abolitionist, in the northern port of Sao Luiz [Luis] do Maranhao. "I. Logbook from the Warship Fawn The living, the dying, and the dead, huddled together in one mass. Some unfortunates in the most disgusting state of smallpox, distressingly ill with ophthalmia, a few perfectly blind, others living skeletons, with difficulty crawled from below, unable to bear the weight of their miserable bodies. Mothers with young infants hanging at their breasts, unable to give them a drop of nourishment. How they had brought them thus far appeared astonishing: all were perfectly naked. Their limbs were excoriated from lying on the hard plank for so long a period. On going below, the stench was insupportable. How beings could breathe such an atmosphere, and live, appeared incredible. Several were under the soughing, which was called the deck, dying -- one dead. "II. Logbook from the British Hospital Ship Crescent Huddled together on deck, and clogging up the gangways on either side, cowered, or rather squatted, 362 Negroes, with disease, want, and misery stamped on them with such painful intensity as utterly beggars all powers of description. In one corner . . . a group of wretched beings lay stretched, many in the last stages of exhaustion, and all covered with the pustules of smallpox. Several of these, I noticed, had crawled to the spot where the water had been served out, in the hope of procuring a mouthful of the precious liquid; but unable to return to their proper places, lay prostrate around the empty tub. Here and there, amid the throng, were isolated cases of the same loathsome disease in its confluent or worst form, and cases of extreme emaciation and exhaustion, some in a state of perfect stupor, others looking around piteously, and pointing with their fingers to their parched mouths .... On every side, squalid and sunken visages were rendered still more hideous by the swollen eyelids and the putrid discharge of a virulent ophthalmia, with which the majority appeared to be afflicted; added to this were figures shriveled to absolute skin and bone, and doubled up in a posture that originally want of space had compelled them to adopt, and that debility and stiffness of the joints compelled them to retain. "III. Captives Removed from the ship into barges, they came in neck chains, or libambos, leashed to one another to stop them from running away or throwing themselves into the water. Often, they had already been divided into lots before leaving the ship. And they were delivered in bunches to the merchants or the bush captains, representatives of the planters of the interior of the province. Since, in certain seasons, the ships remained two or three days in view of the harbor entrance without being able to enter, the buyers went out to meet them in boats to complete the transactions. The traffickers did everything they could to land those horrible cargoes at once. And after a certain number of years in the business, their service was perfected, and usually only sick slaves or those of a weak constitution set foot on the soil of San Luiz. These were sold at any price, while the other unfortunates, descended from good races, were haggled over and high offers were made." |
The Brazil Reader: History, Culture, Politics (The Latin America Readers) Author: Robert M. Levine and John J. Crocitti, editors Publisher: Duke University Press Copyright 1999 Duke University Press Pages: 135-137 |
segunda-feira, 28 de dezembro de 2015
Brasil-Israel em controversia diplomatica: mini-crise sobre um mini-problema
A mim me parece uma crise sem sentido, sem motivo, sem final feliz...
Paulo Roberto de Almeida
Israel pressiona Brasil a aceitar indicação de Dayan como embaixador
POR FELIPE BENJAMIN
REUTERS, 28/12/2015
Vice-chanceler adverte que resistência de Brasília em aceitar ex-líder de movimento de assentamentos judaicos pode levar a uma crise diplomática
Benjamin Netanyahu fará apelos diretos à presidente Dilma para que Dani Dayan seja aceito
RIO — A disputa envolvendo a indicação do israelense Dani Dayan para o cargo de embaixador no Brasil ganhou um novo capítulo ontem, com uma entrevista na TV local. No canal 10, a vice-ministra das Relações Exteriores, Tzipi Hotovely, afirmou que o governo israelense não tem qualquer intenção de substituir a indicação de Dayan, e que a resistência de Brasília em aceitá-lo pode levar a uma crise diplomática entre os dois países. No canal 2, Dayan afirmara na véspera que o episódio não reflete uma crise bilateral entre Brasil e Israel, mas sim uma questão de “BDS” (boicote, d esenvolvimento e sanções) levantada por ativistas israelenses e abraçada por palestinos e brasileiros.
