O regime militar e a oposição armada (10, final):
um retrospecto histórico, por um observador engajado
Paulo Roberto de Almeida
Sumário:
2. A reação dos perdedores: resistência política e luta armada
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3. A passagem à luta armada: a insensatez em ação
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4. A derrota da luta armada e suas consequências: uma história a ser escrita
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5. O que foi a luta armada no Brasil: uma interpretação pessoal
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6. Quando a luta armada se desenvolveu no Brasil?
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7. Onde a luta armada se desenvolveu no Brasil?
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8. Como a luta armada se desenvolveu?
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9. Por que houve luta armada no Brasil?
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[FIM]
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10. Uma avaliação
pessoal da luta armada e suas consequências atuais
Infelizmente, a questão da
luta armada no Brasil ainda não faz parte da História passada, ou pelo menos
seus antigos representantes resistem a recolhê-la à sua dimensão histórica
objetiva, sendo ainda objeto de embates políticos e de tentativas de reescrita
dessa história. A razão é a mesma já apontada anteriormente: os derrotados
chegaram ao poder e pretendem se vingar de seus supostos algozes, se preciso
for deformando a história e manipulando os acordos políticos já realizados
durante a transição quase consensual da democratização.
De certa forma, esses
grupos já detém o monopólio da historiografia, como pode ser constatado por
inúmeros exemplos da literatura didática e mesmo de livros que passam por
sérios, tratando do período. Os escribas universitários, não apenas os
declaradamente de esquerda ou simplesmente progressistas, já internalizaram uma
versão da história política brasileira, dos anos 1960 em diante, que transforma
o período em uma oposição de preto e branco, uma interpretação maniqueísta que
transforma os militares em servos da burguesia e do imperialismo, e os
“resistentes” como bravos e impolutos defensores da democracia e lutadores
desprendidos em prol das liberdades. A contrafação da história real é evidente,
mas ela vem sendo servida durante muito tempo, inclusive no curso do próprio
período militar, para não se impor como verdade para grande parte do povo
brasileiro, jovens que nunca viveram aquele período que tendem naturalmente a
acreditar nessa versão da luta dos bons contra os maus.
A “Comissão da Verdade”
não constitui senão mais uma tentativa de impor essa versão à sociedade atual,
pelos remanescentes dos derrotados de outrora. Faz parte, como outras
iniciativas – como a “indústria” das indenizações –, das farsas montadas para
alterar a história e obter ganhos políticos, quando não materiais, aos que
ainda tentam fazer do Brasil outra coisa que não uma grande democracia de
mercado. A chamada “relação de forças” pode dar aos derrotados vingativos algumas
compensações temporárias, e é por isso que o trabalho didático de
esclarecimento se revela importante pelo simples dever de respeitar a verdade
dos fatos e defender a integridade intelectual dos que estão efetivamente
comprometidos com a causa da democracia e das liberdades no Brasil. Como
protagonista menor, e totalmente sem importância, da voragem de insanidade
temporária que se abateu sobre o Brasil, entre meados dos anos 1960 e meados da
década seguinte, meu dever era o de testemunhar. É o que fiz agora.
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 30 março de 2014