— Medidas serão tomadas para que Brasília entenda que Dayan é um homem respeitado, digno e aceito no espectro político israelense — afirmou Hotovely. — Faremos isso para dizer ao Brasil: “Aprove-o, ou teremos uma crise nas relações entre os dois países, algo que não vale a pena”.
Entre os planos citados pela vice-chanceler estão uma campanha pública no Brasil, a mobilização da comunidade judaica do país e a recusa em apontar um outro nome para substituir o embaixador Raed Mansour, que retornou a Israel há duas semanas.
MEDIDAS EM ESTUDO
No canal 2, Dayan afirmara na noite anterior que a questão verdadeiramente em debate não é sua indicação, mas sim se um judeu morador da região da Judeia e da Samaria — nome dado oficialmente pelo governo israelense à região da Cisjordânia, com exceção da porção oriental de Jerusalém — pode exercer o cargo de embaixador em outro país. O atual embaixador israelense nos Estados Unidos, Salai Meridor, e o enviado do país ao Canadá, Alan Baker, também são moradores de assentamentos judaicos na região.
— Assim como Israel reagiu de maneira enérgica na questão dos rótulos dos produtos, deve reagir quando pessoas são rotuladas, o que é muito pior — afirmou Dayan, em referência à decisão da União Europeia de exigir que produtos fabricados em áreas ocupadas por colonos judeus na Cisjordânia recebam rótulos indicando essa procedência. — Caso contrário, estaremos concordando com a ideia de que 700 mil judeus não são dignos de ocuparem a posição de embaixador.
Segundo Dayan, o principal negociador da Organização pela Libertação da Palestina (OLP), Saeb Erekat, está envolvido no assunto “até o pescoço”. Na semana passada, Erekat afirmou que o Brasil perderia a confiança dos palestinos caso aceitasse “os crimes de guerra, apartheid e colonização que Dani Dayan representa”, e classificou o empresário israelense como “um colono ilegal cujo trabalho é justificar a colonização criminosa que Israel exerce sobre os palestinos”.
Para o cônsul honorário de Israel no Rio de Janeiro, Osias Wurman, a resistência a Dayan é fruto de campanha negativa feita sobre o governo brasileiro por ativistas que defendem boicotes contra o país.
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— Quando era chanceler de Israel, Avigdor Lieberman visitou Brasília diversas vezes, e foi sempre recebido da melhor maneira. Ele é morador de um assentamento, e isso nunca foi motivo para tensões antes — afirmou Wurman ao GLOBO. — Além disso, os assentamentos nunca foram construídos sobre solo palestino. Quando Israel anexou a Cisjordânia, em 1967, o território era jordaniano.
A polêmica envolvendo a indicação de Dayan surgiu em agosto, logo após seu anúncio pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. Ontem, o assessor de política externa de Netanyahu, Jonathan Schachter, se reuniu com Hotovely e com o diretor-geral do Ministério das Relações Exteriores, Dore Gold, para discutir os passos a serem tomados para garantir que o Brasil aceite o empresário como embaixador.
Hotovely atribuiu a resistência à crise política enfrentada pela presidente Dilma Rousseff, que, ameaçada pela possibilidade de um impeachment, precisaria de todo o apoio — inclusive da extrema-esquerda, que demonstra a maior rejeição a Dayan — para permanecer no poder.
Já Wurman destaca a importância do empresário no cenário israelense.
— Dani Dayan é uma personalidade em Israel. Apesar de defender os assentamentos, não é fanático ou ortodoxo — alega o cônsul honorário. — É somente um empresário que resolveu organizar a região em que vivia, e foi indicado a contragosto para embaixador.
Dayan acredita que o governo israelense tentou vencer a resistência brasileira pelo cansaço, e encontrou uma tentativa semelhante por parte do governo brasileiro. Fontes diplomáticas israelenses próximas ao empresário indicaram que ele poderia renunciar à indicação ao posto em Brasília.
— Até agora, o Ministério das Relações Exteriores (de Israel) acreditou em uma política que consiste em sentar e não fazer nada — afirmou. — Da mesma forma, acredito que muitos esperam que eu simplesmente abra mão da minha indicação, resolvendo o problema por eles.
Procurado, o Itamaraty informou que não comentaria o assunto.
— Israel não pode aceitar que um morador da Cisjordânia seja preterido e tratado como um cidadão de segunda classe. Rejeitar Dayan ou outro morador de um assentamento é uma atitude semelhante às estrelas amarelas nas camisas usadas (por judeus) na Alemanha durante o período nazista. — diz Wurman. — Isso é algo que nunca mais poderemos aceitar.
A constante tensão nos territórios ocupados se intensificou nos últimos meses, com aumento nos casos de violência na região e em Israel. Uma onda de ataques a faca e atropelamentos de judeus israelenses por palestinos e árabes-israelenses já deixou cerca de 20 judeus e pelo menos 130 palestinos mortos desde o atentado com coquetéis molotov que matou o bebê Ali Dawabsha — de um ano e meio — na aldeia de Duma. Posteriormente, os pais dele também morreram. Ontem, ultranacionalistas acusaram o Shin Bet, serviço de segurança interna de Israel, de torturar integrantes do movimento suspeitos de participarem do ataque.
2015, o ano em que o Brasil despencou - Paulo Roberto de Almeida (Estadao)
2015, o ano em que o Brasil despencou
Começamos por uma primeira ironia fraudulenta: o ministro da “nova matriz econômica”, que havia sido demitido mais de três meses antes, pela chefe da mesma matriz, e por meio da imprensa, continuou fazendo previsões impossíveis até o primeiro dia do ano, quando finalmente entregou o cargo ao seu sucessor, suposto representante dos Chicago-boys, mas que se revelou um corajoso partidário de aumento de impostos e de tímidos cortes seletivos nas despesas públicas, sem jamais tocar no gigantesco corpo balofo, obeso e disfuncional do Estado companheiro. O principal personagem do ano foi justamente este, o Estado companheiro, administrado por um governo idem, composto obviamente por companheiros engajados em sua manutenção dispendiosa (obviamente que apenas para a sociedade, não para eles).
Como diriam os americanos, o ano começou por um bing e terminou por um bang. O bing foi a composição esquizofrênica do governo, metade comprometida com gastos continuados e uma pequena, modesta parte tentando consertar os equívocos cometidos durante anos de gestão amadora, na verdade irracional, na política econômica (em várias outras políticas setoriais também). O bang é, obviamente, representado pelo pedido constitucional de impedimento da presidente, por crimes continuados na gestão fiscal – gestão talvez não seja o termo adequado, consagrando-se, ao longo do período, o mais vistoso conceito de “pedaladas” (em outros setores também).
Até o início do ano, todas as previsões do governo relativas aos principais indicadores econômicos pecavam por otimismo excessivo. Mas também os economistas independentes pecaram por escasso realismo em suas previsões. Todos eles foram duramente desmentidos pela mais cruel deterioração desses mesmos indicadores nunca antes vista desde crises longínquas. As agências de classificação de risco também se mostraram surpreendentemente lenientes em face do claro itinerário do Brasil em direção ao que desde já pode ser chamado de A Grande Destruição lulopetista.
Registre-se que essa destruição não foi o resultado de um mandato apenas. Parafraseando Nelson Rodrigues, podemos dizer que desastres não se improvisam: eles são o resultado de anos de acúmulo de erros, equívocos, trapalhadas, bobagens mais ou menos intencionais, enfim, daquilo que eu classifico como sendo os crimes econômicos do lulopetismo. Atenção: os crimes econômicos companheiros não o são exatamente no sentido do Código Penal, embora muitas vezes com eles se confundam; foi tal o empenho em cometê-los que se pode perguntar se muitos desses equívocos não foram deliberadamente planejados, o resultado de ações cientificamente calculadas, como diria o Chapolim Colorado.
A “compra” da refinaria de Pasadena, por exemplo, vista em retrospecto, quem poderia dizer, hoje, que se tratou apenas de um “erro de gestão”, ou seja, de um “cálculo mal feito”? Minha interpretação é a de que o “negócio” foi um sucesso, conduzido para produzir exatamente aqueles resultados, que são os que se conhecem atualmente em termos de movimentações bancárias entre vários paraísos fiscais no exterior. Enfim, um “sucesso” companheiro, até que um anônimo funcionário da Petrobrás – a ser homenageado na galeria dos “heróis desconhecidos” – chamou a atenção de membros do Ministério Público Federal e da Polícia Federal para certas “peculiaridades” do grande negócio.
As consequências foram aquelas que se viram: a Petrobrás, que chegou a valer mais de US$ 300 bilhões e figurar entre as sete primeiras companhias do setor, afundou-se numa crise que deveria ser terminal, se não fosse estatal (a preferida dos companheiros, que a transformaram numa “vaca petrolífera” continuamente ordenhada à exaustão). As contas públicas produziram um outro mergulho, de quase dez pontos do PIB, para um abismo cujo fundo ainda não se conhece exatamente, pois uma das especialidades companheiras foi justamente a maquiagem contábil, que eles já vinham praticando desde muitos anos entre o Tesouro e os bancos estatais, entre eles o BNDES, uma caixa-preta ainda não aberta pelos órgãos de controle. O ano foi tão horrível que aposto como a maioria dos leitores já se esqueceu desta coisa bizarra chamada Fundo Soberano do Brasil, uma invenção satânica dos mesmos autores da “nova matriz econômica” – na verdade, ele a precede de alguns anos – e que desapareceu de forma inglória, depois de deixar um buraco provavelmente superior a R$ 18 bilhões.
Uma contabilidade exata dos montantes envolvidos nos crimes econômicos do lulopetismo é singularmente difícil, pois, além dos custos estritamente monetários, isto é, recursos orçamentários dilapidados em projetos mal concebidos e mal implementados – talvez de propósito –, precisaríamos computar também o que os economistas chamam de custo-oportunidade, tudo o que se perdeu ao não se fazerem investimentos corretos, ou simplesmente sensatos. Quando é que economistas curiosos, procuradores atentos ou jornalistas investigativos avaliarão as imensas perdas causadas pelos crimes econômicos do lulopetismo? Já não é sem tempo...
É diplomata e professor universitário.
Site: www.pralmeida.org / Blog: diplomatizzando.blogspot.com
Retratos Sul-Americanos: tres livros a um custo minimo
Neste final de ano, as versões digitais dos volumes I ao III estão em promoção por aproximadamente R$ 6,00 cada, no site da Editora Bookess (na verdade menos do que isso, para o terceiro volume).
VOLUME I
http://www.bookess.com/read/23001-retratos-sul-americanos-perspectivas-brasileiras-sobre-historia-e-politica-externa-volume-i/
ÍNDICE
A AMÉRICA LATINA NA ORDEM ECONÔMICA MUNDIAL, DE 1914 A 2014
Paulo Roberto de Almeida
AS ESTRATÉGIAS DE ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS PARA A AMÉRICA LATINA
Henrique Carlos de Oliveira de Castro e Sonia Ranincheski
“CLÁUSULAS DEMOCRÁTICAS” E TRANSCONSTITUCIONALISMO NA AMÉRICA DO SUL: UMA ANÁLISE BASEADA NA RUPTURA INSTITUCIONAL NO PARAGUAI
Carina Rodrigues de Araújo Calabria e Felipe Neves Caetano Ribeiro
O DESAFIO ESTÁ LANÇADO: O BRASIL EM BUSCA DA INTEGRAÇÃO ENERGÉTICA SUL-AMERICANA (2000-2010)
Helen Miranda Nunes
PARADIGMAS DA ATUAÇÃO BRASILEIRA NO MERCOSUL
Elisa de Sousa Ribeiro e Felipe Pinchemel Cotrim dos Santos
RECOMPENSA, HONRA, SUBMISSÃO: VERSÕES DA ENTRADA DO BRASIL NA SOCIEDADE DAS NAÇÕES
Mariana Yokoya Simoni
DA HESITAÇÃO À AFIRMAÇÃO: A POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA PARA A REGIÃO PLATINA NA 2ª CHANCELARIA DE PAULINO JOSÉ SOARES DE SOUZA (1849-1853)
Hugo Freitas Peres
A INTERVENÇÃO BRASILEIRA DE 1851 NO URUGUAI: CONDICIONANTES, OBJETIVOS E RESULTADOS
Rafael Braga Veloso Pacheco
INTEGRAÇÃO E DIREITO AO DESENVOLVIMENTO NA AMÉRICA DO SUL
Alex Ian Psarski Cabral e Cristiane Helena de Paula Lima Cabral
http://www.bookess.com/read/23682-retratos-sul-americanos-perspectivas-brasileiras-sobre-historia-e-politica-externa-volume-ii/
A GRANDE DIVERGÊNCIA NA ECONOMIA MUNDIAL E A AMÉRICA LATINA (1890-1940)
Paulo Roberto de Almeida
MEDIAÇÃO BRASILEIRA EM CONFLITOS SUL-AMERICANOS NA DÉCADA DE 1930: A QUESTÃO DE LETÍCIA E A GUERRA DO CHACO
Vinícius Fox Drummond Cançado Trindade
OS PROJETOS SUL-AMERICANOS DE INTEGRAÇÃO REGIONAL: A “IMPLOSÃO” DO PROJETO DA ÁREA DE LIVRE COMÉRCIO DAS AMÉRICAS E AS ALTERNATIVAS EM CONSTRUÇÃO
Marco Antônio Alcântara Nascimento
A DIFÍCIL ARTE DE ENTENDER O QUE O OUTRO QUER DIZER
Luiz Eduardo Abreu
ENTRAVES CONSTITUCIONAIS BRASILEIROS A UMA INTEGRAÇÃO REGIONAL
Carolina Nogueira Lannes Gonçalves
DEZ ANOS DE CRIAÇÃO DO PARLAMENTO DO MERCOSUL: HÁ ALGO O QUE COMEMORAR COM A PARTICIPAÇÃO SOCIAL MERCOSULINA?
Alex Ian Psarski Cabral e Cristiane Helena de Paula Lima Cabral
INTEGRAÇÃO REGIONAL E SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS: ADEQUAÇÃO ENTRE MEIOS E FINS
Patrícia Cristina Orlando Villalba
TELEVISÃO, DOMINANTES CULTURAIS E DISCURSOS HEGEMÔNICOS NA CONSTRUÇÃO DA BRASILIDADE E DA ARGENTINIDADE EM PERSPECTIVA COMPARADA
Li-Chang Shuen
PRIVATIZAÇÃO DA VIDA URBANA E RESTRIÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO NAS METRÓPOLES LATINO-AMERICANAS
Rafael de Aguiar Arantes
http://www.bookess.com/read/23683-retratos-sul-americanos-perspectivas-brasileiras-sobre-historia-e-politica-externa-volume-iii/
Alline Pedra Jorge Birol
RETRATOS GEOGRÁFICOS E HISTÓRICOS SOBRE OS DIFERENTES PARADIGMAS APLICADOS NA FAIXA DE FRONTEIRA DO BRASIL (1872-2010)
Eloisa Maieski Antunes
AMAZÔNIA: UMA ANÁLISE SOBRE A SOBERANIA E A DEFESA ESTRATÉGICA DO ESTADO BRASILEIRO
Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha e Romeu Costa Ribeiro Bastos
CONSEQUÊNCIAS ECONÔMICAS DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS, 1824-1946
Paulo Roberto de Almeida
O PRIMEIRO EMBAIXADOR, À SOMBRA DO BARÃO
Luigi Bonafé
AS CENTRAIS SINDICAIS NO MERCOSUL: ENTRE UM COLABORACIONISMO CRÍTICO E UMA CRÍTICA COLABORACIONISTA
Paulo Afonso Velasco Júnior
O PAÍS DE ORIGEM DE UMA EMPRESA MULTINACIONAL IMPORTA? LÓGICAS INSTITUCIONAIS EM CONFLITO E EM COOPERAÇÃO NA RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL
Annie Lamontagne
ANOTAÇÕES SOBRE OS INSTITUTOS DO MATCHING CREDIT E TAX SPARING NOS ACORDOS INTERNACIONAIS
Patrícia Cristina Orlando Villalba
http://diplowife-diplolife.blogspot.com.br/2015/12/retrospectiva-2015-retratos-sul.html